A Educação como uma “Twilight Zone”…
Sem qualquer intuito provocatório, mas assumidamente incapaz de resistir à tentação de perguntar, com toda a frontalidade:
E, agora, o que têm a dizer sobre a postura do actual Ministro da Educação aqueles profissionais de Educação que, no passado dia 30 de Janeiro, contribuíram com o seu voto para a obtenção de uma maioria absoluta?
E, agora, o que têm a dizer sobre o que já conhecem da acção do Ministro aqueles profissionais de Educação que se mostraram muito confiantes e optimistas quando João Costa foi designado como Titular da Pasta da Educação?
Com base no conhecimento anterior, o que esperam do Ministro nos próximos 4 anos e 4 meses?
Um Ministro, plausivelmente aconselhado por uma camarilha de “seguidores devotos”, que parece passar a maior parte do seu tempo a construir as suas próprias verdades, esperando que todos acreditem nelas e que, sobretudo, ninguém ouse contestá-las…
Em pouco tempo, um Ministro, tão crente nas suas próprias verdades, que tem sido surpreendido a efabular, descarada e cinicamente, sobre a Realidade, substituindo-a por várias realidades paralelas e factos alternativos que, na verdade, são o mesmo que mentir, mas sem uma carga tão pejorativa…
No fim de algum tempo em funções, um Ministro assim conseguirá, por certo, a proeza de transformar a Educação numa espécie de “Twilight Zone”, plena de alucinação, devaneio e manipulação da Realidade, decorrente de um paradigma pretensamente holístico, integrador, metafísico, transcendental e inclusivo, o que quer que tudo isso possa significar nas mentes que o congeminaram…
Na “Twilight Zone” do Ministro, perfeitamente desvinculada da Realidade, parecem ocorrer alguns fenómenos verdadeiramente inexplicáveis e estranhos como estes:
– Não há falta de Professores, mas a Realidade desmente o Ministro;
– A Classe Docente não se encontra envelhecida e com um número significativo de Professores prestes a reformarem-se, mas a Realidade desmente o Ministro;
– Não há Professores doentes, novos ou velhos, mas a Realidade desmente o Ministro;
– Praticamente todos os Alunos obtêm um genuíno sucesso escolar, mas a Realidade desmente o Ministro;
– Praticamente todas as escolas estão capacitadas digitalmente, mas a Realidade desmente o Ministro;
– Aos profissionais de Educação são dadas as condições materiais necessárias (salários, carreira, concursos…) para poderem estabilizar as suas vidas e exercer as suas funções com tranquilidade e confiança no futuro, mas a Realidade desmente o Ministro;
– Ou os profissionais de Educação encontram-se satisfeitos por trabalharem em ambientes de diálogo e de respeito pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo, mas a implacável Realidade continua a desmentir o Ministro…
Um Ministro que é, recorrentemente, desmentido pela Realidade arrisca-se a ser transformado numa figura risível e sem credibilidade e o seu Ministério a ser visto como uma espécie de “seita”, dominado pelo culto da personalidade do Ministro, pelo pensamento dogmático e por uma doutrina alheada da Realidade e negacionista da mesma…
Além da manipulação da Realidade, o Ministro parece também distinguir-se pela tentativa de implementação de uma via única de pensamento, que é o seu próprio pensamento e o dos seus arregimentados, talvez inspirado por Luís XIV de França: “L´Etat, c´est moi” ou de uma forma muito menos eloquente: “Quem manda aqui sou eu”…
E manda, mas manda mal…
Os apparatchiks estão disseminados por todo o lado, desde o ISCTE, passando pelas Direcções de muitos Agrupamentos, até ao CNE… Todos sempre muito submissos, acríticos e prontos para qualquer frete político…
Talvez seja essa uma nova e ímpar interpretação do conceito de Democracia…
Pela amostra que já se tem, quem estará preparado para o delírio e para a alienação que os próximos quase 4 anos prometem?
Como num país subdesenvolvido, e um Povo brando e tolerante para com os Governantes, haverá sempre espaço para um Ministro assaz perverso e manipulador…
Até quando resistirão os profissionais de Educação, reféns de uma Tutela sem freios e sem efectiva oposição?
Lamenta-se, mas não se podem evitar ou escamotear todas as anteriores perguntas, sobretudo porque, dificilmente, alguém poderá afirmar que foi enganado:
Observava-se, há 6 anos, uma postura política de sobranceria, típica de quem se considera intocável e acima de qualquer crítica ou julgamento, também já anteriormente notada com José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues…
Antevia-se que, com uma maioria absoluta, esse panorama pudesse ainda piorar, pela imposição da autoridade de forma arrogante e prepotente, atitude também já bem conhecida, pelo menos desde 2008, assim como a repulsa, o desprezo e o desrespeito com que o PS costuma brindar a Educação e, em particular, a Classe Docente…
Não se pode, agora, ser hipócrita, “enfiar a cabeça na areia” e fazer de conta que não se conhecia ou que não seria expectável tudo o anterior…
Cada vez mais a Educação se parece com uma “Twilight Zone”, descredibilizada, em primeiro lugar, pela própria Tutela, e onde só os “tontinhos” ou os “desesperados” aceitarão trabalhar…
Tristemente, o orgulho em trabalhar na área da Educação tem vindo a ser substituído pela auto-comiseração e pela fatalidade…
(Matilde)