10 de Fevereiro de 2024 archive
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Fev 10 2024
Onde Ficam Colocados nos 11 QZP os Docentes do QZP1?
Este estudo pretende mostrar onde ficam colocados os docentes do QZP1 nos 11 QZP que foram subdivididos.
Obviamente que este estudo não substitui o que vier a ser a lista definitiva de colocações e pode ter alguns erros de análise.
Para chegar a estes resultados optei por considerar a 1.ª preferência no concurso o QZP da escola de colocação em 2023/2024. Esta opção pode não ser exatamente aquela que os docentes manifestaram, mas em mais de 90% das situações acredito que tenha sido.
Existem 444 docentes que pertencendo ao QZP1 encontram-se a trabalhar em 2023/2024 em escolas de outros QZP, pelo que não consigo saber que opções poderão ter feito dentro do QZP1. Este número representa cerca de 10% do universo de docentes do QZP1 e pode desvirtuar a lista de colocados, em especial dos últimos de cada grupo. Quem estiver perto do último lugar em cada grupo e próximo do limite de vagas deve ter esta situação em especial atenção.
Neste meu estudo existem 3809 em 4416 docentes que podem ficar colocados no mini QZP em que estão a trabalhar em 2023/2024. Ou seja 86% dos professores do QZP 1 vão ficar colocados no mini QZP onde estão a trabalhar este ano.
Agradeço o vosso feedback na caixa de comentários.
ESTUDO DE COLOCAÇÕES NOS 11 QZP DO QZP1
NOTA: Devido ao enorme trabalho que este estudo teve não sei se conseguirei fazer o mesmo para os restantes QZP.
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Fev 10 2024
Mais Vagas (24.190) do Que Candidatos (21.256)
Na lista provisória de ordenação ao concurso de transição de QZP existem 21.256 candidatos com a candidatura válida. O número de excluídos é residual.
Na Portaria n.º 441/2023 existem 24.189 vagas.
Em breve serão feitas análises mais pormenorizadas por QZP.
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Fev 10 2024
Apuramento de vagas – Prolongamento do prazo
Informamos que foi prolongado o prazo para a submissão da aplicação informática Apuramento de Vagas 2024/2025 , destinada à recolha de dados para apuramento de necessidades permanentes dos Agrupamentos de Escolas e Escolas não Agrupadas.
Assim, o processo deve ser concluído, impreterivelmente, até às 18 horas de dia 15 de fevereiro de 2024.
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Fev 10 2024
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A PERDA DO FACTOR HUMANO EM AMBIENTE ESCOLAR
«Burrice natural ou inteligência artificial, eis a questão? Prefiro mesmo a inteligência natural». (Rubens de Camargo Vianna Filho)
«A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo o mundo vê». (Arthur Schopenhauer)
«Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana». (Carl Jung)
A escola é inata e conatural ao «homo sapiens». «Ipsum verum sit factum».
A IA, pode passar de acto-feito de criação humana, a «finis exitus terminus».
O presente artigo é um ensaio introdutório que procura reflectir de forma crítica, cirúrgica, incisiva e contundente sobre o impacto da emergente tecnologia de ponta da inteligência artificial (IA) na educação. Fazer o contraditório da impactante colonização da escola pela IA-dataíficação na sociedade pós-humanista transumana. A IA, o próximo nível da evolução biológica humana.
A inteligência artificial (IA) em fase de experimentação e implementação nas escolas portuguesas, tem como consequência-resultado, a perda da onto-episto-gnoseologia do factor humano em contexto escolar. Filosoficamente falando, o papel do professor é fulcral na organização escola, é o vital e incontornável factor H – factor humano – referencial em contexto escolar para a busca e significado profundo e abrangente para a vida e existência humana, das ideias-conceito do Ser humano de ontologia, epistemologia e gnoseologia.
