Retomo os artigos que habitualmente costumo fazer no início do ano letivo com o resumo dos horários em concurso na contratação de escola.
Ao domingo irei apresentar durante umas semanas o resumo da semana anterior e a antevisão da semana seguinte quanto ao número de horários em concurso.
Ao longo da semana anterior apareceram 1635 horários em concurso (desconheço quantos já tiveram o professor colocado) e até à próxima quarta-feira existem 307 horários em concurso.
A Escola Secundária Alves Martins, em Viseu, que está a celebrar 175 anos, foi o palco da conversa em que o ministro da Educação abordou as medidas a tomar para garantir aulas a todos os alunos e as reformas a fazer até final da legislatura.
Fernando Alexandre quer incluir no estatuto da carreira docente incentivos para quem ensina em áreas desfavorecidas e promete melhorar os salários nos primeiros escalões. Os exames do 11.º e 12.º anos vão ser feitos em papel, mas as avaliações serão totalmente digitais. Em relação ao bloqueio de estrangeiros nos cursos de Medicina, as regras mudam já no próximo ano letivo.
Escreveu esta semana uma carta aos professores dizendo que conta com eles neste ano letivo e também escreveu um artigo reconhecendo que a educação é a esperança das famílias e do país. Esta esperança não esbarra na realidade, com escolas sem professores, professores sem escola e alunos sem aulas?
Muitas famílias de facto veem frustrada a esperança que colocam na educação, e o enorme investimento e muitas vezes sacrifício que fazem para que os seus filhos possam estudar, na expectativa de que possam melhorar a sua vida. Fizemos progressos extraordinários nos últimos 50 anos de democracia, mas continuamos a ter muitas falhas numa dimensão essencial para a equidade, que é o acesso à educação de qualidade para todos, em igualdade de oportunidades, e essa não está garantida. Vemos de uma forma muito positiva a atenção que os média estão a dar a este problema, porque acreditamos que só com a mobilização da sociedade para este problema vamos conseguir resolvê-lo. Ele existe há muitos anos e não tem sido resolvido precisamente porque as dezenas de milhares de alunos que são afetados por esta falha da escola pública são alunos, são famílias que não têm voz, vêm dos contextos socioeconómicos mais desfavorecidos e esta é uma falha muito grave da escola pública.
Vamos falar sobre algumas das medidas para tentar resolver esse problema. Tem números, por exemplo, sobre professores reformados que decidiram regressar ou sobre aqueles que estão a adiar a aposentação?
Não, neste momento ainda não temos. Sabemos que há centenas de professores que pediram informação sobre as condições para poderem regressar ou continuar, no caso daqueles que estão a atingir a idade de aposentação, mas só durante o mês de outubro e agora na segunda metade de setembro é que vamos ter, depois da consolidação do preenchimento dos horários com o concurso que ainda está a decorrer. Os diretores vão ter a possibilidade, de forma autónoma, de convidarem docentes que conhecem que se aposentaram, por exemplo, no ano passado, há poucos meses, que estão ainda em boa forma física, que gostavam e gostam daquilo que fazem, que é o que acontece à maior parte dos professores. Os professores estão na profissão por paixão, porque é uma profissão que tem essa dimensão de vocação, e vão ter um instrumento e um incentivo para regressar à escola. Da mesma forma, professores que estão a atingir a idade da reforma têm um incentivo adicional para continuar, porque vão ter um acréscimo salarial de 750 euros e aqueles que não estão no topo da carreira vão ter a oportunidade de beneficiar da recuperação de tempo de serviço que estamos a fazer e que depois os poderá também beneficiar na reforma.
E espera atingir os objetivos com estas medidas?
