Caro João Miguel Tavares,
Tenho 57 anos e sou professor desde os 22. É conjeturável a hipótese de me ter incluído no escalão dos professores envelhecidos e, acredite, às vezes até eu me sinto assim, em particular quando os meus olhos se afadigam a ler os dislates de tanta comunicação social. Curioso como estes ferem mais do que eventuais erros de expressão escrita dos alunos! Creia também que utilizo meios informáticos desde que eles se democratizaram. Ainda me recordo das peças desalinhadas que montaram o primeiro computador que tive. Ah! Sou professor de Português, convém dizer, ou o João Miguel (perdoe a familiaridade) ainda julgará tratar-se o autor destas letras de um perito em informática quando, afinal, sou igualzinho a tantos professores por este país fora.
Sou tão pouco dotado de literacia digital que, acredite, andava o jornal em que V. Exa. trabalha a bloquear os acessos à leitura digital, impondo assinaturas, e eu, destituído de toda essa literacia, cedo sorri quando compreendi que um utilizador informático que entrasse em modo anónimo conseguia ler o seu jornal de fio a pavio. “A pavio” talvez seja expressão incorreta, se pensarmos que este serve para alumiar e isso é algo que há muito desapareceu dessa casa. Mesmo assim, dir-lhe-ei que muito tempo terão tardado os experts do jornal a detetar o problema e a inviabilizar essa opção (longos dias têm cem anos, já o dizia a Agustina). O que até se torna engraçado, se considerarmos que o Público alberga gente que adora opinar sobre a literacia digital dos professores. Por outro lado, pouco me doeu a restrição de leitura porque a perda de qualidade do Público já anteriormente me dissuadira de desperdiçar o meu tempo de leitura. Digamos que se salva, com honra, o Ípsilon.
Saiba ainda que a minha insuficiência na literacia digital não me inibiu, ao longo dos muitos anos de via-sacra que levo no ensino (e sirvo-me do nome feminino escrito atrás apenas para não destoar do último parágrafo do seu texto), de ser utilizador de quadros interativos, de plataformas como o Moodle e de inúmeras outras ferramentas que têm o condão de ser úteis aos professores, mas à custa, quantas das vezes, de infindas horas de trabalho que passam despercebidas aos fazedores de opinião. Descubro que é a contragosto que recorro à palavra “fazedor” no preciso instante em que me lembro de um título de Jorge Luis Borges – como se escrever a palavra neste contexto aviltasse a nobreza da literatura – e, também, quando penso no próprio significado do vocábulo (fazedor – que ou aquele que faz ou costuma fazer alguma coisa, diz a Infopédia). Enfim, para abreviar, direi apenas que nem imagina a quantidade de novas ferramentas que descobri durante a pandemia. E muito menos imaginará as horas que gastei a aprender a lidar com elas.
Poderia ainda acrescentar que lá voltei, apesar da minha provecta idade, às salas de aula quando o ensino presencial foi retomado. Gostei do que vi à minha frente? Acredite que não. Para quem está habituado a ver os rostos dos alunos, ter máscaras à frente não foi imagem muito animadora. No fundo, no fundo, talvez o tempo ideal para privar com avós do Alentejo ou da Beira fosse mesmo este, obviamente que apenas no caso de isso não disseminar a covid-19.
Atentamente,
Jorge Pinho
(elemento de uma classe docente extremamente envelhecida e com falta de literacia digital)
23 comentários
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Deixei de ver o Governo Sombra por causa desse senhor…
Um género de intolerância à lactose?
Excelente texto, mas como tudo na vida e em distintas profissões, há professores mais velhos que dominam a parte digital, assim como outros mais novos que nem por isso. Conheço muitos velhos com mente jovem e muitos novos com uma forma de estar de vida …arcaica…
Chego a interrogar-me se os espertos não serão mesmo esses que optam por estar na vida de forma “arcaica” (eu diria, velhaca).
Os outros que façam o trabalho.
Há sempre quem o faça.
Já viu algum/a desses/as colegas ser prejudicado/a na carreira por esse seu perfil de desempenho profissional?
Nem vale a pena perder-se minutos de vida a responder a seres com palas nos olhos, em tudo o que respeita à escola publica: João Miguel Tavares, Miguel Sousa Tavares, Henrique Raposo, entre outros.
Por que é que será que só betos tinhosos, sebentos, fgustgados e anogmais é que falam assim?
Será defeito ou feitio?
Essa perfeito imbecil, moço de recados da besta de Massamá, tem mesmo cara de quem gosta de levar nas tombgas. Nem vale a pena tentar racionalizar com esse homúnculo mentiroso e intelectualmente desonesto.
Concordo em absoluto com o colega.
Fantástico comentário.
Respeitoso, flexível, inclusivo…
Eu diria,
extremamente patriótico.
Um exemplo de pensamento democrático que deve ser aproveitado pelo nosso sistema de ensino.
“O betinho, a esse respeito, está em absoluta autogestão. Tenta tratar mal aqueles que considera inferiores (demasiado mal) e bem aqueles que considera superiores (demasiado bem). No fundo é um labrego engraxado que julga sinal de aristocracia dizer os erres como se fossem guês.”
Miguel Esteves Cardoso
Eu gosto imenso do programa e ouço com atenção o JMT, com quem concordo bastantes vezes.