Com a chegada da IA generativa à escola, chega um elemento perturbador, marginal e mesmo pária, no sentido de estranho e de não pertença; a ocupante e colonizadora IA, com a acção de procrastinação do magistério docente e tornando o professor proscrito, inibidora das práticas-arquétipo de leccionação do professorado. A inteligência artificial personaliza uma aprendizagem customizada (expressão que tem origem na palavra em inglês «custom», um adjectivo que significa «feito sob a encomenda», «elaborado sob a medida»; donde, costumizar é modificar, alterar adaptando e personalizando, no caso em concreto da educação, de modo a adequá-la ao gosto ou às necessidades de cada aulista-educando). O problema é que a escola é aprendizagem, mas também é trabalho e estudo, exigência, profundidade e excelência do saber e do conhecimento. Na escola-laboratório actual-futura da IA algoritmizada da costumização, a personalização individualizada da aprendizagem é feita na padronização e nivelamento de baixar a fasquia, numa perspectiva de ludicidade (do latim ludus); acontece, porém que a escola não se coaduna nem com jogos nem com brincadeiras nem com facilitismos nem com «gostos a jeito» nem com sapidezes de falhanço e impreparação para a vida, adulterando, maculando e pervertendo a missão identitária da escola.
Entre humanos «a coisa» é humana. Só, somente o professor chega ao âmago dos seus alunos. Respirar, educar e ensinar são actos-realidade de exclusividade humana. Como o são a ontologia que estuda a natureza do ser humano, o significado do Ser, da existência e da própria realidade; a epistemologia remete-nos para o conhecimento científico (episteme) crítico e lógico; já a gnoseologia pode ser entendida como a teoria geral do pensamento e do conhecimento humano, do acto cognitivo e da acção de conhecer.
Os factores humanos na escola referem-se a factores ambientais, organizativos e profissionais; características humanas e individuais que influenciam os comportamentos no local de trabalho, físicas, fisiológicas e sociais que afectam a interacção humana com equipamentos, sistemas, processos e outros. O factor H descreve a interacção entre humanos, com equipamentos (o exemplo da IA), com as instalações e com o sistema de gestão, na tradução de um ambiente de trabalho e cultura, de visão holística, integral e do todo – holismo.
O contexto, conjuntura e enquadramento da inteligência artificial (IA) na escola, é a parte de um todo que ameaça aparecer no ambiente escolar, na contextura, não como ferramenta de trabalho, opção e mais valia, mas como agente substituto, e não como complemento e coadjuvante do trabalho do professor. E assim não!
Carlos Calixto
O assumir de protagonismo da IA generativa (tecnologia de inteligência artificial, que funciona a partir de duas redes neurais generativas, as GANS – a geradora e a discriminadora, com algoritmos de aprendizagem treinados para produzir conteúdo a partir de uma base de dados, criadora de novos conteúdos personalizados, ideias, textos, imagens e ilustrações, design, áudios, análises, programação, etc., com a popularização de plataformas como o Chat GPT, Dall-E, Github Copilot, Jasper, Midjourney, Bing Chat, Google Bard, etc.; https://www.remessaonline.com.br, IA Generativa: o que é, origem e como funciona, Rodrigo Valinor, maio 11, 2023), das tecnologias digitais e das tecnologias de info-comunicação, em detrimento do agora secundarizado, edu-vigi-controlado e discriminado professor proletarizado e uberizado pela subversiva IA edu-algorítmica em contexto escolar; é a afirmação de uma revolução tecnológica em curso, em continuum treinamento, aprendizagem, aperfeiçoamento e empoderamento.
O professor caminha para o baixo estatuto intelectual de executante de tarefas, em modo de automação plataformizada-aplicativa. Num continuus de desumanização da escola pela colonizadora IA, verdade e resultado-consequência de um defo-antropo-amorfismo de leitura política enviesada humana, caminhante para a «zombilização» sistémica educativa estereotipada – padronizada e generalizada pelo senso comum da opinião pública manipulada; com a acção homo humanus estranha e do inusitado-unusual bizarro, privada de vontade e autonomia própria do Ser e estar do professor, sem personalidade jurídica e ético-deontológica tutelarmente imposta, numa ciber-escola algoritmizada, ficcionada pelos viés algorítmicos (desafio crítico de discriminação exclusória dos algoritmos matemáticos em relação aos seres humanos e que pode infecto-gangrenar as bias – preconceito do algoritmo) e leituras-juízo da IA com decisões erróneas, em ambiente esquizo-catatónico imperativo, excito-euforia e fundamentalismo político, desfasado da realidade concreta da (des)figuração humanus-humanóide versus a passividade e o silenciamento-mutismo selectivo docente pelos governos e Ministério da Educação (ME) dataíficados, numa escola humana moribunda ligada ao ventilador. A necro malignidade tech de «zumbificação» que subjuga e subservieve o professorado, a ideia e o ideal de escola público-privada (desu)humanizada pelo dominante «deus ex machina».
