5 de Janeiro de 2025 archive

Docere et delectare

            No século I antes de Cristo, portanto há mais de dois mil anos contados, um cidadão romano, de seu nome Marcus Tulius Cicerus – conhecido entre nós como Cícero – que de ocupação era advogado e político, deteve-se a refletir sobre quais os verdadeiros objetivos de um orador.

Primeiramente, docere, ou seja, “ensinar”; seguidamente, delectare, que se traduz por “deleitar”. De forma muito resumida, o intuito é o de ensinar deleitando, apelando aos afetos de quem escuta.

Mas o que tem isto a ver com o ensino? Com o ser professor? Bem, se formos a ver as razões por trás da opção de ser professor de muitos, mas mesmo muitos colegas que hoje (ainda) subsistem nas nossas escolas, foi precisamente a vontade de transmitir às nossas gerações mais jovens o conhecimento, ajudando-os a dotar-se de ferramentas e estratégias que lhes permitam capacitar-se da melhor forma possível para se prepararem para o futuro pessoal, laboral, social, afetivo, etc… muitos professores iam para a escola de sorriso nos rostos. Muitos professores iam para a sala de aula com motivação. Muitos professores orientavam as suas aulas com gosto. Muitos professores acompanhavam o processo de crescimento dos seus alunos com genuína satisfação. E esses professores tinham tempo para se dedicar humanamente aos seus alunos. Tinham tempo para pensar em atividades, em estratégias, em tarefas, em propostas, e até em projetos que envolvessem os alunos e lhes permitissem abrir cada vez mais horizontes, sair cada vez mais da sua caixa, ser cada vez mais completos e íntegros. Já houve um tempo em que ser professor era ter tempo para a dimensão humana da sua relação com os alunos. Em que os professores, muito mais do que só “dar matéria”, eram também uma figura de respeito e uma referência. Quantas vezes um adolescente tem um problema, ou uma questão, que por vergonha não coloca em casa; que não coloca aos pares porque estes nada sabem que o clarifiquem; que não encontra respostas na internet porque esta está pejada de informação contraditória e de desinformação… quantas vezes os professores emprestavam um ouvido para problemas mais ou menos sérios, mais ou menos graves, mas que para o aluno em questão tinha um significado incalculável. Quantas vezes os projetos em que os alunos eram envolvidos pelos seus professores lhes permitiam ter verdadeiro contacto com realidades totalmente desconhecidas, mas que só em contexto de projetos, atividades ou clubes era de todo possível proporcionar aos alunos tais experiências? Quantas vezes os professores inspiravam alunos a seguir o seu caminho numa determinada área?

Nessa altura, os professores tinham, de facto, tempo, frescura, motivação, espaço para desenvolver e implementar a dimensão humana do ser professor. Nessa altura, os professores podiam docere et delectare, porque ensinavam com um gosto que contagiava os alunos. Ensinar deleitando… e não quer dizer que as aulas tenham de ser sempre lúdicas, não é o caso. Mas é o professor estar ainda dotado e a transbordar do amor pelo ensino que o levou a abraçar a profissão com espírito de missão. É o professor contagiar os alunos com o gosto que demonstra pelo que faz. É o professor estar cansado, com um cansaço natural e saudável, mas que não cansa… porque já o filósofo chinês Kung Fu Tsu, entre nós conhecido como Confúcio, há mais de 2500 anos afirmou que, aquele que sente verdadeiro gosto pelo que faz, não terá de trabalhar um único dia na sua vida – porque o que faz dá-lhe prazer e o cansaço que daí advém não pesa. Tantos professores eram assim…