Nós temos uma meta, no caso dos reformados, de 200 aposentados. O que nós já percebemos, e isto está identificado há muitos anos, é que o concurso centralizado, da forma que existe, não responde às necessidades do sistema educativo. Temos professores com horário zero, ou seja, são colocados e não têm alunos. Depois temos alunos que não têm professor em determinadas disciplinas e escolas. E continuamos a ter milhares de professores desempregados ou numa situação muito precária. Por isso, o que é que temos de fazer? Temos de mudar os incentivos. Não estamos a dizer que vamos acabar com o concurso centralizado.
Ou seja, o modelo de colocação não vai sofrer alterações de fundo?
Vai sofrer mudanças, aquilo que nós aprovámos em Conselho de Ministros na quinta-feira já é uma mudança muito grande, ou seja, é um concurso extraordinário, externo, para pessoas sem vínculo neste momento, que vai permitir a vinculação em determinadas escolas, não é um concurso nacional para todos.
Essa será a tendência, um processo cada vez mais localizado?
Quando temos evidência, com o concurso nacional, de que não conseguimos colocar professores em determinadas escolas, não podemos aceitar que os alunos continuem sem aulas, sem ter a escola a fornecer aquilo que as famílias esperam. E por isso temos de ter outros instrumentos, temos de ter concursos desenhados especificamente para essa realidade.
Foto: Leonel de Castro
Mas convivendo com o concurso nacional?
O concurso central vai ter de continuar a existir. Porque há uma dimensão institucional e que tem a ver no fundo com a credibilidade do Estado e a confiança das pessoas. Se acabássemos com o concurso centralizado estávamos a frustrar expectativas de milhares e milhares de professores que durante anos e anos andaram a mudar de escola na expectativa de um dia se poderem aproximar da residência. Se acabássemos com o concurso centralizado, era uma injustiça enorme. O que é que temos de fazer? Temos de compatibilizar esse concurso centralizado com concursos que depois são direcionados para escolas cujas condições estão identificadas. São escolas onde temos alunos sem aulas durante 60 dias no ano em particular ou nos últimos dois anos, e vamos ter um despacho que as identifica e essas escolas vão ter dois tipos de instrumentos adicionais. Um deles é precisamente este concurso extraordinário e outro o apoio à deslocação, que também é só para essas escolas.
Como é que reage às críticas a essa seleção, criando uma discriminação em relação a outros professores deslocados?
Não há discriminação mais grave do que ter alunos que têm aulas e outros que não têm. Se eu privo alunos de ter aulas, digam-me qual é a discriminação mais grave do que esta.
E a única forma de a resolver é com incentivos financeiros?
Eu penso que posso dizer isto: os sindicatos estão recetivos, ou seja, reconhecem, obviamente, que os alunos não podem estar sem aulas e por isso nós temos de ter alguns incentivos que, aliás, já existiram na carreira. Não existem no atual estatuto, que vamos rever, mas já existiram numa versão anterior, em que para determinadas zonas desfavorecidas havia uma majoração. Temos de ver qual é a forma agora na revisão do estatuto para acautelar essa situação, mas à semelhança do que existe em muitos países, se não conseguimos colocar professores em determinadas escolas, ou seja, condenando determinadas regiões e pessoas de determinadas regiões a não conseguirem sair de uma situação socioeconómica muito frágil, estaríamos a reconhecer como país que não conseguimos cumprir a Constituição, porque a Constituição determina a igualdade de oportunidades de acesso à educação. Tenho dito isto várias vezes e disse aos sindicatos, se não conseguirmos como sociedade resolver este problema, temos de mudar a Constituição. Não me passa pela cabeça mudar a Constituição nessa dimensão!
Tem insistido na meta de 90% a menos de alunos sem aulas até ao final do primeiro período. Quantos professores é que vão ter de chegar ao sistema para que essa meta seja cumprida? E de onde é que eles vêm?
Estamos a tomar medidas novas, que nunca foram experimentadas. Começámos com 15 medidas, já somámos mais duas, e medidas com bastante impacto.
Impacto orçamental?