A algoritmização da governança e gerenciamento da escola pública, com tendência de eliminação do factor-elemento humano por parte da IA dataíficada, numa postura de exclusão do professorado e ao arrepio «co-approach»; de subalternização e opressão docente, em que o professor se sente cada vez menos intelectual e cada vez mais executante-tarefeiro, num ciclo vicioso de esmagamento avesso da identidade magister.
A Unesco, na sua «Recomendação sobre a ética da IA», fala no «(…) potencial de risco de incremento das desigualdades e afronta a direitos humanos, caso não sejam considerados os aspectos éticos, falando em uma abordagem de participação inclusiva (…) a fim de se falar de uma IA democrática (…)». (https://jornal.usp.br, Artigos «Ghost Work» e «Big Data»: uma nova forma de servidão e de colonialismo? in jornal da usp, Paola Cantarini Guerra, IEA, USP, publicado em 11/01/2024).
Paola Cantarini aborda o conceito de «destruição criativa» de Schumpeter, «(…) representando o carácter disruptivo e revolucionário das revoluções tecnológicas (…)»; demonstra cabalmente o potencial destrutivo da IA no que ao emprego e à desqualificação da empregabilidade concerne. (idem)
Vivendo nós no mundo-aldeia global da sociedade da informação, da educação-ensino escolar e cidadania digitais, do paradigma tecno-info-digital, sendo a inteligência artificial (IA) generativa uma tecnologia de rompimento disruptivo e de assustadora opressão totalitária distóptica, do digital tóxico de pensamento único, impõe-se e urge a priorização valorativa destacada da escola humano-axiológica re-humanizada, e do professor que é quem lavra na alma e semeia no espírito de cada criança-pessoa; que planta, rega, cultiva e colhe o spiritus da letra da vida e para a vida. O professor, condutor-cuidador da flor pessoa humana, moldador de destinos, encantador de emoções e alquimista da Felicidade.
A dataíficação-IA é a ascensão da mentalidade e filosofia da moda emergente de movimento exponencial em crescendo no mundo e sociedade pós-humanista, que usa a veneração-cultuação dos dados e tendências de cultura, consumo, comunicação, estatísticas, modo de pensar e agir, de largo spectrum, validados computacionalmente e usados de forma nefasta, objectiva, intencio-deliberada e inequívoca para toda e qualquer optação e escolha, tomada de decisão e implementação, com o objectivo primordial-primeiro do paradigma da praticidade, exactidão, economia temporal e de recursos; a plenitude suprema dos resultados religio-robotizados e insights automatizados ciber-tech idealizados. A assumpção do(s) algoritmo(s) recursivo(s) em programação matemática, com recursividade recorrente e apropriação da inteligência artificial (IA) generativa aplicada, no caso em concreto, em contexto escolar.
A internet enquanto repositório, graças às ferramentas de big data, histórico, estatística algorítmica, probabilidades e regressões lineares (em estatística ou econometria, a regressão linear é uma equação para se estimar a condicional de uma variável, conjugando os dados e valores de outras variáveis, cujo objectivo principal-geral é criar um modelo entre a variável preditora e a variável resposta, encontrando uma tendência de linha recta, a regressão linear – sendo um dos seus problemas a incauta generalização pelo poder político); descodificando os meta-dados prediz e condiciona a vida humana presente e futura. Sendo que a velha, ancestral e tradicional analógica escola homo naturalis é trocada pela substituta cibernética nova escola digital. A ontologia homo dando lugar à ontologia virtual-algorítmica da IA. Epistemologicamente, as antípodas do cérebro humano e dos neurónios e sinapses versus motores de busca e bancos de dados.
Donde, a dataíficação e a big data enquanto ferramenta tecno-digital de predição e conectividade, torna-a omnipotente, omnipresente e omnisciente com a condição capacitária da ubiquidade e a capacitação da IA do total absoluto abrangente. Com o objectivo-foco de maximizar as potencio-capacidades homo.
