Um guarda da PSP, voluntariamente, manifestou-se em frente à Assembleia da República e, em pouco tempo, sentiu-se acompanhado por muitos milhares de colegas de profissão que largaram tudo para o apoiar e não baixaram os braços até serem recebidos pelos representantes dos partidos. Durante dias da semana, sem medo, perturbaram e chamaram a atenção, sem preocupações de prejudicar a segurança pública enquanto lutavam pelos seus direitos.
Os agricultores vieram para as ruas em dias de semana, cortaram estradas, passaram noites em branco ao relento e não desmobilizam enquanto não virem satisfeitas as suas reivindicações, alegando que agora é o momento.
Os médicos, com a sua luta e greve, não se preocuparam em pôr em risco a saúde e a vida de doentes, mantendo-se determinados e intransigentes.
Os professores têm os sindicatos a anunciar tréguas até às eleições e, quando alguns professores tentam renovar a luta (fui o 1º a tentar fazê-la renascer logo na 2ª semana de janeiro), assistimos à indiferença de muitos colegas, como se nada fosse com eles, enquanto outros tentam desacreditar e desmobilizar os que ainda tentam lutar por todos.
Greves aos dias de semana, não dão jeito, bloquear as estradas é violento, perturbar, pode causar incómodos aos outros cidadãos, passar uma noite em branco, pode matar-nos, parar as escolas, pode deixar-nos a passar fome e prejudicar os alunos e arranja-se todo um conjunto de justificações para não se fazer nada que as outras classes profissionais fazem. É sempre mais do mesmo, com a sala de professores e as redes sociais a servirem de muro das lamentações, mas empreender uma luta que parasse tudo e incomodasse, obrigando a classe política a responder às nossas reivindicações, é aborrecido e dá trabalho.
Forças de segurança e agricultores, com um nível médio de instrução inferior ao dos professores, demonstram um nível de inteligência muito superior.
E, nós, mais uma vez, iremos assistir a outras classes profissionais conseguirem alguma coisa, porque foram bater-se sem tréguas, enquanto nós ficamos em casa a lamentar-nos à espera de que tudo se resolva por si só?
Não tenho qualquer dúvida de que o maior desafio está dentro de nós e tem nomes – vontade e coragem. Dois sentimentos que, quando se juntam, se tornam invencíveis.
Diretores das escolas públicas querem enquadramento especial para os alunos que não tiveram professores ao longo do ano letivo e vão ser sujeitos a exame nacional. Em causa está a “desigualdade e a equidade do sistema”.
Há famílias que gastam centenas de euros por ano em explicações para colmatar as aprendizagens a que os filhos não têm acesso por falta de professores.”
A afirmação é de uma proprietária de um centro de estudos no coração de Lisboa, que adianta ainda ter “cada vez mais alunos de classe média-baixa e baixa a recorrer a apoio externo à escola. A fonte, que não se quis identificar, explica ao DN ter havido “um aumento exponencial” de pedidos de aulas privadas após a pandemia e, novamente, este ano letivo, por haver alunos “sem aulas a disciplinas sujeitas a exame nacional que já passaram pelo mesmo problema no ano letivo passado”.
“Matemática, Física, Química e Português são as disciplinas mais procuradas, mas o aumento verifica-se na quase totalidade das disciplinas do currículo de 2º e 3º ciclo e Secundário. E há cada vez mais famílias a fazer grandes sacrifícios económicos para dar essa ajuda aos filhos”, sublinha.
A lei da oferta e da procura levou ainda a um aumento do valor por hora de explicações, havendo professores a cobrar 80 euros por hora para aulas privadas, principalmente no Secundário. “Eu não cobro esses valores, mas já tive de encaminhar pedidos para colegas que o fazem porque estou sem espaço para tantos alunos que me procuram. A verdade é que os valores estão elevados, mas mesmo assim há falta de professores disponíveis para dar explicações”, conta a mesma fonte.
