Carta aos professores
- E os professores?
Acordei a pensar nisto.
E os professores, o que se pede a quem é professor, o que se exige de capacidade de adaptação, de capacidade para sem tempo e num clima de emergência fazer diferente do que sempre fez?
2. Não é fácil imaginar ou colocar-me na pele de muitas professoras e professores. Maltratados nos últimos anos, esquecidos bastas vezes, a ter de lidar com as aceleradas mudanças sociais em que perderam a respeitabilidade que lhes era devida, menosprezados nos seus papéis, atacados por pais e alunos e sem poder para impor uma disciplina mínima na sala de aula.
3. Nas últimas semanas falei de médicos, enfermeiros, auxiliares.
Mas ainda não escrevera sobre professores, uma das mais belas profissões a que se pode ambicionar. Muitas das suas reivindicações são justas – se são praticáveis ou não é um outro departamento, um outro texto que um dia escreverei. Os professores existem, são feitos de carne e de osso, têm sentimentos e todos os dias estão na primeira linha entre os que constroem o nosso futuro. Sem eles não há futuro.
4. E tem sido muito bom ver a forma como os professores disseram presente. Tem sido muito bom ver o modo como se têm tentado adaptar a um ensino à distância, tecnológico e que obriga a usar ferramentas que uma larga maioria certamente jamais experimentara desta forma. Provaram estar vivos. Provaram com enormíssima coragem o seu brio profissional, a sua capacidade de adaptação e a sua resiliência.
5. Não me esqueço também do que tenho visto na telescola. Sem tempo para serem preparados cerca de 100 professores avançaram e estão a fazer genericamente bem. Melhor do que muitos profissionais que não são capazes de ser tão empáticos ou genuínos.
6. E toda esta mudança foi feita num clima de instabilidade psicológica e profissional. A média de idade dos professores no ensino secundário está bem acima dos 50 anos. Muitos estão numa idade já crítica se forem contagiados. O assunto ainda não se colocou, mas estará certamente na cabeça de muitos quando voltarem a dar aulas na presença física de alunos. Como na cabeça de muitos estará também o que está em cada uma das nossas – receio, insegurança, incredulidade. Foi neste cenário que disseram presente e será pelo seu esforço e capacidade que passará uma parte importante do sucesso do regresso à vida.
Era só isto, pouco para o que desejava dizer. Se os médicos e enfermeiros ajudam a salvar vidas, professores ajudam vidas a encontrar-se com o futuro.
4 comentários
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Já li belos textos acerca da minha adorável e adorada profissão e vocação, mas este tocou-me especialmente.
Tratar do corpo é vital. Tratar do ser humano educado e conhecedor e apto culturalmente, não é menos precioso.
Tenho e sempre tive muito orgulho em ser Professora, apesar das dificuldades, lá vamos com toda a dignidade que nos roubaram, mas que resistimos com trabalho e competência.
Muito bom!!! Haja alguém que reconheça que tão importante é quem trata da saúde de nós todos hoje, como importante são aqueles que preparam os que tratarão da saúde de quem cá estiver no futuro. Sim, porque sem professores desde a base com os mais pequeninos até ao topo de qualquer curso, não há futuro… A educação é a base, quer queiram quer não, de todos e de tudo!!!
Chapeau!
Eu sou professor.
Obrigado!
Hoje não há lideres políticos, nem religiosos , nem sociais. O planeta está comandado por loucos. Diz-se que sempre foi assim, que são cíclicos históricos, que a História se repete ,etc. Mas também, não é menos verdade, que um dia chegou e os dinossauros foram comprar cigarros e não mais voltaram …
Quem nos diz, quer seja por questões climáticas, quer por uma desarmonia do Universo, quer involuntária ou voluntariamente, suceda de irmos comprar cigarros e não voltarmos mais…Como dizem os brasileiros ( não os Bolsonaros ), haja Deus.