Há muitos anos, aceitei o desafio de ir trabalhar para Torres Novas, sendo que, nessa altura, me encontrava grávida, com poucos meses de gestação… Por prescrição médica, fiquei impedida de realizar viagens de carro, que fossem frequentes e longas… A solução encontrada foi alugar um quarto em Torres Novas, durante alguns meses, numa casa que me foi indicada por alguém de confiança…
Depois de a minha filha nascer, e durante aproximadamente um ano, passei a fazer cerca de 240 quilómetros diariamente: 120 de Lisboa para Torres Novas e outros 120 de Torres Novas para Lisboa… A maior parte do percurso era feita pela CRIL, A1 e A23 e vice-versa…
Em combustível, portagens e frequentes revisões do carro, lá se ia grande parte do vencimento…
Durante esse ano, aconteceram-me algumas peripécias na estrada, incluindo o rebentamento de um pneu, em plena A23, num dos regressos a Lisboa, que só não correu muito mal porque, vá lá saber-se como, consegui segurar o carro, evitando um despiste violento, com consequências imprevisíveis…
Passados vários anos, ainda não sei bem como não saí disparada para o separador central ou para fora da via de rodagem, pelo lado da berma… Durante alguns infindáveis segundos, tive muita dificuldade em controlar a direcção do carro, tantos foram os acentuados ziguezagues, provocados pelo rebentamento do dito pneu…
Felizmente, acabei imobilizada na berma… Imobilizada, mas “a tremer como varas verdes”…
Nesse dia, vi-as muito apertadas… Valeu-me a Brigada de Trânsito de Torres Novas, que consegui contactar através de um telemóvel que, à época, teria o tamanho e o peso de um tijolo… Sim, naquela altura, os telemóveis eram enormes e “pesavam toneladas”…
Bendita Brigada de Trânsito essa, que me auxiliou e que, inclusive, mudou o pneu que ficou completamente destruído… Pois é, eu não sabia mudar o pneu… Contra mim, também devo referir que não sabia onde é que estava o triângulo, nem o pneu sobresselente…
Encontrado o triângulo, surgiu novo revés: não consegui colocá-lo na vertical, de forma a que ficasse visível para os outros condutores… Sempre que o tentava posicionar, eis que o mesmo caía, como se tivesse vontade própria e um especial prazer em me deixar ficar mal…
Mais uma vez, tive a ajuda de um dos Agentes da Brigada que, obviamente, conseguiu realizar à primeira, aquilo que eu, ao cabo de várias tentativas, não estava a ser capaz de concretizar… Enfim, as minhas aptidões mecânicas sempre foram uma lástima…
Uma desgraça, portanto… Ou melhor, várias desgraças, portanto…
Em resumo, foi toda uma cena dramática, mas, em simultâneo, algo anedótica, ainda que completamente verídica…
Durante esse ano, foram meus “companheiros de estrada”, sobretudo, Camionistas, também eles assíduos frequentadores da A1, de quem guardo algumas memórias engraçadas, como a troca de certos piropos e galhardetes, quase sempre gentis… Na altura, era, assim, uma espécie de “Psicóloga Camionista”…
Na próxima Segunda-Feira, dia 2 de Setembro, muitos Professores farão a sua apresentação em Agrupamentos de Escolas muito distantes da sua área de residência e, tal como eu, há vários anos atrás, terão que palmilhar diariamente muitos quilómetros até à sua morada profissional…
Pelas dificuldades acrescidas que esses Professores terão que enfrentar, manifesto aqui a minha incondicional solidariedade a cada um deles…
Sei bem o que significa trabalhar longe de casa e da família e também conheço os custos materiais e pessoais que isso pode acarretar…
Depois dessa aventura que, no total, durou cerca de um ano e meio, passei a trabalhar perto de casa e isso, comparado com o anterior, foi uma verdadeira bênção… Mas, e como se percebe, ainda não me esqueci de algumas tormentas por que passei naquela época, apesar de ter sido muito bem tratada em Torres Novas…
E com esta conversa de périplos rodoviários, veio-me à lembrança, o único, genial e inconfundível, Willie Nelson: “On the road again”, que consegue sempre alentar-me a alma…
Independentemente de cada Profissional de Educação trabalhar longe ou perto de casa, auspiciam-se tempos difíceis para a Escola Pública:
– Neste momento, parece que está instalado o caos, no que respeita à contagem do tempo de serviço dos Professores, para efeitos de reposição na respectiva Carreira;
– Previsivelmente, continuará a existir uma gritante falta de Professores;
– As injustiças patentes em alguns Concursos de Professores persistem;
– O actual modelo de Avaliação do Desempenho Docente, assim como o de Administração e Gestão Escolar, carecem de alterações urgentes, capazes de suscitar indispensáveis consensos e apaziguamentos…
Apesar de, no momento presente, existirem muitas “zonas cinzentas”, com desenvolvimentos futuros difíceis de decifrar e de antecipar, não pode deixar de se desejar um bom Ano Lectivo a todos os Profissionais de Educação, trabalhem longe ou perto de casa…
Conforme os casos, de forma literal ou metafórica, estaremos todos: “On the road again”…
E, já agora, se forem ao supermercado, abastecer a despensa antes do regresso ao trabalho, tende muito cuidado com a forma como dispõem os bens alimentares no carrinho de compras, em particular a fruta, sobretudo, se optarem por ananás…
Não vá acontecer que, inadvertidamente, estejam a induzir expectativas erradas em alguma pessoa…
(Ainda que haja alguém que se esforça, há muito tempo, para me ajudar a apreender certos procedimentos mecânicos, parece que há coisas que nunca mudarão: apesar de gostar bastante de conduzir, 26 anos depois da saga aqui relatada, confesso que continuo sem saber mudar um pneu e que mantenho as dúvidas quanto ao local onde se possa encontrar o triângulo… “Shame on me”…).