A proprietária do centro de estudos tem clientes que “cortam à comida na mesa dos adultos para ajudar os filhos que querem entrar no Ensino Superior”. “As médias de entrada na universidade são tão elevadas que, sem professor e mesmo sendo um bom aluno, é necessário um apoio extra para garantir o seu futuro académico. Há alunos com explicações a mais de três disciplinas”, justifica.
“Fatura paga pelos miúdos”
Elisa Cardoso, proprietária do centro de estudos 100 Dúvidas, no Castelo da Maia, também já não tem capacidade para aceitar mais explicandos, numa altura em que “a oferta está muito abaixo da procura”. Esre aumento de pedidos, diz, prende-se com aprendizagens em falta devido à pandemia, mas também “pela falta de professores e pelo facilitismo dos últimos anos”.
“Tenho alunos que tiveram quatro professores de Matemática diferentes desde o início do ano. Outros que estiveram muito tempo sem professor a várias disciplinas. A escola pública não está a dar resposta e a fatura é paga pelos miúdos. Face às dificuldades para acompanhar os conteúdos, têm de recorrer a explicações, com os sacrifícios inerentes para as famílias”, sustenta.
Elisa Cardoso, professora de Física, Química e Matemática lamenta “o estado em que a Educação se encontra” e que leva “cada vez mais famílias a recorrer a escolas privadas e a apoio fora da escola”. “As famílias que podem”, conta, “colocam os filhos em colégios, onde o corpo docente é mais estável e há mais acompanhamento, e as que têm menos recursos, optam por explicações”, de forma a garantirem uma média que possibilite a entrada no Ensino Superior.
“Senti um aumento em todos os ciclos, e até no 1º ciclo, algo que não era comum há uns anos. Para além dos motivos que já referi, temos também o excesso do número de alunos por turma, o que leva a menos apoio do professor em sala de aula. Uma situação transversal a todos os ciclos”, reforça.
Rui Moreira, presidente da Associação de Pais da Escola Secundária Sebastião da Gama (ESSG) e presidente do conselho fiscal da Federação Concelhia de Setúbal das Associações de Pais faz o mesmo relato e afirma que “os centros de estudo em Setúbal estão superlotados”. “Para além da falta de professores, temos o problema do excesso de alunos por turma, algumas com 28 e com alunos com necessidades educativas especiais. Essas deveriam ter 22 alunos. Os professores acabam por abandonar alguns, porque não conseguem dar apoio a todos, e os pais recorrem a explicações”, denuncia.
Rui Moreira diz também estar a assistir-se a uma gestão escolar de “migração dos professores do 3º ciclo para o Secundário”, por falta de recursos. Os alunos de 3º ciclo ficam, assim, segundo conta, “prejudicados, porque as escolas têm de pesar onde o prejuízo para os alunos é menor”. “A título de exemplo, este ano tivemos uma turma de 9º ano a quem foi retirado o professor de Física e química para o passar para o Secundário. Os alunos acabaram por estar várias semanas sem professor antes que a escola conseguisse contratar outro”, recorda.
Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) diz tratar-se de um “ato de gestão, que prejudica os alunos mais novos”. “As escolas precisam de acudir a quem vai fazer exames, mas os alunos mais novos ficam prejudicados nessa gestão. Estas situações anómalas vão continuar enquanto não houver solução para o grande problema da falta de professores”, alerta.
Regime especial nos exames para alunos sem professor
Filinto Lima, presidente da ANDAEP alerta para a “desigualdade e falta de equidade do sistema”, com “pais obrigados a fazer grandes sacrifícios para que os filhos não fiquem prejudicados”.
“A falta de professores está a contribuir para essa desigualdade, que é cada vez mais acentuada”, afirma, pedindo um regime especial para os alunos que vão ser sujeitos a exames nacionais (9º, 11º e 12º ano) e não tiveram professores ao longo do ano.
“Devia haver um enquadramento especial para os alunos que não tiverem professores e vão fazer exames. A nota final de ponderação com exame poderia ser, eventualmente, revista. Os alunos não podem ser prejudicados, sobretudo quando os exames contam para acesso à faculdade”, frisa.
Uma medida que seria vista com bons olhos pela Associação de Pais da ESSG. Segundo Davide Martins – professor e um dos colaboradores do blogue ArLindo (um dos mais lidos no setor da Educação) – há 34 213 alunos sem professores.
