Comunicado ANVPC – Confirma-se, de novo, a precariedade laboral permanente de milhares de professores ao serviço do Estado português!

naoA melhoria da qualidade do serviço educativo e das aprendizagens, bem como a valorização e o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores, são condições essenciais para o prestígio e dignificação da Escola Pública e da profissão docente, e para a promoção de um ambiente de estabilidade, confiança e colaboração ativa na escola. A realização deste desígnio é de interesse nacional e deve constituir-se como fator aglutinador através do intercâmbio de ideias e de experiências entre todos os agentes educativos. Nessa medida, a qualidade da Escola pública, preconizada no Estatuto da Carreira Docente, não é possível ser atingida com a instabilidade e insegurança no trabalho, nomeadamente a precariedade laboral permanente de professores que têm desempenhado funções docentes no Ministério da Educação e Ciência (MEC) no decurso dos últimos 5, 10, 15 e mais anos. Parte da resolução recente da precariedade laboral dos professores teve início em 2013, após uma ação assertiva da Associação Nacional dos professores contratados – ANVPC junto da tutela, confirmada com a realização de um primeiro Concurso para Vinculação Extraordinária, e prosseguiu com um novo concurso, deste âmbito, em 2014. Ambos vieram, na totalidade, a permitir a vinculação aos quadros do Ministério da Educação e Ciência de cerca de 2.600 docentes. Já no corrente concurso de professores foram vinculados aproximadamente 1.500 docentes, embora, tal como várias vezes referido por esta organização, através de um modelo de acesso aos quadros que aprofundou as injustiças e incrementou as desigualdades de direito no acesso às funções públicas.

No entanto, e apesar das cerca de 4.000 entradas nos quadros (deveras insuficiente face à paralela dispensa de milhares e milhares de professores) após a análise das listas de colocação de professores contratados hoje publicadas é visível que continuam a ser sucessivamente contratados docentes com muitos e muitos anos de serviço em escolas diretamente tuteladas pelo Ministério da Educação e Ciência, não lhes tendo sido, até à data, permitido o seu justo, e legal, vínculo. É ainda de lamentar profundamente os milhares e milhares de professores que já desenvolvem há muitos anos trabalho ao serviço do MEC e não obtiveram, à data, qualquer colocação, em grande parte pela ineficiência da máquina concursal da tutela, que virá certamente a apresentar, nas próximas semanas, um elevado número de vagas nas quais deviam, agora, já ter sido colocados os devidos professores (atrasando, nas escolas, a normal abertura do ano letivo, e promovendo uma maior precariedade laboral destes docentes, provocando, nomeadamente, interrupções na sucessividade das suas colocações, pela referida inoperância do mecanismo concursal, e a que estes docentes são totalmente alheios).  

Mais, os docentes contratados continuam, ano após ano, a ser alvo de um (in)constante quadro legislativo que tem transformado as colocações de professores (e as suas vidas e as das suas famílias) numa autêntica “roleta-russa”, proporcionando uma tal instabilidade no sistema de colocações que faz com que que nenhum docente saiba com o que contar, nem em que formação e experiência deverá investir, nem, muitas das vezes, em que pressupostos se deve basear para a realização das suas preferências concursais (por falta de informação da tutela, ou pela publicação de esclarecimentos em momentos posteriores aos desejados).   

Face ao exposto, torna-se, entre outras medidas,  urgente e inadiável,

1) Estabilizar o regime de concursos e de colocação de professores, pelo que urge, logo após a tomada de posse do novo governo, iniciar rapidamente o processo de alteração do D.L. n.º 83-A/2014 de 23 de maio (dado que o Ministério da Educação e Ciência se mostrou intransigente em efetuar qualquer tipo de mudança no mesmo para aplicação ao presente concurso de professores), criando um regime global, e eficiente, de contratação de docentes, em conformidade com os avanços técnicos e tecnológicos do século XXI, permitindo uma colocação atempada de todos os professores em todas as tipologias de escolas sobre tutela do MEC (concurso nacional, TEIP e Autonomia);

