SOBRE A DEGRADAÇÃO DO ENSINO EM PORTUGAL – António Galopim de Carvalho

 

Quando falo da degradação do ensino em Portugal (e já falei tantas vezes), não estou só nessa apreciação. São muitos os portugueses com capacidade para o fazerem e um deles foi o Primeiro-ministro do anterior governo, em finais de 2015, na cerimónia de entrega do Prémio Manuel António da Mota, no Palácio da Bolsa, no Porto. Aqui, já lá vão nove anos, o Dr. António Costa afirmou para quem quis ouvir: “De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”.
Isto não quer dizer que não tenha havido medidas de fundo louváveis na política da Educação, como, por exemplo, a notável ampliação e melhoria do parque escolar e o estabelecimento do Ensino Obrigatório até aos 18 anos, o que não impediu tudo o que “acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação de ausência de formação e de ausência de preparação”.

Posto isto, vou dizer uma vez mais, a quem de direito:

SE O QUE AQUI SE DIZ, NÃO FOR FEITO, VAMOS CONTINUAR NESTA, DE HÁ MUITO, “APAGADA E VIL TRISTEZA.
Recordando Camões.

“Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dũa austera, apagada e vil tristeza.”

– que a classe política, do pós-25 de Abril, no seu todo, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos civismo, cultura democrática, cultura científica e humanística;

– que deu e continua a dar diplomas mas não deu e continua a não dar conhecimentos;

– que entre os sectores da vida nacional que pouco ou nada beneficiaram com esta abertura à democracia está a Educação e que, aqui, a escola falhou completamente, e, como disse atrás, não estou só nesta apreciação;

– que, como no antigamente, a par de bons, muito bons e excelentes professores, há outros, francamente maus, instalados na confortável situação de emprego garantido até à reforma;

– que a preparação científica e pedagógica dos professores tem de ter níveis de excelência
compatíveis com o grau de exigência que lhes é pedido como um dos mais importantes pilares da sociedade;

– que é necessário e urgente repor, como inerência de cargo, a dignificação e o respeito pelo professor, duas condições que lhes foram retiradas com o advento da liberdade que os militares de Abril nos ofereceram e que a democracia não soube aproveitar;

– que essa preparação não pode deixar de ser devida e profundamente avaliada, através de processos de avaliação a sério, criteriosamente regulados, por avaliadores credenciados para tal;

– que a remuneração dos professores tem de ser compatível com a sua real importância na sociedade;

– que é urgente conferir-lhes um estatuto que atraia os jovens a enveredar pela respectiva profissão;

– que os sindicatos, nivelando, por igual, os bons, os menos bons e os maus professores, têm grande responsabilidade numa parte importante da degradação do nosso ensino público;

que os professores têm de saber muito mais do que o estipulado no programa da disciplina que devem ter por missão ensinar, não se podendo limitar a meros transmissores dos manuais de ensino;

– que os professores necessitam absolutamente de tempo, e tempo é coisa que, no presente, não têm. É, pois, essencial libertá-los de todas as tarefas que não sejam as de ensinar;

– que é necessário e urgente que a Escola recupere todas as competências fundamentais à disciplina, aqui entendida como a obrigatoriedade de respeitar as normas estabelecidas democraticamente, o que evita o autoritarismo, conferindo a autoridade a quem a deve ter;

– que é necessário e urgente rever toda a política dos manuais de ensino, em especial no que diz respeito à creditação científica e pedagógica dos autores e revisores;

– que é preciso repensar a política de exames, a começar pela creditação científica e pedagógica dos professores escolhidos para conceber e redigir os questionários;

– que é necessário resolver o gravíssimo problema da colocação de professores, com vidas insuportáveis material e emocionalmente, a dezenas de quilómetros de casa, separados das famílias;

– que é preciso e urgente que o Ministério da Educação se torne numa das principais preocupações dos governos, com dotações orçamentais adequadas à sua superior importância;

– que o pessoal não docente representa um conjunto de elementos fundamentais no universo do ensino, pelo que é forçoso dar lhes um tratamento, em termos de dignidade e de remuneração, a condizer;

– que é urgente olhar para a realidade do nosso ensino e haver vontade e força política (despida de constrangimentos partidários), ao estilo de um “ACORDO DE REGIME”, a vigorar durante duas, três ou mais legislaturas, capaz de promover uma profunda avaliação e consequente reformulação desta nossa “máquina ministerial”, poderosa e, de há muito, instalada.

António Galopim de Carvalho

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5 comentários

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    • Zéi tóxico on 11 de Janeiro de 2025 at 12:16
    • Responder

    Sempre escapuliram os enDireitadores da lista enunciada acima.

    Porra, não se tornou evidente que essa escumalha e aramados em Prezdentes de junta (de BOYS) são a causa e de tudo isto!

    De que servem os autoritarismos e as manipulações pedagogianas senão para manter tachos!

    • Mic on 11 de Janeiro de 2025 at 12:56
    • Responder

    – que alunos e respetivas famílias voltem a perceber que, sem estudo, sem trabalho nem empenho, não há escola nem professores que lhes valham;

    – que o facilitismo vergonhoso e assassino do nosso sistema de ensino, escondido debaixo da capa da inclusão e das estatísticas, seja erradicado de uma vez por todas.

      • Ppp on 11 de Janeiro de 2025 at 18:46
      • Responder

      Já percebi que gostas de chumbar por te achares muito exigente. Há lá maior facilitismo do que excluir e chumbar… deves ser dos tais que tiraram o curso na farinha amparo mas depois grita aos 7 ventos: “exigência, exigência”.

      • Pimba on 11 de Janeiro de 2025 at 20:06
      • Responder

      O “facilitismo” é a palavra da moda, e é pau para toda a obra. A desculpa certa para tudo e o mote para o chumbo total e a arrogância plena.
      Esta é a palavra certa para a implementação dos sonhos húmidos dos ditadorzinhos que há em muitos professores e professoras.

        • Zéi tóxico on 11 de Janeiro de 2025 at 22:39
        • Responder

        Dita_dores paizinhos e mãezinhas Sem quaisquer impedimentos ou restrições.

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