Os noticiários têm sido inundados com um caso de excelência pedagógica que nos faz repensar a necessidade urgente de reformular o nosso sistema educativo. Desta vez, trata-se de uma professora de Matemática que, durante mais de 30 anos, conseguiu lecionar a disciplina sem nunca ter tido habilitações adequadas. Uma proeza digna de destaque! Afinal, para que servem os diplomas e as qualificações quando se tem carisma e os pais estão satisfeitos com o desempenho? O Ministério da Educação, no entanto, insensível a tamanha genialidade, decidiu expulsá-la no ano passado e agora exige-lhe 350 mil euros em tribunal.
O caso torna-se ainda mais fascinante quando descobrimos que esta professora foi coautora de manuais escolares!
Para muitos, isso seria um escândalo, mas para alguns encarregados de educação, foi uma demonstração de “dedicação”. Um representante dos pais chegou a afirmar que “a grande maioria dos encarregados de educação reconhecia-lhe um desempenho excelente. Conseguia levar os bons alunos a melhorar os resultados e os menos bons a melhorar também o seu desempenho.” Com um reconhecimento tão grande, quem se preocupa com certificados de habilitações falsificados?
O percurso académico da professora é, no mínimo, notável pela sua originalidade. Depois de oito anos a frequentar o curso de Ensino de Matemática na Universidade de Lisboa, conseguiu aprovação a apenas nove disciplinas. Ora, eram necessárias 23 para obter o bacharelato, mas isso não a impediu de começar a dar aulas com apenas três disciplinas concluídas. Para alguns, isso poderia parecer uma falha, mas para ela, foi apenas um “pormenor técnico”. Quem precisa de tantas cadeiras, afinal, quando já se tem uma cadeira de professor?
E há mais: os seus certificados, entregues com uma ousadia que só podemos admirar, foram considerados “falsificados” pela Inspeção-Geral da Educação. O documento de 1988, por exemplo, alegava que a professora tinha concluído 12 disciplinas. E, claro, ela também afirma ter concluído um mestrado na Universidade da Madeira e até defendido uma tese em Cambridge! Uma trajetória académica tão brilhante que as próprias instituições de ensino têm dificuldade em localizar.
Agora, a pergunta que muitos colocam: será que os alunos aprenderam Matemática? Não é isso que interessa. O que importa é que gostavam dela! Os pais estavam satisfeitos, e isso é o que conta. Burla qualificada? Falsificação de documentos? São meros detalhes, porque “os resultados falam mais alto”. O Ministério da Educação, por seu lado, reconhece as suas fragilidades no sistema de verificação de habilitações, mas parece que isso também não é muito relevante para alguns.
Para aqueles que ainda defendem esta “professora”, permitam-me uma simples analogia. Imaginem um falso ginecologista. Ele nunca terminou o curso de medicina porque estava demasiado ocupado com a vida boémia, mas, nas suas aventuras universitárias, aprendeu umas coisas sobre o aparelho reprodutor feminino. Agora, a questão: deixariam nas mãos deste “doutor” as suas esposas, filhas ou netas? Ou será que a simpatia e os bons resultados com as suas pacientes justificariam a ausência total de qualificações?
Talvez, depois de refletirem, percebam o verdadeiro absurdo desta situação. Afinal, há certas linhas que nem o melhor dos charlatões deveria cruzar… ou será que pode?
João Carlos Fonseca
32 comentários
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Jorginho, qual é o teu problema com a situação? Pela tua lógica Platão nunca teria escrito a base da civilização ocidental, porque Sócrates não tinha diploma. Se os pais estão satisfeitos, é porque os filhos tiveram sucesso e melhoraram. Se a tipa escreveu manuais e daí não surgiu nenhum escândalo, se calhar o problema está em malta como tu que Freud descreve como ‘anal’, no sentido de quererem controlar tudo. Deixa-me devolver-te a pergunta, a tua latrina entope-se, vais buscar um engenheiro civil ou um canalizador que é analfabeto mas já desentupiu milhares delas?
Que comentário tão absurdo, repleto de argumentos falaciosos da falsa analogia! Isso só atesta quanto o “autêntico” conhecimento faz falta e é insubstituível. Por essa “lógica” ridícula e inviesada, poderia perpetuar essa obtusa argumentação , como por exemplo: Se um curandeiro “acerta” no diagnóstico, para quê consultar um médico? Provavelmente, tratar-se-á de um(a) ressabiado(a) que nunca conseguiu concluir um projeto académico na vida. Sem mais comentários. enfim!
Depende se o autêntico conhecimento inclui a gramática ou não. É que ‘inviesada’ escreve-se ‘enviesada’. Se quer atacar (um argumento falacioso numa falsa analogia é um argumento não falacioso, mas isso não importa agora) o ridículo do exemplo, ataque o argumento do Joãozinho (obrigado Mainada), ao qual o meu responde, e pasme-se, inclui o acto de devolução ao postador original. As considerações ad homine que faz, apenas a caracterizam a si, pelo que não lhe respondo a isso.
