“Como é a nossa imagem de humanos dentro de nossas cabeças?
Hersenspinsels é um ditado holandês que traduzido literalmente significa: “cérebro aranhas”. Que em inglês pode ser descrito como ‘invenção’.
segue a história de Uma aranha perfeccionista que trabalha muito para processar imagens humanas. Um dia, ele precisa processar algo que não via há muito tempo.”
Após a publicação da Reserva de Recrutamento 12 analisei o número de candidatos que não estão colocados nesta data e comparei com o número de candidatos iniciais a cada grupo de recrutamento.
Nesta altura existem apenas 21,1% de “reservistas” para assegurar dois longos períodos letivos.
No entanto a média global sobre porque o grupo de recrutamento 100 faz disparar essa média porque ainda tem 2.597 educadores nas listas de não colocados (53,7%).
13 grupos de recrutamento já têm menos de 10% de candidatos nas listas e 16 grupos de recrutamento têm entre 10 e 20% de candidatos.
Ambos os grupos de Educação Física (260 e 620) parecem ser os grupos de recrutamento onde não devem existir problemas ao longo do resto do ano porque ambos ainda têm 38,6% e 38,2% de candidatos nas listas. O mesmo acontece com a Educação Pré-Escolar com 53,7%.
Até o primeiro ciclo poderá vir a ter problemas na substituição de professores lá mais para a frente, pois neste momento tem apenas 24,9% de candidatos em concurso.
A Escola tem uma interacção perturbada e conturbada com os seus parceiros de relacionamento. Não existe nessa relação a serenidade e o apaziguamento necessários ao estabelecimento de compromissos efectivos, leais e justos entre as partes envolvidas.
A Escola é, muitas vezes, como aqueles parceiros de uma relação que abusam, agridem, manipulam e controlam os seus parceiros… Gritar, humilhar publicamente, culpar e acusar de forma despropositada e excessiva, ignorar o diálogo ou desferir críticas destrutivas são exemplos dos comportamentos manifestados pela Escola, dentro de cada escola… Por vezes, pede-se desculpa, permanece uma tranquilidade aparente por algum tempo, mas, fatalmente, o ciclo repete-se… A paz é falsa e simulada, a tranquilidade decorre apenas da inacção, do evitamento ou da indiferença…
A relação tóxica, muitas vezes estabelecida entre a Escola e os respectivos parceiros, ilustra bem a perturbação relacional existente.
A separação ou o divórcio entre a Escola e os seus parceiros parece inevitável: os que ainda permanecem na relação anseiam por poder sair dela o mais rapidamente possível e libertar-se da asfixia constante a que são sujeitos; grande parte dos eventuais novos parceiros desiste da relação, mesmos antes de a ter experimentado… Lidar com o desapego e o desencanto dos primeiros e com a rejeição explícita dos segundos talvez não seja fácil para a Escola, mas também não a faz mudar a atitude prepotente e deletéria, frequentemente observada…
A Escola trai, engana e ludibria os seus parceiros de relação. Também não os reconhece nem os valoriza. A infidelidade é prática comum e corrente. Os parceiros da Escola mais parecem, às vezes, parceiros “oficialmente encornados” (perdoe-se a rudeza e a deselegância do termo). Ou seja, parecem aqueles parceiros que sabem, aceitam e convivem com o facto de o seu consorte ter um “amante oficial”, conhecido de todos. Em suma, sujeitam-se à promiscuidade no relacionamento e alguns chegam mesmo a legitimá-la…
A Escola gosta de “flirtar”, mas não tem coragem para assumir e consumar algumas relações. Para a Escola, não há ninguém insubstituível nem amores incondicionais. Todos, num certo momento, podem ser descartados, rejeitados, preteridos ou trocados. E sobre isso não há qualquer ilusão ou engano…
A Escola não sabe namorar porque não consegue manter com os seus parceiros uma relação afectiva baseada no comprometimento, na cumplicidade e na confiança. Não há reciprocidade de sentimentos entre a Escola e os seus parceiros… A Escola perdeu a capacidade de seduzir e de atrair. A Escola tolera-se, mas não se deseja…
A Escola não leu, e se leu não reconheceu, o ensinamento dado pela Raposa ao Principezinho: “passas a ser responsável por aquilo que cativaste…” (Saint-Exupéry).
