Petição do SIPE vai ser discutida na Comissão de Educação e, posteriormente no Plenário
Terça-feira, dia 7 pelas 15 horaso SIPE vai reunir com a Comissão de Educação e Ciência para ser ouvido acerca dapetição n.º 321/XIV/3.ª
Recordamos que o SIPE intentou processos coletivos e individuais contra as ultrapassagens entre docentes, fez queixa ao procurador de justiça e entregou uma petição na Assembleia da República.
«Cotas», aquele termo tão apetecido pela tutela que, neste caso, impõem ao acaso às escolas um teto de 10% de vagas, como se para todos os que fiquem de fora, por decreto as suas doenças desaparecessem milagrosamente e, simplesmente, ficassem curados e capazes de fazer o impossível.
Somos implacavelmente tutelados por pessoa pouco credível que mente sem pejo quando afirma que a Mobilidade por Doença (MPD) não é um concurso. Se não é um concurso, então a criação de cotas, a abertura de percentil de vagas, as prioridades e as regras impostas, são o quê?
E tratar de modo diferente doenças iguais é sinónimo de equidade?
Será que as doenças provocam mais sofrimento e incapacidade a uns do que a outros, consoante o vínculo profissional de cada um?
Sabendo-se que a média dos portugueses com deficiências e incapacidades corresponde a 8,2% e que a percentagem dos professores nestas circunstâncias é de apenas 7%, qual a justificação do ministro para empreender este ataque à classe docente?
Terá, porventura, a noção do envelhecimento da classe, que é a mais velha da europa?
Terá consciência do enorme desgaste causado por sucessivas políticas que sobrecarregaram os profissionais da educação?
Terá ideia do descomunal cansaço físico e psicológico que a excessiva instabilidade profissional causou ao corpo docente?
Em boa verdade, num país com esperança média de vida abaixo dos restantes países europeus e perante as péssimas condições de trabalho que os professores têm, só me espanta que esta percentagem não seja ainda maior.
Em vez de se debruçar sobre as razões de 2/3 dos professores estarem em burnout ou à beira do esgotamento, prefere punir aqueles que já estão tão mal, mas que ainda querem continuar a ser úteis e a trabalhar.
Este concurso que desceu estrondosamente sobre os desafortunados, não é mais do que um subterfúgio da tutela que procura desesperadamente apresentar um bode expiatório – os professores doentes em MPD – onde possa depositar a culpa da sua incompetência governativa que deixou o sistema educativo num estado deplorável, com falta de professores e enorme desmotivação de toda a classe.
Se efetivamente existem suspeitas de fraudes, então que se aperte a fiscalização e as juntas médicas que apurem os casos fraudulentos que deverão ser levados à justiça, em vez de o governo indiciar, acusar e sentenciar toda uma classe como impostora com base em suspeitas, indo contra o direito à inocência de qualquer cidadão até prova em contrário.
Mas desmontando a dita legislação, facilmente se depreendem quais os valores demonstrados por este executivo, dizendo muito da sua postura ética e moral.
Com que então, a métrica é igual em toda a parte, desde que contabilizada em linha reta?
O raio de 50 quilómetros em linha reta em autoestrada é equivalente ao de numa estrada regional, de uma estrada serrana sinuosa e íngreme ou de um percurso de elevado trânsito e congestionamento numa grande cidade?
Não entendem que, num território onde a maioria das estradas são sinuosas, além de no terreno a quilometragem corresponder ao dobro da distância em linha reta, pelos limites de segurança de traçados tão tortuosos, tal implicará viagens de longa duração e elevado desgaste?
Se essa linha reta atravessar um rio sem ponte nas proximidades, o professor irá a nado?
E se atravessar uma serra, terá este de se fazer de toupeira e furar montanhas para encurtar distâncias?
Quem tem um acompanhamento médico para lá do raio de 50 quilómetros, muda de médico ou muda de casa? (melhor seria mudar de ministro)
Serem as escolas a decidir os grupos onde abrem vagas dentro da diminuta percentagem disponibilizada, só irá criar ainda mais injustiças e mau ambiente.
Pagarem todos os professores por supostos abusos tão fáceis de comprovar – houvesse vontade – não será apenas para servir os interesses do governo?
Num país pequeno e estreito, quase sem vizinhança, se pegarmos no compasso para fazermos os círculos de 50km no mapa, na extensa zona litoral arriscamo-nos a ter de ir pregar para os peixinhos, enquanto na fronteira corremos o risco de nos encontramos com «nuestros hermanos» (se fosse para sermos pagos pelos espanhóis, certamente não nos importaríamos, uma vez que os professores do lado de lá da fronteira ganham o dobro do vencimento).
A menos que o governo ofereça aeroplanos, helicópteros, tapetes ou vassouras voadoras que possam garantir equidade entre os professores na deslocação em linha reta, a medida será tremendamente injusta.
Carlos Santos (continua em T2, E3: “o discípulo”)