Pais de Lisboa não querem privados onde há escolas públicas

Em comunicado, a Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais (FERLAP) veio tomar pela primeira vez posição pública sobre os contratos de associação e um despacho publicado em abril que “clarifica” que o Estado só financia nos colégios privados os alunos para os quais não existe oferta na rede pública.

A FERLAP justifica o seu silêncio até ao momento, por sempre ter considerado ser “mais do que natural acontecer algo que já deveria ter acontecido há muito”, ou seja, restringir o financiamento nos colégios privados apenas a quem realmente não tem alternativa.

No entanto, “foram tomadas algumas posições contra esta medida, vindas em alguns casos de onde menos se esperava, que passaram a ser notícia nacional”, justificando-se uma tomada de posição, explica em comunicado a federação.

As vozes contra esta medida têm vindo dos próprios colégios privados e das associações que os representam, das famílias dos alunos que os frequentam, dos partidos de direita PSD e CDS-PP e da própria Confap (Confederação Nacional das Associações de Pais).

A FERLAP, que é associada da Confap, demarca-se assim daquela posição, lembrando que os contratos de associação foram criados para suprir a falta de salas ou de escolas públicas, destinando-se, pois, “apenas a suprir” essas necessidades, não sendo aceitáveis nos locais onde exista resposta.

A FERLAP sublinha que os contratos de associação não servem para acolher alunos que provenham de locais onde esta existe, “nem servem para satisfazer os caprichos das famílias que não gostam que os seus filhos frequentem a escola pública”.

Na opinião da federação, esses contratos não podem sequer ser justificação para que não sejam construídas escolas públicas necessárias a satisfazer as necessidades das populações onde não existam.

“Os contratos de associação não são um direito adquirido, são um recurso apenas temporário e devem ser entendidos como tal, não podem nunca promover o benefício das escolas privadas em detrimento da escola pública e em prejuízo do Estado, que somos todos nós”, sublinha a FERLAP, considerando que o despacho normativo “apenas peca por tardio”.

Quanto a prazos, as associações de pais de Lisboaentendem que existindo paralelismo pedagógico e curricular entre os colégios com contrato de associação e as escolas públicas, como deve acontecer, “nada impede que no final do ano letivo os alunos que tenham vaga nas escolas públicas, sejam transferidos para estas”.

As exceções aplicam-se apenas às situações em que existam contratos que se prolongam além do final do ano letivo, salvaguardam.

A FERLAP diz compreender o mal-estar que esta medida possa provocar nas famílias habituadas a que os filhos frequentem colégios privados, mas lembra-as de que “essa frequência não é um direito, foi apenas um recurso que o Estado foi obrigado a utilizar para que os seus filhos pudessem frequentar a escola sem que as famílias tivessem que pagar por essa frequência, ficando assim em pé de ‘igualdade’ com as famílias onde existia oferta pública”.

Havendo escolas públicas, estes alunos terão que nelas ingressar “como faz a generalidade dos alunos portugueses”, ou então pagar pelo ensino privado.

Sobre o argumento da “liberdade de escolha” da escola ou do projeto educativo usado por alguns defensores da frequência dos colégios com contratos de associação, a FERLAP diz que “obviamente” as famílias têm o direito a escolher as escolas que os filhos vão frequentar, o Estado é que “não tem que suportar a opção” por uma escola privada, havendo oferta pública.

“Se as famílias entenderem que os seus filhos devem continuar, ou começar, a frequentar o ensino privado, vão ter que entender que, tal como todos os outros que optaram e optam pelo ensino privado, terão que suportar os encargos com essa frequência”, salienta.

A federação entende que assim como nenhum aluno deve ficar sem escola, também nenhum aluno deve ser beneficiado em relação aos outros, e sublinha que promover a desigualdade é inconstitucional.

A FERLAP defende ainda que o dinheiro poupado com o fim dos contratos de associação desnecessários seja investido na beneficiação da escola pública.

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2016/05/pais-de-lisboa-nao-querem-privados-onde-ha-escolas-publicas/

10 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. Claro!
    Só mostram que têm bom senso.

    • Elisabete Oliveira (910) on 8 de Maio de 2016 at 22:44
    • Responder

    Somos pais de dois meninos que frequentam o Colégio Paulo VI em Gondomar, um no 4º ano e outro no 7º ano. Não estão ao abrigo do contrato de associação, mas não podemos de deixar de mostrar o meu descontentamento com a possibilidade de acabarem com este tipo de financiamento, pelas razões que passamos a expor:

    1- Segundo a Declaração Universal dos Direitos da Criança redigida em 1959 “A criança desfrutará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Estes direitos serão outorgados a todas as crianças, sem qualquer exceção, distinção ou discriminação por motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, nacionalidade ou origem social, posição económica, nascimento ou outra condição, seja inerente à própria criança ou à sua família.”

