Associação Nacional de Professores de Educação Visual e Tecnológica quer recolocação de EVT e ET no currículo nacional obrigatório. Há um manifesto feito em que se pede a reorganização do atual modelo do sistema educativo e que se elimine a “incoerência” curricular da disciplina de ET do 3.º ciclo. A Associação está na luta e disponível para conversar com a tutela.
Os professores das áreas artísticas e tecnológicas de todo o país estiveram reunidos, nos primeiros meses deste ano, e desse encontro surgiu um manifesto em defesa da escola pública universal e inclusa para todos e da recolocação das disciplinas de Educação Visual e Tecnológica (EVT) e Educação Tecnológica (ET) no currículo nacional obrigatório. Os domínios de intervenção prioritária estão definidos e a luta da Associação Nacional de Professores de Educação Visual e Tecnológica (APEVT) vem ao de cima para manter a área de Expressões no 1.º ciclo do Ensino Básico, a disciplina de EVT no 2.º ciclo e ET no 3.º.
A APEVT acredita que este é um momento de viragem política e ideológica e pretende que o seu manifesto seja um contributo para o debate sobre o papel da escola pública e de um currículo abrangente e coeso. Definiu três domínios de intervenção prioritária. Desenvolvimento curricular é o primeiro e aqui pretende a anulação e reorganização do atual modelo do sistema educativo, das metas e planos curriculares do Ensino Básico, para “garantir uma educação integral para todos, tal como prevê a Constituição da República Portuguesa”.
A Associação quer literacias artísticas e tecnológicas assentes em modelos disciplinares coerentes, integradores e sequenciais nos três ciclos de estudo; pede o aumento da carga horária para as disciplinas artísticas e a sequencialidade programática entre as Expressões no 1.º ciclo e EVT no 2.º ciclo; batalha pela anulação do que adjetiva de “incongruências curriculares” no 2.º ciclo, repondo-se a disciplina de EVT; quer que se alarguem os estudos em ET e que se elimine a “incoerência na transformação curricular” de ET do 3.º ciclo, decorrente das Metas Curriculares.
Desenvolvimento socioprofissional é o segundo domínio de intervenção com o objetivo de promover a “profissionalidade docente” para evitar “a desumanização e intranquilidade do ambiente escolar”. A APEVT diz concretamente o que quer: menos alunos por turma, equipas curriculares com regimes de docência partilhados de modo que a escola se centre nos processos e na articulação de saberes com o intuito de melhorar o trabalho na sala de aula. E ainda, sublinha no manifesto, que se “torne visível a estabilidade socioprofissional (a segurança no trabalho, a equidade e clareza na colocação de professores e na distribuição do serviço docente), devolvendo o protagonismo e o reconhecimento que os professores merecem por parte da sociedade”.
Um programa de acompanhamento e monitorização surge como terceiro domínio de intervenção. A APEVT está disponível para a construção de um projeto educativo sólido e de qualidade, sobretudo no que diz respeito à evolução da organização curricular das áreas educativas da Educação Visual/Artes Visuais e Educação Tecnológica. Nestas matérias, quer ser um parceiro prioritário do Ministério de Educação para participar numa solução de resolução das medidas tomadas anteriormente e que, na sua opinião, “se revelaram desastrosas para o sistema educativo português”. Propõe a elaboração de uma proposta base, a discussão pública com envolvimento das entidades que trabalham estas áreas, a formação e atualização contínua de professores, um programa de experimentação, acompanhamento, apoio e monitorização acompanhado por um plano de implementação.
“Programa sem metas, metas sem programas”
“A Educação Visual e Tecnológica, assim como a sua expectável recolocação curricular, apresenta na sua configuração e modelo de docência um contributo inquestionável não só para a inclusão e para o combate ao insucesso escolar pois é um lugar educativo de forte realização pessoal do aluno, mas também possibilita o desenvolvimento de estratégias educativas inter e multidisciplinares orientadas para a heterogeneidade dos públicos escolares. A EVT torna-se, assim, lugar de realização pessoal e social promotora de aprendizagens significativas e de forte inclusão escolar”, lê-se no manifesto.Em 2012, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) revia a estrutura curricular do Ensino Básico e Secundário e EVT era dividida em duas disciplinas separadas. Criaram-se Metas Curriculares para essas duas novas disciplinas, mantendo intacto o programa de EVT, e acabava-se com o par pedagógico que dava aulas à mesma turma na mesma sala. A APEVT não compreendeu as mudanças, criticou o fim de competências que considerava essenciais, viu nas Metas Curriculares uma “atomização do currículo”, uma “manta de retalhos” com “programas sem metas, metas sem programas, metas desajustadas, entre muitas outras incongruências”.
Assistiu a uma mudança radical que, em seu entender, “visou única e obsessivamente a redução do número de professores ao serviço da escola pública em Portugal, agravou questões pedagógicas” e ainda “inverteu o paradigma da escola inclusiva para uma visão seletiva e dual da escolaridade”. E vai mais longe nas suas críticas. “Pela primeira vez na história da escola pública democrática, o Ensino Básico perdeu o seu carácter de preparação integral do aluno e abdicou da garantia que todas as crianças e jovens concluam a escolaridade básica com uma educação alicerçada numa ampla variedade de aprendizagens.”
10 comentários
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Façam aqui uma estatística para ver quem quer EVT de volta… 🙂
Um abraço solidário de um professor do primeiro ciclo. Todos juntos tornaremos o ensino|educação melhor
A grande maioria dos professores do grupo 240 querem de volta a disciplina de Educação Visual e Tecnológica. Pessoalmente, não acredito que volte a ter dois professores a lecionar dentro da sala de aula. Mas a luta, também deve ser por haver turmas com o máximo de vinte e dois alunos (os dois grande argumentos para isso são a diminuição demográfica no país e por haver uma melhor qualidade do ensino).