2) Cumprir a Resolução da Assembleia da República n.º 35/2010 de 4 de maio (que teve origem numa petição pública entregue na Assembleia de República com cerca de 5.000 assinaturas e dinamizada por muitos dos membros fundadores/dirigentes da ANVPC, e que resolveria, em grande maioria, definitivamente, o problema de instabilidade profissional dos professores contratados portugueses) através da abertura, durante o presente ano letivo 2015/2016, de um novo concurso extraordinário para vinculação de professores contratados;

3) Permitir uma urgente flexibilização através da extensão da aplicação da “norma-travão” a um maior número de professores, que, desde 2001, cumprem os requisitos plasmados na Diretiva 1999/70/CE, articulando a aplicação desta norma com outro modelo que permita a vinculação urgente, pela graduação profissional, dos docentes que detêm vários anos de serviço nas escolas tuteladas pelo Ministério da Educação e Ciência  (com ou sem contratos anuais, completos sucessivos), proporcionando, paralelamente, a estes docentes, uma prioridade concursal superior à de outro qualquer professor advindo de qualquer tipologia de entidade privada de educação;

4) Reparar as injustiças consequentes da recorrente ineficiência do mecanismo de colocação de professores, ocorrida essencialmente nos últimos anos letivos, amplamente divulgada pelos meios de comunicação social, pela ANVPC e por outras organizações de professores, pelas Associações de Pais e Encarregados de Educação, pelos Diretores de Escolas e pelos demais parceiros educativos;

5) Alocar aos devidos grupos de recrutamento vários horários destinados a Técnicos Especializados, que são, muitas das vezes, contratados para lecionarem disciplinas para as quais existem grupos de docência previstos no Estatuto da carreira Docente;

6) Reforçar o número de docentes nas escolas públicas portuguesas, incrementando o número de horas para o desenvolvimento de projetos dos mais variados âmbitos (cidadania, empreendedorismo, etc.) e de apoios pedagógicos, potenciando, nessa medida, a possibilidade de sucesso educativo para todas as tipologias de alunos;

É ainda urgente que seja rapidamente dado seguimento às colocações na Bolsa de Contratação de Escola (BCE), permitindo, no cumprimento dos normativos legais vigentes, que os docentes contratados colocados em Contratação Inicial/Reserva de Recrutamento possam optar pela sua colocação nesse regime, ou por outra, mais favorável, decorrente da BCE. É fulcral que seja, este ano, devidamente operacionalizado um correto mecanismo de articulação das várias modalidades de concurso/colocação (Concurso Nacional e BCE), que permita o cumprimento dos imperativos de equidade e de igualdade de oportunidades entre professores contratados. Esta organização acolhe, no entanto, de forma positiva, que o MEC tenha voltado a divulgar as listas de colocação durante o mês de agosto, esperando que durante a primeira quinzena de setembro sejam, para além das colocações da BCE, ainda divulgadas várias Reservas de Recrutamento, na perspetiva de que as escolas tenham a  totalidade dos seus professores colocados atempadamente, e possam, adequadamente, realizar todas as atividades de arranque do ano letivo.   

Será com a convicção, a firmeza e a postura construtiva que nos carateriza, que continuaremos a desenvolver ações que defendam o fim da precariedade docente e o fim da utilização abusiva de contratos a termo pelo Ministério da Educação e Ciência (em prol da dignificação, valorização e reconhecimento da profissão docente, como baluarte da defesa da qualidade, do rigor e da excelência do serviço público educativo).

Nessa medida, e tal como previsto, com base nos dados decorrentes da publicação das presentes listas, e das que se seguirão nas próximas semanas (Reservas de Recrutamento e BCE), será realizada, pela ANVPC, uma nova denúncia às entidades europeias, demonstrando que o Estado português continua a submeter a uma precariedade laboral permanente, milhares e milhares de professores.

