Perdi os professores
Agora, caro leitor, estou em condições de partilhar um número que me impressionou: há pelo menos dez estabelecimentos em que o número de docentes do Quadro de Escola que querem sair é superior a 50.
Estão prestes a sair as listas de colocação do concurso interno de professores.
Não é um processo simples, este do concurso docente, em que cada professor certamente terá momentos em que se sentirá Joseph K.
Ora, há dois tipos de vínculo do docente de carreira ao Ministério de Educação: ou Quadro de Escola ou Quadro de Zona Pedagógica. Os primeiros podem não candidatar-se ao concurso interno e ficar sossegados na escola a que já pertencem.
Agora, caro leitor, estou em condições de partilhar um número que me impressionou: há pelo menos dez estabelecimentos em que o número de docentes do Quadro de Escola que querem sair é superior a 50.
Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, em declarações ao DN, partilhou que, tão certo como a aproximação à zona de residência ser o principal motivo, o facto de os professores “poderem não estar satisfeitos com aquela comunidade educativa para a qual estão a trabalhar” contribuirá também para esta opção.
Como pode uma comunidade confiar num projeto educativo do qual os professores, seus principais executores, fogem em massa? Como se pode assim fomentar o espírito de equipa? Que significado perpassará – em termos daquilo que em cada instituição se sente mas não se diz – o ambiente de uma escola onde, de junho para setembro, dezenas de professores desaparecem?
Em 2006, a classe docente insurgiu-se contra uma ministra que afirmou: “perdi os professores mas ganhei os pais e a população”. O que parece acontecer em algumas escolas é pior, pois dificilmente as direções escolares que perdem massivamente os professores com quem trabalham terão algum tipo de ganho junto de comunidades educativas assim abandonadas.
Quero ser claro: este não é um texto de defesa do regresso ao velho conselho executivo e à gestão dita “democrática”, mais herdeira de modelos pós-revolucionários do que das melhores práticas de gestão escolar das democracias ocidentais. A figura do Diretor, coadjuvado por uma equipa e eleito por um Conselho Geral com representantes dos vários setores da comunidade escolar, veio para ficar: foi uma reforma introduzida em 2008 e que dura até hoje.
Mas, é sim, este um texto de reflexão sobre a importância de promover Direções escolares que consigam fazer o essencial: proporcionar aos seus professores um ambiente de trabalho seguro, acolhedor, com regras claras, ações ágeis e lideranças próximas.
Tem-se abordado muito – e ainda bem – a necessidade de libertar os professores da burocracia. Mas há que sublinhar: isso deve incluir as Direções Escolares, tantas vezes forçadas a investir mais tempo na inutilidade de relatórios inócuos do que na proficuidade de, no quotidiano, liderar uma escola na prática: dialogando com professores, atendendo famílias, conversando com estudantes, monitorizando os corredores. Nas melhores escolas, nenhum professor se sente ilha isolada – sente-se parte de um arquipélago do qual não quer sair.
18 comentários
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Cada vez mais a minha dúvida é maior: quando se cita estes números, é só QE ou também QZP? É que tudo muda de figura…
E é que está tudo a dar na política e ninguém responde à minha pergunta não-retórica: quando se fala nestes números, trata-se de QE (que concorreram porque quiseram) ou também de QZP (que foram obrigados a concorrer)? Esquecendo completamente o modelo de gestão, que não me interessa nada aqui, como é?
Se reler o artigo, terá a resposta à sua pergunta.
Realmente. Já tenho a resposta só com o primeiro parágrafo… :blush:
Percebe-se a resposta na leitura do texto. Além do mais, se os QZP são obrigados a concorrer, não acha que não entram nesta equação?
Esta é outra Maria (com um avatar diferente), a provocadora. Olhe, deite-se fora, que já não se aguenta tanta bile por aqui.
Mais vale a gestão democrática (mesmo entre nada inocentes aspas) do que este modelo ditatorial
Concordo, aliás , seria também uma forma de colocar esses docentes das direções com turmas, o que não acontece, em geral.
Claro que o menino Betinho neoliberal tinha de deixar uma bicada à gestão democrática, pois esta cambada só gosta de RH, CEOs e o camandro
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Se “…este não é um texto de defesa do regresso ao velho conselho executivo e à gestão dita “democrática”, mais herdeira de modelos pós-revolucionários” então é o quê? Uma massagem ao(s) diretor(es)? Ou uma “filosofância” vã? A que viveiro vão buscar estes copinhos de leite emolduradinhos no quadro de mérito?
O que o betinho neo – liberal que escreveu isto não percebe é que o poder corrompe. Um director corrompe – se facilmente, os amigos recebem os melhores horários, as melhores turmas, as quotas prata subir de escalão são preenchidas pelos do beija-mão e lambe-botas , o Conselho Pedagógico não se quer indispor, o Conselho Geral de pouco serve. A rotação no poder, o ser um Conselho, caro copinho de leite, é o que refreia a tendência para a corrupção, inerente a todo o humano, e que grassa em escolas lusas.
Por que será que os regedores, digo, diretores fogem da democracia quem nem ratos???!!! De que têm medo???
Este post é apenas …, “Estado Novo”. Triste, muito triste, num país que se diz democrático. É disto que fogem os professores, só que estão enganados..,, a escola (regedor) do lado é igual!
Sou QZP.
Nos últimos 3 anos, sei o que é sentir-me numa ilha isolada e maltratada. Por isso, tive uma recaída na minha depressão recorrente e tenho estado de baixa médica.
Tenho 64 anos, sérios problemas de saúde também ao nível da coluna e esqueleto em geral. Pedi a reforma por incapacidade e mabdarsm-me às Urtigas. Tinha 60 dias para reclamar, pensei em fazê-lo, mas desisti em gastar mais dinheiro.
Não vou pedir a mobilidade por doença sem saber onde fico.
Já que não consegui a reforma, só trabalho até conseguir. Mas uma coisa é certa: quero afastar-me por concurso do meu local de trabalho.
O reinado dos diretores, veio instalar na maioria dos agrupamentos, a ditadura fascista, a desconfiança nos colegas e o mau estar dos professores. Por isso não me admira que os professores fujam de onde se sentem mal.
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É isso mesmo.
Agora que o tempo congelado vai ser recuperado. Vamos ver quando…. Devíamos pensar em fazer uma luta para terminar com este modelo Unipessoal de gestão das escolas . Manifs,, cartazes com porcos e porcas, etc.
Está provado à saciedade que funciona mal e os diretores ( com raras exceções) tornaram se autocráticos, prepotentes e perseguidores dos professores que se lhes opõem.
O ambiente é tão mau que assim que podem, os professores fogem.
Tanto que os books falam de trabalho colaborativo. Andamos nós a prática ló com os alunos, nas formações, etc, etc e depois o modelo de gestão é anti colaborativo. Paradoxal!
Sr. Ministro do que está a espera para varrer a corja de diretores anti democráticos e geradores de mau ambiente e de qualidade duvidosa mas escolas?
E a IGEC de que está a espera para agir?
O problema dos liberais é que os direitos socais são privilégios. São bons se os tivermos, mas concedidos de acordo com a vontade de um empregador e não de um governo.
Para estes liberais, a sua “democracia” na escola é baseiada numa Direção votada por vinte e uma pessoas (maioria não são professores) do que uma votação verdadeiramente democrática, onde todos os profissionais de uma escola é que elegem a Direção.