A dimensão orçamental obviamente é muito relevante, este Governo tem uma grande responsabilidade orçamental. O apoio à deslocação tem um custo estimado de 10 milhões de euros, não apresentamos medidas sem fazer contas. Mas esses 10 milhões de euros, se conseguíssemos resolver o problema dessa forma, era baratíssimo, porque o custo de ter milhares e milhares de alunos sem aulas é enorme. São pessoas que vão ficar com o percurso escolar interrompido, vão ficar muito aquém do seu potencial e o país vai ficar muito aquém do seu potencial.
Estava previsto um concurso para 140 técnicos superiores apoiarem as turmas sem professores. Já foi lançado?
Vamos lançar. A segunda reserva de recrutamento ficou fechada na segunda-feira. Vamos consolidar os dados, publicar o despacho com as escolas e são essas que vão ter direito ao técnico superior para apoiar os diretores de turma, que têm uma carga burocrática grande. São medidas destas adicionais, incrementais, que vamos ter de tomar até acabarmos definitivamente com esta situação que é inaceitável em 2024.
Há pouco já indicou um ponto a rever no estatuto, cujas negociações estão apontadas para outubro. Quais são as prioridades do Ministério para essa revisão?
O estatuto da carreira docente é uma manta de retalhos. No processo da recuperação do tempo de serviço, fica evidente porque é que não se pensou sequer em mexer na carreira. Porque quando fizemos o que fizemos, garantir a recuperação total do tempo de serviço, eliminando o travão que existia no acesso ao 5.º e ao 7.º escalão, aquilo que observamos é que a maior parte dos professores se vão encostar aos escalões mais elevados, ou seja, vão ter a progressão que quando entraram na carreira esperavam ter. Vão-se cumprir as expectativas, tardiamente, que os professores alimentaram quando decidiram ser professores. Para não ter esse custo orçamental que vamos ter com a recuperação do tempo de serviço, estava-se a destruir uma carreira.
É sobretudo de valorização salarial que estamos a falar na revisão do estatuto?
Essa parte, em grande medida, ficou resolvida. Onde é que temos de atuar? Em primeiro lugar, temos de tornar a carreira previsível. Quando alguém decide ser professor, tem de perceber a progressão que vai fazer e as condições.
“Não podemos aceitar que os alunos continuem sem aulas”
Foto: Leonel de Castro
Mas a progressão será igual para todos? Sem quotas ou valorização dos que mais investem na qualificação?
As condições não têm de ser iguais para todos. O que o professor tem de saber é que condições tem de cumprir para conseguir fazer um determinado percurso. Eu não estou a dizer que vai ser igual para todos, também não estou a dizer que vai ser diferente, vamos ter de negociar. Tem de haver algum incentivo a que os professores melhorem, que façam formação. Mas temos, sobretudo, isso é evidente nas análises internacionais, de tornar a carreira muito mais atrativa à entrada. O valor à entrada para quem entra na carreira é muito baixo. Isso é algo que eu vos posso dizer aqui: vamos ter de melhorar as condições salariais dos professores nos primeiros escalões.
Os estágios vão manter-se remunerados? Prevê alguma alteração?
Vamos alterar e temos já uma proposta para discutir ainda este mês com os sindicatos, para alterar as regras de formação de professores e, a partir dos estágios, como é que eles se integram na carreira. O governo anterior fez duas revisões quase seguidas desse decreto-lei num espaço de meses, mas não conseguiu ainda assim ter a aceitação de nenhuma instituição de Ensino Superior, o que não é possível, ou seja, temos de fazer essa definição das condições de formação de professores com as instituições de Ensino Superior, porque são elas que vão definir a oferta. Se temos um enquadramento legal que não é aceite pelas instituições, não vai funcionar, que era o que estava a acontecer, basicamente todas eram contra. Temos já uma versão de decreto-lei para negociar e vamos mudar as condições. Não vos vou dizer aqui, porque vamos informar primeiro as instituições e os sindicatos.