 

A direção da ANVPC

28.08.2015

http://anvpc.org/confirma-se-de-novo-a-precariedade-laboral-permanente-de-milhares-de-professores-ao-servico-do-estado-portugues/

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2015/08/comunicado-anvpc-confirma-se-de-novo-a-precariedade-laboral-permanente-de-milhares-de-professores-ao-servico-do-estado-portugues/

18 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

    • Pois on 28 de Agosto de 2015 at 17:17
    • Responder

    Ainda há pouco na comunicação social: 22 000 candidatos de fora! 3 mil contratados colocados.

    Não há milagres. Culpem os cursos que formam docentes a saldo e soldo.

      • Pois on 28 de Agosto de 2015 at 17:18
      • Responder

      PS – E culpem a atribuição de $$ às privadas… Virem-se para os verdadeiros culpados. Este texto é só retórica oca.

      • Pois on 28 de Agosto de 2015 at 17:22
      • Responder

      “ainda à pouco” – Desculpem… é a emoção de terem saído as listas (obrigado) LOL

    • silva on 28 de Agosto de 2015 at 18:31
    • Responder

    Uma Associação Nacional de Contratados? De que contratados? dos da norma-travão ou dos colégios?
    Eu (com 19 anos de serviço), assim como milhares de outros professores, fomos ultrapassados por colegas colocados na 1ª prioridade e pelos professores que vieram do privado e estamos agora OFICIALMENTE no desemprego.
    Sem dúvida que a ANPC tem feito um bom trabalho ( para o seu umbigo, claro).
    Com amigos destes, são preferíveis os inimigos.
    É preciso ter lata!

      • Ana Carvalho on 28 de Agosto de 2015 at 19:08
      • Responder

      Totalmente de acordo Silva. A norma travão serviu “alguns”.Sou contratada há 21 anos e estou no desemprego. A norma travão serviu para “alguns”. Parabéns César.

        • Avoaavoa on 29 de Agosto de 2015 at 0:39
        • Responder

        Para o passarão pousar e a senhora ficar a ver navios.mexam-se e peçam a anulação da norma travão.Pode ser que o passarão seja sacudido.

          • Ana Carvalho on 29 de Agosto de 2015 at 8:48

          Bom dia. Tenho uma ação em tribunal desde setembro, enquanto outros falam e nada fazem! Está satisfeito/a com a resposta?

    • cocas on 28 de Agosto de 2015 at 20:20
    • Responder

    É preciso ter muita lata.
    Uma associação de professores contratados, que surgiu á 3 anos atrás, que não fez nada e que se aproveita do blog do Arlindo para deixar as suas lamentações, Por acaso ANPC não tem um site para informar os associados? Sou do grupo 600 à 23 anos e ao contrário do colega, não tive Padrinhos que renovassem o contrato, dai eu ficar no desemprego nestes anos.
    Dispenso comentários falso, de pessoas que não fizeram nada para anular este concurso injusto.

      • Pedro on 28 de Agosto de 2015 at 20:46
      • Responder

      Tal e qual! Faço minhas as suas palavras!

    • Voaavoa on 29 de Agosto de 2015 at 0:36
    • Responder

    O passarão da norma travão a servir de carpideira.Então o passarão fez a norma travão para ele vincular, e agora está com peninha dos colegas.
    César o passarão(avis rara) passou a perna aos outros e agora escreve inlamados panfletos.Boa era se os colegas contratados vencesssem em Tribunal e essa porcaria de lei fosse anulada.

    • Marmelo on 29 de Agosto de 2015 at 1:27
    • Responder

    Algo que ainda não vi ninguém comentar… O grupo com mais contratações+renovações (910) com centenas de contratados nesta CI, não tem UMA ÚNICA contratação/renovação a Norte da Marinha Grande!

    Muito curioso…

    • José on 29 de Agosto de 2015 at 2:25
    • Responder

    O César fez o seu trabalho, não vi outro fazer melhor. Acabar com a norma travão também seria injusto, muitos foram colocados longe para não quebrar o ciclo.
    O único que está errado são as renovações que permitem por vezes que menos graduados fiquem colocados e outros não. O ideal será manter o que está, e melhorar. Não adianta querer o mal dos outros. É por estas e por outras que a nossa classe está como está.

