Redenção- Carlos Santos

Infelizmente, a insensibilidade de braço dado com a injustiça, estão a empurrar pessoas com vidas difíceis até ao ponto de desespero.
Como não conheço curas de doenças por decreto, prevendo-se tantos professores com doenças incapacitantes a se deslocarem para escolas num raio de 50 quilómetros em linha reta ou descendentes/ascendentes diretos a necessitarem de apoio, no próximo ano letivo muitos irão ver-se obrigados a meterem baixa por doença, implicando ainda menos professores nas escolas (que já estão com falta de deles). Também inúmeros professores com idade avançada e elevado desgaste, que se iam mantendo em funções graças ao auxílio dos professores em MPD que asseguravam cargos, apoios pedagógicos, turmas, projetos, tutorias, coadjuvações, substituições, etc., na ausência deste apoio, também eles não aguentarão e recorrerão à baixa médica, avolumando ainda mais a falta de professores nas escolas.
Perante um cenário tão adverso e nocivo para o ensino, o ministro poderá retratar-se e assumir que esta alteração não terá surtido o efeito desejado e, para bem das aprendizagens dos alunos e da qualidade de vida dos professores, ter a humildade e o profissionalismo de reconhecer a sua ineficácia, revertendo ou revendo por antecipação a medida por forma a que os professores possam voltar para as escolas, local onde deverão estar e onde fazem falta para desempenhar inúmeras funções pedagógicas necessárias, incluindo lecionação. Não será assim tão descabido, uma vez que no Decreto-lei publicado em DR no Artigo 12.º “Avaliação”, refere que “O regime de mobilidade de docentes por motivo de doença previsto no presente decreto-lei é objeto de avaliação no prazo de dois anos após a sua entrada em vigor, tendo em vista a apreciação da sua implementação e eventual revisão.” Contudo, num país onde maioria absoluta é confundida com poder totalitário, duvido muito que esta redenção venha a acontecer.

Outra alternativa que poderá repor alguma justiça, poderá ser obtida se as organizações sindicais fizerem chegar providências cautelares/fiscalizações preventivas e requerimentos jurídicos alegando a inconstitucionalidade do Decreto-lei por atentar contra a proteção da saúde. Um direito basilar consagrado na nossa Constituição no seu artigo 64.º e na Lei de Bases da Saúde, aprovada pela Lei n.º 95/2019, de 4 de setembro, que referencia “garantir uma racional e eficiente cobertura de todo o país em recursos humanos e unidades de saúde” [CRP, artigo 64.º, n.º 3 b)]. Nas alíneas e) e i) do n.° 1 do artigo 4.° da LTFP, o empregador público, está obrigado ao cumprimento dos “Princípios Gerais” e “Obrigações Gerais do Empregador”, relativos às promoção da segurança e saúde no trabalho, consagrados nos artigos 5.° e 15.° do Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde do Trabalho – Lei n.° 102/2009.

Além da vertente jurídica, é importante fazer chegar este parecer ao Presidente da República e restantes partidos com assento na AR, assim como recolher um abaixo-assinado e, a partir de setembro, conseguir que alguma comunicação social dê eco a situações reais a que professores que concorreram a MPD sem deferimento estarão a ser submetidos, contribuindo para pressionar e acelerar procedimentos e sensibilizar a opinião pública.
Esta perfila-se como a alternativa mais viável que poderá levar a que a nova legislação seja suspensa por ordem jurídica dissolvendo-se em nada, mantendo-se em vigor a legislação anteriormente vigente.

Todavia, o mais incompreensível foram as declarações do ministro que puxa da “dispensa de trabalho que configura uma baixa médica” quando os professores em MPD não estão com dispensa de trabalho e até asseguram turmas e imenso trabalho com alunos.
Sente-se nitidamente o desejo de remover esses professores do sistema, por abandono da profissão, por baixa médica ou por pedido de reforma antecipada com elevadas penalizações que poderá deixar muitos abaixo do limiar da pobreza. Descartar professores altamente qualificados com um valor incalculável de saber acumulado pela enorme experiência de vida profissional, enquanto se pretende que sejam substituídos por professores com baixas qualificações ou qualificações questionáveis, sem experiência profissional e duvidosa vocação para o ensino, como aconteceu quatro décadas atrás. Claro que os pais deveriam ser os primeiros a apresentarem preocupações com a perda na qualidade das aprendizagens dos seus filhos, mas grande parte deles só tem (maus) olhos para a vida dos professores, interesse que existam escolas de portas abertas onde podem depositar os seus filhos e os irem buscar ao final do dia e a idoneidade discutível das confederações de pais pela cor partidária dos seus dirigentes.
Um desperdício de valor humano, cultural e profissional incomensuráveis que este governo propicia com esta medida descabida sem qualquer preocupação de uma sociedade que, quando não está adormecida e distraída, está a destilar veneno para cima dos docentes.