Este ano foram preenchidas na primeira fase todas as vagas para cursos de educação básica. Há margem para aumentar vagas?
Sim, já no próximo ano letivo. Vamos acabar com o numerus clausus na região de Lisboa, ajustando a oferta à procura.
Para quando será a fusão dos dois primeiros ciclos do Ensino Básico?
Isso implica alterar a Lei de Bases e por isso não está nas nossas prioridades para o próximo ano.
Mas está no programa do Governo para esta legislatura.
Que vai até 2028.
Portanto, segunda metade da legislatura.
Sim, será na segunda metade. Temos um conjunto de reformas que já estamos a fazer.
O que vai propor mudar na Lei de Bases?
Há muitas dimensões a mudar na Lei de Bases, que envolve até o Ensino Superior. É um trabalho que ainda não está feito, ainda não começámos.
Este ano vamos ter exames em ambiente digital? E qual a visão mais vasta que tem sobre o digital e o papel na escola?
Temos um compromisso total com o digital. É impensável pensar a educação sem o digital, sem inteligência artificial, sem usar essas ferramentas. Se tivermos um sistema educativo onde essas ferramentas não fazem parte da aquisição de competências, os estudantes vão ficar para trás em relação aos outros países. Mas não podemos ter um comprometimento com o digital sem pensarmos em cada momento do ciclo de aprendizagem quando é que ele funciona bem e quando é que não funciona. Por exemplo, anunciámos no último Conselho de Ministros as recomendações do Governo em relação aos telemóveis, que é uma dimensão digital muito importante. O telemóvel pode ser um recurso para ensino-aprendizagem e é usado, em particular nas universidades. Mas sabemos que nos primeiros ciclos, em particular no primeiro e no segundo, a evidência que existe – e nós vamos estudar quais é que são os efeitos em Portugal na nossa população -, mas os estudos internacionais mostram que no primeiro e no segundo ciclo as consequências, quer para a aprendizagem quer para o bem-estar dos alunos, podem ser muito negativas.
Incluindo na avaliação.
De tal forma que na avaliação externa que propusemos, em que alterámos as provas de aferição para as provas ModA, que são provas de monitorização das aprendizagens, no quarto ano e no sexto a avaliação vai ser digital. O digital, por exemplo na avaliação, tem enormes vantagens, em particular para o tipo de exame que definimos, que vai permitir a comparabilidade e verificar a evolução das aprendizagens. Para que os alunos possam fazer essas provas digitais, têm de ter condições não apenas de equipamentos e de conectividade, mas também na prática dentro da sala de aula. Aliás, nós vamos ter um exame-ensaio prévio à prova ModA, em janeiro, se não me engano, e por isso temos de dar competências digitais mesmo no 1.ºº e no 2.ºº ciclo. E os exames do 9.º ano vão ser digitais, este ano. É um enorme desafio, porque tem a ver com a relação com as autarquias, com o processo de descentralização, mas vamos ter de o conseguir fazer em equidade, que era algo que não estava garantido no ano letivo passado.
Porque as escolas não tinham condições?
As escolas tinham condições muito desiguais e os alunos tinham tido condições muito desiguais na preparação para esses exames. Uma parte muito significativa da população portuguesa tem acesso à conectividade, a computadores pessoais, tablets, smartphones, mas há outra que não tem. E quando definimos uma prova que conta para a avaliação, que é o que acontece no 9.º ano, não podemos gerar iniquidade a partir das condições socioeconómicas dos alunos. Também decidimos que os exames do 11.º e do 12.º ano vão ser feitos em papel, não em formato digital como estava previsto pelo governo anterior.
Aí a desigualdade ia ser mais visível?
Mais visível num momento que é absolutamente decisivo para a vida das pessoas. Ter mais umas décimas num exame nacional sabemos que pode mudar a vida. Mas na correção dos exames, na avaliação, vamos dar um enorme peso ao digital. E vamos tornar a correção muito mais rigorosa e poder avaliá-la, que é algo que neste momento não é feito.
