A Grelha, essa “luminosa” e prodigiosa invenção, recriada nos últimos tempos, de forma muito imaginativa e inusitadamente obsessiva, atingiu o estatuto de “praga”, incontrolável e difícil de extinguir…
Em cada escola, instalou-se o primado das Grelhas: existem as mais variadas, para tudo e para nada, e em muitos casos o respectivo preenchimento costuma significar flagelo, tortura ou suplício, quer pelo tempo que é necessário despender, quer pela inutilidade prática dessa tarefa…
Comummente, passam-se muitas horas a proceder ao preenchimento de Grelhas em série e até à exaustão, cujas virtudes ou efeitos concretos se desconhecem, apesar dessa actividade assumir quase sempre um carácter obrigatório…
À partida, uma Grelha deverá ser um instrumento de registo de informação, cujo principal objectivo consistirá em sintetizar e, sobretudo, simplificar determinado conjunto de dados…
Ora acontece, muitas vezes, que algumas Grelhas se apresentam com formas e conteúdos tão intricados que dificilmente alguém compreenderá o seu significado ou a finalidade da informação aí constante… Como exemplo paradigmático disso, bastará analisar algumas Grelhas de Avaliação de Alunos, elaboradas à luz do Projecto MAIA, existentes em algumas escolas…
Segundo “estudos” realizados por alguns “especialistas”, que preferem manter o anonimato, a exposição prolongada e excessiva a Grelhas poderá provocar danos ao nível da saúde mental e física, temporários ou irreversíveis, desde logo os seguintes:
– Diplopia ou visão dupla (vulgo “ver a dobrar”), decorrente de passar horas consecutivas a fitar um ecrã. Esta perturbação poderá assumir consequências especialmente dramáticas se, depois de ter estado a preencher Grelhas durante um período significativo de tempo, alguém se deparar com o Director da escola onde trabalha, em particular se esse líder for considerado por si como um ditador ou como um tirano. Nessa circunstância, já bastaria ver um, quanto mais dois;
– Alterações ao nível do humor, com predomínio da irritabilidade, intolerância e raiva. Quando predomine esse humor negativo, será conveniente evitar todas as interacções sociais não imprescindíveis, de forma a precaver a ocorrência de possíveis conflitos injustificáveis e desnecessários, a não ser que esse estado de alma se dirija ao Director referido no ponto anterior;
– Alterações do sono, com prevalência de insónia, pesadelos nocturnos e narcolepsia (sonolência diurna excessiva). As Grelhas poderão, assim, provocar dificuldade em adormecer e/ou em manter o sono, pesadelos e sono agitado ao longo da noite e muita sonolência e bocejos durante o dia;
– Alterações ao nível do apetite alimentar, podendo verificar-se o aumento da vontade de ingerir alimentos ou, pelo contrário, a respectiva diminuição, dependendo da forma como cada um lida com a ansiedade originada pelas Grelhas e do respectivo metabolismo. Apesar dessa dicotomia, será maior a probabilidade de se verificar o aumento do apetite alimentar. Acredita-se mesmo que o ganho de peso observado nos últimos tempos em alguns profissionais de Educação se deverá, em primeira instância, ao preenchimento de Grelhas;
– Dores de cabeça, enxaquecas e náuseas. Alguma confusão mental e, nos casos mais graves, poderão mesmo ocorrer delírios (crenças incompatíveis com a realidade) e alucinações (percepção alterada da realidade). Os eventuais surtos delirantes e alucinatórios poderão tornar-se particularmente visíveis quando a IGEC visite uma escola, dada a parafernália de Grelhas que costuma ser apresentada nessa ocasião, destinada a mostrar o que não se é ou uma realidade que efectivamente não existe;
– Falar sozinho (solilóquio), depois de uma exposição prolongada a Grelhas, também poderá apresentar-se como um transtorno plausível;
– Possibilidade de desenvolver coprolalia (proferir palavras obscenas e palavrões de forma involuntária). Apesar desta perturbação poder desencadear um certo incómodo em termos sociais, convirá não esquecer que dizer palavrões é considerado por alguns como um indicador de inteligência e de honestidade (Timothy Jay, 2015), portanto “screw it”;
– Compulsão para o consumo de bebidas alcoólicas, tabaco, café ou outras substâncias potencialmente aditivas, na tentativa de compensar os níveis elevados de frustração originados pelas Grelhas;