Mas depois… lentamente, paulatinamente, como quem não quer a coisa… neste país herdeiro dos processamentos burocráticos verdadeiramente kafkianos da Inquisição e do Estado Novo (por exemplo), eis que chegou às escolas uma lógica de burocracia crescentemente sufocante e castrante do que é o ser professor. Um peso absurdo e altamente esgotante começou a drenar a energia positiva dos professores. Um amor que se não alimenta, ou estagna ou morre. E nunca tanto como agora, em que os professores estão soterrados sob uma tonelada de encargos com burocracia – muita dela perfeitamente inútil para a felicidade dos alunos – se viram tantos professores a ir para a escola com olheiras, em vez de sorrisos. Nunca se viram tantos professores com esgotamentos, depressões e outros problemas advindos unicamente da sobrecarga burocrática. Nunca se viu um número tão elevado de professores a simplesmente abandonarem o ensino muito antes da idade da reforma, quebrantados pelo desânimo da realidade a que o ser professor foi votado. Uma realidade burocrata, onde o professor já vai cansado para as aulas. Onde o professor dá aulas nos intervalos das suas obrigações burocráticas. Onde o professor olha para o horário e lamenta ter aulas àquela hora porque assim vai ter de interromper o trabalho burocrático que tem um prazo de entrega. Onde os professores que ainda têm uma réstia do amor que originalmente os motivou, tentam fundar clubes e projetos, mas que lamentavelmente acabam por ficar sem dinamização por culpa da sempiterna burocracia. Onde os professores chegam a dezembro e já só lamentam a enormidade de tempo que falta até ao final do 3.º período. Onde o cansaço e a exaustão são o estado natural do dia-a-dia de um professor de hoje. Onde tantos professores já só conseguem levantar-se de manhã ou dormir à noite, ou sequer ir para a escola, porque estão sob o efeito de medicação.

Que realidade é esta? Os colegas professores estrangeiros que vêm a Portugal ficam abismados com a quantidade inacreditável de burocracia inútil a que nós estamos obrigados. As famílias dos professores estão sempre à espera de que estes desliguem os computadores e se lhes juntem.

Que vida é esta? É uma vida de desperdiçar pela janela um potencial incrível de professores experientes, motivados, cheios de energia e gosto pelo ensino, transformando-os numa massa de gente envelhecida precocemente, cansada, à beira de desistir, só à espera que o ano letivo acabe…

Continuem a inundar os professores de burocracia e cheguem à conclusão que, cronologicamente, coincide o estabelecimento de metas cada vez mais flexíveis para os resultados escolares com o aumento da burocracia inútil nas escolas.

Continuação de um bom ano letivo aos que ainda conseguem ir trabalhar todos os dias. Votos de boa recuperação aos cada vez mais colegas que, infelizmente, estão de baixa.

 

Prof. João Tavares, AE Frei João de Vila do Conde

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Gravações da reunião contrariam FENPROF

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Lista Colorida – RR15

Lista Colorida atualizada com colocados e retirados da RR14. Se tiver tempo (coisa que não tem abundado por estes lados) ainda acrescento os que foram colocados no Concurso Extraordinário.

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205 Contratados na RR15

Foram colocados 205 contratados na Reserva de Recrutamento 15, distribuídos de acordo com a tabela abaixo.  Destas 205 vagas, apenas cerca de 30 foram a sul, distribuídas por 3 ou 4 grupos de recrutamento.

 

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E a “luta continua”… desastrosa!

De forma sarcástica e metafórica, mas sem intenção de desfeitear alguém, assiste-se, no momento presente, a mais um episódio do folhetim, iminentemente dramático, marcado por melodrama, amor, traição, dilema, sedução, vingança e, até, por cenas eventualmente chocantes:

– E a “luta continua”… desastrosa!

Alegadamente, a Fenprof terá apresentado queixa à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre as negociações com o Ministério da Educação, havidas no passado dia 27 de Dezembro (Jornal Diário de Notícias/Agência Lusa, em 2 de Janeiro de 2025), por este motivo:

Alegadamente, quando recebeu a Fenprof, e ainda antes de se sentar à mesa das negociações com os restantes Sindicatos, o Ministério da Educação já teria assinado um acordo com a Federação Nacional da Educação – FNE (Jornal Diário de Notícias/Agência Lusa, em 2 de Janeiro de 2025)…

Desculpe-se a insistência, mas a acção dos principais Sindicatos de Professores continua desastrosa, pelo menos desde 2010, havendo a assinalar estas lastimáveis prestações, cujos efeitos perniciosos são impossíveis de ignorar ou escamotear:

– Acordo ruinoso, para os Professores, estabelecido pela Fenprof com a Tutela em 2010;

– Acordo lesivo, para os Professores, estabelecido, pelo menos em termos tácitos, pela Fenprof e a Tutela durante o tempo da Geringonça, plausivelmente, seguindo a agenda política e o guião do Partido Comunista Português, que foi apoiante dos Governos dessa época;