Mas estarão todos numa base única?
Os exames vão ser todos digitalizados e os professores avaliadores só vão corrigir uma parte do exame, uma pergunta, não vão corrigir o exame todo. E por isso nenhum professor sozinho vai determinar a nota do aluno. Vamos poder identificar o viés que os professores têm na avaliação, porque vamos ter vários professores a avaliar a mesma prova, o que vai permitir uma avaliação com mais qualidade. Isso ajuda o próprio avaliador a melhorar o seu trabalho. Em todos os ciclos, temos um conjunto de projetos PRR de centenas de milhões de euros no Ministério, que vem de trás, que vai reforçar imenso os recursos digitais para a educação.
O Ministro Fernando Alexandre encontra-se em funções há pouco mais de cinco meses e parece ter começado bem o seu mandato, apesar de algumas expectativas iniciais que o davam como um “perigoso neoliberal” ou como acérrimo defensor das políticas económicas ultraliberais…
Durante esse tempo que, de modo objectivo, ainda é pouco, tem, mesmo assim, demonstrado um esforço notório no sentido de apaziguar aqueles que tutela, dando sinais de estar empenhado em alterar a representação negativa que a maioria dos profissionais de Educação detém acerca do Ministério da Educação, certamente construída e interiorizada pela sua experiência ao longo dos últimos anos…
Até agora, o actual Ministro da Educação tem manifestado respeito pelos profissionais de Educação, vontade de valorizar o trabalho docente e, sobretudo, tem evidenciado honestidade intelectual, qualidade imprescindível ao saudável funcionamento das relações institucionais, que se quer assente na boa-fé e na confiança recíproca…
Honestidade intelectual que é, sem grande dúvida, a “mãe” de todas as virtudes, particularmente vital quando se pretenda a criação de um ambiente favorável ao diálogo franco e à negociação séria entre o Ministério da Educação e os profissionais por si tutelados…
Em jeito de balanço, em pouco mais de cinco meses, Fernando Alexandre conseguiu, entre outros, devolver (faseadamente) o tempo de serviço dos Professores, abolir o insano Projecto MAIA e atribuir aos docentes deslocados um subsídio, medidas essas há muito tempo ambicionadas…
Em jeito de balanço, em pouco mais de cinco meses, Fernando Alexandre tem mostrado uma acção governativa norteada pela honestidade intelectual, pela transparência e por uma perspectiva humanista da Educação…
A forma como tem vindo a atender certas reivindicações docentes, compreendendo e aceitando as respectivas justificações, é disso uma prova…
Objectivamente, pelas medidas que já foram tomadas, poder-se-á afirmar, sem grandes reservas, que o Ministro Fernando Alexandre conseguiu, em pouco mais de cinco meses, realizar mais e melhor do que os dois últimos Governos de António Costa, em oito anos…
Bastará recordar que António Costa/Tiago Brandão Rodrigues/João Costa sempre consideraram a satisfação das principais reivindicações docentes como algo impensável e inconcretizável, chegando mesmo, em 2019, a realizar uma inadmissível chantagem, ameaçando com a demissão do Governo, se a Assembleia da República aprovasse o Diploma que previa a recuperação integral do tempo de serviço dos Professores… Este é, de resto, o exemplo mais paradigmático dessa obstinação em lesar a Classe Docente…
Haverá, ainda, muito a fazer e a melhorar, mas, neste momento, a avaliação do exercício de funções do actual Ministro não poderá deixar de ser positiva, a não ser que, por razões meramente ideológicas ou partidárias, muitas vezes dogmáticas, se opte por enjeitar o reconhecimento de determinados méritos…
A respeito do reconhecimento do trabalho positivo do Ministro, também se percebe que uma parte significativa dos Professores tende a evidenciar uma certa dificuldade em admitir essa avaliação…
Por vezes, chega mesmo a parecer que se sente uma certa perplexidade e estranheza quando se é bem tratado, provavelmente, porque se estará habituado a ser recorrentemente desrespeitado e agredido, das mais variadas formas…