  1. ANVPC

    Uma associação que “representa” 25.296 professores….

    Como resolver o caso dos 22.000 professores com “horário zero”/desempregados?…

    “Cerca de 22.000 professores que concorreram a um contrato nas escolas da rede pública ficaram sem colocação, de acordo com os dados dos concursos divulgados esta sexta-feira pelo Ministério da Educação.

    Em 25.296 candidatos a contratação inicial, foram colocados 2.833 professores em vagas consideradas necessidades transitórias das escolas.”

    http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-08-28-22.000-professores-ficam-sem-colocacao

    • Indignada on 29 de Agosto de 2015 at 20:43
    • Responder

    José a nossa classe está como está devido a injustiças nos concursos.
    O seu amiguinho fez o fez apenas em beneficio próprio. E vem falar de precaridade laboral, na classe docente, quanto nunca sentiu na pele essa precaridade, nunca ficou desempregado porque sempre lhe renovaram o contrato, nunca precisou de andar com a casa as costas, ao longo destes anos e nunca precisou ficar distante da família. É contraditório vir-se fala de dignidade, rigor e excelência do serviço publico, quando isso não se verifica nos concursos de professores, á conta na norma- travão e renovação de contratos.

      • Ricci on 30 de Agosto de 2015 at 11:06
      • Responder

      – Ele andou a cozinhar a norma travão com a ajuda da FNE e dos otários dos contratados que foram na cantiga da associação;
      – Ele conseguiu entrar pela dita norma, no qzp 1 (um dos mais procurados) depois de andar a acumular renovações no qzp2, com isso ultrapassa contratados mais graduados e efetivos;
      – Agora, no qzp 1, fica colocado perto de casa com apenas com 10 horas para andar a coça-los…mas claro que a receber por inteiro…
      É lá! Foi uma golpada de mestre!!!!

        • Salve on 30 de Agosto de 2015 at 22:26
        • Responder

        Se os tribunais anularem a dita norma…pode ser que o passarão fique sem emprego.
        Ele safou o dele e se os otários continuam sindicalizados…. passarem bem…

          • Margarida on 31 de Agosto de 2015 at 9:54

          Quem é que mandou a norma para tribunal, algum sindicato, algum professor? Não sei, nem ouvi, ainda, ninguém falar disso! De qualquer forma, mesmo que o assunto fosse para tribunal e a dita norma fosse anulada acha que lhe tiravam agora a entrada no quadro? Quem entrou já se safou! Parece-me que teremos é de chorar sobre o leite derramado. Autêntica desilusão este César!

    • Henrique on 30 de Agosto de 2015 at 0:54
    • Responder

    A colocação de professores era um exemplo para o resto da função publica pois apesar dos seus erros havia respeito pelos mais graduados. Havia uma só lista onde se podia aferir a posição de cada um e compará-la com os demais com transparência.
    Agora os da norma travão com 5 anos de serviço passam à frente dos que têm 20 e também dos professores do quadro. Uma vergonha!!!!! Uma injustiça que se vai espalhando como uma peste, gerando por agora a indignação e mais tarde a revolta. Pior do que esta peste sem qualquer justificação só as renovações e os destacamentos por doença que colocam professores em casa e os legítimos titulares desses lugares ficam a centenas de quilómetros de sua residência.
    – Para que uma lei seja aceite tem de ser justa. A norma travão não podia ser mais injusta pois põe em causa as mais elementares regras de graduação que eram democraticamente aceites por todos. Antes desta regra os concursos eram uma bandeira da escola no pós 25 de abril. Agora são um conjunto de interesses de alguns que prejudicam os outros. Uma vergonha para todos, mas muito mais para quem os defende tal como estão.
    Tenham vergonha, o que vocês querem é ganhar na secretaria o campeonato que não conseguiram ganhar no campo.

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
Seguir

Recebe os novos artigos no teu email

Junta-te a outros seguidores: