De início, confesso, atravessei a escola sem perceber o burburinho que me antecedera.
De um lado as funcionárias bichanando entre sorrisos, depois as alunas de pernas tremelicando e dando guinchinhos histéricos e, finalmente, na sala de professores, a revelação.
Juro que, de início, não reparei logo na questão principal. Foquei-me nos rostos avermelhados e divertidos das colegas do fundo, no sorriso aparvalhado da mesa da direita, nos olhares de esguelha que espreitavam em intervalos constantes, nos risinhos gaiatos das efetivas da outra ponta. Mas, quando ocupei o meu lugar na sala de professores, percebi.
Em frente a mim, mesmo à minha frente, céus, podia jurar, valham-me os deuses, que, num segundo somente de energia concentrada, estava perante mim, perante nós, Adónis, Hércules, Di Caprio, Brad Pitt, todos juntos num só: o novo professor contratado.
O contrário de estar morto é estar vivo e ver, como eu agora mesmo vi, um exemplar da mais bela qualidade masculina. E não, não falo da beleza intrínseca que dessa bem basta a que nos rodeia a todos. Não. Falo da beleza extrínseca, carnal, voluptuosa. Olhos verdes, ombros largos, tez morena e vislumbro, debaixo da t-shirt: aquilo são músculos a sério?
Deus do céu, este homem é professor? Não se enganou no caminho? Não veio arranjar a máquina do café (e ao meu lado a colega lança um suspiro tão audível que percebemos que precisa urgentemente de manutenção no café lá de casa)?
Céus, posso ser aluna outra vez? Ou será que posso candidatar-me a assistir a aulas alheias?
Num sopro baixinho, a Adélia profere:
– É o novo colega. Vem substituir a de Biologia que está de baixa…
O Artur, habituado à exclusividade sexual no seu grupo, e despeitado com as gargalhadinhas imberbes das senhoras professoras, ergue-se com o soar do toque e arrota rancorosamente:
– Tenho a certeza que é gay.
Ora, quero lá saber disso. E tão pouco me interessa se o palerma do Artur diz para termos juízo que somos todas casadas. Não estou morta e olhar não é pecado.
Valha-me estar aqui nesta escola que, ao menos, sempre lavo os olhinhos de consolo nos próximos tempos.
É que a vida de professor é dura, mas, acima de tudo, entediante. As chatices são sempre as mesmas, há mais professoras que professores, passamos o tempo do intervalo a discutir as angústias comuns que nos assolam a todos, enfim. Enquanto o governo não nos entupir com medidas novas, sempre andamos consoladas.
E vai na volta, o Artur também lhe tirou as medidas. Eu bem o vi a espreitar curioso pelo cantinho do olho…
34 comentários
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Visto daqui: são todas velhas!
Ou até são bem jeitosas e já só veem velhos à volta delas!
“veem” daquilo de ver?
Exatamente!
… elevado a quantos mundos possíveis sem Língua?
???
3ª pessoa do plural. do pres do ind. do verbo “ver”, que agora, com a nova grafia, não tem acento circunflexo! Um verbo da segunda conjugação com um “e” tónico oral fechado em hiato com a terminação “-em”.
Por decreto?
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, publicada no Diário da República, 1.ª série, n.º 17, de 25 de janeiro de 2011, determina a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a partir de 1 de janeiro de 2012.
E eu ralado!
Então para que contestou??
Exercício de estilo.
Não me parece que tenha estilo algum… “Pretensão e água benta…” Sabe o resto, não sabe?? E daí…
???
Mulher!
Fafe, vai morrer longe daqui, pá. Tu nem uma borbulha no rabinho do Brad Pitt vales.
Não tenciono valer uma borbulha no rabinho do Brad, era só o que faltava!
Quanto a morrer, será um dia destes, não posso prometer a distância estatística.
Bem precisamos de mais desses. As escolas hoje parecem centros de dia.
Essas mesmas mortas de fome são as que quando vem uma professora mais jeitosa para a escola não descansam enquanto não bufam “Essa gaja é uma ordinária”…
sim, eu percebo! afinal não é só na América: aqui também os jovens professores “prostitutos”, digo, substitutos aceitam trabalhar oito horas por semana, e apenas, enquanto os mais idosos estão de “baixa” (ou será em baixa?)
Ficámos sem saber de que grupo exclusivo é o Artur…
Só podia mesmo ser um artigo de mulher, as professorinhas; geralmente derretem-se todas com os adónis; por um lado, a espécimen feminina responde assim devido à sua genética, é-lhes inerente, assim, quando entram na sala de professores, já cheias de energia, e depois de arrumarem a marmita, último modelo, com o jantar da noite anterior, em vez de olharem para o relógio para ver o tempo que falta para a aula, olham, discretamente, ilusoriamente procurando, sonhando naquela sala o macho genial para procriarem; por outro lado, fazem-no também para compensarem a monotonia e falta de qualidade da vida sexual lá em casa, tão fria quanto o almoço na marmita, sexo matrimonial, pobre mas que financia o BMW que levam para a escola em vez do peugeot 208 de dois lugares, com que o adonis, por não o ser, aceita passar o dia!
Realmente imagino o consolo para os olhos…
É impressão minha ou os homens ficam todos picados quando as mulheres admitem que gostam de arejar a vista?
Homem que é homem – não é mulher.
Não ficamos, nós até gostamos que olhem para nós na sala de professores, que nos pisquem um olho, nos lancem um sorriso e um olhar, prolongado, bem arejado e indubitável, simulem um beijo, e nos digam….vamos?…..
Direitos iguais… eu cá desejava ter umas angelinas jolis na minha escola…
Coitado do Adónis, projectado para ser expulso com suspiros…
Depende… pode transformar-se num Ares arrebatador…
Perdão, Adónis substituto, um filho neto do pai avô…
haja paciência! é que até assustam as pessoas.. odeio sentir exatamente isso cada vez que chego numa escola…
Adoro estes textos, então quando são para nos fazer sentir felizes pelas colegas sortudas mais ainda 🙂
Aquilo é que foi, todas a fazerem fila à porta da casa de banho, para se masturbarem…
E o Artur? Bebia um café, no bufete.
Que classe de comentário!
Ahahahahah! Viva tudo o que é belo! Viva a gargalhada que dei com os vossos comentários! Bons dias com boas vistas para todos!