Por outras palavras, muitos Professores parecem ter-se habituado a ser maltratados por sucessivos Governos, acabando por interiorizar essa forma de tratamento como “a normal” e única expectável ou possível…
Mas essa forma de tratamento nunca poderá ser vista como aceitável ou como a “maneira normal” de tratar quem quer que seja…
Em resumo, o Ministro Fernando Alexandre conseguiu, até agora, escutar e olhar de frente aqueles que tutela, incutir a esperança de que é possível mudar a Escola Pública para melhor, ao mesmo tempo que se tem abstido de proferir discursos irrealistas, destinados a iludir e a ludibriar…
A diferença de atitude entre o actual Ministro da Educação e o anterior, João Costa, é deveras avassaladora…
Feito o justo reconhecimento ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo Ministro Fernando Alexandre, assomam, contudo, algumas incertezas, quanto ao futuro mais próximo:
– Com a publicação recente do documento “Aprender Mais Agora”/”Recuperar e Melhorar a Aprendizagem” ficaram a conhecer-se as linhas gerais de intervenção, previstas pela Tutela para a Escola Pública…
No último Ponto desse documento, denominado “Processos a iniciar em setembro”, referem-se, entre outros, estes dois aspectos que se destacam, por parecerem absolutamente fulcrais para a prevalência da paz nas escolas ou, pelo contrário, para o retorno da crispação face à Tutela:
– “Novo regime de autonomia e organização dos AE, incluindo o Estatuto dos diretores”;
– “Revisão do Estatuto da Carreira Docente”…
Tudo leva a crer que a verdadeira “prova de fogo” deste Ministério passará, indubitavelmente, pela forma como se processará e como se concluirá a implementação dos dois desígnios anteriores…
Se essa implementação correr bem, então a actual equipa que tutela o Ministério da Educação conseguirá, com forte probabilidade, alcançar um feito verdadeiramente inédito e histórico: contribuir de forma preponderante para a criação de condições que permitam trabalhar com efectiva serenidade nas Escolas Públicas, ao invés de se apresentar como o principal obstáculo à observação desse bom ambiente…
Se correr mal, esperar-se-ão certamente novos protestos e muita contestação, que naturalmente acabarão por fazer esquecer tudo o que de bom possa ter sido realizado pela Tutela até esse momento…
E para correr bem, não poderão deixar de ser observados os seguintes critérios:
– Possibilitar a existência de uma Escola democrática, há muito tempo desejada;
– Possibilitar a existência de uma Carreira Docente justa, linear, transparente, sem subterfúgios e sem remendos…
A principal responsabilidade para que corra bem competirá naturalmente ao Ministro da Educação e ao 1º Ministro, dos quais se espera a continuidade do bom senso e da valorização da Escola Pública, até agora demonstrados…
Para que corra bem também se espera que o Concurso Nacional de Professores continue centralizado; que não se ceda à tentação de generalizar, sem critério, a “municipalização” de serviços educativos; e que Avaliação de Desempenho Docente seja, finalmente, expurgada dos seus aspectos mais escusos…
Espera-se, convictamente, que o mês de Outubro não se venha a revelar como um mês de grandes desilusões ou decepções…
Até porque os profissionais de Educação estão realmente cansados de lutar pela sobrevivência diária e é impossível que a resiliência não se acabe…
É preciso viver, em vez de sobreviver…
Mas para isso os profissionais de Educação não podem continuar a ser vítimas da obstinação, da censura, da incompetência, do desrespeito ou de tentativas de humilhação, com certeza sentidos por muitos no passado mais recente…
Depois de alguns elogios à acção, até agora conhecida, do Ministro Fernando Alexandre, que objectivamente se justificam, fica também uma nota de cariz mais informal, mas simultaneamente respeitosa, certamente subscrita por muitos profissionais de Educação:
– Senhor Ministro, “we are watching you!”…
(Por uma questão de facilidade de escrita, a actual designação “Ministério da Educação, Ciência e Inovação” foi substituída pela abreviatura Ministério da Educação).
