Providência cautelar para travar transferência de competências não teve efeitos suspensivos. Autarquia diz que faltam pelo menos dez milhões no cheque do Governo. 925 trabalhadores e 29 escolas passaram para as mãos da câmara. E agora?
Investigação mostra relação entre decréscimo no aproveitamento escolar e estatuto socioeconómico dos alunos. Estudantes mais carenciados foram os mais prejudicados.
Aí está, finalmente a confirmação de como um dia chegaria a algum lado na vida como professor.
E isto não é coisa pouca num país em que ser professor é ser um coitado, é ser a chacota dos amigos e dos vizinhos, o exemplo a não seguir, de todo e “tout court”, pelo resto da família, é ser um passa-fomes, é não saber fazer nada para além de dar aulas, não ter mais para onde ir, é ser o pior pretendente a um casamento e os sogros a maldizer a sorte, ao menos que trabalhasse num call-centre, pelo menos não saía do mesmo sítio.
Mas não, a vida dá muitas voltas e aí está: João Costa como Ministro da Educação!
Sim, já recebi os costumeiros parabéns de quem deixou de falar comigo há 20 anos, por razões óbvias (ninguém quer como amigo um professor e muito menos um professor desempregado), quiçá agora na esperança de alguma migalha, nunca se sabe e a vida é assim sempre a bicar de olhos postos no chão.
No entanto, já corrigi quem assim se me dirige. João Costa é de facto Ministro da Educação mas não sou eu, é o meu homónimo. E, por alguma razão, nem um abraço tenho obtido de resposta, apenas silêncio, total e completo.
Ainda enviei algumas mensagens de volta a perguntar se está tudo bem, como é que está a Patrícia, e os vossos pais, sempre escreveste um livro e nada, nem sequer viram as missivas na ausência do bonequinho de perfil ao lado da mensagem com medo de que algo aconteça no futuro e é sempre bom manter as distâncias.
É o que tenho feito, sem intenções nenhumas de regressar. E com o meu homónimo ao leme da educação, ainda menos.
Porquê? Façam uma pequena busca pelo salário de um Ministro em Portugal e rapidamente chegarão ao seguinte número: 50879.40 euros de vencimento bruto anual.
Agora procurem pelo vencimento de um simples e desgraçado professor em Londres no escalão “Upper 1”, ainda longe do topo da carreira, e o resultado é um salário bruto anual de 55754.22 euros.
Conclusão, um professor em Londres ganha mais do que o Ministro da Educação em Portugal e depois admiram-se do porquê da falta de professores.
E nestes termos, não invejo a sorte do meu homónimo, João Costa de seu nome, preso a um salário inferior, num cargo onde o próprio é o alvo a abater sempre que algo corra mal e sem saber ao certo onde estará daqui a 4 anos em termos políticos e a ter de fazer por isso se não quiser voltar a dar aulas.
Sua Excelência, Sr. Ministro da Educação, ou de um João Costa para outro João Costa, não há mal nenhum em dar aulas, são os alunos e pais que fazem de nós as pessoas de hoje, somos acarinhados e respeitados, com uma carreira em frente, responsabilidades e desafios e ainda nos pagam mais do que um Ministro por isso.
E, portanto, por conseguinte e por consequência, não podemos de modo algum voltar para um sistema de ensino a anos-luz de iguais condições e que em breve perderá mais de 30000 docentes para a aposentação.
Curiosamente, o mesmo número de docentes desempregados e em excedente aquando da formação deste que vos escreve.
E como os professores no Reino Unido nem sequer são os mais bem pagos da Europa, assim se explica o porquê da falta de atractividade pela carreira política.
Mentira, o João Costa é agora alguém e eu não sou ninguém. E ainda bem. O problema é que depois deste texto aquele bonequinho do perfil já leu a minha mensagem e está precisamente agora a escrever de volta…