O período de pré-campanha eleitoral foi muito fértil em episódios inusitados e, de certa forma, “salerosos”, como, provavelmente, diriam aqui ao lado, na vizinha Espanha:
– Tivemos o André Ventura (Chega) a afirmar que o PSD era “uma espécie de prostituta política”; que Luís Montenegro era “o idiota útil da Esquerda” e que o líder do PSD estava prestes a “saltar para o colo do PS” (Revista Visão, em 12 de Fevereiro de 2024)…
Estas afirmações de André Ventura comprovam que nem sempre as habilitações académicas detidas por alguém serão sinónimo de nobreza no discurso ou de elevação política…
Esperava-se muito melhor de um candidato a 1º Ministro, com um Doutoramento em Direito Público pela University College Cork, ainda para mais sendo Jurista, Professor Universitário e Inspector da Autoridade Tributária (com licença sem vencimento), segundo a Wikipédia, consultada em 25 de Fevereiro de 2024…
Pois é, o grau de rudeza, de grosseria ou de boçalidade de cada um raramente se encontra dependente das respectivas habilitações literárias…
À vista de todos, André Ventura, de tanto implorar pelo colo, pelo carinho, pela atenção e pelo amor do PSD, cada vez mais se assemelha a uma personagem de um melodrama, vítima de rejeição e de abandono, injustiçado e sempre muito queixoso…
Se a moda pega, ainda corremos o risco de ver a campanha eleitoral transformada numa putativa “telenovela mexicana”, onde o melodrama, o amor, a traição, os dilemas, a sedução, a vingança, a tragédia, o sentimentalismo intenso e exagerado ou os crimes passionais, têm presença obrigatória…
– Rui Tavares (Livre) foi a um Programa da SIC, onde se mostraram várias fotografias da sua infância, entre elas, uma em que aparece tal qual veio ao mundo, expondo publicamente todos os seus atributos (SIC, em 22 de Fevereiro de 2024)…
Se a moda pega com os outros candidatos a 1º Ministro, ainda aparecerá alguém que se dará ao trabalho de avaliar e comparar certas particularidades…
– O PAN também deu o ar da sua graça, contribuindo para “apimentar” a pré-época eleitoral, difundindo um cartaz anti-touradas com humor, cujo slogan é: “Touradas só na cama e com consentimento” (Jornal de Notícias, em 23 de Fevereiro de 2024)…
Se a moda pega nos outros Partidos Políticos, imagine-se os slogans que poderão aparecer por aí… Por certo, o céu será o limite…
– Pedro Nuno Santos, cujo epíteto bem poderia ser “o choramingas”, esteve em dois Programas de televisão, na SIC em 17 de Fevereiro passado e na TVI em 22 de Fevereiro passado, e alcançou a proeza de chorar nos dois…
Chorar não tem mal nenhum, até faz bem e alivia a alma, mas se a moda pega nos outros candidatos a 1º Ministro, em vez de termos uma campanha eleitoral, teremos, provavelmente, um “concurso de carpideiras”, para avaliar quem consegue chorar mais e ser mais pungente nas lamúrias…
– O Bloco de Esquerda foi acusado de plágio por Pedro Abrunhosa, de “apropriação indevida de propriedade intelectual alheia” e de “chico-espertice, de alguém muito pouco criativo”, por o slogan partidário escolhido pelo Bloco “Fazer o que nunca foi feito” ser muito parecido com o título da música do cantor “Fazer o que ainda não foi feito.” (Jornal Expresso, em 17 de Fevereiro de 2024)…
Se a moda pega, ainda poderemos ter outros Partidos Políticos a serem acusados de aproveitamento abusivo e ilegítimo, pela tentativa de fazerem associações partidárias a determinadas pessoas, sem o seu consentimento…
Imagine-se o rebuliço que se geraria se a Aliança Democrática (AD) se lembrasse de adoptar o slogan: “Com Montenegro vai ser fixe”… Havia de ser bonito…
Se recordarmos que Mário Soares, líder histórico do Partido Socialista, tinha como slogan de campanha eleitoral para a Presidência da República em 1986: “Soares é fixe”, adivinha-se o que sucederia se a Aliança Democrática escolhesse tal divisa:
“Cairia o Carmo e a Trindade”, dar-se-ia um verdadeiro “terramoto político”, com uma magnitude impossível de ser medida pela Escala de Richter, que só vai até 9, as hostes socialistas agigantavam-se, gritando a todos os ventos: “Usurpadores!”…
– Também tivemos Mariana Mortágua (BE) que, alegadamente, terá sido “apanhada na curva”, ao “invocar o nome da sua avó em vão”, apresentando-a como uma potencial vítima de uma Lei, que permitiria ao respectivo senhorio perpetrar as maiores malvadezas face aos arrendatários…
Mas parece que, afinal, o senhorio:
“É uma IPSS, a fundação Octávio Maria de Oliveira. A avó da bloquista tinha, à data dos factos, 78 anos, muito acima do limite para poder ser despejada. As cartas que recebeu referiam apenas os aumentos previstos na lei. Paga, ainda hoje, uma renda antiga que ronda os 400 euros… na Av. de Roma, em Lisboa.” (Revista Sábado, em 21 de Fevereiro de 2024)…
Se a moda pega, ainda teremos os outros candidatos a 1º Ministro a lembrarem todas as maldades e crueldades de que foram vítimas os seus antepassados, durante a ocupação Celta da Península Ibérica…
– André Ventura queixou-se de que a caravana do Chega tinha sido alvo de tiros para o ar em Famalicão, afirmando, ainda, que tinha reportado o incidente às autoridades (Jornal Público, em 22 de Fevereiro de 2024)…
Por seu lado, as autoridades, no caso a PSP de Braga, já vieram esclarecer que, afinal, não se tratou de tiros, mas sim de rateres produzidos por uma mota que seguia na caravana do próprio Partido Chega (Jornal Público, em 22 de Fevereiro de 2024)…
Mais anedótico e caricato do que o anterior deverá ser difícil… Será caso para dizer que “o tiro saiu pela culatra”, ou seja, a tentativa de vitimização protagonizada por André Ventura acabou por virar-se contra o próprio Chega, que se viu, assim, ridicularizado…
Em termos humorísticos, e sem moralismos bacocos, o mínimo que se poderá afirmar é que a pré-campanha eleitoral tem sido muito “salerosa” e que tem dado um assinalável contributo para o entretenimento nacional…
Agora mais a sério, não pode deixar de se registar que a falta de elevação política e a duvidosa honestidade intelectual, por vezes evidentes, ao longo da pré-campanha eleitoral, não augurarão nada de bom para o futuro e ilustram bem a mediocridade da actual classe política, em termos gerais…
Pelo caminho que tem vindo a ser traçado, o que mais poderemos esperar?
Poderá valer tudo?
Paula Dias