O Ministro Fernando Alexandre encontra-se em funções há pouco mais de cinco meses e parece ter começado bem o seu mandato, apesar de algumas expectativas iniciais que o davam como um “perigoso neoliberal” ou como acérrimo defensor das políticas económicas ultraliberais…
Durante esse tempo que, de modo objectivo, ainda é pouco, tem, mesmo assim, demonstrado um esforço notório no sentido de apaziguar aqueles que tutela, dando sinais de estar empenhado em alterar a representação negativa que a maioria dos profissionais de Educação detém acerca do Ministério da Educação, certamente construída e interiorizada pela sua experiência ao longo dos últimos anos…
Até agora, o actual Ministro da Educação tem manifestado respeito pelos profissionais de Educação, vontade de valorizar o trabalho docente e, sobretudo, tem evidenciado honestidade intelectual, qualidade imprescindível ao saudável funcionamento das relações institucionais, que se quer assente na boa-fé e na confiança recíproca…
Honestidade intelectual que é, sem grande dúvida, a “mãe” de todas as virtudes, particularmente vital quando se pretenda a criação de um ambiente favorável ao diálogo franco e à negociação séria entre o Ministério da Educação e os profissionais por si tutelados…
Em jeito de balanço, em pouco mais de cinco meses, Fernando Alexandre conseguiu, entre outros, devolver (faseadamente) o tempo de serviço dos Professores, abolir o insano Projecto MAIA e atribuir aos docentes deslocados um subsídio, medidas essas há muito tempo ambicionadas…
Em jeito de balanço, em pouco mais de cinco meses, Fernando Alexandre tem mostrado uma acção governativa norteada pela honestidade intelectual, pela transparência e por uma perspectiva humanista da Educação…
A forma como tem vindo a atender certas reivindicações docentes, compreendendo e aceitando as respectivas justificações, é disso uma prova…
Objectivamente, pelas medidas que já foram tomadas, poder-se-á afirmar, sem grandes reservas, que o Ministro Fernando Alexandre conseguiu, em pouco mais de cinco meses, realizar mais e melhor do que os dois últimos Governos de António Costa, em oito anos…
Bastará recordar que António Costa/Tiago Brandão Rodrigues/João Costa sempre consideraram a satisfação das principais reivindicações docentes como algo impensável e inconcretizável, chegando mesmo, em 2019, a realizar uma inadmissível chantagem, ameaçando com a demissão do Governo, se a Assembleia da República aprovasse o Diploma que previa a recuperação integral do tempo de serviço dos Professores… Este é, de resto, o exemplo mais paradigmático dessa obstinação em lesar a Classe Docente…
Haverá, ainda, muito a fazer e a melhorar, mas, neste momento, a avaliação do exercício de funções do actual Ministro não poderá deixar de ser positiva, a não ser que, por razões meramente ideológicas ou partidárias, muitas vezes dogmáticas, se opte por enjeitar o reconhecimento de determinados méritos…
A respeito do reconhecimento do trabalho positivo do Ministro, também se percebe que uma parte significativa dos Professores tende a evidenciar uma certa dificuldade em admitir essa avaliação…
Por vezes, chega mesmo a parecer que se sente uma certa perplexidade e estranheza quando se é bem tratado, provavelmente, porque se estará habituado a ser recorrentemente desrespeitado e agredido, das mais variadas formas…
Por outras palavras, muitos Professores parecem ter-se habituado a ser maltratados por sucessivos Governos, acabando por interiorizar essa forma de tratamento como “a normal” e única expectável ou possível…
Mas essa forma de tratamento nunca poderá ser vista como aceitável ou como a “maneira normal” de tratar quem quer que seja…