Mantenho o meu ponto de vista, admitindo, apenas, o reparo – por estranha (de)formação automática do teclado – relativo ao termo corrigido. Se pretende desvalorizar a educação formal, fazê-lo num blog direcionado para assuntos dedicados à educação é, no mínimo, bastante estranho e deslocado. Mas, se o fizer num espaço frequentado por arruaceiros e ignorantes, talvez se torne mais oportuno e compreendido. De resto, a consideração do argumento ad homine não colhe.
Claro que mantém, é apanágio do solipcista. Curioso o teclado automaticamente deformado, ter calhado com uma palavra que não existe, ergo, difícil de estar na correcção automática. Deve ter lido a minha intervenção na diagonal. Em nenhum lado foi a educação formal desvalorizada, apenas notei o suposto mérito numa senhora que conseguiu agradar a gregos e troianos, leia-se EE e comunidade científica nacional que não lhe encontrou erros dignos de reparo nos manuais. Ninguém se revê nas falsificações, mas é notório que atendendo às reacções, alguns professores são muito defensivos em relação à necessidade de educação formal, afinal, a actividade que lhes mete o bacon na mesa. Em relação a espaços frequentados por arruaceiros e ignorantes, não sei, não tenho por hábito frequentar, talvez possa esclarecer, dada a sua experiência e conhecimento em tais ambientes, em relação de proporcionalidade inversa ao seu conhecimento gramatical.
Então a “controleira-mor” da Língua Portuguesa escreve “inviesada” em vez de enviesada??? Francamente, Luluzinha, como foi isso possível? Se fosse a si ia já ali penitenciar-me com 30 autoflagelações, sendo que, até, lhe é permitido escolher o meio pelo qual as inflige a si própria. E nada disto teria grande importância não fosse a Luluzinha uma alma sedenta de apontar os erros cometidos por terceiros, sem perder qualquer oportunidade para o fazer. Pois é, “cá se fazem, cá se pagam” e lá se vão os ares de superioridade. O “karma” é tramado.
Corrijo: Joãozinho.
Se alguém precisar de ir a um psic-anal-ista, que recorra ao Tui, que faz sessões anais baratas, até porque não tem formação (embora deixe os clientes satisfeitos). A verdade é que o Tui adora que lhe vão ao tui.
RF como é que comes o esparguete?
Então, esqueceste-te da vírgula a separar o vocativo, defensor da fraude!
Era um bocadinho difícil Platão ter diploma, mas vossência não deve ter conhecimentos que lhe permitam entender isso. Quanto a Freud, a psicologia já avançou um bocadinho desde então, e mostrar fixação numa terminologia algo datada diz qualquer coisa acerca de quem a utiliza.
Em relação ao canalizador, cautela com o preconceito e a desvalorização de um grupo profissional que prima pelo empenho e a exigência. Pressupor que o canalizador é, necessariamente, analfabeto, é sobranceria própria de pessoas pouco qualificadas, mas que se julgam detentoras de capacidades inimitáveis.
De resto, defender burlões com justificações frágeis é triste e quiçá infantil. Os outros fazem, ela pode fazer, ainda por cima os potenciais ofendidos gostam. Que bom.
Agora, a pergunta que muitos colocam: será que os alunos aprenderam Matemática? Não é isso que interessa. – Não interessa, mas afinal o que interessa? Que dicotomia: gosto, mas não aprendo; não gosto, mas aprendo… Só românticos!!!
O que importa é que gostavam dela! – Eis o que tem sido o ensdino nestes ultimos tempos… Nada de regras! Nada de ética deontológica! Goastam e pronto, como se esta nossa vida fosse só a busca da felicidade na escola!!!
Os pais estavam satisfeitos, e isso é o que conta. Burla qualificada? Falsificação de documentos? São meros detalhes, porque “os resultados falam mais alto”. – Só conta isso? Ó pá, vou passá-los a todos…
se fosses cão, tinhas acabado de mictar num poste
Olá, poste.
aparentemente já me viste nu
Não. Mas deves ter de mudar de roupa depois dos nobres canídeos mictarem para cima de ti.
Só pode haver uma reação a isto:
🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣
Portugal é mesmo :”nevoeiro”, como afirmava Pessoa num dos mais emblemáticos poemas da obra “Mensagem”. E o nevoeiro, a cada ano que passa, adensa-se… Um dia destes ficam mesmo todos “às escuras”.
Isto é muito triste, pelo facto da pessoa nunca ter tido um diploma universitário e conseguiu lecionar durante 30 anos!!!!!!!
Isto é uma vergonha!!!!!!
Eu tenho diploma pela FCDEF Coimbra e não me deixam lecionar é muito triste……..
Isto é muito triste, pelo facto da pessoa nunca ter tido um diploma universitário e conseguiu lecionar durante 30 anos!!!!!!!
Isto é uma vergonha!!!!!!
Eu tenho diploma pela FCDEF Coimbra e não me deixam lecionar é muito triste……..
