É tão fácil julgar, muitas vezes, sem fundamentos credíveis e sem conhecimento de causa…
Na Escola Básica da Azambuja, um aluno terá esfaqueado seis colegas, por motivos, objectivamente, desconhecidos à data da ocorrência… Perante esse episódio, em relação ao qual se têm feito muitas conjecturas e tecido inúmeras especulações, mas que obviamente não deixará ninguém indiferente, parecem existir apenas três certezas:
– Trata-se de um acontecimento potencialmente gerador de alarme social…
– A gravidade do acto praticado pelo aluno agressor não pode ser ignorada, nem escondida, nem escamoteada, nem desvalorizada…
– Nem sempre é possível prever e evitar este tipo de ocorrências em contexto escolar… Ainda não se encontrou o “Santo Graal” do funcionamento da mente humana, que permita identificar, sem margem de erro, que “gatilhos” poderão desencadear um fenómeno desta natureza… Assim sendo, torna-se muito difícil prever com precisão a ocorrência deste tipo de episódios violentos, mesmo que previamente possam existir alguns indícios de risco… A existência de indícios não significa que, obrigatoriamente, se venham a concretizar ou a consumar actos violentos… Ao invés, também é possível que a inexistência de indícios de risco nem sempre impeça a prática de acções violentas, num determinado momento… Cada caso é mesmo um caso e dificilmente sairemos dessa inevitabilidade…
E a partir daqui podem surgir muitas perguntas de difícil resposta:
– Como se caracteriza a família do agressor, em particular as dinâmicas relacionais existentes no contexto familiar? Que contributo poderá ter tido o ambiente familiar no desencadeamento deste episódio?
– O agressor sofre de alguma patologia mental, diagnosticada ou por diagnosticar à data da ocorrência?
– O agressor é ou foi vítima de bullying em contexto escolar?
– O que terá levado o agressor a desferir golpes com uma arma branca naqueles que se cruzaram no seu caminho? O que espoletou tal expressão de agressividade?
O acto praticado pelo aluno tem que ser compreendido, isto é, têm que se perceber as razões, conscientes ou inconscientes, que o levaram a agredir de forma bárbara várias pessoas…
Porque compreender o acto praticado por este aluno é também contribuir para a prevenção deste tipo de ocorrência em contexto escolar…
A propósito deste acontecimento na Escola Básica da Azambuja, leram-se muitos julgamentos e juízos de valor nas ditas “redes sociais” que visaram, sobretudo, a família do aluno agressor, mas também a Direcção do estabelecimento de ensino…
Que dados factuais existem para se poderem fazer tais juízos?
Enquanto não existirem respostas concretas e credíveis, o mais avisado será, talvez, que cada um se abstenha de julgar terceiros, evitando comentários levianos, sem fundamentos objectivos e sem conhecimento de causa, que em nada ajudarão a compreender o problema e a agir face à gravidade do mesmo…
Introduzir mais ruído, absolutamente desnecessário e contraproducente nesta situação, por si mesma já suficientemente grave e complicada, não faz qualquer sentido…
Em qualquer caso, vítimas, agressor e restante comunidade educativa carecem de uma intervenção sistémica e especializada que, com certeza, já estará em curso…
Dada a idade do aluno (12 anos), competirá ao Ministério Público a instauração de um inquérito tutelar educativo que, por essa via, efectuará as diligências necessárias para a obtenção de informação completa…
Paula Dias
7 comentários
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Cara Paula: a questão é que não pode acontecer e tem que ser punido em tribunal, de modo a não abrir precedentes. Os brandos costumes não estão a resultar.
Pode ser difícil prever mas é mais fácil prevenir a ocorrência dessas e de outras situações. A segurança nos recintos escolares não existe por várias razões, mas se houvesse nas entradas dispositivos que detetassem metal ou armas (coisa que é possível fazer), esse aluno nunca teria entrado com uma faca na escola e feito o que fez.
Mais uma a debitar teorias feéricas de gabinete! Acredito que nenhuma das vítimas lhe estará direta e familiarmente vinculada. Caso contrário, talvez, o discurso fosse outro. Enfim…
Mais uma que adora julgar os outros. Aliás, talvez seja esse o único prazer que a Luluzinha tem na vida. E com este comentário acaba por dar razão à autora do texto, ilustrando de forma magistral a mensagem do próprio texto. Boa, Luluzinha, que grande “tiro no próprio pé”!
A violência aumenta na medida do desconforto global.
Na comunidade escolar restrita dos docentes aumenta com os favores da gestão que manipula e força os colegas a funcionários a totalitarismo das decisões e teorias sem sentido.
Nas famílias e nos alunos pela perceção da fragilidades das escolas e ainda pelas conveniências laborais ou das instâncias municipais que tão bem selecionam os “ideais/idiotas” a regimentar.
Para prevenir casos futuros há que procurar as causas para o sucedido.
Quem tem olhos , ouvidos, sabe ler, e sabe escrever, logo existe. Depois é usar alguma inteligência e conversar com quem se preocupa mais do que o seu próprio umbigo.