Exames Escolares só Para Robustos Começam Amanhã
O ministro da Educação garantiu, em 6 de Maio e para tranquilizar o país, “que se estava a trabalhar para ter um corpo docente robusto” na vigilância dos exames do secundário que começam amanhã. Portanto, o país sabe que só há exames porque os professores vigilantes são da estirpe dos robustos e convocados com equidade e rigor. Pudera. Se habitualmente um vigilante está mais de três horas em pé, sem beber, comer ou ler (se precisar de ir ao WC ou desfalecer é substituído e isolado, por desconfiança, até ao fim do exame), tem agora que o fazer de máscara e com as restantes etiquetas, e manter procedimentos que contrariam a distância física numa sala com temperatura elevada e onde podem estar até duas dezenas de jovens em franca laboração (“todos os ingredientes para o risco mais elevado de contágio”; e, hoje, confirma-se que “o vírus se transmite pelo ar por gotículas mínimas que ficam em suspensão, defendem 239 especialistas de 32 países que pedem à OMS que reveja as diretivas de proteção“). No caso dos alunos, que estão sentados mas igualmente a jejuar, os exames incluem não robustos e todos usam máscara.
E se tudo isto era evitável, por que é que não se cancelou, “como fizeram a Espanha, Itália, França ou Reino Unido“, uma vez que os exames escolares não melhoram as situações dramáticas da economia de curto e médio prazos e o cancelamento até podia oxigenar ambientes familiares em disrupção?
Há demasiados assuntos em que complicamos tanto que parecemos 200 milhões e não 10. Por exemplo, as candidaturas ao superior são apenas cerca de 75 mil. Como se disse, era possível testar um modelo em que os candidatos inscreviam 2 ou 3 prioridades. Quem não obtivesse colocação de acordo com a nota do secundário associada aos exames já realizados, seria entrevistado para uma solução da responsabilidade do ensino superior. E repare-se: se para a saúde das pessoas não se considera apenas a Covid-19 e tem-se em conta, e bem, a economia e a saúde mental, também na avaliação escolar dos alunos não se devia examinar sem se ter em conta a saúde psicológica e a capacidade volitiva. Por isso, defendeu-se o fim do ano lectivo no final do 2º período para se evitar tanto descontrole emocional, atenuar flagrantes desigualdades e não penalizar os jovens com exames nestas condições disfuncionais de preparação e realização. E para agravar o que foi dito, fazê-lo de máscara diminui capacidades com ênfase para quem tem problemas de oxigenação.
Por outro lado, ainda esta semana se publicaram, com insensibilidade para o detalhe, rankings de escolas. Por muito desvalorizadas que estejam estas hierarquias, a mediatização viciou-se e sempre influencia o ânimo dos alunos (os 30 a 40 primeiros lugares são dos estimulados privados). Claro que sabemos há muito da lógica que se sobrepôs exigindo exames, neste caso a qualquer custo, e rankings, para publicidade, associados a um acesso ao superior com numerus clausus. Aliás, bem se tentam estudos alternativos, com os dados sócio-económicos, mas, e incrivelmente, há anos a fio que os privados os escondem (só se conhecem os das escolas públicas). A comunicação social finge que não percebe e insiste em destaques comercializáveis.
E é isto.
E no final, lá aparecerá o temporariamente inactivo, por precaução e bem, departamento de selfies da república a homenagear os alunos e professores mais robustos. E dos prováveis infectados, assintomáticos (“que correm sérios riscos“) ou não, a realidade sentenciará: é a vida, porque a prioridade à salvação de vidas foi no tempo em que havia pandemia.
Imagem: estátua de Davi, a grande obra-prima de Michelangelo; Galeria dell’Accademia; Florença.
15 comentários
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Concordo! Mas, e já agora, também gostaria de saber a sua opinião sobre o uso de “Quadros de valor e excelência” no final deste ano letivo!
Deparei-me com essa realidade aquando a reunião de departamento da minha escola.
Para mim, os Quadros de Excelência não se compaginam com uma escola de todos e para todos! Se desejamos que todos contem porque se distinguem alunos?
Numa altura em que tanto se reflete sobre o drama da desigualdade das condições das famílias dos nossos alunos e de tantas crianças e jovens que ficaram em risco de abandono em tempos de ensino remoto de emergência como se podem ditar nomes de meninos – no caso 1.º ciclo – para uma lista de alunos que: tiveram média anual de muito bom; boa assiduidade; comportamento exemplar no seu relacionamento com todos os membros da comunidade escolar … Diga-me, por favor! Acha natural?
Não, claro que não.
Aliás, deviam era levar na tola para não estarem a armar-se em carapaus de corrida.
Alecrom, anda muito afastado da coluna da direita.
Fui corrido.
Agora estou mais à esquerda, lol.
Aquilo agora transformou-se numa conversa de comadres. Esta área sempre foi mais interessante, embora de vez em quando apareça uma tal de Lulazinha, que é largamente compensada pela assertividade da Matilde.
Subscrevo integralmente a opinião do Paulo Prudêncio.
Concordo totalmente e, aliás, o conhecimento para os exames não passa de conhecimento enlatado, de consumo imediato e cujos restos vão para o lixo no dia seguinte.
Concordo.
Foi esse ensino que (des)formou homens e mulheres com Francisco Louçã, Catarina Martins, Paulo Portas, Manuela Moura Guedes😂…
Sem dúvida … e até a Joacine… Catastrófico, de facto… Já aduzi a urgente evidência de colocar os alunos nas universidades pelo jogo da macaca… Ninguém me ouve!
Robustos, mas, falo por mim, mais bem servidos em termos de ferramenta que o modelito aí dessa estátua…
Gaba-te cesto… Enfim.
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Estes gajos doMinisterio da Educação são um BANDO DE CABRÕES COM CARTÃO DO PARTIDO XUXIALISTA……
O povo gosta desta M E R D A e as sondagens assim o indiciam…….
País MISERÁVEL!……NOJO.
Concordo, em absoluto, com todos os procedimentos tomados. A realização de exames é importante e teria de ser assegurada. Muito bem.
Gaba-te cesto… Enfim!
A realização dos exames vai trazer mais casos de infeção. Se nos outros países não há, tinha de ser uma medida mesmo única. Os alunos tiveram condições muito difíceis. Não percebo como isso contribui para selecionar. As notas do secundário deveriam bastar nesta situação atual de pandemia.