Conhecendo a essência da escola doutrinária a que pertence este e outros ministros da Educação que o antecederam, estou mais certo de que apenas uma ordem de tribunal poderá por cobro a toda esta insanidade legislativa.
Até lá, estou certo de que os professores que concorreram em MPD irão continuar a fazer o que sempre fizeram, dando o seu melhor, muitas vezes para além das possibilidades da existência humana, mas só até certo ponto, pois a sua integridade física e mental não pode ser posta em causa por incúria e insensatez de quem deveria zelar por todos os atores do processo educativo, mas faz sempre questão de remover os professores da equação.
Os professores não poderão colocar em causa a sua saúde, arriscando-se a ficarem numa cadeira de rodas, acamados, vitimados por acidentes rodoviários ou com invalidade total e permanente, submetidos a cirurgias de resultado incerto ou até perderem a própria vida ou a dos familiares diretos a seu cargo, apenas por «achismos» e experimentalismos irrefletidos de quem deveria ter mais compreensão, mais consciência, mais humanidade e mais competência no exercício das suas funções governativas.
Vida só temos uma e não deveria ser admissível que possam brincar com ela por mera falta de respeito fundamentado em suposições e suspeitas.

Carlos Santos

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/06/redencao-carlos-santos/

7 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

    • Professor on 7 de Junho de 2022 at 14:23
    • Responder

    Excelente texto!
    A minhas questões:
    – o que estão a fazer os sindicatos? Nada!
    – o que estão a fazer os professores? A medir distâncias no mapa… Muito triste!

    Como sempre, a nossa classe e respetivos sindicatos, reclamam muito mas fazem pouco ou nada. Daí sermos constantemente “abusados” como se fantoches se tratassem.

    Tenho a certeza de que existem colegas que já estão a SOFRER ainda mais do que já sofriam e ainda não começou o novo ano letivo.

    Tudo isto é muito, muito TRISTE.

    • Luluzinha! on 7 de Junho de 2022 at 15:26
    • Responder

    Será possível que a quase totalidade dos textos deste blog seja deste senhor? É a isto que chamam a pluralidade e a diversidade democrática? Francamente… OMG.

      • ZéZé Camarinha on 7 de Junho de 2022 at 15:41
      • Responder

      Luluzinha tem toda a razão

      Isto parece o muro das Lamentações……….lágrimas de corcodilo…………

      O Senhor Presidente da Republica já promulgou o Diploma da MPD……e portanto TERMINOU este filme…..

      Uma coisa é certa, as Mobilidades e Destacamentos deviam a Terminar ………quem não quer ou não pode trabalhar resta-lhe o OLHO DA RUA…………..quem paga IMPOSTOS não tem que andar a Sustentar este NOJO……………….
      Os CONTRIBUINTES estão fartos deste bando de mediocres que andam a Chular os Impostos de quem dá no duro diariamente.

      Quem não pode trabalhar só lhe resta um caminho, solicitar a APOSENTAÇÃO POR INVALIDEZ. Se não lhes for atribuida a “aposentação por invalidez” podem requerer o RENDIMENTO SOCIAL DE INSERÇÃO”(RSI)

      Andarem a chular os CONTRIBUINTES não!………..

      Esta gentinha diz não poder trabalhar porque estão Muito Doentinhos

      Esta gentinha (ou Gentalha) diz não poder trabalhar, apenas querem MAMAR nas tetas daqueles que Dão no Batente diariamente e pagam os seus impostos, gerando riqueza para o País.

