Terminei o ano letivo a tratar de um caso em que um grupo de alunos deixou de falar com um deles, durante semanas. Conheciam-se de sempre e não se dirigiam a palavra, fosse em que meio fosse. O excluído estava desfeito.
Não se pode obrigar a falar, mas pode-se fazer refletir.
A arma social do desprezo e da indiferença é hoje comum e usada com displicência., mas não é nova. O efeito agrava-se com as redes sociais.
Há um quadro de Veronese, que se chama mesmo “Desprezo” e “Le mépris” (desdém ou desprezo), além do livro de Moravia é um filme genial de Godard, com a lindíssima Brigitte Bardot e uma desprezível discussão de 34 minutos. O tema tem larga representação artística.
O desprezo de hoje tem nova escala.
A minha avó, quando me portava mal, “dava-me ao desprezo” uns dias. Não ouvir nada de alguém de quem gostava era um castigo terrível e angustiante para uma criança.
Preferia que me batesse, coisa que não fez. E muito me esforçava por obter uma palavra qualquer que fosse.
Ainda hoje o desprezo, mesmo momentâneo, de quem goste ou só estime me faz reviver esse tempo de angústia infantil.
A minha avó não conhecia a palavra empatia, mas usava um truque pedagógico essencial e que me fez ser mais empático: a indiferença e o desprezo dos outros, de quem gostemos, vêm de algum lado e é preciso dialogar para o resolver. E a um miúdo que foi abandonado pelo pai (me desprezou) a coisa batia forte. E acho que me fez melhor pessoa.
O problema é que isso da empatia dá trabalho, constrange e é difícil ensinar aos miúdos, como vi no caso concreto.
Além de terem dificuldades com a língua, não são treinados para ver o ponto de que o desprezo se deve evitar. E depois de entrar por aí é difícil sair, porque é preciso a empatia dos outros. Isto é, não nos darem ao desprezo.. E de desprezo em desprezo o mundo ficará desprezível.
No caso concreto falaram e fez algum efeito. Por isso Português não pode ser só gramática.
1 comentário
existe… existiu e sempre há-de existir
drama queen’s