Em resumo, o Ministro Fernando Alexandre conseguiu, até agora, escutar e olhar de frente aqueles que tutela, incutir a esperança de que é possível mudar a Escola Pública para melhor, ao mesmo tempo que se tem abstido de proferir discursos irrealistas, destinados a iludir e a ludibriar…
A diferença de atitude entre o actual Ministro da Educação e o anterior, João Costa, é deveras avassaladora…
Feito o justo reconhecimento ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo Ministro Fernando Alexandre, assomam, contudo, algumas incertezas, quanto ao futuro mais próximo:
– Com a publicação recente do documento “Aprender Mais Agora”/”Recuperar e Melhorar a Aprendizagem” ficaram a conhecer-se as linhas gerais de intervenção, previstas pela Tutela para a Escola Pública…
No último Ponto desse documento, denominado “Processos a iniciar em setembro”, referem-se, entre outros, estes dois aspectos que se destacam, por parecerem absolutamente fulcrais para a prevalência da paz nas escolas ou, pelo contrário, para o retorno da crispação face à Tutela:
– “Novo regime de autonomia e organização dos AE, incluindo o Estatuto dos diretores”;
– “Revisão do Estatuto da Carreira Docente”…
Tudo leva a crer que a verdadeira “prova de fogo” deste Ministério passará, indubitavelmente, pela forma como se processará e como se concluirá a implementação dos dois desígnios anteriores…
Se essa implementação correr bem, então a actual equipa que tutela o Ministério da Educação conseguirá, com forte probabilidade, alcançar um feito verdadeiramente inédito e histórico: contribuir de forma preponderante para a criação de condições que permitam trabalhar com efectiva serenidade nas Escolas Públicas, ao invés de se apresentar como o principal obstáculo à observação desse bom ambiente…
Se correr mal, esperar-se-ão certamente novos protestos e muita contestação, que naturalmente acabarão por fazer esquecer tudo o que de bom possa ter sido realizado pela Tutela até esse momento…
E para correr bem, não poderão deixar de ser observados os seguintes critérios:
– Possibilitar a existência de uma Escola democrática, há muito tempo desejada;
– Possibilitar a existência de uma Carreira Docente justa, linear, transparente, sem subterfúgios e sem remendos…
A principal responsabilidade para que corra bem competirá naturalmente ao Ministro da Educação e ao 1º Ministro, dos quais se espera a continuidade do bom senso e da valorização da Escola Pública, até agora demonstrados…
Para que corra bem também se espera que o Concurso Nacional de Professores continue centralizado; que não se ceda à tentação de generalizar, sem critério, a “municipalização” de serviços educativos; e que Avaliação de Desempenho Docente seja, finalmente, expurgada dos seus aspectos mais escusos…
Espera-se, convictamente, que o mês de Outubro não se venha a revelar como um mês de grandes desilusões ou decepções…
Até porque os profissionais de Educação estão realmente cansados de lutar pela sobrevivência diária e é impossível que a resiliência não se acabe…
É preciso viver, em vez de sobreviver…
Mas para isso os profissionais de Educação não podem continuar a ser vítimas da obstinação, da censura, da incompetência, do desrespeito ou de tentativas de humilhação, com certeza sentidos por muitos no passado mais recente…
Depois de alguns elogios à acção, até agora conhecida, do Ministro Fernando Alexandre, que objectivamente se justificam, fica também uma nota de cariz mais informal, mas simultaneamente respeitosa, certamente subscrita por muitos profissionais de Educação:
– Senhor Ministro, “we are watching you!”…
(Por uma questão de facilidade de escrita, a actual designação “Ministério da Educação, Ciência e Inovação” foi substituída pela abreviatura Ministério da Educação).