    2- Todas as crianças, independentemente do rendimento familiar, têm direito a usufruir do apoio do Estado, quer no ensino público, quer no ensino privado, pois a igualdade de direitos é um princípio já há séculos legislado e que muitos teimam em ignorá-lo.

    3- Todos os alunos, quer estejam no ensino público, quer estejam no ensino privado, são alvo de despesa por parte do Estado, do qual todos fazemos parte e não apenas algumas vozes políticas.

    4- O Estado não tem qualquer prejuízo ao financiar estes contratos, pois apenas estão a financiar estabelecimentos privados com dinheiro que é dos nossos filhos por direito, pois se eles estivessem a frequentar um estabelecimento público também estariam a dar essa mesma despesa ao Estado.

    5- Num Estado Democrático é imperiosa a liberdade de escolha por parte dos cidadãos em diversas matérias, nomeadamente relativamente às escolas onde preferem que os seus filhos recebam a sua formação escolar.

    6- Esta posição é um atentado inequívoco ao princípio da liberdade, neste caso à liberdade de escolha do local onde pretendemos que os nossos filhos recebam a sua formação escolar, violando, assim, o “princípio VII da supramencionada Declaração: direito a educação gratuita e ao lazer infantil : o interesse superior da criança deverá ser o interesse diretor daqueles que têm a responsabilidade por sua educação e orientação; tal responsabilidade incumbe, em primeira instância, a seus pais.”

    7- Propomos um levantamento dos custos reais por cada aluno no ensino público e que seja dada a possibilidade aos pais de utilizarem essa verba, que é dos seus filhos por direito, na sua formação escolar, assumindo todas as despesas extraordinárias que daí possam advir.

    8- Defendemos a igualdade de direitos para todas as crianças e não uma segregação condicionada por ideologias políticas que teimam em atacar a Democracia tão preconizada desde há décadas.

    Por tudo isto, somos da opinião que o Estado tem o dever inquestionável de financiar o percurso escolar de qualquer aluno e de dar liberdade de escolha aos pais sobre o estabelecimento escolar que querem que os seus filhos frequentem.

    Para além disso, aproveitamos para sublinhar que esta medida devia ser estendida a todos os anos da escolaridade obrigatória.

    Os pais do Manuel e do Daniel,

    Elisabete da Silva Moreira Oliveira

    Manuel Armando Marques Águeda Oliveira

    1. Mete mais tabaco nisso.

      • Ida Moreira on 9 de Maio de 2016 at 0:04
      • Responder

      Onde estavas tu quando fecharam escolas públicas, obrigaram alunos a deslocar-se vários quilómetros, obrigaram-nos a levantar de madrugada, longe de casa…
      O que foi feito da liberdade de escolha destes pais? Estes não tinham escolha! Só tinham aquela escola.
      Não se pode olhar apenas para o problema numa perspetiva.

      Esta medida peca por tardia. Já devia ter sido implementada há muito tempo.
      Hoje temos um ministro com coragem para enfrentar e acabar com todos estes lobies.

        • Sr. Curioso on 10 de Maio de 2016 at 18:44
        • Responder

        Há casos onde a Ida Moreira tem razão, mas há muitos onde não sabe do que fala! É só do que ouve falar!

      • Armando Oliveira on 9 de Maio de 2016 at 9:16
      • Responder

      Li e perdi tempo.

      • Daniel on 9 de Maio de 2016 at 18:06
      • Responder

      Devia ter vergonha. E também respeito pela escola que lhe paga o salário (a pública).

        • Sr. Curioso on 10 de Maio de 2016 at 18:43
        • Responder

        O sr. sabe o que é respeito? Respeito é não ter a sua opinião? Típico de quem só vê para um lado.

    2. O dinheiro não é dos seus filhos mas de todos nós Portugueses. Eles têm direito à educação mas não ao colégio que os pais querem (porque exclui os outros, aqueles que ensina no 910).

        • Sr. Curioso on 10 de Maio de 2016 at 18:42
        • Responder

        Há casos onde a Carla tem razão, mas há muitos on não sabe do que fala! É só do que ouve falar!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
Seguir

Recebe os novos artigos no teu email

Junta-te a outros seguidores: