19 de Junho de 2022 archive

Oportunidades perdidas – Carlos Santos

Saí para esvaziar a cabeça de preocupações e regressei a casa com os bolsos vazios… passara por uma gasolineira. Não sendo exclusivo da profissão, como professores, tortura-nos cada vez mais essa arte de contar o valor a pagar cada vez que vamos encher o depósito de combustível, sobretudo quando esse é um preço pago para podermos ir trabalhar. De resto, a nossa itinerância e instabilidade profissional representa para as gasolineiras e para o governo uma fonte de lucro direto, ou indireto através dos impostos sobre os combustíveis, pelo que, para uns e outros, interessa-lhes que, maioritariamente, continuemos a trabalhar longe da nossa residência. Não bastando serem mal pagos, para poderem chegar ao local que providencia o seu ganha-pão, os professores ainda têm de se submeter a serem roubados.
Face a esta situação, não sei do que hei de falar primeiro, se da indiferença social para com os problemas dos docentes, se do desapontamento face ao egoísmo dentro da própria classe.
Ora, vejamos… Creio ser do conhecimento generalizado o lamento dos professores para com a falta de ajudas de custo para suprir despesas de contexto no exercício da profissão, assim como sobre o excesso de burocracia e de trabalho. Porém, quando surge uma boa oportunidade de minorar alguns destes males, eis quando, uma vez mais, a classe volta a desapontar-se a si mesma.
De entre tanta desgraça, um dos únicos aspetos positivos que a pandemia trouxe para as escolas e para a vida dos docentes, foi a possibilidade de se fazerem as reuniões online. Uma oportunidade que trouxe consigo variadíssimas vantagens: as reuniões tornaram-se mais breves e eficientes; deixou de haver conversas paralelas; os intervenientes possuem consigo (no seu PC ou em casa) toda a informação necessária e aquela que, inesperadamente, possa vir a ser solicitada; sobretudo, os professores que residem longe da escola, não precisam de se deslocar, poupando tempo precioso para estar com a família, economizando despesa em combustível, evitando os riscos inerentes à sinistralidade rodoviária e poupando horas de espera nos furos sem reuniões ou após o horário letivo. Isto já para não mencionar as conjunturas que obrigam docentes com o domicílio muito longe do local de trabalho a se verem obrigados a dormir em casa arrendada ou a deslocação de centenas de quilómetros num só dia, apenas com o desígnio de comparecer numa ou duas reuniões num curto espaço de tempo.
Batemo-nos tanto por termos ajudas de custo para deslocações, mas quando podemos proporcionar que dezenas de milhar de colegas consigam evitar a estrada, simplesmente, ignoramos. Um contrassenso que ajuda a explicar o motivo de já ninguém nos levar a sério.
Acontece que, num momento em que o preço dos combustíveis está mais alto do que nunca, com tendência de subida vertiginosa e com a possibilidade de escassez num horizonte próximo, num cenário em que os governos europeus já apelam aos cidadãos a contenção no consumo de combustível, por cá, não bastando a circunstância de a maioria dos professores terem de se deslocar dezenas ou centenas de quilómetros diariamente (pagando a despesa do seu próprio bolso), ainda somamos 120 mil docentes a cumprirem deslocações para reuniões durante semanas, as quais poderiam perfeitamente ser evitadas.
Não obstante a incongruência de tudo isto, este acréscimo desnecessário de poluição automóvel irá contribuir ainda mais para as alterações climáticas que estão a destruir a passos largos o planeta, causando secas (o nosso país é dos mais afetados), aumento das temperaturas, fenómenos atmosféricos extremos e imprevisíveis, escassez de recursos naturais, insuficiência de alimentos e fome.
Perante esta realidade, andarmos ainda a insistir na insensatez de fazermos reuniões presenciais, configura uma enorme inconsciência social, económica e ecológica, além de ser reveladora da nossa avultada falta de organização, de sentido coletivo e cívico, tão longe dos padrões educacionais e civilizacionais das culturas mais evoluídas.
Mas o palavrório que a classe política dissemina sobre o enorme investimento da “bazuca financeira” vinda de Bruxelas numa pretensa transição digital, somado às milhentas formações que os professores são obrigados a frequentar sobre as novas tecnologias e plataformas digitais, comparadas com este retrocesso no desaproveitamento daquilo que as novas tecnologias podem proporcionar quando precisamos de nos reunir, leva-me a pensar que não faltará muito para regressarmos à redação de atas em papel. Isto é quase como se investíssemos anos numa formação culinária e numa cozinha de «chef» e depois optássemos por mandar vir todos os dias refeições de fora.
Em abono da verdade, bem sei que existe um número restrito de professores que adora reuniões, uns por não quererem ir para casa aturar os cônjuges/filhos, outros por não terem ninguém em casa e ser na escola que encontram ocupação, outros porque têm nas reuniões um dos pontos mais altos do ano para convívio e outros, simplesmente, porque não dominam minimamente as novas tecnologias.
Contudo, é incompreensível que se desperdice o que as ferramentas tecnológicas proporcionam para a eficiência laboral, assim como se desconsidere os colegas de profissão que residem longe da escola e que possibilitaria uma poupança financeira para uma classe tão mal paga e um bem-estar fundamental para aliviar o cansaço e o desgaste profissionais.
Se barafustamos tanto e viramos costas às oportunidades quando estas surgem, então, de quem é a culpa senão de nós mesmos?