Até nos atrevemos a vislumbrar a inteligência artificial (IA) como o anti-Cristo das profecias de Nostradamus. Pelo colossal poder, capacidade de processamento avassaladora e real mais-valia de superação das capacidades humanas pela máquina, em evolução e em que os protocolos de segurança irão falhar no futuro; caso em que a criatura supera o próprio criador Homem na revolução tecnológica em curso. O Homem refém da máquina, com a ontologia e epistemologia capturadas, colonizado e escravo ensombrado e assombrado pelo avesso dos algoritmos matemáticos colonizadores. Quiçá, a iniquidade do «Armagedom», sendo a IA a malignidade do futuro cérebro universal em detrimento da humanidade e prejuízo do Homem. IA, da ficção cinematográfica de «Skynet & Terminator» à realidade presente e em aceleração. Que dá que pensar dá.
Uma humanidade, sociedade e cidadania conectadas pela tecnologia, automação comportamental, cogito-acriticismo e pensamento pessoal-colectivo colonizado clonado, resultante da ciber-info-inclusão massificada da cultura digital do novo homo-ciborgue (no sentido da pessoa humana dotada de corpo orgânico e mente-pensamento cibernético, com a finalidade do «upgrade» das suas capacidades) na era do transumanismo pós-humanista.
A educação, escola e ensino humanistas põem o enfoque na pessoa do ser humano. Trabalha a auto-inserção educacional; é de pensamento marcadamente e humanamente crítico, de interactividade participativa pessoal e grupal, fomenta a auto-suficiência e proactividade, consubstancia a metodologia humano-direccionada para o bem-estar da pessoa do aluno e do professor, buscando a formação integral, com os valores mais elevados e alta satisfação ética, moral, axiológica, e valorização superior do estudo e ensino das humanidades. Donde, a evidência enfatizada da centralidade dos humanos e do humano no centro do mundo, da vida, e da razão de ser e sentido de sermos aqui e estarmos cá. O superlativo da condição humana acima de tudo.
Maslow (década de 1950). Foi um dos visionários, fundador e impulsionador da escola de pensamento da psicologia humanista, em vista ao auto-desenvolvimento e auto-realização do indivíduo-pessoa, na unicidade idiossincrática personalística ímpar do humanus único e irrepetível. O humano não tem vocação naturalis sub-servil, não é inter pares subserviente contra naturam ao algoritmo, mas sempre primus – o primeiro.
Vivemos tempos da emergente tecnologia IA generativa, ferramenta abolicionista do primado do humanus homo, em que o ícone humano vem sendo substituído pelo ícone da IA, da modal e reverenciada algoritmização da educação, ensino e aprendizagens; tempos de interacção e «interseccionalidade» de antípodas (cooperantes), da «post mortem» escola homo natural e de uma inteligência artificial virtual de preconceito dataíficado por viés de programação humana, com visão de «(…) ontologia reducionista de dados e uma epistemologia artificial de algoritmos, não representando a diversidade ontológica e epistemologia do mundo, e reflectindo as limitações de visões homogéneas de mundo (…) criadores de tecnologia (…) que soma discriminações (…)». (Paola Cantarini, ibidem)
Vai-se perdendo a essência holística de uma escola do todo natural humano, do completamento da abrangência da ontologia do ser humano por inteiro, em oposição à junção de partes e das partes conflituantes. A IA generativa, enquanto «machine learning» (ML) ciber-antropofágica, vai homo destronando e se apossando da escola, cada vez mais em modo de automação dataíficada.
O perigo de polarização da IA algorizante (no sentido da concentração valorativa sobredimensionada da energia e ideia, do ideário ideológico dos algoritmos suseranos por oposição ao declínio-vassalagem do humano servo, arrasta consigo o risco e ameaça da homogeneização da IA generativa e a queda inexorável do factor humanus na organização escola. Sendo que em ambiente escolar do humano humanista humanizado, a uniformização é contrária ao complexo diversus crítico do homo naturalis não padronizado. Na educação enquanto ecossistema, a inteligência artificial assume-se como elemento perturbador do ser humano preponderante e dominante maximus em vias de extinção, numa confrontação de «provocatio provocatore per absurdum» da revolução tecnológica em curso, de «reductio ad absurdum» de uma IA generativa «veni, vidi, vici».