Eugénio Tamagnini foi Vice-Reitor da Universidade de Coimbra e Ministro da Educação Pública do Governo de Oliveira Salazar entre 1934 e 1936…
Em 1934, Eugénio Tamagnini, de acordo com uma gradação da inteligência, pressuposta e conjecturada por si, categorizou os indivíduos em idade escolar, apresentando a respectiva distribuição, em termos de percentagem, da seguinte forma:
– Indivíduos ineducáveis (8%);
– Indivíduos normais estúpidos (15%);
– Indivíduos com inteligência média (60%);
– Indivíduos com inteligência superior (15%);
– Indivíduos notáveis (2%)…
O conceito de inteligência sofreu muitas reformulações desde 1934, mas, à época, a categorização apresentada por Eugénio Tamagnini, talvez influenciada pelo pensamento de Alfred Binet e Théodore Simon, seria perfeitamente aceitável…
Pelo olhar actual será impossível não considerar como escabrosa a rotulagem concebida por Eugénio Tamagnini…
Ainda assim, torna-se muito tentador utilizar a mesma terminologia, quando se avalia o actual espectro político português, fazendo as necessárias alterações, em termos de percentagens:
– Políticos “ineducáveis” (95%);
– Políticos “normais estúpidos” (3%);
– Políticos “com inteligência média” (2%);
– Políticos “com inteligência superior” (0%);
– Políticos “notáveis” (0%)…
Da Esquerda à Direita, Portugal mais parece um “território protegido” ou uma “reserva natural” de Políticos “ineducáveis”, tomados que estão, esses “cidadãos públicos”, pela crença na sua própria impunidade…
No geral, os Políticos “ineducáveis” não aprendem com os seus próprios erros, nem os corrigem;
Agem como se todas as suas acções estivessem abrangidas, e protegidas, pela ausência de qualquer castigo ou punição;
Bastará analisar a quantidade e a gravidade de delitos económicos, relacionados com corrupção, alegadamente cometidos por muitos desses Políticos “ineducáveis”, para se perceber o enraizamento da crença na sua própria impunidade;
Não atribuem qualquer importância aos julgamentos que possam ser feitos acerca de si, nomeadamente ao facto de não inspirarem confiança nem honestidade…
No meio dessa “reserva natural” de Políticos “ineducáveis” há Médicos, há Enfermeiros, há Polícias, há Agricultores e também há Professores, com uma “pequena” diferença entre si:
– Os Médicos e os Enfermeiros conseguiram domar alguns desses Políticos “ineducáveis”, os Polícias e os Agricultores também estarão a caminho de o concretizar e os Professores vão assistindo às lutas alheias…
– Os Professores vão assistindo às reivindicações destemidas dos Médicos, dos Enfermeiros, dos Polícias e dos Agricultores…
– As escolas continuam abertas, em pleno funcionamento, com os Professores, sempre muito dóceis, a fazer o seu trabalho como se tudo lhes corresse pelo melhor e como se não tivessem motivos, mais do que suficientes, para “abanar” o país…
– O país, que não chegou a ser “abanado” pelos Professores, já se esqueceu, há muito, da pretensa luta Docente que, sem dar sinais vitais, visíveis e audíveis, acabou remetida à indiferença e ao entorpecimento…
Na verdade, aquilo que os Professores mais têm feito tem sido Assistir:
– Assistir à coragem alheia;
– Assistir às vitórias alheias;
– Assistir ao prazer do sucesso alheio, afectados por um certo “voyeurismo” e pela frustração de se verem confrontados com o seu próprio fracasso;
– Assistir, como se fossem meros espectadores…
Pela sua capacidade de mobilização e pela sua força de união, Médicos, Enfermeiros, Polícias e Agricultores conseguiram demonstrar que têm a coragem necessária para fazer parar o país, se necessário for…
Perante lutas sérias e profissionais corajosos, alguns Políticos “ineducáveis” têm sido obrigados a ceder e a atender às reivindicações de certas classes profissionais…
Os Professores só não o conseguem porque não querem…
No geral, os Professores continuam “perdidos” e entretidos nas suas quezílias internas, muitas vezes assoberbados com a “medição do tamanho de alguns órgãos do corpo humano”, a vaidade individual constitui-se como um apelo inultrapassável…
Os Sindicatos que supostamente os representam continuam num beco sem saída, reféns de si próprios, com discursos e “acções” meramente destinadas ao “consumo interno” dos próprios Sindicatos, sem quaisquer efeitos ou benefícios concretos para os putativos representados…
Face aos Políticos “ ineducáveis” que abundam por aí e às eleições do próximo dia 10 de Março, existirá, neste momento, algum Político, ou algum Partido Político, capaz de suscitar um verdadeiro entusiasmo por parte dos eleitores?
