A partir de janeiro de 2016, as profundas e inopinadas alterações ao modelo de avaliação dos alunos tornaram percetível que o Ministério da Educação (ME) se apresentava com uma agenda dissonante e de direção contrária ao percurso político e educativo dos 15 anos anteriores.
Desde então, as diferentes medidas de política educativa que o ME tem vindo a implementar, sobretudo, ao nível do currículo, da organização do ano letivo e da constituição de turmas, têm em comum a característica de exigirem cada vez mais recursos docentes. Desde a imposição da monodocência no primeiro ciclo, passando pela flexibilidade e pela revisão curricular, pelas novas regras de organização do ano letivo, pela redução do número de alunos por turma e por parte das medidas contidas no Plano 21-23 Escola +, todas tiveram como consequência, entre outras, a exigência de mais professores que aqueles que seriam necessários se não fossem aplicadas.
Dito de forma mais simples: a capacidade preditiva e de planeamento do ME é tal que as medidas implementadas não só não tinham assegurados os recursos humanos necessários como, mais grave, negaram a milhares de alunos o direito a terem professor em todas as disciplinas do currículo. Estes são factos objetivos e indesmentíveis, mas não é este o tempo de “chorar sobre leite derramado”.
Impõe-se resolver agora, de imediato, o grave problema da falta de professores, criado e aprofundado pelos sucessivos governos após 2016.
Têm sido apresentadas, pelo próprio Governo no seu programa, várias ideias que, independentemente da sua bondade e exequibilidade, têm uma característica comum: apenas poderão surtir efeito a médio e longo prazo. Ou seja, bonitas ideias para resolver o problema daqui a uns anos.
Todavia, se quisermos que no próximo ano letivo não faltem professores, é preciso agir já. E para não haver falta de professores, não há solução que não passe por sobrecarregar com mais trabalho os que se encontram atualmente no ativo. E pagar-lhes justamente por esse trabalho acrescido.
Ainda que temporariamente, enquanto não surgirem soluções definitivas para o problema e a título de exemplo, ajudaria a supressão da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, das duas horas semanais que se acrescentaram em 2016 para o exercício do cargo de diretor de turma, bem como a reposição do número de alunos por turma que vigorava em 2016. E, não sendo suficiente, não se deveria hesitar em atribuir trabalho extraordinário aos professores, independentemente da redução horária de que usufruam, abrindo os “cordões à bolsa”.
Resumindo: se o Governo tiver verdadeiro interesse em resolver o problema de dezenas de milhar de jovens que se encontram hoje sem professor, terá de tomar medidas de efeito imediato, impopulares e contrárias às políticas mais recentes.
7 comentários
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Este de certeza que não mete o cu na sala de aulas.
É mais … Gabinete.
A falta de professores não foi causada por um aumento da carga lectiva curricular e/ou por um acréscimo enorme na necessidade de professores para a satisfazer. O que aconteceu foi que muitos saíram, outros passaram a estar mais de baixa médica ou com maior redução de horário e as condições apresentadas aos candidatos a necessidades temporárias foram muito sendo cada vez mais severas, no sentido da precariedade e proletarização da docência.
Soluções? Vou repetir de forma breve, o mais óbvio: cuidar dos que ainda estão, para que não queiram sair antecipadamente (o que significa não os sobrecarregar com idiotices ou regatear as horas de redução da CL) e tratar melhor os que querem entrar, assegurando-lhes um horário completo, mesmo quando substituem alguém que tenha apenas 14, 16 ou 18 horas, para os não obrigar a andar a saltar de escola em escola. E permitir que, em circunstâncias nas quais é possível prever a existência de eventuais novas necessidades temporárias, os colegas contratados fiquem na escola. Ou então garantir pelo menos a colocação por um período ou trimestre. Se custa dinheiro? Menos do que TAP num mês (os prejuízos mensais andarão acima dos 130 M€).
https://guinote.wordpress.com/2022/04/17/domingo-118/
E o que fez enquanto esteve como presidente do Conselho de Escolas de forma a evitar o que agora aqui reivindica?
As “respostas” ao problema da falta de professores apresentadas pelo Sr. Diretor revelam bem o espírito de dirigismo que grassa nas nossas escolas. Depois admiram-se do porquê de tantos quererem abandonar o ensino e outros, mais “inteligentes”, terem seguido outros caminhos. O título do post deveria ser “Como apagar uma fogueira com gasolina”.
Quando pensamos que não podia ser pior… Chegam estes colegas com estas ideias iluminadas… Se já há tantos professores de baixa por estarem exaustos e deprimidos pelo excesso de trabalho e condições precárias, nem quero imaginar o caos nas Escolas se alguém lhe der ouvidos…
Já agora… só para relembrar tb que os professores contratados que deixaram a profissão não vão voltar por mais umas migalhas… Fiquem vocês com elas! Bom proveito! 😁
Ou seja, solução para a “falta de professores”: aumentar o número e alunos por turma e diminuir a já insuficiente carga horária atribuida à direção de turma.
Ser professor hoje em dia é andar ao toque destas mentes brilhantes. E são tantas as mentes brilhantes parecidas com esta, e todas a revindicar o seu poiso.
Só quem há muito não tem experiência letiva pode pensar que a solução para educação pública de qualidade passa por ter muitos alunos por turma.
Melhor seria que as escolas fossem dirigidas rotativamente, com mandatos curtos, e não por direções que se perpetuam nos lugares de gestão, perdendo a adesão à realidade de uma sala de aula.