Ensinar implica obrigatoriamente versar sobre o desenvolvimento humano, o mesmo desenvolvimento responsável pela produção das crianças e adolescentes com as quais o professor trabalha todos os dias. Todos os dias. Mesmo quando não trabalha. Já o disse, por fascínio, pela bandeira, pela tomada de consciência deste papel na sociedade. Um sentido para a vida. O tal espírito de missão. O mesmo espírito passível de compreender, ou pelo menos tentar compreender, o porquê de determinados comportamentos, mesmo se extremos e especialmente se extremos, antes de apontar o dedo ou sequer pensar em apontar. Quer queiramos ou não, e muitos não querem, fruto das frustrações impostas por um mundo cada vez mais desigual e onde dois adolescentes são facilmente o pão e o circo onde se descarrega toda uma bílis, estamos a falar de crianças entre os 14 e 15 anos de idade. Impulsivas, ou não estivesse o seu aparelho cognitivo ainda por formar e assim é o cérebro adolescente onde a imaturidade dos córtices frontal e pré-frontal levam este cérebro a recorrer à amígdala para a tomada de decisões, amígdala essa directamente associada às emoções, ao comportamento agressivo e aos instintos.
Why Do Adolescent Males Demonstrate Impulsive Behavior? (stonewaterrecovery.com) Ergo, um cérebro mais primitivo dentro do qual as emoções, para não dizer o conflito, as paixões, os sentimentos, o altruísmo, as causas, os traumas, as vitórias e conquistas vivem fora de limites e não há limites, tudo é possível e somos invencíveis, imortais e inférteis. Todos os adolescentes sabem-no. Os adultos é que não. Os adultos resignados, os adultos conformados para não dizer vencidos e aborrecidos, tementes e para quem escorregar na banheira equivale a um dia inteiro de emoções.
Conclusão imediata: os adolescentes responsáveis pelo vandalismo na escola de Carnaxide agiram por impulso. Agora resta saber a origem deste impulso. E aqui abrimos outra janela, mas uma janela para um universo inteiro. Se as consequências jurídicas e legais prestam-se céleres, como garantir que tal não aconteça com estes ou outros adolescentes? Qual o contexto familiar e socioeconómico destas crianças? Qual o historial familiar? Porquê esta necessidade de destruir, esta vontade de destruir? Se o Director da escola se mostra surpreso diante dos repórteres, estarão outros elementos da comunidade escolar igualmente surpresos ou teriam estas crianças dado a entender alguma inquietação para não dizer revolta? Chegam estas crianças tarde a casa? E porquê? Com quem se relacionam dentro e fora da escola? Estarão estes jovens na periferia ou já parte de um gangue? E quanto a avaliações psicológicas e neurológicas? Estarão as mesmas disponíveis? Tendo em conta a sua presença junto das autoridades na companhia dos pais, tal denota laços familiares ainda presentes, um sinal de esperança na resolução de conflitos, sinal esse cada vez mais raro nos dias que correm. Porque por maior que seja esta vontade, sem o apoio da família a reinserção social é quase uma impossibilidade quando a família é a própria sociedade para a qual se quer, ou não, voltar. As perguntas supracitadas, muitas, são prementes e necessárias e as respostas, nem por isso imediatas mas antes atempadas, ainda mais necessárias se queremos evitar o sofrimento destas e tantas outras crianças.
Se o seu sofrimento traz consequências, visíveis nos recentes acontecimentos na escola de Carnaxide, a sua responsabilidade última é e será sempre dos adultos ao redor, os adultos que formaram, ou não, as crianças agora presentes às autoridades, e repito, felizmente na companhia dos pais.
2 comentários
Não se devem tolerar tais atos. Por isso, mais que repreendidos devem ser punidos pelo crime público que cometeram: Destruir a tigela que os prepara para o futuro. Pode ser uma simples sopa. Mas issso lhes permitirá serem bons profissionais um dia. è para isso que a Escola os prepara. Isto é semelhante a vermos os filhos chegarem a casa dos pais- que os criaram o melhor que puderam- e destruirem toda a sua casa só porque lhes apeteceu!
E então a justiça não haveria de fazer nenhuma justiça por estes pais? Ou ficaríamos a dizer -Coitadinhos dos miúdos enlouqueceram e foi só isso e nada mais. Já têm garras e são livres de fazer o que quiserem! E agora vão os vizinhos unirem-se com penas destes futuros marginais, em potência, dizer -Coitadinhas das criancinhas, são pequeninas. Vamos lá reconstruir a casinha àqueles pobres paizinhos. Até que outros gangues vendo que nada lhes acontece porque são menores de idade, então um dia organizam-se e dão cabo dos carros dos professores e nada lhes acontece..etc…
Não pode ser. Há casas de reeducação para este efeito. Então que se dê o exemplo para que não se repita mais o sucedido que não tem qualquer justificação possível. Espero que a justiça se faça de forma exemplar de forma a prevenir outros atos iguais. Se fosse um filho meu a estar incluído neste crime agradecia à justiça que ele fosse bem castigado e pagasse todas as despesas causadas, logo que começasse a receber os seus primeiros ordenados e com os respetivos juros. Até lá teriam de ser os pais a pagar todas as despesas enquanto eles estivessem a ser corrigidos em casas de correção, até terem os primeiros empregos, e ponto. Esta é a minha opinião como Professor.
Um bom par de estalos pedagógicos resolveria grande parte deste tipo de problemas…
(Ops, esqueci-me de que já não se pode dizer isto…só não percebo porque é que, a mim, fizeram tão bem em criança e, agora, já não sirvam para nada. Será que é como aqueles medicamentos que perdem a validade…?!)