Com franqueza, não creio que exista esse Político, nem esse Partido Político, nem esse entusiasmo…
Da minha parte, será, com certeza, a primeira vez que irei votar sem qualquer convicção genuína, procurando, apenas, fazer uma escolha pelo critério do “mal menor”, tendo como principal objectivo contribuir para que o Chega e o Partido Socialista não consigam alcançar resultados satisfatórios…
O Chega nunca prestará e o Partido Socialista actual também não presta, são essas as únicas convicções que me farão sair de casa, para ir votar no próximo dia 10 de Março…
Podemos sempre “fazer a descoberta do que presta e não presta nesta vida” (Miguel Torga)…
O “escárnio” e a “maledicência” presentes neste texto pretendem ser uma crítica, sem complexos, aos maus costumes instalados, numa conjectura política e social onde dificilmente se vislumbrará alguma saída airosa.
O conteúdo deste texto apenasmecompromete a mim, que o escrevi.
Por de trás da retórica do “está tudo a correr às mil e uma maravilhas”, esconde-se o que vai nas ruas do país.
Desde o início do ano já foram marcadas 66 greves em diversas áreas de actividade do Estado – Educação, Saúde, Justiça, Administração Local e Agricultura e Alimentação.
Os Professores já saíram à rua e vão sair outra vez no dia 10 de fevereiro, as forças de segurança (que não podem fazer greve) organizaram a maior manifestação de sempre, os jornalistas também, sobre a habitação, também, manifestaram-se e continuarão a manifestar-se; os agricultores saem com os seus tratores e outros(as) lhes seguirão os passos, porque a vida custa a todos e a qualidade de vida não tem vindo a melhorar. Os médicos já receberam a esmola e ainda não decidiram se irão novamente para a rua.
A retórica continua a anunciar que o País está melhor, que a inflação está controlada, que o défice desceu, que a dívida externa está contida, que as urgências hospitalares dão resposta a todos, que nas escolas está tudo bem e que ninguém tem razões para se queixar. Mas a realidade é um pouco diferente, a inflação entra nos bolsos dos portugueses, o défice e a dívida externa não se reflectem nas nossas carteiras, esperamos 10 horas à porta das urgências e nas escolas ninguém está satisfeito (vejam os resultados das Provas de Aferição e do PISA). Se o País estivesse melhor, 40% dos novos licenciados não fugiriam para outros países e ficariam por cá.
O “leilão” eleitoral está na rua, também. A oratória continua a ser a de outras campanhas: promessas, anúncios de medidas avulsas, crítica de uns em relação a outros e de outros em relação a uns. Enquanto isso, há famílias inteiras a viver na Gare do Oriente (considera-se Rua), crianças e adolescentes, com os progenitores.
Todos os partidos políticos anunciam a recuperação do tempo de serviço, ainda congelado, dos professores, mas nenhum especifica como pretende fazê-lo. Uma coisa é um anúncio, outra é saber, especificamente, como vão proceder. Atira-se areia para os olhos das pessoas e espera-se que ninguém esfregue os olhos antes do dia 11 de março.
A clareza das intenções do que ouvimos prometer é escassa e leva a interpretações que, por experiência, fica na área cinzenta das intenções, não é branca nem preta, cumpre-se se “der” se não “der” não se cumpre e está tudo bem.