A Escola não quer saber de relações saudáveis nem de Ideais ou Princípios. Esses ficam apenas muito bem descritos e defendidos em compêndios teóricos, elaborados por “sábios” que nunca pisaram numa escola, a não ser, talvez, em ilustres cerimónias de inauguração ou em visitas previamente agendadas, sempre muito bem encenadas e artificiais, preparadas com todo o brilho e devoção…
A Escola rege-se por aquela desculpa esfarrapada, frequentemente utilizada para justificar o fim de um relacionamento e para esconder ou mascarar a rejeição: “o problema não és tu, sou eu…”.
Dessa forma, a Escola procura o indulto, ao mesmo tempo que assume uma postura profundamente egocêntrica, hipócrita e cobarde… Trata-se de uma estratégia ardilosa que, à primeira vista, pretende suavizar a culpa dos parceiros e retirar-lhes o ónus da responsabilidade da separação, mas, também, e intencionalmente, esvaziar de pertinência qualquer argumento apresentado com o objectivo de reverter a ruptura e o afastamento. Nessas condições, não há reatamento possível porque não há nada que os parceiros possam fazer para evitar a separação, a causa da mesma não é controlável por eles, está fora do seu alcance…
Mas a submissão que a Escola exige aos seus parceiros é tão intolerável quanto o é a inércia e a resignação destes últimos face a tal exigência…
A Escola, como um qualquer agressor, regozija-se e “esfrega as mãos de contente” pelo silêncio tácito dos que permanecem neutrais e conta com a sua irrevogável cumplicidade e conivência…
A Escola não é um parceiro de Bem e por isso não é recomendável… Mas essa condição também não impede que se estabeleça com ela uma espécie de relação amor-ódio, repleta de ambivalência emocional e de sentimentos contraditórios (positivos e negativos) que, naturalmente, tendem a entrar em conflito… O pior disso é se Balzac tiver razão: “o ódio tem melhor memória do que o amor”. Se tiver, o embaraço parece óbvio…
E depois de tantos lamentos e tanto queixume sobre os (des)amores da Escola, vem isto ao pensamento: “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.” (Álvaro de Campos).
Nota: Este é um texto de ficção, metafórico e irónico, qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência. A não ser que não se acredite em coincidências…
Como eu sei o que tem sido. Deixei de ter fins de semana. A qualquer hora se recebe um telefonema ou um email e tem de se atuar para tentar controlar ou minimizar os efeitos da pandemia dentro dos estabelecimentos escolares. Fechar turmas ao fim de semana ou já depois das 18 horas é usual. Receber noticias de “positivos” às 22 horas, também passou a ser um costume e não se pode deixar para amanhã o que se tem que fazer de imediato.
Diretores e professores exaustos depois de nove meses de pandemia
Sem parar desde março, alguns diretores sentem-se exaustos e ponderam abandonar o cargo que os obriga a estar alerta 24 horas por dia para garantir o funcionamento, em segurança, das escolas durante a pandemia de Covid-19.
Manuel Pereira trabalha, em média, 15 horas por dia. Fátima Pinto não consegue contabilizar o tempo, mas sente que o “dia não chega para tudo”. Jorge Saleiro já recebeu comunicações às duas da manhã. Irene Louro ainda tem 21 dias de férias para gozar e Carlos Louro está agora “de férias” a trabalhar na escola.
Histórias dediretoresque começam a acusar os efeitos de quase nove meses de gestão sob a ameaça diária do novocoronavírus.
“Osdiretoresestão muito cansados até porque, além do trabalho, existe uma enorme pressão para que corra tudo bem. É muito extenuante e vários colegas têm-me confessado o desejo de abandonar o cargo”, contou à Lusa o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).
Manuel Pereira é tambémdiretordo Agrupamento de Escolas General Serpa Pinto, emCinfães, e passou a ser normal trabalhar 15 horas por dia, até porque “90% do serviço”atualestá relacionado com acovid.
Osdiretoressão responsáveis por agrupamentos onde circula mais gente do que em muitas terras do país: em Loures, por exemplo, Irene Louro dirige uma “aldeia” com 2.400 alunos, cerca de 220 docentes e 130 funcionários; em Elvas, Fátima Pinto lida diariamente com os problemas de 1.500 estudantes e, em Barcelos, Jorge Saleiro tem a seu cargo 2.200 crianças e jovens.