      Esta gentinha (ou Gentalha) está PRINCIPESCAMENTE PAGA para as “Competências” que evidência e para o “Conteúdo Funcional” (tomar conta de meninos) desempenhado. São umas Nódoas!………..

      As Sitôras e Sitôres da Tanga (formados nos PIAGETes, ISMAIs, ESEs da Tanga e á BOLONHESA auferem estes SALÀRIOS PRINCIPESCOS devido á conspurcação que é a CARREIRA ÚNICA…………Um NOJO!………..Uma VERGONHA!……………..

      1º escalão – Índice 167 = 1 536,90 € + Subsídio de Alimentação = 104,94€ + Cartão da ADSE (Seguro de Saúde ao preço da Uva Mijona)

      10º escalão – Índice 370 = 3 405,09 € + Subsídio de Alimentação = 104,94€ + Cartão da ADSE (Seguro de Saúde ao preço da Uva Mijona)

      ATENÇÃO: – Esta gentinha que está muito doente para trabalhar, ao dia 23 DE CADA MÊS aufere estes vencimentos sem fazerem a ponta de um corno.

        • ZÉ DAS DOCAS on 7 de Junho de 2022 at 19:25
        • Responder

        o zé povinho nunca se engana ;
        nunca.
        Um burro é sempre um burro .
        viva a REPUBLICA.

    • Pedro on 7 de Junho de 2022 at 18:55
    • Responder

    Esta gente triste que não gosta de pagar impostos, mas depois vem pedir cheques.

    • advogado_diabo on 7 de Junho de 2022 at 19:22
    • Responder

    O Senhor Presidente da Republica já promulgou o Diploma da MPD……e portanto TERMINOU este filme…..
    CITO.

    O seu desconhecimento da forma e do conteúdo como funciona a democracia em PORTUGAL é realmente pouco , muito pouquinho.
    Náo terminou nada .
    Aconselho vivamente a estudar um pouco de Direito Constitucional e verá que não terminou.
    Só TERMINA se quem de DIreito quiser que termine .
    O P.R. como bem ele sabe e sabe, está aguardar que alguem suscite a fiscalização abstrata do dilpoma.

    • Sr. Professor Zé on 8 de Junho de 2022 at 0:49
    • Responder

    Ó Karamba mas que grande palhaço me saíste.

    Tu não conheces nenhum pedreiro! Tu conheces é a pocilga político-partidária que te paga para garatujares uns textozecos.
    Eu sou Professor mas já trabalhei como Servente de Pedreiro. O trabalho nunca me assustou.
    Então o pedreiro trabalha 40 horas por semana? 8 horas por dia? E às vezes ao sábado, também 8 horas? Medidas com o Rolex não?
    Como Pedreiro o número de horas que se fazem depende da época do ano, no Verão fazem-se mais horas e no Inverno menos. Fazia-te bem encheres uma placa com baldes de massa com temperaturas negativas para ganhares calo nas mãos. Assim, a coçar micoses, só ganhas porcaria nas unhas.
    Tenta lá arranjar um Pedreiro que trabalhe a 760€. Nem por 1520€ ó palhaço.
    Conheci Pedreiros, verdadeiros artistas, capazes de traçar cortes em azulejos pelo Teorema de Pitágoras. Depois de estarem assentes não tinhas capacidade de ver onde começava um azulejo e acabava outro.
    Mas também conheci muitos que mamavam uma grade, numa manhã.
    Falas de empresas privadas mas o verdadeiro mamão és tu. Fazes alguma coisa útil para a sociedade?
    Deves ser um desgraçado sem capacidade para ingressar numa Universidade.
    Sim, és um ressabiado. Talvez uma “universidadezita de verão”.
    Quando um Pedreiro necessita de faltar “mete o dia”. Sabes o que significa? Não precisa de 102. Quando está doente a obra para. Não é por isso que o movimento de rotação da Terra é interrompido.
    Parece que só quando falta um Professor é que a independência nacional fica em perigo.
    Sabes que mais, estou farto de aturar palhaços.
    Não há falta de professores? Vem para cá tu dar o exemplo. Ou tens medo que o papá de alguma doce criancinha te faça um trabalho de gravura na focinheira?

    Sr. Professor Zé

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
Seguir

Recebe os novos artigos no teu email

Junta-te a outros seguidores: