Porque vale o nosso trabalho qualificado tão pouco? – Luís S. Braga

 

Trabalho digno e bem pago ou fantasias missionárias de motivação? (Reflexões sem nexo sobre um vídeo de uma campanha inglesa de captação de docentes… )
Penso que houve quem me levasse a mal ter repetido em público a frase irónica da minha mãe: “os professores são maltratados, mal vistos, mas têm funerais bonitos”.
Houve até quem dissesse que a frase era deselegante. Não vou defender a elegância da linguagem da minha mãe já falecida. Eu sei como era o seu humor subtil, mas profundo.
E, filha e neta de professores, teve 37 anos de professora, inovadora e reconhecida, para ter autoridade para dizer coisas irónicas sobre a sua vida.
A verdade é que ela teve um funeral bonito. Muita gente nos veio dizer nesse dia a importância que ela teve na sua vida. E que a vida dela teve impacto em milhares de outras vidas.
Mas isso não chega. Ela dizia a piada, mas lutou energicamente, guiada só pela sua cabeça, pela melhoria material da profissão.
Tinha muito a perder, com os custos da luta, quanto mais não seja, porque, só com apoio da minha avó, criou 2 filhos. Mas ninguém nunca teve base para a dizer apática ou pouco empenhada nas lutas do seu tempo.
Antes do funeral dela, já tinha assistido a muitos funerais desses da minha larga parentela de professores. Ainda assisti a mais um, depois do dela, e de amigas muito queridas. (Também há quem critique falar tanto desses antepassados, mas devia calar um facto essencial da minha história de vida, porquê?).
O problema é que precisamos mesmo de explicar, a uma sociedade em que o lucro e o “sucesso” são os valores imediatos, o valor de dedicar a vida a ter impacto de longo prazo nos outros.
E que essa dedicação tem um valor social de investimento coletivo que também é remivel em condições de vida, respeito e remuneração. E não só em reconhecimento e palavras bonitas.
Há quem me diga que falo muito de salários e dinheiro e não falo da “missão”. Quem escolhe ser professor escolhe não ser rico e não ser “bem sucedido”. Mas insisto, não escolhe ser pobre e viver mal.
Como diriam os gurus do setor financeiro:
escolher ser professor é um trade off entre estabilidade, propósito e rendimento. Gente talentosa, que escolha ser docente, até pode prescindir de um rendimento futuro maior, que outras profissões lhe dariam, mas não prescindiu em momento nenhum de ser respeitado na sua dignidade e de ter remuneração, que corresponda ao valor social do que entrega à sociedade.
Se a sociedade quer e precisa de professores talentosos tem de os captar. Ter um funeral bonito (e entendam a mordacidade da minha mãe, por favor) pode ser psicologicamente motivador, mas não paga contas.
Se dizem que a educação vale tanto e é tão importante porque vale o nosso trabalho qualificado tão pouco?

 

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7 comentários

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    • F.S. on 24 de Abril de 2022 at 19:42
    • Responder

    Muito bem, colega Luís, tem toda a razão e, afinal, por que razão não haveria de ser frontal? Hoje em dia, somos “criticados”, por pessoas sempre cheias de si, por tudo e mais alguma coisa, o importante é “deitar abaixo”! “Vozes de burro não chegam ao céu” e a sua voz é muito ouvida e respeitada pela maioria dos seus colegas! 👌

    • Luluzinha! on 24 de Abril de 2022 at 19:58
    • Responder

    Texto demasiado pessoal, logo, entediante, A meio, deixei de ler.

      • Pois on 24 de Abril de 2022 at 20:12
      • Responder

      Colega, aproveita e partilha o seu “texto”

      • Zima on 24 de Abril de 2022 at 20:21
      • Responder

      És tão pequenina….

    • Faucha on 24 de Abril de 2022 at 20:17
    • Responder

    Muito bem ! é isso mesmo .

    • Haja memória… on 24 de Abril de 2022 at 20:41
    • Responder

    A expectativa é nula, ou pior…
    O ministro é o autor da alteração legal que transformou os CT em reuniões de condomínio.
    O secretário de estado é a pérfida criatura que era diretor da DREN no consulado da famigerada lurdes rodrigues. Lembram-se das perseguições, Charrua…
    Só podemos esperar o regresso ao tempo da criatura. Continuarão as quotas, os kapos a dirigir as escolas, a sobrecarga de trabalho e as perseguições. Quem tiver oportunidade fuja das escolas.

    • Maria Luísa on 26 de Abril de 2022 at 10:09
    • Responder

    Parabéns, Luís!

    É do passado que se constrói o presente e prepara o futuro!

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