Porque que eu saiba ontem não houve colocações, ou houve?
Crato promete colocação de 800 professores até amanhã
Serão colocados 800 professores nas escolas portuguesas entre ontem, hoje e amanhã. A garantia foi dada pelo ministro da Educação. Nuno Crato admite os erros ao longo do processo de contratação de docentes, mas garante que esta semana fica resolvido o essencial.
3 comentários
lá vai sair a lista amanhã no derradeiro minuto do dia!
Ora vamos lá ver: o que é que ele considera “o essencial”? Ainda há pouco tudo decorria dentro da “normalidade”. O “fica tudo resolvido” vem do mesmo saco do “irrevogável” do Portas e da promessa do Crato de que quem ficou erradamente colocado não seria prejudicado? É que se vier do mesmo saco, ainda haverá muito lenha para arder…
Perdoem a extensão, mas não resisto a transcrever a crónica de João Miguel Tavares, com quem habitualmente concordo, de cujo discurso gosto muito e que, desta vez, na minha opinião, se superou, com um texto excecional:
Caro Nuno Crato: ainda aí está?
João Miguel Tavares
Público, 07/10/2014 – 06:52
Convinha que a desresponsabilização na política portuguesa não chegasse a este triste ponto: desde que um ministro não seja apanhado a fazer corninhos no Parlamento ou a contar piadas sobre hemofílicos de Évora, ele pode espalhar a sua infinita
incompetência por ministérios e secretarias de Estado sem que nada lhe
aconteça. Ora, após o homérico desastre que está a ser o início do
actual ano lectivo, por culpa exclusiva dos serviços do ministério da
Educação, somos obrigados a perguntar que mais é preciso acontecer para
que Nuno Crato se decida a apresentar o seu pedido de demissão.
Crato ficou em tempos conhecido por um colorido comentário que envolvia a implosão do ministério da Educação, e não se pode dizer que estivesse sozinho nesse
desejo. O ministério da 5 de Outubro é um monstro burocrático que engole
tudo à sua volta, e cujas preocupações acerca da gestão do exército
docente suplantam em muito as preocupações com a qualidade de ensino dos
alunos que é suposto servir. Mas por mais que nos unamos a Crato na sua
vontade de implosão, a verdade é que em 2014 ele colocou a dinamite no
local errado: em vez de implodir o ministério, explodiu com o ano lectivo.
Há muitos anos que não se via nada assim, e qualquer cidadão deve questionar-se para que serve um ministério com milhares de funcionários se ele não é sequer capaz de executar a mais básica tarefa para que foi criado: começar as aulas a tempo e horas e
atribuir a cada aluno os professores a que ele tem direito. As listas de
colocação de professores saíram apenas a 9 de Setembro, o que fez com
que no começo das aulas milhares de alunos estivessem sem docentes. E
nas escolas de ensino artístico a tragédia é completa, com instituições, como os Conservatórios, a garantirem que só em meados de Outubro a situação deverá estar normalizada – um mês após a data fixada para início do ano lectivo.
Quando se tenta encontrar uma explicação para esta situação, há quem balance
entre a incompetência fortuita e a incompetência intencional. Ou seja,
uns acham que Nuno Crato pura e simplesmente não sabe o que anda a
fazer, outros acham que Nuno Crato sabe o que anda a fazer bem de mais.
Tradução: o ministério da Educação estaria a aproveitar estes atrasos
inconcebíveis para poupar uns milhões em ordenados de professores. Seja
qual for a opção, ela mais do que justificaria que Crato arrumasse os
tarecos – e quando se junta a isso o desastre matemático na ordenação
dos professores das bolsas de contratação de escola, e as mentiras que o
ministro da Educação andou a espalhar pelo Parlamento, só mesmo a
narcolepsia de Pedro Passos Coelho pode justificar a permanência de Crato na 5 de Outubro.
Depois de o ministro ter andado 15 dias a assobiar para o ar fingindo não ver um erro matemático básico na ordenação das listas, ele ainda foi para a Assembleia da República jurar que “os professores colocados mantêm-se”, que “eventuais duplicações
serão analisadas caso a caso”, que “os alunos não serão prejudicados”.
Tudo mentiras, como se viu: as listas anteriores foram simplesmente
anuladas e centenas de professores foram descartados após três semanas a
dar aulas. Após a asneira ter sido feita, nunca haveria boas soluções
para o problema. Mas a cabeça de director-geral de administração escolar
é demasiado pequena para ser a única a rolar. Nuno Crato deve ser
devidamente responsabilizado – é inadmissível ter um governo que exige
tanto aos portugueses e tão pouco a si próprio.