3 de Julho de 2024 archive

Calendário do Concurso 2024/2025 (Atualizado com MPD)

Tendo em conta que o pedido da MPD começa dia 15 de julho, os resultados do concurso interno/externo terão de sair até dia 12 de julho, pois não faz sentido um docente escolher escolas da MPD se não tiver o resultado da sua colocação.

Neste quadro á encontramos alguns prazos confirmados a terminar em 22 de julho, são eles a validação pela ESCOLAS/DGE/DGESTE das Mobilidades por Doença e Estatutárias.

 

 

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David Erlich – Perdi os professores

Perdi os professores

 

Agora, caro leitor, estou em condições de partilhar um número que me impressionou: há pelo menos dez estabelecimentos em que o número de docentes do Quadro de Escola que querem sair é superior a 50.

Estão prestes a sair as listas de colocação do concurso interno de professores.

Não é um processo simples, este do concurso docente, em que cada professor certamente terá momentos em que se sentirá Joseph K.

Ora, há dois tipos de vínculo do docente de carreira ao Ministério de Educação: ou Quadro de Escola ou Quadro de Zona Pedagógica. Os primeiros podem não candidatar-se ao concurso interno e ficar sossegados na escola a que já pertencem.

Agora, caro leitor, estou em condições de partilhar um número que me impressionou: há pelo menos dez estabelecimentos em que o número de docentes do Quadro de Escola que querem sair é superior a 50.

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, em declarações ao DN, partilhou que, tão certo como a aproximação à zona de residência ser o principal motivo, o facto de os professores “poderem não estar satisfeitos com aquela comunidade educativa para a qual estão a trabalhar” contribuirá também para esta opção.

Como pode uma comunidade confiar num projeto educativo do qual os professores, seus principais executores, fogem em massa? Como se pode assim fomentar o espírito de equipa? Que significado perpassará – em termos daquilo que em cada instituição se sente mas não se diz – o ambiente de uma escola onde, de junho para setembro, dezenas de professores desaparecem?

Em 2006, a classe docente insurgiu-se contra uma ministra que afirmou: “perdi os professores mas ganhei os pais e a população”. O que parece acontecer em algumas escolas é pior, pois dificilmente as direções escolares que perdem massivamente os professores com quem trabalham terão algum tipo de ganho junto de comunidades educativas assim abandonadas.

Quero ser claro: este não é um texto de defesa do regresso ao velho conselho executivo e à gestão dita “democrática”, mais herdeira de modelos pós-revolucionários do que das melhores práticas de gestão escolar das democracias ocidentais. A figura do Diretor, coadjuvado por uma equipa e eleito por um Conselho Geral com representantes dos vários setores da comunidade escolar, veio para ficar: foi uma reforma introduzida em 2008 e que dura até hoje.

Mas, é sim, este um texto de reflexão sobre a importância de promover Direções escolares que consigam fazer o essencial: proporcionar aos seus professores um ambiente de trabalho seguro, acolhedor, com regras claras, ações ágeis e lideranças próximas.

Tem-se abordado muito – e ainda bem – a necessidade de libertar os professores da burocracia. Mas há que sublinhar: isso deve incluir as Direções Escolares, tantas vezes forçadas a investir mais tempo na inutilidade de relatórios inócuos do que na proficuidade de, no quotidiano, liderar uma escola na prática: dialogando com professores, atendendo famílias, conversando com estudantes, monitorizando os corredores. Nas melhores escolas, nenhum professor se sente ilha isolada – sente-se parte de um arquipélago do qual não quer sair.

 

 

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Vaga para professor de português / francês nos EUA

A escola Milford High School, em Milford, Massachusetts, EUA, está a contratar um professor de português / francês (ou apenas de português ou de francês) para o próximo ano letivo (com a possibilidade de ficar cinco anos). O tempo de serviço conta em Portugal, através do Instituto Camões.
Podem enviar os CV para kperry@milfordma.com
Podem verificar o aviso de abertura do concurso em:

[https://docs.google.com/document/d/1-aZM_ynNAfL7roj7kL7QC2pHXa75xDEU/edit?usp=sharing&ouid=103901943131321498982&rtpof=true&sd=true](https://docs.google.com/document/d/1-aZM_ynNAfL7roj7kL7QC2pHXa75xDEU/edit?usp=sharing&ouid=103901943131321498982&rtpof=true&sd=true)

[https://docs.google.com/document/d/1jFA8F3EOJGxmLrCU0yYSW3YV4YJh2caX/edit?usp=sharing&ouid=103901943131321498982&rtpof=true&sd=true](https://docs.google.com/document/d/1jFA8F3EOJGxmLrCU0yYSW3YV4YJh2caX/edit?usp=sharing&ouid=103901943131321498982&rtpof=true&sd=true)

[https://docs.google.com/document/d/1WHoVGuExbBziz-3Ka6tPoMvXongkDnGu/edit?usp=sharing&ouid=103901943131321498982&rtpof=true&sd=true](https://docs.google.com/document/d/1WHoVGuExbBziz-3Ka6tPoMvXongkDnGu/edit?usp=sharing&ouid=103901943131321498982&rtpof=true&sd=true)

 

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Calendário da MPD

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Sem professores e entregues à selva digital – Paulo Prudêncio

Quem diria que as crianças e jovens das democracias ocidentais entrariam na terceira década do Século XXI entregues à selva digital e com falta de professores. E se qualquer das crises compromete o crescimento como pessoas livres respeitadas nos direitos fundamentais, a simultaneidade acentua preocupações. Discuta-se quatro causas comuns bem identificadas: internet, recursos digitais para o ensino, “Reconhecimento de Padrões” – mais divulgado como Inteligência Artificial (IA) – e desinvestimento na Educação.