A estes alunos é preciso somar professores, funcionários e encarregados de educação e umapandemia.
“Neste momento, temos duas escolas a funcionar emsimultâneo: a escola normal e a escolacovid“, explicou Irene Louro,diretorado Agrupamento n. 2 de Loures.
O seu agrupamento já identificou cerca de 30 situações deinfeção, mas nenhuma ocorreu em elementos da comunidade escolar.
“Foram casos que surgiram nas famílias. Uns foram a mãe, outros a explicadora ou o avô…”, contou, lembrando, no entanto, que estes casos obrigam aacionaruma intrincada operação, desde logo recolher informações junto da famíliaafetadapara poder avisar os serviços de saúde.
Para o delegado de saúde, “segue uma folha Excel com dados variados e até uma planta da sala de aula onde o aluno se senta e contactos telefónicos das famílias”, explicou.
As autoridades de saúde decidem quem fica em isolamentoprofilático, mas são as escolas que informam as famílias.
“Já recebi comunicações às duas da manhã e às sete estava a enviar avisos aos encarregados de educação para que não trouxessem os alunos para a escola”, contou odiretor do Agrupamento de Escolas de Barcelos.
Este trabalho obriga a “uma disponibilidade de 24 horas por dia, porque os contactos com as autoridades de saúde não têm hora marcada”.
No seu agrupamento, “têm surgido casos decovid“, mas Jorge Saleiro garante que “a situação não é alarmante”.
No Alentejo, a situação não é muito diferente. No agrupamento de Elvas, “todos os dias há casos” e por isso os telefonemas com a responsável daProteçãoCivil – que faz a ligação entre a escola e o delegado de saúde – já fazem parte da rotina de Fátima Pinto.
A carga dotelemóveldadiretorado agrupamento de Elvas “agora só dura para meio dia”. Mas o pior, desabafou, é a sensação de “o dia não chegar para fazer tudo” desde que surgiram os primeiros casos em Portugal.
Quando um professor adoece ou fica em casa em isolamentoprofilático, a escola tem de arranjar alternativa para não prejudicar os alunos. “Às oito da manhã temos de ter o problema resolvido”, relatou.
Nesta missão, osdiretoressão unânimesem salientar e aplaudir o trabalho de toda a comunidade escolar: “Não são só osdiretoresque estão cansados. Todo o corpo docente está esgotado”, lamentou Fátima Pinto.
“Toda a gente está a trabalhar mais horas e a levar trabalho para casa. Há uma generosidade e entrega ao compromisso de continuar a ensinar, mas a fadiga já é grande”, corroborou Carlos Louro,diretordo Agrupamento de Ponte da Barca.
As mudanças exigidas pelapandemiaimpediram odiretorde gozar as férias de verão. Quando falou com a Lusa estava “oficialmente” de férias, mas, na realidade, estava na escola a trabalhar.
Também Irene Louro disse à Lusa que ainda tem 21 dias de férias deste ano para gozar.
O trabalho não parou desdemarço, quando o ensino passou a ser feito à distância. Os professores tiveram de se adaptar às novas tecnologias e até andar à procura dos alunos “desligados” das aulas ‘online’.
Em Ponte da Barca, por exemplo, havia “quase 300 alunos sem computadores nem Internet”, disse Carlos Louro, lembrando que além de cederem os equipamentos da escola, andaram a “bater às portas” dos municípios e empresas para conseguir que todos estivessem “ligados”.
Todos osdiretoresrecordam o trabalhocolaborativoentre docentes, a disponibilidade para dar formação a colegas e até para irem a casa das famílias ensinar alunos e pais a usar os computadores e plataformas.
“Nós, professores, chegámos a casa dos pais com uma rapidez estonteante. Foi tão rápido que até nós nos surpreendemos”, lembrou Fátima Pinto.
Apandemiaobrigou a criar, apenas num fim de semana, a tal “escolacovid” mas também foi preciso “acalmar os pais”, recordou o presidente da ANDE.
Coube aos professores, muitas vezes já com alguma idade, a tarefa de tranquilizar as famílias.
“Os docentes e assistentes operacionais são uma classe bastante envelhecida, que também têm uma família e também têm medo”, lembrou Manuel Pereira,diretorcom 63 anos.
Irene Louro, de 60 anos, admitiu à Lusa que o que sente mais falta é do tempo que antes tinha para se poder dedicar ao papel de avó.