– Aceitação, pela Fenprof, de participar na rábula das infindáveis rondas negociais, nos simulacros de negociação, muito pouco edificantes, com o Ministério da Educação liderado por João Costa, sabendo-se, desde o início, que a Tutela não tinha qualquer cedência significativa para apresentar aos Sindicatos;

– O protagonismo do STOP que acabou em desgraça, culminando numa tremenda desilusão;

– No momento presente, a FNE que parece não ter visto nada de mal na proposta de Protocolo apresentada pela Tutela aos Sindicatos, aceitando e assinando um acordo que, em última análise, visará silenciar os próprios Sindicatos, ao longo do tempo em que decorrerem as pretensas negociações;

– A FNE consentindo, assim, que os seus supostos representados, principais interessados na negociação, se vejam privados do direito de serem informados sobre o decurso do processo negocial;

– A FNE que, a ter sido como acusa a Fenprof, não teve qualquer reserva em enveredar pela plausível deslealdade institucional face aos seus pares, assinando um acordo antes da audição de todas as partes envolvidas na negociação, alegadamente refém da simpatia pelo principal Partido do actual Governo (PSD);

– A existência de guerras fratricidas entre Sindicatos, ilustradas, no passado recente, pelas desavenças entre a Fenprof e o STOP e, no presente, entre a Fenprof e a FNE, procurando, cada um deles, o controlo da pretensa luta e a exaltação de determinados protagonismos;

– Em resumo, as estruturas sindicais, que poderiam e deveriam ter um papel fundamental no sentido de conseguirem agregar os Professores e de contrariar a endémica desunião Docente, acabam por não conseguir opor-se às cisões existentes, uma vez que elas próprias se têm constituído como factores de divisão, de facciosismo e de exacerbado corporativismo…

O Governo actual e as estruturas sindicais ficam, todos, muito mal nas primeiras “fotografias” da negociação do Estatuto da Carreira Docente, “fotografias” essas, que primam pela falta de “nitidez” e pela “obscuridade”:

– A Tutela, por parecer disposta a incentivar a “intriga palaciana”, os “jogos de bastidores”, a falta de transparência e a deslealdade institucional, contribuindo, de forma determinante, para o inquinamento, desde o início, de todo o processo negocial; e os Sindicatos por parecerem embarcar nesse ardil com muita facilidade, uns agindo com uma dose assinalável de putativa “chico-espertice”, outros aproveitando para se vitimizar, tentando, talvez, escamotear os próprios erros, cometidos no passado;

– Em suma, parece faltar seriedade, credibilidade, coerência e transparência na acção de todos os envolvidos neste processo negocial que, pelo “andar da carruagem”, culminará em mais uma “desgraça”, em mais uma desilusão, em mais uma oportunidade perdida…

E, a assistir a tudo isto, estarão muitos milhares de Professores à espera que impere a sensatez, que prevaleça a verdadeira defesa da sua classe profissional, que sejam devidamente acautelados os seus interesses profissionais e que, efectivamente, sejam implementadas alterações significativas e benéficas no Estatuto da sua Carreira profissional…

À luz do que já se conhece, e ainda estamos no preâmbulo da presente negociação, que motivos poderão ter esses milhares de Professores para acreditarem, de boa-fé, em nobres intenções da Tutela e dos que se intitulam como seus representantes?

Afinal, ao longo dos últimos anos, no meio de tanta “luta” com efeitos desastrosos, quem defende, com verticalidade e transparência, os interesses dos Professores?

Com franqueza, não parece que os Professores tenham quem efectivamente os defenda, se considerarmos que essa função cabe primordialmente às estruturas sindicais…

Até porque se tivessem, não se assistiriam, por certo, a tantos e incompreensíveis “desastres” gerados pelos próprios Sindicatos de Educação, ainda por cima, muitas vezes, hipocritamente cometidos em nome dos Professores…

Chega mesmo a ser “chocante” a forma como as estruturas sindicais cometem erros consecutivos, involuntários ou intencionais, sendo praticamente impossível “distinguir o trigo do joio”, e como a Classe Docente se encontra enredada numa teia de interesses sindicais, que sistematicamente se sobrepõem e, às vezes, até, opõem, àquilo que conviria aos próprios Professores…

Se calhar, só há “joio”…

Se calhar só há “joio” e, nesse caso, tudo o que é suposto ser negociado, daqui para a frente, entre a Tutela e os Sindicatos de Professores ficará irremediavelmente posto em causa… Serão, apenas, “negociações” para entreter, para fazer de conta que se faz alguma coisa…

Como é que uma classe profissional poderá sobreviver sem um sindicalismo forte, mobilizador, transparente, sério e credível, capaz de, efectivamente, acautelar e defender os seus interesses?