O mesmo Ministério da Educação que deixou esta “professora” trabalhar, não me deixam.
Trabalhei num colégio particular em Aveiro durante 15 anos, depois por motivos pessoais tive que parar, agora que posso, quero voltar, o Ministério da Educação não deixa e não me dão o tempo de serviço trabalhado neste colégio de Aveiro, e o diploma da FCDEF -UC não vale nada?
Vocês não sabem que falsificar documentos é crime??Crime grave???
O “engenheiro” José Sócrates também não era engenheiro.Já se esqueceram????
E o Relvas?Lembram-se???
Ainda me vou rir ….
Na sentença ….
Se eu tive governantes que nunca foram a uma faculdade,
Se eu tive bancários que levaram tantas familias ao desespero
Se eu tive profs com antigo curso liceal noturno em determinadas disciplinas e hoje estão no 10 escalao ou ja reformados
Se eu for verificar todos mas todos os diplimas nas secretarias ..
Então o estado vai pedir 100 mil milhões de indemnizações…
Aguardarei o desfecho ..mas solicito à IGEC INSPECAO DE DIPLOMAS JA!
Confesso grande Professora.
Na tropa fui tratado por malta que se diziam medicos e enfermeiros que ainda hoje não o são.
Vou pedir indemnização ao Estado por me burlar por fraude e falsas declarações do Estado .
Ninguem era nada na tropa..
Quid iurus?
O curioso no meio disto tudo é que os professores e colegas que defendem a dita professora são os mesmos que criticam os professores de habilitação própria com diplomas verdadeiros… A ironia disto tudo faz rir.
Não é ironia, é falta de trabalho.
Gostei da observação.
Neste país de Camões à beira mar plantado, nada mais nos pode surpreender. Afinal, um dos maiores burlões e falsificadores da nossa História recente foi Alves dos Reis. Faço aqui uma breve comparação com esta “professora”. Apesar das regras e leis instituídas, há sempre um chico esperto que resolve contornar as mesmas para alcançar os seus objetivos. Para Alves dos Reis foi o de se tornar rico e famoso, para esta “professora” foi o de vincular aos quadros do Ministério da Educação e singrar numa carreira construída num mero castelo de cartas ilusórias e aparentes. Tal como bons atores num enredo produzido por si próprios, estes burlões venceram e convenceram outros, inocentes, da ilusão que venderam. Pena que a profissão docente tenha sido manchada por esta nódoa de falsidade e cumplicidade com o falso e o iníquo, afastando da carreira pessoas qualificadas e com certeza com mérito suficiente para produzirem manuais escolares (a muitos como eu, nunca foi dada essa oportunidade). Infelizmente, este caso, que tanta tinta tem jorrado, não é único, pelo contrário. Estima-se que cerca de 1000 docentes a exercerem atualmente nos quadros do Ministério da Educação estejam exatamente nesta situação. Noutras profissões isso é ainda mais notório (advogados, enfermeiros, médicos e até, pasme-se, juizes). E mais não digo.
e fazes bem, poupas-nos a essa verborreia
Se existem regras, leis são para cumprir !!!… então sabes conduzir , não precisas de carta de condução!?
Ela dormia descansada a tirar lugar a outros que se esforçaram!
Não pode ser … estas situações tem de ser desmascaradas e deixar de ser coitadinha agora….
E eu vou deitar mais lenha na fogueira, relativamente a este caso que me fascina, informando todos que:
1) “…que levaram ao fim da carreira de docente de Paula Pinto Pereira, na qual atingiu o escalão máximo de remuneração, recebendo do Estado um salário superior a dois mil euros líquidos.”.
2) “Professora falsa recebeu quase um milhão de euros do Estado – e dois tribunais já disseram que não tem de devolver nada”.
https://cnnportugal.iol.pt/falsa-professora/matematica/professora-falsa-recebeu-quase-um-milhao-de-euros-do-estado-e-dois-tribunais-ja-disseram-que-nao-tem-de-devolver-nada/20240926/66f41a9fd34e94b829058d89
Portugal é o descrédito total.
É a vergonha total.
Mas de que se admiram? Já à anos que é praticamente assim. Qualquer um dá qualquer coisa. Qualquer curso dá para dar algumas coisas, mesmo que não tenha nada a ver.
Informática? Qualquer um dá. Basta ligar o computador.
É à Tuga burrão.
Agora já nem é preciso profissionalização.
Daqui a 10 anos vamos ter uma geração linda.
E agora vamos ter mais ultrapassagens e injustiças.
Barda… para todos os que provocaram e defendem isto.
Se a situação passa impune é um péssimo exemplo!
Como esta há muitos mais. Esta deve ter sido apanhada porque aprejudicou alguém avaliação de desempenho. Diz-se que era muito crítica do desempenho dos colegas. Os espertalhões sem habilitações, vão para diretores e deixam-se ficar até à reforma. É facílimo porque os CG não verificam a papelada.