É real o apartheid algorítmico menorizante da escola humanizada, de atitude negacionista em humanar; da subjugante opressão algorítmica de submissão antropológica. Donde, reinscrever a predominância da matriz humana na escola homo re-feudalizada, significa a sobrevivência dos evolu-primatas ou descendentes de Adão e Eva criados-criaturas à imagem e semelhança de Deus.
Resulta da retórica orática e semântica política governativa, a ideia e significado de «compliance», aplicado o conceito de regulação à educação estatizada pública, o que implica um pacote-cartilha, um conjunto que inclui políticas, procedimentos, orientações e legislação «to comply», em vista ao acto de cumprir a tarefa-objectivo dataíficado final, resultante da conexão-interface da inteligência humana (IH) e do algoritmo da inteligência artificial (IA).
A nova ordem e tecnossocicontrato da nova escola é de manifesto-patente híbrida, IA virtual algoritecnohomo; o hibridismo do ciber-homo resignado. O nascente amanhecer despontante da IA homo-escravizante. A IA ananica os professores; promove a estupidificação e a brutalização forçada pelo poder político da acefalia intelectual docente. A autoridade é agora um feudo digital em forma de algoritmos, dados e meta-dados. Temos uma escola pública de pensamento político imbecil, imberbe e mentecapto. De redução do pensamento crítico, lógico e criativo, de anulação do estímulo à autonomia, da (in)capacidade de reflexão e consumação da pobreza de uma escrita ultra-deficiente dos alunos – transtorno discente de escrita, ao nível da disgrafia (parte motora, da psico-motricidade e da fono-audiologia) e da disortografia (défice de aprendizagem específica na expressão escrita, que afasta a precisão ortográfica, gramatical, clareza e (des)organização da redacção das ideias). Com a moda do ChatGPT em contexto escolar, ferramenta digital que muitas vezes desinforma e induz em erro (por desactualização e falha informacional); com a escola dos chatboats (um software baseado em IA com capacidade de conversação em tempo real por texto ou voz), assistentes virtuais para comunicação com os usuários-alunos, e da preguicite de raciocínio pseudo-intelectual agudo acrítico disponibilizada aos educo-estudantes, com o amestramento-viciação estudantil pela IA de mentes em (de)formação, e com o descartar da pessoa real do professor – o que é ver «a coisa» de patas para o ar e a negação da iliteracia cultural, científica, literária, do raciocínio matemático, cultura histórica, mapeamento e localização espácio-temporal, falhas axiológicas graves, défice gritante das humanidades e reduzida cultura geral-relacional dos educandos.
Querer incutir nas nossas crianças, jovens, estudantes e cidadãos, o facilitismo, o fantasiar a ludicidade na escola e a ideia de felicidade permanente, o abastardamento do contraditório da exigência e trabalho escolar, é negar e estado de negação do mundus real e da natura humana em desumanização; é impreparação da pessoa humana e falha sócio-psico-pedagógica, científica e didáctica muito grave do sistema educativo para a preparação para a vida real em sociedade e exercício em plenitude de uma cidadania responsável e interventiva.
A inteligência artificial (IA), de acordo com o Collins English Dictionary, foi a palavra do ano em 2023. «Independentemente das decisões que serão tomadas, o rumo é claro: a IA generativa não é um mero fenómeno tecnológico, mas sim uma força global que transformará o mundo e a forma como trabalhamos, pensamos e governamos». (https://executivedigest.sapo.pt/opiniao, IA generativa: muito mais que um fenómeno tecnológico, Executive Digest, João Godinho, 30 janeiro 2024)
O crescente abandono e morte da liderança humana da escola, por troca com a digital IA, dá aflição, inquietude e preocupação. Estudos significativos e amostras relevantes, mostram à saciedade a hecatombe humana em curso e em colapso eminente. E nem falamos do relatório e resultados desastrosos de quebras acentuadas e de vergonha (escola pública nacional) do Pisa 2023 no caso português.