– Preencher Grelhas implica passar muito tempo sentado. Nessas circunstâncias, poderão ocorrer dores musculares, algias lombares e cervicais e retenção de líquidos, esta última quase sempre expressa pelo inchaço da barriga, pernas e pés. A obstipação também será plausível, uma vez que a inacção prolongada dificulta os movimentos peristálticos. Será aconselhável a ingestão de muita água, o uso de vestuário e calçado confortáveis e adequados à situação, bem como a paragem de hora a hora, para dar uma volta inteira ao recinto escolar;
– Arritmia cardíaca, com predomínio da ocorrência de taquicardia (ritmo cardíaco acelerado), sobretudo se um colega, sentado ao lado de alguém ocupado com o preenchimento de Grelhas, for perito em “conversa de treta”, constituindo-se como um potencial elemento distractor e desestabilizador. Porque o conceito de “multitasking” não passará afinal de um mito, como defendeu Tim Harford: “fazer duas coisas ao mesmo tempo, é não fazer nenhuma delas“;
– Sobretudo pela ansiedade, stress e fadiga mental e física, causados pelo preenchimento de Grelhas, será expectável que também possa verificar-se a diminuição da libido (inibição dos impulsos sexuais). Inevitavelmente, não haverá oxitocina, estrogénio ou testosterona que resista ao aumento de cortisol, gerado pelo stress. As hormonas são tramadas e não costumam “perdoar” nem procrastinar;
– Ocorrência muito provável de “Formatação do Pensamento”: a capacidade de Pensar poderá ficar reduzida à configuração de uma Folha de Excel e ao “copy and paste” maquinal e automático. A ausência de reflexão e de crítica poderá constituir-se como a consequência mais grave desse modelo de pensamento;
– Muito raramente, o preenchimento excessivo de Grelhas também poderá originar odaxelagnia, traduzida pela vontade de morder ou de ser mordido por alguém…
Em conclusão, o hiperbólico trabalho burocrático, nomeadamente o uso desmedido de Grelhas, poderá fazer muito mal ao corpo e à mente…
Recomenda-se, por isso, o consumo moderado e consciente de Grelhas e, sempre que possível, a respectiva abstinência…
O quotidiano das escolas está infestado por algumas “pragas” difíceis de extinguir, restando parodiar, na medida do possível, com tais afecções…
Alerta-se para a possibilidade de não existirem quaisquer estudos devidamente validados, nem fundamentos científicos, que comprovem a tese dos “especialistas”, que preferem manter-se no anonimato, aqui veiculada…
(Matilde)
3 comentários
Matilde,
ora então vamos lá chamar os “bois” pelos nomes, a praga não são as grelhas, são os seus autores.
Estes, são facilmente identificáveis: os diretores e a corja de lambe-botas que os rodeia. Esta cáfila que se constituiu em todas as escolas, à sombra de um modelo de gestão digno do Putin, não trabalha e limita-se a estas produções para perseguir, amordaçar e amesquinhar os professores.
Atacar as grelhas não resolve nada, elas são apenas metástases instrumentais. É necessário extirpar o cancro que é este modelo de gestão e estes diretores.
Sem o regresso da democracia às escolas, limitar-nos-emos a tentar sobreviver, tal como hoje fazem os ucranianos. A culpa não é dos tanques ou dos aviões…, é dos “putinhos” que ordenam os ataques.
Meus caros, vou continuar a dizer, temos aquilo que merecemos. Enquanto sempre nos vergarmos perante mais e mais trabalho para fazer o mesmo, não vamos a lado nenhum. Por que é que os professores ( que inclui como se sabe falando o correto português as professoras e os professores), pelo menos a maioria, diz não, a certos tipos de trabalhos, na minha opinião verdadeiramente patológicos?
Muito bem Matilde. Há anos que os/as putin-zinhos que dirigem as escolas, impuseram as grelhas para tudo e mais alguma coisa… Como forma de amansar, humilhar e mostrar aos professores quem manda…sabem bem que as ditas grelhas não servem para nada de importante, além de na aparência consumirem muito tempo e energia aos professores. na formação dizem para se tratar os alunos como seres únicos e individuais mas na prática obrigam os professores a reduzirem cada aluno a um somatório de números… Aas direções das escolas são tão ridículas que nem se dão conta do ridículo que é esta praga de grelhas… A Escola publica esta reduzida à mediocridade e apenas vai funcionando mini8mamente devido ao empenho dos professores que ainda resistem aos putins… Através da avaliação sinistra premeiam as nulidades que representam os professores nos pedagógicos e aprovam estas grelhas ridículas… A podridão é tal que este momento as escolas, sem fundamento legal, sem autorização do ministério, apenas decidido internamente por esses conselhos pedagógicos, estão a desviar os piores alunos para fazerem as provas de aferição em sala à parte com mais tempo e a ajuda de professores do departamento Há que forjar bons resultados… Uma vergonha…