Quanto ao texto do colega, o que vejo é um ataque ao Público. Não leio, não comento.
Quanto a envelhecimento e a dificuldades na área digital, é a realidade do meu dia a dia (tenho 61). Aliás, é a realidade de um número muito significativo de nós. Uma realidade que está a ter consequências nos alunos, problema que vai agravar-se. (recuso tentar tapar o Sol com uma peneira).
Deve ser problema meu, mas não entendi “o ponto” do texto do colega.
Claro que não entendeu. Com 61 anos, já se torna difícil esse tipo de “coisas”. É o ponto do Tavares.
Roberto,
fazes-me um desenho?
Gostava de compreender “o ponto” do colega.
Obrigado.
Ó seu Alecron:
Se você tem dificuldades no digital, os outros não têm culpa que você tenha essas dificuldades.
Eu sou mais velho e o digital é canja. É preciso é trabalhar.
Meta força na verga, homem!
Permites duas perguntas?
1 – Aprendeste algo na área do digital, nestes últimos meses?
2 – Esses recursos digitais já existiam ou são filhos da pandemia?
Obrigado.
Ainda perdem tempo a responder a gerações de gente parasitária que aprendeu a não saber limpar o próprio rabo .
O João Miguek Tavares é um bebe-águas e um invejoso de merda.
Não liguem ao que ele diz ou ao que escreve.
É um merdas que pensa que é o maior!
No chat do Arlindo, essa não passava (eu acho que devia passar).
Rui, aqui as regras são diferentes, não são?
Não se deve desrespeitar ninguém dessa maneira…não é digno gozar com as limitações dos outros sejam elas de que natureza forem.
Alecrom, encare isto como o único comentário que aqui farei e com o qual encerro a minha participação: quando vejo tantos, tantos professores que dão o melhor de si mesmos, que se adaptam de modo tão fantástico ao EàD, ultrapassando ou minorando dificuldades (não vou discutir o real aproveitamento que este gerou), ler alguém que põe em causa esse esforço e que ousa acusar os professores de falta de sentido cívico provocou-me urticária, nomeadamente por também ter encontrado esses “professores envelhecidos” no regresso às aulas. Mas também já percebi que não percebi se esta urticária se disseminou por esses lados. Às vezes, há pomadas miraculosas que se passam sobre a pele e tudo desvanecem. Quanto ao resto, apenas tentei demonstrar que um mísero professor, sem especiais aptidões, até foi capaz de ler o “Público”, sem assinatura, apenas por lhe ter passado uma ideia pela cabeça. De que falamos quando falamos em literacia digital?
Tudo isso (não estou seguro de ter compreendido seja o que for) está dirigido a mim por que raio de razão, lol?
O João Tavares tem toda a razão, repito. Assim sendo, abstenho-me de produzir a obra plástica que me solicitou acima.
Não conheço o que disse a pessoa em causa, mas, vindo de quem vem, depois de ler este texto, consigo imaginar… faz parte daquele conjunto de gente que se julga intelectualmente superior mas que nunca soube o que é fazer sacrifícios na vida… e, em qualquer caso, recorrer à generalização sempre foi uma tentação perigosa a que muitos não resistem, da mesma forma que os mosquitos não conseguem resistir a uma boa bosta!
É tão fácil ser um idealista convicto quando se nasce em berço de ouro e não se conhece o que é ter realmente de lutar por uma vida melhor… não faltam por ai muitos do género, da esquerda à direita política!! como dizia o outro (que também está no programa em causa) «vocês querem é aparecer» ou, outro ainda, «vão mas é trabalhar, fazer qualquer coisa útil»!
Caro “colega” Jorge Pinho
Foi no meu mestrado apresentado na Universidade Nova de Lisboa (1994-1997) que, pela primeira vez foi abordada a leitura eletrônica. Mais tarde é ao longo do tempo que mediou o mestrado e a apresentação do Doutoramento (2000-2013), publiquei vários artigos sobre ensino/aprendizagem digital e interação entre grupos de conhecimentos (acquaintance) amizade e grupos deconhecimento (knowledge). Como sempre, os clepto cientificos que se auto-intitulam de especialistas avancam com as ideias de quem iniciou, depturpando-as.
Para não alargar esta minha exposição, lhe afiançou que prefiro o ensino presencial ao eletrônico, agora digital, por vários motivos.
Não se preocupem se nao estao muito inclinados para o ensino digital. Irá terminar, quando perceberem que não pode avançar, e vai passar de moda!
Caro “colega” Jorge Pinho
Foi no meu mestrado apresentado na Universidade Nova de Lisboa (1994-1997) que, pela primeira vez foi abordada a leitura eletrônica. Mais tarde é ao longo do tempo que mediou o mestrado e a apresentação do Doutoramento (2000-2013), publiquei vários artigos sobre ensino/aprendizagem digital e interação entre grupos de conhecimentos (acquaintance) amizade e grupos deconhecimento (knowledge). Como sempre, os clepto cientificos que se auto-intitulam de especialistas avancam com as ideias de quem iniciou, depturpando-as.
Para não alargar esta minha exposição, lhe afiançou que prefiro o ensino presencial ao eletrônico, agora digital, por vários motivos.
Não se preocupem se nao estao muito inclinados para o ensino digital. Irá terminar, quando perceberem que não pode avançar, e vai passar de moda!