14 de Julho de 2024 archive

Porque se insiste num disparate?

 Outra vez os Rankings…

Anualmente, tem vindo a publicar-se um disparate, chegando-se sempre a uma invariável conclusão:

– Objectivamente, os actuais Rankings comparam, de forma enganosa e perniciosa, o que não é comparável…

– Não é possível comparar os resultados obtidos em Exames nas Escolas Públicas com os obtidos nas Escolas Privadas, desde logo porque as condições de partida, numas e noutras, são completamente distintas e, por vezes, até, antagónicas…

– Cair na tentação de aferir a “qualidade” ou a “competência” das Escolas Públicas e Privadas e dos respectivos Alunos, pelo critério lugar que cada escola ocupa no Ranking, não parece legítimo, nem honesto, nem justo…

– Só seria legítimo, honesto e justo comparar os resultados obtidos em Exames Nacionais pelos Alunos das Escolas Públicas com os das Escolas Privadas se as condições iniciais de uns e de outros, nos anos que antecederam a realização de Exames, tivessem sido semelhantes ou equivalentes… Mas, na realidade, não foram… E dificilmente alguma vez serão…

O principal desígnio da Escola Pública não pode deixar de continuar a ser este, nos termos da Constituição Portuguesa:

– Disponibilizar e proporcionar educação e cultura a todos os Alunos, independentemente da sua origem social, cultural ou económica e de apresentarem ou não algum handicap físico, sensorial e/ou cognitivo…

Assim sendo, ou se revogam os Princípios da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei Nº 46/86 de 14 de Outubro) e a própria Constituição ou se aceita e assume que, e até alteração legislativa em contrário, a Escola Pública não pode deixar de cumprir um dos seus principais desígnios: permitir e fomentar a igualdade de acesso e de oportunidades em relação à Educação, uma escola para todos, visando a democratização do ensino…

E isso implica, necessariamente, a aceitação de todos os públicos e de toda a heterogeneidade daí decorrente, sem qualquer tipo de selecção prévia de Alunos…

O anterior, contudo, não poderá ser visto como uma “desculpa” para tornar a Escola Pública pouco exigente ou deixar que o sucesso escolar se transforme em algo que não seja real, apenas existente em algumas estatísticas feitas para enganar ou para embelezar certas fotografias…

E bastaria a heterogeneidade social, económica e cultural do público que frequenta a Escola Pública para que se tornasse ilegítimo estabelecer comparações directas entre resultados obtidos em Exames Nacionais pelos Alunos do Ensino Público e pelos do Ensino Privado…

A realidade das Escolas Públicas, em termos da heterogeneidade do seu público-alvo e das condições materiais existentes, não pode ser escamoteada e ignorada, pelas implicações dessas duas variáveis no processo de ensino-aprendizagem…

As interpretações realizadas sem considerar a influência desses dois parâmetros nos resultados obtidos em Exames Nacionais serão naturalmente enviesadas, muito pouco credíveis…

Por essa perspectiva de comparação, que não contextualiza tais resultados, as Escolas Públicas estarão irremediavelmente condenadas ao fracasso, ano após ano, e a serem qualificadas como “más” ou como “incompetentes”…

Em resumo, ou se mudam os critérios pelos quais se elaboram os Rankings ou então deixe-se de publicar anualmente um disparate, que serve apenas para demonstrar uma inevitabilidade:

– A Escola Pública muito dificilmente conseguirá competir com o Ensino Privado, no que respeita aos resultados dos Exames…

Os motivos pelos quais tal sucede já todos os conhecemos, portanto porque se insiste neste disparate?

Mas as Escolas, Públicas ou Privadas, felizmente, não são só números e edifícios inertes… Por trás dos números e dentro dos edifícios estão Pessoas, isso importa e também não pode ser esquecido…

E, sim, há muito por fazer na Escola Pública e há também vários “males” que a afectam, muitos indexáveis às desastrosas políticas educativas dos últimos anos, outros atribuíveis a inúmeros vícios de funcionamento que urge alterar…

Há, por isso, muitas mudanças a operar na Escola Pública… Mas não confundamos isso com o descarte ou a proscrição da Escola Pública…

Sem Escola Pública, tudo seria muito pior, convirá talvez não esquecer…

(As principais ideias deste texto já tinham sido abordadas por mim numa publicação do Blog DeAr Lindo em 29 de Maio de 2021. Desde então parece que pouca coisa mudou, pelo que mantenho, em termos gerais, o que tinha defendido nessa altura…).

Paula Dias

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Os Verdes vencem nesta escola (e nas outras)

 

O conjunto de princípios e compromissos do Reform UK é clara e está afixada por toda a escola para todos verem:
– interrupção imediata de toda a imigração legal;
– retorno de todos os imigrantes ilegais a território francês por via marítima, ergo nos mesmos barcos usados para chegar a território britânico;
– introdução de um imposto migratório onde o empregador é obrigado a pagar uma taxa extra por cada trabalhador estrangeiro contratado;
– levar o Reino Unido a abandonar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos de modo a acabar com a imigração legal e reduzir substancialmente a imigração legal;
– introdução de um sistema migratório de trocas directas onde a entrada de um imigrante está dependente da emigração de um britânico;
– não permissão de entrada de alunos estrangeiros nas universidades britânicas;
– acabar com os apoios sociais para não britânicos;
– redução para metade do orçamento de ajuda externa.
E a lista continua entre o fim das listas de espera para cirurgias, redução de impostos para compra de habitação própria, benefícios fiscais para trabalhadores de saúde e nada disto importa pois os alunos, peremptórios, já arrancaram todos os cartazes do Reform UK das paredes desta escola.
E se esta foi uma eleição “a brincar” e no mesmo dia das verdadeiras legislativas, ninguém brinca com as vidas destas crianças, as suas origens e o quanto custou para aqui chegar, a uma cidade onde 41% dos alunos têm o inglês como segunda língua, uma subida de 8% no espaço de dez anos.
E de pouco vale aos professores explicar a sua atitude pouco democrática quando a democracia é ela própria promotora de descriminação e os alunos de dedos apontados a acusar o Reform UK de ser um partido racista.
E de nada vale explicar como na sua carta de princípios não está inscrita a promoção do racismo, sendo ao mesmo tempo verdade a presença de indivíduos claramente racistas nas suas fileiras e contra os quais o partido procura lutar até porque os cartazes já estão feitos em mil pedacinhos e ninguém se atreve a imprimir nem mais um cartaz sequer.
Restam os cartazes dos demais partidos entre Trabalhistas, Conservadores, Liberais Democratas e Verdes e a urna de voto à espera no refeitório convertido em assembleia de voto ao longo do dia 4 de Julho de 2024.
E se o resultado das legislativas britânicas foi conhecido nessa noite com a vitória dos Trabalhistas, na escola foi preciso esperar pelo dia seguinte para conhecer o vencedor mais a maioria absoluta dos Verdes nesta escola e a mensagem clara de uma juventude ciente do legado a si deixado e o futuro em tudo incerto.
E no entanto a esperança, e no entanto a consciência em nome de um partido defensor das energias renováveis, o fim dos combustíveis fósseis e da energia nuclear, a promoção dos transportes públicos e das ciclovias, a construção de mais habitação social, a semana de trabalho de 4 dias, mais impostos para os mais ricos, o aumento do salário mínimo, entre tantas outras medidas em tudo distantes do ódio e da expiação.
Os Verdes não venceram apenas nesta escola mas nas escolas em redor e o seu voto é o reflexo da escola, dos professores, da educação e a esperança, no fim a esperança.

 

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