Paula Dias
15 comentários
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E o que é que esse episódio estritamente pessoal interessa às outras pessoas? Tudo serve para publicar aqui. Enfim…
À Luluzinha deve ter interessado, uma vez que até se deu ao trabalho de aqui vir comentar. “Estão verdes, não prestam”.
É muito importante que o povo português saiba o que é ser professor em Portugal. Parabéns à Paula, gosto muito de ler os artigos dela. Espero que ela conte a história de outros professores para que fique registado e testemunho para gerações futuras.
O problema não é da autora do texto.
O problema é de quem permite a publicação destes textos.
Mas pelo menos a autora é uma professora informada pois até lê o Correio da Manhã (para quem não sabe ver a história do ananás)
V. Exa. é um leitor desatento: a autora não é professora e a história dos ananases está publicada em todo o lado, estando, por isso, a milhas de ser um exclusivo do Correio da Manhã. Essa atenção anda pelas ruas da amargura.
Para evitar cair na tentação de visitar este pardieiro, sugerem-se as seguintes leituras, a tão excelsa mente brilhante, chocada com o que aqui se publica: ” Crítica da Faculdade do Juízo” (Immanuel Kant), de preferência na Língua original (Alemão), não vá perder-se alguma substância pela tradução ; “O Conceito de Angústia” (Soren Kierkgaard), de preferência na Língua original (Dinamarquês), não vá perder-se alguma substância pela tradução e “Fenomenologia do Espírito (Friedrich Heigel), de preferência na Língua original (Alemão), não vá perder-se alguma substância pela tradução.
Vá, vá lá entreter-se com as leituras sugeridas, para não ter que se confrontar com textozecos que não fazem justiça à sua capacidade intelectual. Se puder, faça-nos um resumo posterior de cada leitura. Muito agradecido.
Se quer citar pensadores, faça-o de forma correta: KIERKEGAARD; HEGEL
Perante tamanho sacrilégio, hediondo horror, indesculpável blasfémia, não sei se corte os pulsos, se me atire do 20º andar ou se tome uma dose generosa de toxina botulínica. Sinta-se à vontade para me aconselhar, face à minha indecisão.
Estou parvo com aquilo que se escreve. Mas essa gente não tem vida pessoal???!!!! Aconselho um psicólogo urgentemente.
Olha outro que, se lê, não compreende o que lê. Isto está engraçado.
Texto sem relevância para este site. Pessoas sem capacidade de mudar um pneu e colocar um triângulo de sinalização não deviam ser autorizadas a conduzir.
Diga-nos lá qual é a sua Mestria além de, presume-se, ser o suprassumo dos pneus e dos triângulos. Aguardamos ardentemente que nos possa brindar com uma aula magna, ou várias, se assim o entender.
Por coincidência tenho duas licenciaturas (uma Engenharia e outra em Matemática) e um mestrado no entanto continuo a aprender todos os dias . Na minha opinião, este tipo de textos nada acrescentar de útil ao site que no geral é muito bom.
Então é isso: tantos “numaros”, tantas ciências exatas, tantos cálculos numéricos e tantos graus académicos estão a fazer-lhe mal. Liberte-se disso e tente ver além do concreto. Imagine, seja criativo, sonhe e aceite que qualquer situação pode sempre ser vista sob várias perspetivas. Liberte-se dessa prisão, pá. De nada.