É necessário e imperativo restituir a
disciplina de ET, como obrigatória, ao currículo do 3º ciclo. Nos países mais
desenvolvidos esta disciplina é considerada como fundamental, pois é onde se
desenvolve o espírito inventivo, de investigação e pesquisa, a capacidade de
resolução de problemas, a criatividade, o desenho técnico estruturado, onde se
aprendem técnicas manuais e oficinais, onde se registam os primeiros contactos
com as tecnologias (sem ser telemóveis ou tablets), onde se reconhece
o impacte ambiental das tecnologias e as formas de energia renováveis não
poluentes, onde se estudam os principais materiais existentes, onde se começam
a implementar as noções de higiene, saúde e segurança no
trabalho. Esta disciplina teve sempre grande apreço por parte da grande maioria
dos alunos e teve sempre percentagens de sucesso entre 95 a 100%. Por último
mas não menos importante, é onde se regista um enorme desenvolvimento da
autonomia dos alunos, característica importante para os alunos com grandes
capacidades cognitivas mas ainda mais importante para o desenvolvimento da
confiança e motivação dos alunos com menor capacidade. As escolas estão fisicamente preparadas e equipadas para o desenvolvimento dos trabalhos desta disciplina, não esquecendo também que a grande maioria dos professores desta área desenvolvem trabalhos práticos recorrendo à reutilização de materiais, metodologia esta que permite aos alunos reconhecer a importância da Política dos 3 R’s no âmbito da defesa do ambiente.
…a disciplina está morta e os que restam (se arrastam) são zombies que metem medo às criancinhas…cheira a morte nas escolas!
…tudo obra do betinho Crato que incompetente na educação das nossas crianças e jovens as conduziu alegremente para o abismo do ensino formal fazendo a separação entre ensino das metas e o outro, o do insucesso das minorias que estão dia para dia engrossando as fileiras dos burros!
A disciplina de EVT significa EV e ET são complementares quando dadas juntas no 2º ciclo, e no 3º ciclo são ensinadas em separado EV e ET. E quem deseja realmente que EVT não desapareça não devia querer voltar ao passado mas sim devia defender a criação de um novo grupo de recrutamento do 7º ao 9º ano para estas duas disciplinas: Educação Visual e Educação Tecnológica onde profissionais quer oriundos de cursos de artes visuais quer de cursos de EVT até ao nível de mestrado desde que tenham frequentado estágio no 3º ciclo possam ambos concorrer.
Organização do sistema de Ensino…na minha opinião:
1º ciclo= curso de 1º ciclo (exclusivo)
2º ciclo EVT= curso de EVT grupo 240 (exclusivo)
3º ciclo EV e ET= curso de EVT e curso de Artes Visuais (ambos) desde que tenham estágio respectivo no 3º ciclo ( quem não tem pode matricular-se no curso superior e fazer)
Secundário= curso de Artes Visuais….(exclusivo)
talvez assim percebam melhor…
Colega, repare que nesta sua abordagem acabou por não incluir os profissionais de ET do 3º ciclo que estão habilitados para tal. Antes de fazer estas abordagens simplificadas devia inteirar-se das qualificações adquiridas pelos professores de ET do 3º ciclo. Verifique e compare o currículo de disciplinas das licenciaturas em ensino de Educação Tecnológica do 3º ciclo com as de EVT do 2º ciclo. No 2º ciclo EV e ET podem de facto ser complementares e estou perfeitamente de acordo que seja EVT (repare que ET do 2º ciclo veio substituir a disciplina de Trabalhos Manuais). Contudo se inteirar-se bem acerca do currículo nacional das duas disciplinas do 3º ciclo irá perceber que essa complementaridade deixa de existir. É obvio que algumas partes do programa poderiam sugerir alguma complementaridade, contudo as duas disciplinas têm programas bastante distintos, cada qual com as suas especificidades. ET do 3º ciclo é essencialmente uma disciplina de metodologia de projeto e de trabalho oficinal (repare que ET do 3º ciclo veio substituir a disciplina de Trabalhos Oficinais) enquanto que EV é uma disciplina de desenho e de educação visual. O desenho técnico será porventura um tema em comum, mas não é suficiente para gerar uma complementaridade, pois é apenas uma técnica específica, uma das muitas fases existentes na metodologia de projeto de ET. Em termos comparativos, seria como querer juntar no mesmo curso arquitetura e engenharia civil (em que na primeira se aborda essencialmente o desenho estético e criativo e na segunda o desenho estrutural) ou querer juntar matemática e física (por se aplicarem muitas fórmulas de cálculo matemático nessas duas disciplinas). Não posso estar de acordo com a sua reivindicação. Eu creio que o problema está na nomenclatura atribuída à disciplina de ET do 3º ciclo que, quanto a mim, induz em erro a comunidade educativa e que devia ser diferente: por ex. “Materiais, Técnicas e Tecnologias”. Sou professor de Educação Tecnológica há 18 anos e quando me perguntam qual a disciplina que leciono e respondo “Educação Tecnológica” cerca de 90% dessas pessoas perguntam-me: O que é isso? de que se trata?
Quanto á nomenclatura da disciplina do 2º ciclo, creio que é ainda mais absurdo ser EVT, seria mais correto ser “Educação Visual e Trabalho Manual”…Já lecionei alguns anos EVT e nunca vi grande abordagem tecnológica e já passei por 17 escolas diferentes, em muitas localidades, bem distintas, sendo que conheço bem o que se leciona em EVT.