A escola como suporte socioeconómico

A escola como suporte socioeconómico

Chegados até aqui, é quase unânime que, apesar do reconhecido esforço dos professores, a tentativa de ensino à distância que aconteceu no final do ano letivo transato, não é solução, nomeadamente para os alunos mais novos.

Diariamente, o número de pessoas infetadas bate recordes e a pandemia parece totalmente descontrolada. Voltámos, como consequência, ao estado de emergência. É sabido que o número de infetados não quer dizer número de doentes, mas com um aumento tão rápido, colocamos em enorme pressão o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Como disse por estes dias a ministra da Saúde, podemos estar a falar de uma subida da mortalidade nos próximos tempos devido a essa pressão acrescida. Terá faltado preparação! Onde também foi notória a enorme falta de planificação foi na área da Educação, onde recentemente foi anunciada uma plataforma digital onde se pode registar os casos de covid-19 nas escolas. Foi anunciada com meses de atraso. Não teria de estar esta ferramenta operacional logo no dia 1 de setembro?

Não me quero repetir, mas a falta de planeamento para este ano letivo, trouxe-nos aqui. Não fazendo muito mais do que aquilo que foi feito, era expectável. Aqui chegados, estamos perante um cenário com poucas alternativas. Seremos obrigados a reagir apenas porque não quiseram agir em antecipação, delineando com decência os possíveis cenários.

O problema é tanto mais grave quanto mais se percebe a importância da escola enquanto um dos principais suportes socioeconómico. Diz quem nos governa que as escolas não podem fechar. Mas para que isso seja possível urge emendar a rota, ajustar processos e dinâmicas.

No entanto, depois de um início de ano tão atribulado, por falta de tudo, inclusive diretrizes coerentes, e onde ficou mais uma vez provado que a Educação é o parente pobre do Governo, não podemos, agora, simplesmente esperar que aqueles que têm sido, nas últimas décadas, tão maltratados estejam dispostos a serem os da linha da frente.

Bem sabemos que o colapsar da sociedade económica está intrinsecamente ligada ao fecho ou não de escolas e por conseguinte esta deveria ser a altura ideal para começarem a olhar para a comunidade educativa, nomeadamente para os professores, de outra perspetiva.

Infelizmente, o que vimos no passado dia 7 de novembro foi mais uma prova cabal de que a consideração que os governantes têm pelos professores é nula, ao requisitarem 128 docentes sem componente não letiva, para rastreio de covid-19, dando a entender, intencionalmente, a todo o país que esses professores estariam sem fazer nada nas escolas e que por isso podiam desempenhar aquela função. É falso. Quem a sugeriu sabe bem disso.

Olhar para a Educação de outra perspetiva significa:

Em primeiro lugar, reabrir a discussão da recuperação do tempo de serviço efetivamente prestado, seja faseado, seja com bonificação para efeitos de aposentação, mas que seja devolvido e os professores reposicionados de imediato.

Em segundo lugar, a eliminação de todas as cotas existentes na carreira docente, valorizando assim a progressão e aumentado a possibilidade de mais professores serem melhor remunerados. Rever o formato da Avaliação Docente que mais não é que um bloqueador da carreira e potenciadora de pequenas corrupções devido às vagas e às cotas.

Em terceiro lugar, acabar com os discursos pouco sérios sobre a realidade escolar, dizer que está tudo bem nas escolas, que os alunos vão todos caber dentro da sala e que as bolhas funcionam tornando as escolas em locais seguros é liminarmente falso. Prova disso é o mais recente estudo que indica que “na divisão por idades o grupo etário dos 10 aos 19 anos é claramente aquele onde o aumento tem sido mais expressivo, mais do que duplicando em apenas um mês. No final de setembro o país registava 4.216 jovens com estas idades que tinham sido contagiados, número que chegou aos 10.199 no final de outubro (+142%)”.

Em quarto e último lugar, começar desde já a perspetivar o resto do ano letivo, e consequentemente colaborar na diminuição de infetados a nível nacional. Para diminuir as probabilidades de contacto, aglomerados e deslocações devem passar, o quanto antes, para o ensino à distância ou misto, consoante o concelho, o 3.º ciclo e secundário.

As escolas não podem fechar porque a sua função assistencial se tornou tão grande que se sobrepôs à educativa. Se voltarem a fechar as escolas, teremos um país próximo da bancarrota.

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5 comentários

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    • Maria on 16 de Novembro de 2020 at 14:51
    • Responder

    Podemos saber quem é o autor deste texto? Obrigada.

      • Alecrom on 16 de Novembro de 2020 at 22:47
      • Responder

      “Dirigentes escolares continuam sem nada saber sobre a realização de testes rápidos de antigénio nos estabelecimentos de ensino.”

      https://www.publico.pt/2020/11/16/sociedade/noticia/testes-rapidos-semana-escolas-lares-orientacoes-dgs-garante-sera-explicado-tempo-1939405

    • Atento on 16 de Novembro de 2020 at 17:46
    • Responder

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    Até que enfim!………

    “As escolas não podem fechar porque a sua função assistencial se tornou tão grande que se sobrepôs à educativa.”

    Muito Bem Dito!…….Haja Lucidez!……SETÔRAS e SETORES deixem-se de ser Otárias e Otários!………

    Hoje aquilo a que chamam “ESCOLA” não passa de um enorme “ARMAZEM” onde os progenitores colocam os seus rebentos para poderem desenvolver as suas atividades ludicas, profissionais ou outras…….

    Hoje aquilo a que chamam “ESCOLA” não passa de uma enorme “CANTINA SOCIAL” onde se dá de comer aos FAMINTOS desta vida (Filhos de Desempregados; Filhos daqueles que vivem do Rendimento Social de Insersão (RSI); Filhos de Prostitutas; Filhos de Delinquentes; Filhos de Presidiários; Filhos daqueles que auferem o Salario Minimo Nacional no valor de 635 Euros e que levam para casa á volta de 500 euros…….

    Hoje aquilo a que chamam “ESCOLA” não passa de uma enorme INTRETEM onde os designados professores dão umas TRETAS de que são exemplo as “cidadanias”, “educação ambiental”, “educação sexual”, “desporto escolar/toma lá uma bola para dares uns chutos”………..

    Hoje aquilo a que chamam “ESCOLA PUBLICA” não passa de uma enorme FRAUDE onde os pobres são acolhidos…..Sim!….porque os filhos da classe média e alta são colocados em Escolas de Bandeira e em Colegios Privados onde possuem uma boa preparação para a Vida Futura.

    Ao que a ESCOLA PUBLICA chegou!…….Não!….isto não merece ser chamado de “ESCOLA”…………A ESCOLA é um local de ENSINO-APRENDIZAGEM e não um HOSPICIO para os Desgraçados da Vida.

    VERGONHA!……..NOJO!……………….

    É isto o trabalho do Partido Socialista e do seu Grande Lider António Bosta.

    Sinto Tristeza, Nojo e Repulsa por grande parte do professorado não ter discernimento para enchergar o que se passou no Ensino e, em particular, na ESCOLA PUBLICA, a qual foi transformada num CENTRO ASSISTENCIAL.

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    • mario silva on 22 de Novembro de 2020 at 22:54
    • Responder

    “próximo da bancarrota”: seria mais o colapso social…
    a pandemia veio comprovar a função principal da escola: local para tutelar menores de idade enquanto os progenitores trabalham; a aprendizagem será um acréscimo a essa função.
    Se as escolas fecham como em março, o problema social será pior do que a doença gripal, e por isso, o risco de infeção revela-se menor que o risco social. Mas nivel individual, o risco de infeção pode ser letal…

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