Imagina que tens quase 64 anos, 42 de vida activa e quase 39 como professor (daqueles que sempre estiveram no activo e a trabalhar muito e com muita qualidade).
Imagina que tens um horário lectivo de 14 horas, um direito que adquiriste pelos teus anos de serviço e pela tua idade.
Imagina que te atribuem um horário com 6 turmas e três níveis, entre 3º ciclo e secundário, 7 tempos num Gabinete com mais ou menos 9 metros quadrados, em conjunto com até 5 pessoas, em tempo de pandemia, sabendo-se que tens problemas de saúde que requerem alguns cuidados.
Imagina que te atribuem tempos para uma turma que afinal te permitem apenas leccionar 2/3 das aulas que é suposto leccionares porque alguém, supostamente, se enganou.
Imagina que depois te propõem leccionares, em serviço extraordinário, embora não pago, as aulas que faltam e que o fazes, em parte, em tempo livre teu, porque tu próprio vês que não sobram alternativas.
Imagina que te dizem que mais nada será marcado para além desse teu esforço mas, mesmo assim, permitem que outros marquem actividades em cima das horas já antes insuficientes e que cada vez tens mais serviço extraordinário, à tua conta, para realizar.
Imagina que te solicitam trabalho, tu envias e requeres feedback, para depois o poderes concluir, mas de que jamais recebes qualquer resposta – e que é esse o padrão habitual.
Imagina, ainda, seres oficialmente informado, ao longo de 4 anos, não teres de realizar acções formação contínua e, de repente, a menos de seis meses da entrega do teu relatório de avaliação de desempenho, te imporem a realização dessa formação.
Imagina que requeres a dispensa para a frequência de uma acção de formação e, parte das horas a que tens direito, serem atribuídas quando a formação já acabou.
E, imagina ainda, apresentares mais 2 requerimentos para efeito da correcção das horas e não teres resposta cabal ou, até, resposta ao que requeres.
E imagina que passas parte da formação em serviço acrescido porque te dizem que vais ficar com tempos livres logo que uma das tuas turmas entre em estágio, fazendo desaparecer o esforço que tu fizeste antecipadamente, para que acontecesse o tal serviço extraordinário à tua conta.
Imagina isto e pensa naquilo que pode ser a forma como és tratado ao fim de 4 décadas desta profissão, apenas porque pensas, és digno, competente e, como tens carácter, não estás disposto a assinar por baixo de todas as facilidades, simplificações e “caridades” que queiram propor-te.
Imagina isto e muito mais. Numa dimensão que nem te passa pela cabeça poderem fazer contigo, onde até usares manga curta no inverno pode ser alvo de matéria disciplinar.
Imagina que és alvo de processos de averiguações e disciplinares, acusado de coisas que não fizeste, sistematicamente arquivados por falta de fundamento, apenas porque não te calas e não aceitas dar cobertura a esquemas e ilegalidades ou, até, por teres tido a ousadia de requerer o cumprimento das leis antitabágicas em espaço escolar e de trabalho.
Imagina isto, mas acredita que a realidade é muito pior do que aquilo que a tua imaginação pode conceber.
Porque até podes ter um acidente no regresso do teu trabalho, comunicares isso ao teu superior máximo do serviço e ele não ter a competência necessária para conhecer os seus deveres e não particiar isso como acidente profissional, apesar de toda a legislação vigente.
Depois, decide lá se queres mesmo ser professor.
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2 comentários
Sem tirar nem pôr. É isso e muito mais.
Não se preocupem!
O barbeiro vai dar aulas de matemática. É melhor que os alunos não terem professor, afirma o ministro da educação. Parece-me bem …ele também chegou a ministro…
Estes governantes, e este país, perderam a noção do ridículo.