(Michel Desmurget, 2021). Por culpa dos novos hábitos digitais e da interacção crescente com chats de IA, do astronómico número de horas passadas-perdidas em frente ao telemóvel, do pré-escolar ao ensino secundário (com base em estudo na europa ocidental), o dedar deslizante, os olhos focados nos ecrãs e telas, a irreversibilidade de danos graves causados na visão; e a regressão cognitiva, em modo escolar de hibernação-acefalia cerebral, estão bem documentados no brilhante ensaio de Desmurget – «A fábrica de cretinos digitais».
«Os nativos (inatos) digitais (…) são os primeiros filhos a terem um QI – quociente de inteligência com pontuação obtida por meio de testes a fim de avaliar o nível de inteligência humana de um indivíduo, num determinado momento e em relação ao padrão comum à sua faixa etária – inferior ao dos pais e (…) após milhares de anos de evolução, o ser humano está agora a regredir em termos cognitivos e de capacidades intelectuais (…)». (idem)
Sendo que a cognição cobre os domínios da memória, atenção, percepção, representação de conhecimento, raciocínio, criatividade e resolução de problemas. Por definição, é a capacidade humana para armazenar, transformar e aplicar o conhecimento, consubstanciando um amplo e alargado leque de processos mentais únicos da evolução e inerentes em exclusivo ao “homo sapiens sapiens”. Em sinopse, é a capacidade de um ser humano pensar, compreender e raciocinar.
É criticável o deslumbramento e globalização triunfantes da IA digital lúdica em ambiente escolar, exacerbado no caso de Portugal, pelo que fazemos aqui o contraditório, por um imperativo de consciência ética e mais valia de informação pública.
A afectação da estabilidade emocional e do desempenho escolar discente piora. A Unesco é brutal, ao defender que “nem todas as mudanças são sinónimo de progresso – e deixa o alerta de que – o impacto positivo de aprender no digital pode ter sido exagerado”. (Unesco, relatório citado pelo The Guardian)
Mais, põe em causa a pseudo-evidência do valor acrescentado da tecnologia digital para o ensino e aprendizagem, e vai mais longe ao afirmar que a maioria dos estudos que apontam no sentido da mais valia do digital na sala de aula são financiados por empresas privadas de educação, para venda e marketing de produtos, aplicações e ferramentas digitais; «gera preocupação». (idem)
Mais ainda, a Organização das Nações unidas para a Educação – Unesco – põe a tónica e insiste na premissa que é princípio, de que a tecnologia deve estar “ao serviço de uma educação centrada no ser humano – e que – não pode substituir as interacções cara a cara entre alunos e professores”. (ibidem)
Ainda mais, Audrey Azoulay, directora-geral da Unesco, apela aos governantes que não negligenciem a dimensão social da educação e fala de regulação do digital “para o bem das crianças”. (ibidem)
E já nem falamos no caso ajuizado de retrocesso sueco e da reversão da ex liderante digital Suécia, de volta ao papel. Outro exemplo-prova do falhanço clamoroso da digitalização e desmaterialização da escola e do maniqueísmo da IA para as aprendizagens chega-nos agora da Califórnia, EUA. «Uma geração de crianças que aprendeu a escrever com os polegares em ecrãs, está agora a regressar à velha escola e a aprender caligrafia cursiva». A letra-escrita cursiva banida da escola pela informática, está agora de volta e na moda, até para a leitura de documentos históricos, caso da Constituição dos Estados Unidos da América; o que se torna difícil para quem apenas conhece a letra de imprensa. Donde, recomenda-se o exercício das redes neurais humanas e o abrandamento significativo do digital q.b. e da inteligência artificial (IA) generativa optativa. (https://sicnoticias.pt/mundo, «Apagada» na era da informática, a letra cursiva está de volta ao ensino na Califórnia, Sic Notícias, Ana Isabel Pinto,04 fevereiro 2024).
Em ambiente escolar, a decisão de escolha entre o humano-natural e o digital-artificial, deve imperar sempre o primordial princípio do primórdio do humano sobre a máquina e a tecnologia. O critério deve ser sempre o do digital-IA ser acessório e complementar do humano, e nunca a alternativa, opção e substituição do professor. É incontornável o papel único de professores e educadores para o processo de socialização, do “humanum” e da emocionalidade, fruto das interacções entre professores e alunos e do processo de socialização. A empatia e a interacção na escola têm o ADN humano codificado no genoma.
