28 de Julho de 2024 archive

“Históricos” que resultaram num desastre para a Escola Pública…

 

João Costa teve responsabilidades governativas durante oito anos no Ministério da Educação, inicialmente como Secretário de Estado e depois enquanto Ministro…

A propósito da trapalhada do apuramento de vagas patente no último Concurso de Professores, João Costa ex-Ministro da Educação, a quem não pode deixar de ser imputada a principal responsabilidade política por esse imbróglio, justificou-se desta forma:

– O “apuramento escola a escola, que não teve apenas em conta as necessidades indicadas pelas escolas, mas teve em conta o histórico.” (Jornal Público, em 24 de Julho de 2024)…

Depreende-se, assim, que foram necessários mais de oito anos para que o ex-Ministro mostrasse que teve em conta ou que deu importância a um certo “histórico”, neste caso relativo às vagas postas a concurso…

Ou seja, foram necessários, não dois ou três ou quatro anos, mas mais de oito para se assumir e reconhecer a existência de um certo “histórico”, se de boa-fé acreditarmos nestas palavras do ex-Ministro… Em alternativa, poder-se-á qualificar a justificação apresentada como uma plausível desculpa esfarrapada…

Neste caso, “histórico” significará que existiu um evento real, verdadeiro, concreto, que se repetiu durante um determinado tempo… Não se tratará, portanto, de um evento isolado, que tenha acontecido uma única vez…

Assim sendo, porque se demorou tanto tempo a reconhecer que existia um “histórico” relativo a vagas?

Porque motivo não se teve em consideração esse “histórico” em anteriores Concursos de Professores, ocorridos durante uma acção governativa que se estendeu por oito anos?

Curiosamente, parece que foi preciso verificar-se o cessamento de funções governativas para ficarmos a conhecer a alegada importância dada por João Costa a certos “históricos”…

Curiosamente, durante oito anos de acção governativa, parece que houve outros “históricos” que nunca foram tidos em conta, apesar da sua estridente magnitude…

Entre esses “históricos”, é impossível não destacar estes dois:

– A notória degradação da Carreira Docente, agravada anos após ano, incapaz de atrair novos candidatos a Professor, ou a incontornável insatisfação daqueles que se encontravam a desempenhar funções docentes, tantas vezes maltratados por uma Tutela que, na verdade, nada fez para os respeitar…

– O notório sucesso escolar fabricado e artificial que iludiu, em primeiro lugar, os próprios Alunos e as respectivas famílias e a que se chamou “inclusão”, sem nunca o ter sido verdadeiramente…

Pena é que ainda não se tenham reconhecido também como “históricos” os dois anteriores acontecimentos que, de resto, são recorrentemente considerados como eventos reais, verdadeiros, concretos, que foram sendo repetidos e ampliados durante oito anos…

Espera-se que ainda o possam ser, a bem da honestidade intelectual…

Lamentavelmente, e porque oito anos de experiência governativa não parecem ter sido suficientes para a consumação desse reconhecimento, outros, agora, terão que remediar, da melhor forma possível, os males que resultaram dessa incapacidade…

Oito anos de alguns “históricos”, que nunca foram assumidos ou reconhecidos, resultaram num desastre para a Escola Pública…

Paula Dias

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PERMITIR QUE A INJUSTIÇA SE FAÇA

 

Ainda há uns dias uma colega me dizia que considerava correto que, no Concurso Interno, acabassem as prioridades e apenas contasse a graduação profissional (ambos de acordo). Porém, fiquei indignado com o seu sentido de justiça seletivo e hipócrita quando, para a fase de Mobilidade Interna, a colega já se importava que se aplicasse o mesmo critério igualitário, considerando que nessa etapa já deveria haver distinção entre QA e QZP. Aberrante.

Todos aqueles que alegam que este género de intervenções só serve para dividir a classe, são parciais, porque beneficiaram com esta injustiça ou a mesma nunca lhes tocou.
Alegar que os professores QA estão bem, porque têm uma escola e eles não, é hipócrita, até porque, de uma ou de outra forma, agora pertencemos todos a mini QZP. Mais revoltante é haver quem acredite e verbalize que colegas efetivos há muitos anos em escolas a centenas de quilómetros de casa possam estar bem! Declarar que o fizeram, porque quiseram, é outro chavão repleto de hipocrisia. Na altura, muitos fizeram-no, porque, na fase de mobilidade interna, não existiam prioridades. Agora, muitos foram obrigados a fazê-lo.
No fundo, todos sabem que é injusto existirem prioridades que beneficiam uns e prejudicam outros, mas calam-se, porque lhes é benéfico. É como numa sala de aula, os professores dizerem aos alunos que têm melhores resultados escolares, que irão ter pior nota porque estão sentados nos lugares da frente. Que belo conceito de justiça para quem é professor!
É, isso sim, uma forma dos colegas se aproveitarem de uma enorme injustiça fazendo para que ela se perpetue. É um subterfúgio criado na lei para proporcionar que uns possam ficar com os lugares mais próximos da área de residência que, por direito, se destinariam aos colegas mais graduados. Um esquema de fraude mental e moral, que todos sabem ser iníquo, mas com o qual, os beneficiários foram coniventes.
Isto é muito grave e diz muito acerca daquilo em que se transformou esta profissão – um navio a afundar onde, baseado na máxima do «salve-se quem puder», passou a valer tudo.

Por isso é que, com as novas regras de concurso, houve tantos colegas aflitos a não quererem vincular a um agrupamento. Deixavam de poder tirar benefício de uma lei injusta. Intolerante às injustiças (coisa que me revolta), não consigo compreender como ainda há colegas que as aceitam (excluo todos aqueles que, mesmo sendo QZP, tiveram sempre a altivez ética de compreender se tratar de uma medida incorreta).
Nem que um dia os concursos venham a ser apenas por graduação profissional, nunca irá ser feita justiça a tantos milhares de colegas que, durante anos, tiveram de ir lecionar longe de casa, revoltados por assistirem a outros menos graduados a lecionarem perto do seu domicílio ficando com as vagas que deveriam ser suas por direito. Colegas que, não conhecendo outro caminho, sempre defenderam esta injustiça, usando-a como uma forma de ultrapassar outros, com o compadrio de certos sindicatos.
Considerar que professores menos graduados têm o direito de ficar mais próximos de casa, diz muito sobre os baixos valores que atingiram esta classe.

Quanto a todos a quem isto não lhes tocou e consideram que deveria estar calado, porque esta discussão só serve para dividir a classe, apenas lhes digo que, quem cala, consente. Foi com este género de mentalidade que muitos deixaram inocentes serem queimados na fogueira, enviados para campos de concentração e exterminados, espancados na casa do vizinho, enquanto nada faziam ou procuravam tirar proveito disso.
Viver bem com o mal dos outros ou dele tirar benefício inundou este grupo profissional. Se tanto se queixam das injustiças que o MECI nos tem feito, mas ignoram este atropelo, então, eticamente, há que reconhecer que esta classe está doente… especialmente, de valores.
Carlos Santos

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