Carlos Santos

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Evolução dos Professores Não Colocados (vídeo)

O vídeo seguinte apresenta a evolução da % de professores não colocados nos últimos 6 anos. Desde essa altura que vários números foram aqui apresentados e onde a falta de professores era bem visível…. o ME assumiu esse facto este ano, mas a mudança de rumo no que às políticas educativas diz respeito não se vê no horizonte.

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Onde estudam os filhos do PS?

 

Onde estudam os filhos do PS?

O fado de ter filhos que percorrem há anos o sistema de ensino doutorou-me em educação e em Educação. Apanhei a manhas do sistema, sei distinguir o trigo do joio, aprendi onde gastar as energias e o que devo relativizar, quais as batalhas a travar e aquelas que temos de dar como perdidas, quais as estratégias a seguir para ajudarmos os nossos filhos a entrarem para os cursos e como os devemos ajudar a escolher, e qual a altura certa para fazer essa escolha. Sei distinguir preguiça de dificuldades de aprendizagem e sei que os miúdos são vampiros quando apanham um professor sem vocação pela frente. Tinha como princípio que a relação hierárquica é sagrada, mas já não tenho – só não digo aos meus filhos que mudei de princípio.

Vivo há mais de uma década entre escolas públicas e privadas, creches e jardins de infância, universidades e muitos explicadores. Já fiz trabalhos de todo o tipo e em várias línguas, manuais e digitais (até costurei! – eu, que nem sei o que é ponto cruz), ajudei a escrever contos, a resolver problemas de matemática e dei uma ajuda a ensinar a ler em tempos de pandemia. E ainda me faltam nove anos de escola. Nove.

Se há pessoa viciada no sistema de educação sou eu. Há mais manuais espalhados pelas estantes de minha casa à espera de reutilização do que areia na praia. Pela minha vida já passaram dezenas e dezenas de professores: uns que ainda hoje evitam o meu mau feitio, a minha forma tempestiva de falar de coisas banais; outros que eu adoro e que me ajudaram e ensinaram a ser mãe. Associo a data de entrada dos meus filhos na escola ao ministro da tutela da altura, sendo que cada um teve direito ao seu. Cada um teve o seu ministro, o seu sistema de exames, o seu currículo, uma forma diferente de fazer contas dividir, e, claro, o seu manual. E olhem que tive filhos, em média, de dois em dois anos.