Sendo a geração actual de estudantes, «nativos digitais» que respira, vive e consome desenfreadamente conteúdos e (des)informação, viciada no laxismo facilitista lúdico chegado à escola tech-IA pelas novas tecnologias da inteligência artificial; havendo uma (des)protecção tutelar à docência e excessiva presença parental reivindicativa, opinativa e invasiva do e no espaço-escola e sendo o clima de escola de irrespirabilidade tóxica e terminus temporal de ciclo, vivemos o momento final do transe e passagem para o fim da escola e país educativo do educare (educação e cuidado) a sério e à séria, em doloroso «finis patriae».
Tendo consciência dos perigos inerentes à IA, é surreal a atracção humana pelo abismo existencial. A situação de influo-esvaziamento humano da escola só vai piorar no futuro próximo; quem o afirma é o CEO da OpenAI, Sam Altman, director-executivo da start-up por trás do ChatGPT, no manifesto «Moore’s Law for Everything», teoria que prevê o futuro da informática e da computação: «(…) A inteligência artificial poderá substituir médicos e professores; (…) robôs serão capazes de realizar o trabalho de profissionais da educação e da saúde, além de baratear seus serviços (…)». (in Metrópoles, Ciência & Tecnologia, Robôs substituirão médicos e professores, Bernardo Lima, em 09/03/2023)
Com a invenção gero-criadora da IA e da dataíficação massiva, o Homem ascendeu ao olimpo de pequeno deus criador do primigénio e adâmico cerebrum pensante da IA, e da nova criatura de incorporação cyb-homo-robotizada do humanum sapiens sapiens com a artificialis IA.
Virginia Dignum, é a única alma lusa que integra uma equipa de especialistas criada pela ONU para (re)pensar o futuro da IA – os riscos, as oportunidades e as potencialidades da inteligência artificial. Parafraseando, à revista Exame, a investigadora portuguesa alerta, preocupada, para o facto da necessidade de uma lei global que supervisione esta tecnologia de ponta, que está marcando o futuro da humanidade e que de momento está apenas a ser controlada pelo nicho dos gigantes empresariais tecnológicos – visando o negócio e o lucro, digo eu. A sobranceria e distanciamento do poder político perante o problema é confrangedor e revela a mais total ausência de sentido de estado, respeito e responsabilidade pelo Outro – todos nós. Citando: «Nunca pensei que a inteligência artificial fosse o futuro. O futuro somos nós». (https://visao.pt/exame, in Visão, Virginia Dignum, Nunca pensei que a IA fosse o futuro. O futuro somos nós, Exame, Gonçalo Almeida, 19/01/2024)
Estamos plenamente de acordo. É, sempre no centro, tendo a centralidade em educação, com as emoções e o sonho que comanda a vida está o Homem e não a máquina. Está a inteligência humana (IH) e não a inteligência artificial (IA). O acto educativo é humano. É de eminência, excelência e intrínseca exclusividade humana. É homo humanus divinus. De exercício, função, ensinamentos, missão e avaliação humana. Que a bússola da razão humana norteie a escola humana.
Na sua demanda pelo «a fartar de digital» do poder político, fecho com a preocupação de uma escola pública reduzida à visão da literacia digital e sem margem e tempo para a construção do pensamento crítico, das ideias, da problematização, descentrada da identidade da pessoa humana, da não socialização, da não catarsia purgação e purificação do digital desumanizante, divergente e desviante, sem/com imposição de pensamento único.
Sublimando, potenciando e lembrando Protágoras, continuamos sendo a medida de todas as coisas. Ponto final. Final!
Este texto não é resultante de tecnofobia nem da diabolização do digital e de uma tecnologia interactiva revolucionária como a inteligência artificial (IA) generativa vanguardista. É de desafiante discussão. Traduz a reflexa-leitura profunda e responsável de que estamos a esgotar o nosso tempo na ampulheta, quadrante solar e clepsidra universal da temporalidade e dominância da humanidade. «Errare humanum est»!
Disse.
Nota: professor que escreve de acordo com a antiga ortografia.
CCX.
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