Má sina ser Professor em Portugal…

Nota 1: Pelas informações disponíveis, e para que não restem dúvidas, fez bem a Fenprof em denunciar a situação em causa… Pena que noutros contextos, porventura, até, mais gravosos, não tenha tido uma atitude igualmente diligente, como, aliás, lhe competia, em particular por se arrogar como a maior organização sindical de Professores e pela responsabilidade acrescida que essa condição implica.

Nota 2: Mesmo que a Tutela tenha “voltado atrás” no que respeita à confidencialidade das Actas das reuniões negociais, não pode deixar de se registar, e de censurar, que a intenção inicial era mantê-las com “caráter reservado” e impedir a sua divulgação, conforme consta na proposta de Protocolo de Negociação apresentada pelo MECI.

Paula Dias

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Por Ordem de Entrada?

É a primeira vez que vejo num concurso os resultados serem decididos por ordem de entrada das candidaturas, independentemente da necessidade de cada um dos projetos.

 

 

Póvoa de Varzim sem verbas para renovar escolas

 

O BE diz que a Câmara da Póvoa de Varzim perdeu a oportunidade de fazer obras nas escolas, por ter “apresentado tarde” as candidaturas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O presidente da autarquia diz que as “regras mudaram” e que o Governo “está a fazer tudo para resolver a questão”.

 

O município ficou de fora dos primeiros 30 contemplados com verbas do PRR para intervenções em estabelecimentos de ensino. O presidente da Câmara, Aires Pereira, lembra que foram “dezenas” as autarquias “excluídas”. A Póvoa de Varzim precisa quase 30 milhões de euros para renovar as EB 2,3 Cego do Maio (na cidade), Campo Aberto (em Beiriz) e S. Pedro de Rates.

“Sendo o aviso de abertura do concurso claro quanto à atribuição das verbas – ‘não havendo seriação das candidaturas, elas serão decididas por ordem cronológica’ – o mínimo expectável seria que a Câmara não deixasse para os últimos dias”, afirma o BE, explicando que a autarquia poveira submeteu a candidatura “a três dias do fim do prazo”. As escolas selecionadas “foram precisamente as primeiras 22 a submeter as candidaturas” e a Póvoa ficou de fora. Agora, o BE quer saber o porquê do atraso e quando vão ser realizadas as obras nas três escolas poveiras e já endereçou a pergunta à Câmara.

Aires Pereira acredita que o governo “está a fazer todos os esforços” para resolver um “pecado-original” do PRR: a prioridade à mobilidade em detrimento da educação. À Póvoa de Varzim resta esperar. “Se não houver financiamento, não é só a Póvoa. Todos os municípios ficarão pendurados”, observa Aires Pereira.

Num primeiro momento, recorde-se, foram aprovadas 22 candidaturas de escolas dos 2.º e 3.º ciclo e secundárias. Agora, juntaram-se mais oito municípios entre os quais Valongo, Gaia e Paredes, num investimento global de 170 milhões de euros. Na cerimónia de assinatura dos contratos, o ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, reconheceu que há ainda 74 escolas que, no âmbito da transferência de competências, tinham já garantia de obras por parte do anterior governo. O atual executivo, garante, “vai cumprir”, mas está dependente “de um acordo que o Estado está a fazer com o Banco Europeu de Investimento”.

O presidente da Câmara da Póvoa de Varzim diz que faltarão “mais de 400 milhões de euros”. Só a Póvoa precisa de quase 30 milhões. Cego do Maio e EB 2,3 de Rates precisam de novos pavilhões desportivos, já que os atuais, reconhece a autarquia, estão “em muito mau estado”. Na Campo Aberto há “pavilhões pré-fabricados degradados, sem condições adequadas” e “patologias e deficiências graves”.

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