De tudo isto, de todos estes anos aos encontrões no sistema de ensino, aprendi várias coisas e constato outras. Aprendi que é na escola que se pode estragar o gosto pela aprendizagem e que sem ele nada há a fazer. Não há explicações, dinheiro, castigo, incentivo ou remédio que os façam aprender seja o que for. Quem não quer ser ensinado não aprende. E é lá, na sala de aula, com professores motivados, pedagogos formados, que a vontade nasce, cresce e dá frutos. Aprendi que cada um tem o seu ritmo e o seu tempo: o percurso escolar é uma maratona, não uma corrida de 500 metros.

Constatei que quanto menos se pede aos alunos menos eles dão, de menos se consideram capazes e menos o serão. Há alunos que acabam os 12 anos de escolaridade sem saber fazer contas de dividir, sem nunca terem lido um livro, sem falar inglês ou ter feito uma apresentação oral. E não é uma minoria que não preenche pelo menos um destes itens.

O sistema de ensino é hoje um gueto de desigualdades, feito de escolas para ricos e para pobres, conforme as zonas onde estão localizadas, se são privadas ou públicas. A partir do 10.o ano, o estudo, é um treino apenas para a entrada na universidade, como se os miúdos fossem cavalos de corrida. Ou isso ou o ensino profissional, como se fosse a segunda escolha do remediados. No acesso às melhores universidades essa desigualdade é latente: quem tem dinheiro paga aos explicadores, que se multiplicam para preparar os alunos para um 18 ou 19 no exame de Matemática e o passaporte para um dos melhores cursos. Quem estuda sozinho e sempre estudou numa TEIP nem sabe onde fica a Nova SBE.

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A decência para a Monodocência

 

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O Ensino Profissional 

 

Comecei a trabalhar na área de Formação de Jovens e Adultos com 24 anos.
A turma de Adultos que recordo com carinho foi a turma, que sugeriu que eu poderia ter uma carreira militar com sucesso. Na altura expliquei que não tinha altura para ingressar nas Forças Armadas e tinha muito a fazer na sociedade civil.
A turma de Jovens que mais saudade me deixou, o Curso de Aprendizagem de Assistente Familiar e Apoio à Comunidade, foram três anos de trabalho. Todos terminaram com sucesso. Cerca de 50% dos alunos concluíram o Ensino Superior. Tenho a recordação de uma aluna que me olhava zangada porque era corrigida e terminou o módulo com 15 valores  hoje é Enfermeira.
Já passaram  28 anos, e  todos os anos leciono turmas de Ensino Profissional,
Segundo a Recomendação do Conselho Nacional da Educação, “Perspetivar o futuro do Ensino Profissional”,  “O ensino profissional enfrenta uma histórica desvalorização, em boa parte resultante de se lhe ter associado a imagem de um tipo de ensino destinado a alunos com um menor desempenho escolar no ensino geral, predominantemente oriundos de meios mais desfavorecidos.
A taxa de conclusão do ensino secundário, no  ano letivo 2019/2020  foi de 87% nos Cursos Científico-Humanísticos  de  79.9% nos Cursos Profissionais,
Na minha opinião, os Cursos Profissionais, deveriam fazer parte da oferta formativa de todas as Escolas Secundárias.
A taxa de conclusão do ensino secundário, no  ano letivo 2019/2020  foi de 87% nos Cursos Científico-Humanísticos e  de  79.9% nos Cursos Profissionais,
O mesmo documento, foca um  aspecto muito importante:  A reconfiguração necessária,  a Territorialização, garantindo respostas educativas atualizadas e articuladas entre os parceiros socioeconómicos e educativos de cada comunidade local; e a Empregabilidade, fornecendo uma qualificação técnica que seja não só adequada às necessidades e potencialidades das organizações sociais e das empresas, como com estas construída.
Ao nível do território, existem Escolas que distam no máximo 2 quilómetros e oferecem o mesmo Curso Profissional.  A auscultação das necessidades do mercado de trabalho deveriam regular as ofertas do Ensino Profissional.
Elisa Manero

 

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