Antes do mais, recorde-se que mudámos de milénio ancorados na sociedade em rede e com esperança numa economia como a “maré enchente que faria subir todos os barcos”. A internet generalizava-se. Usava-se software com vasto alcance administrativo. As atmosferas organizacionais melhoravam. Crescia a produtividade. Desejava-se mais tempo livre. Não se rivalizava a tecnologia com a natureza. O humano era o centro do meio ambiente político e económico.

Contudo, Manuel Castells, o sociólogo optimista da viragem do milénio (“A galáxia da internet” e “A sociedade em rede”), alertava, em 2023, para uma mudança veloz: “muita gente aceitou o advento da internet como uma tecnologia de liberdade e libertadora. Só que “livre” nem sempre significa “boa”.”

E a Educação espelhou um lado negativo dessa mudança. Acima de tudo, pelos excessos no uso da internet e na exposição ao “enxame digital” das “gigantes da web que nos querem controlar” (cf. Naomi Klein). Quando, em 2019, se conheceu a sua hierarquia de investimentos – ensino à distância, 5G, telemedicina, drones e comércio online -, temeu-se a abertura de mais espaço ao isolamento físico e à adicção tecnológica de crianças e jovens, e que, noutra perspectiva da mesma família, a engenharia financeira e sociológica reduzisse o número de professores através da tele-escola 2.0. A aceleração digital na pandemia confirmou o temor: identificou-se de imediato os efeitos dos assistentes educativos digitais desde os primeiros anos de vida e do ensino à distância.

Mas já era tarde para a maioria das democracias ocidentais. Em Portugal, só em 2022 se assumiu a falta estrutural de professores e os excessos no uso de telemóveis e afins. O estado de negação foi longo e o pêndulo da condição humana começou a oscilar entre a euforia e o pânico. Agora, é crucial perceber as ligações, e as tensões, entre as duas crises, analisar cada uma e acelerar o tempo de recuperação.

No flagelo da falta de professores, negligenciou-se o clima escolar como o cerne da fuga. Os partidos do “pacto de regime para a Educação” – que vigora desde os primórdios deste século e que colocou em regressão os notáveis progressos preparados nos 30 primeiros anos da democracia -, nada aprenderam. Veja-se, como síntese da fatal desconfiança nos professores, o debate na Assembleia da República, no dia 21 de Junho de 2024, sobre a burocracia insensata a propósito do projecto MAIA.

Agravou-se, porque esse pacto fez dos professores guardadores das crianças e jovens. A trágica “escola a tempo inteiro” retirou a sociedade das responsabilidades educativas. Eliminou as crianças, e as suas livres brincadeiras, do espaço público. Impôs-lhes horários fabris de 40 a 50 horas semanais na escola, com curtos intervalos brutalmente silenciados pela adicção tecnológica, e empurrou para o esquecimento educativo as 128 ou 118 horas semanais fora da escola.

Portanto, quando li na capa do Expresso, de 24 de Maio de 2024, que “há crianças de 11 anos dependentes de pornografia online; em Portugal, 40% dos rapazes e 26% das raparigas entre os 9 e os 16 anos já viram conteúdos pornográficos através de pesquisas online”, esperei, em vão, pelo imediato alarme mediático. Em vão porque estes dados do “EU Kids Online”, financiado pela Comissão Europeia, são de 2019 – imagine-se agora – e inaudíveis nas sociedades da “escola a tempo inteiro”. As bolhas política e mediática só se alarmam se puderem culpar as escolas e os seus professores. 

No mesmo âmbito, o Conselho da União Europeia agendou o desespero com os influenciadores das redes sociais (estude-se Andrew Tate). São, de longe, os mais “googlados”. Radicalizam os adolescentes em valores misóginos e de obediência violenta das raparigas. Os jovens seguem-nos, como o farão na altura de votar numa cultura política sociopata, insensível ao sofrimento, alimentada pelo ódio e sem qualquer sinal de empatia.

Seria imperdoável não combater estruturalmente estas crises. Na falta de professores, comece-se pela confiança. Esse regresso exige um corte epistemológico com a vigente incomunicabilidade entre as ciências da educação e as da gestão e administração. Altere-se radicalmente teorias, conceitos e métodos. O professor e a pedagogia têm que liderar uma gestão escolar propriamente dita, que desespera por “Reconhecimento de Padrões” no tratamento de dados e não tanto no ensino; e elimine-se os modelos autocratas de gestão e avaliação de escolas e de professores.

Aliás, só escolas plenamente democráticas elevarão o respeito pelos direitos fundamentais; embora exijam professores doentes de esperança e alunos livres de adicções. Para isso, actue-se na entrega, na sociedade e na escola, das crianças e jovens à selva digital, e não se use a IA como a inevitabilidade da sociedade do futuro. Já nem é tão consensual que projecte a economia para outro patamar de produtividade, ganhos e distribuição. Pelo contrário, como defende Daron Acemoglu, co-autor do célebre “Porque Falham as Nações” (e, já agora, falham quando desinvestem na Educação).

Em suma, não se deixe este legado. Que, daqui a uma ou duas gerações, nenhuma adolescente portuguesa de 14 anos diga, como em 2023, a um canal televisivo sobre a proibição de telemóveis: “ai agora? Mas agora já está tudo agarrado”.

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