O círculo de 50 Km, em linha reta, de cada docente não pode ser visto como único, temos que ver os círculos de todos os concelhos onde mais se concentram professores em MPD.
A conclusão a que se chega é que os círculos se “esmagam” uns aos outros o que fará com que a redistribuição dos docentes não seja tão “longínqua” como se pode pensar num primeiro momento.
Não olhem para o vosso umbigo como sendo o único.
Desde que cumpram os critérios para que vos seja concedida a MPD, o mais que pode acontecer é deslocarem-se para um concelho não muito distante… mas isto sou eu a pensar…
Na imagem em baixo estão desenhados os círculos de Braga, Bragança, Coimbra, Guarda, Lamego, Porto Vila Real e Viseu.
– Literacia Financeira, com trabalhos previstos sobre a Matemática nos salários, a Matemática nos impostos ou a matemática nos descontos e promoções.
– “Matemática para a Cidadania”, ou seja, ter uma matemática que valorize o desenvolvimento da literacia estatística e a análise de modelos financeiros
– A valorização do pensamento computacional, portanto pretende-se desenvolver práticas como a abstração, o reconhecimento de padrões, a analise e definição de algoritmos. Está prevista também a utilização do programa em linguagem Python
– Teoria Matemática das Eleições. Segundo o jornal Público é proposto que os professores analisem, com os alunos, as eleições presidenciais de 1986, as mais disputadas de sempre em Portugal. O objetivo é ensinar os jovens a identificar quem ganha num processo eleitoral através de maioria simples e maioria absoluta. Pretende-se ainda que os alunos sejam capazes de discutir o Método de Hondt e as suas vantagens e desvantagens face a outros métodos.
Perplexo, tento compreender a «idade» como critério de seleção, mas é só mais um propício à injustiça, uma vez que ninguém pode garantir que um professor mais velho será forçosamente mais doente que um mais jovem. E se, para uns, percorrer umas dezenas de quilómetros poderá ser menos insuportável, para outros, uma simples dúzia de quilómetros torna-se penoso e impraticável, comprovando que a doença não tem idade.
E sendo as vagas abertas por cotas nas escolas, os grupos disciplinares mais pequenos (com menos professores) quase nunca terão vagas, pelo que esses professores raramente terão direito a serem considerados como professores com doenças incapacitantes. Uma ilegalidade que viola gravemente a igualdade de direitos dos cidadãos perante a Constituição.
Por cortesia, arrisco-me a dizer que, se não há maldade colérica nesta atitude ministerial, então só posso acreditar que padece de um obscurantismo mergulhado na mais pura ignorância.
Se, além do salário miserável, estes são os únicos incentivos que o governo consegue encontrar para motivar os professores, adivinha-se que irremediavelmente esta profissão não terá futuro.
Os muitos que até aqui não podiam deslocar-se para outras escolas, irão continuar a apresentar a mesma incapacidade, pelo que, quando o resultado deste concurso os obrigarem a deslocações diárias demasiado longas e insuportáveis até que a fadiga os vença, compelindo-os a meter baixa médica, o ministério finalmente reconhecerá o seu enorme erro de avaliação. Irá ter menos professores no ativo e gastará mais dinheiro a contratar outros para garantir o serviço que era assegurado por estes docentes.
Estou convencido que, depois de tantos pareceres e reuniões com os sindicatos, só mesmo o ministro não quis compreender que não são quilómetros em linha reta que os professores pedem, mas inspeção e juntas médicas a averiguar alegadas situações fraudulentas.
Com esta atitude persecutória está-se a criar no país um sombrio clima de desconfiança e suspeição sobre a idoneidade dos professores, médicos e juntas médicas, pondo médicos contra médicos, professores contra professores, uns contra os outros e toda a população contra eles numa indecência ética e moral que remonta a tempos passados. Por essa ordem de ideias na qual, pela suspeita sobre uns pagam todos os outros, então no governo anterior (do qual fazia parte o atual ministro da Educação), quando um membro do governo foi demitido por suspeitas criminais, todo o governo também o deveria ter sido.
Aos sindicatos cabe-lhes fazer o que se impõe numa situação em que um Decreto-Lei padece de traços suspeitos de enfermarem de gritante inconstitucionalidade e de violação grosseira do direito à saúde e à assistência na doença consignados na nossa Constituição.
Infelizmente, conhecendo-se a celeridade da nossa justiça que só deverá rivalizar com a de uma tartaruga, provavelmente quando produzir um parecer já grande parte dos professores terá morrido por doença em serviço de trabalho forçado.
Para os professores e alguns diretores que fomentaram este clima de suspeita e agora aplaudem esta medida, só espero que, no dia em que tenham de passar por situações de saúde semelhantes (todos caminhamos para velhos) não se venham a arrepender amargamente por aquilo que propiciaram. O que os professores em MPD, com vidas dolorosamente suspensas, não dariam para não terem de recorrer a esta alternativa. Isso significaria que eram saudáveis. Quem critica gratuitamente, fala do que não sabe. Nada é mais valioso do que a saúde e só se dá o devido valor quando a perdemos.
Realmente, mais triste do que o tratamento que o MEC nos dá, só mesmo esses comentários vindos dos próprios colegas. Uma cidadania bem ativa no desrespeito, falta de empatia e de compreensão daqueles que, mais do que ninguém, deveriam entender como é desgastante a profissão, e mobilizarem-se para apoiar e unir a classe na luta pelos direitos que são e todos. Será que avaliam o que irão pensar dessas injúrias colegas que, por exemplo, lutam contra um cancro ou têm um familiar com doença grave? (perguntas de retórica não carecem de resposta)
O MEC aposta numa estratégia ardilosa que sempre lhe deu excelentes resultados quando aplicada no seio da classe docente: dividir para reinar. E não é que os professores, tão esclarecidos e doutos que deveriam ser, caem sempre na mesma armadilha?!
Esta medida que tem em si subjacente uma certa ideia de castigo e punição dos professores, encerra em si mesma muito mais do que parece. É um teste à união da classe.
Alguém tem dúvidas que os principais responsáveis por esta medida tremendamente injusta foram os próprios professores? Seguindo religiosamente o manual de como arruinar uma classe profissional, insinuaram tantas suspeitas, sem denunciar nenhuma, que acabaram por prejudicar todos.
Como cordeiros para o matadouro, exibidos diante de todos como criminosos, debaixo do olhar indiferente de uns e crítico de outros, lá iremos mansos e cabisbaixos nos submeter a este «não-concurso». Um concurso que representa um ataque sem escrúpulos à dignidade profissional, mas, sobretudo, à dignidade humana de todos aqueles que se veem obrigados a concorrer.
Se depois de um ataque tão baixo aos professores a classe não se unir, irá ficar exposta ao pouco que lhes resta ser retirado.
Infelizmente, este parece ser o epitáfio de uma classe conformada que, na sua miséria moral, na ausência de apresentar um indício de solidariedade e de procurar melhores condições laborais para si, se apraz com a desgraça alheia.
Dirigindo-me diretamente para uns quantos poucos que poderão ter faltado à honestidade, que agora ponham a mão na consciência por serem, a par com o MEC, culpados por prejudicar severamente quem está realmente doente.
Foi-se um ministro inexistente que não fazia nada e veio dos bastidores um que só asneira.
Outro ministro que certamente irá perder os professores, mas que, tal como aconteceu com uma sua antecessora, vai ganhar os pais. E assim vai a nossa Educação… ou a falta dela.
Carlos Santos (continua em T2, E4: “redenção” – último episódio)