Carta Aberta – Indignação de uma encarregad​a de educação

Carta aberta de uma encarregada de educação enviada ao MEC, Direção Regional e grupos parlamentares com autorização de divulgação. Curiosamente Fajões foi o meu último ano que trabalhei enquanto contratado, já lá vão 18 anos e tive muito boas recordações desta escola. Recordo-me perfeitamente do peso da diretora de então e de alguns amigos que nunca mais vi. Bons tempos em que outros valores se promoviam.

 

Exmos Srs

Dirijo-me a todos os destinatários desta carta na qualidade de encarregada de educação de um aluno do ainda Agrupamento de Escolas de Fajões, manifestando a minha preocupação como futuro que se adivinha muito incerto.

Durante cerca de três anos acompanhei o projeto educativo da escola. Não concordei com todas as decisões do atual diretor, mas foi para mim sempre claro o rumo que a escola tomou. A face da escola mudou, as medidas de apoio aos alunos foram uma constante mesmo quando a autarquia recorrentemente se demitia das responsabilidades que tinha no âmbito das competências que lhe estão atribuídas. Se no início do percurso do meu educando hesitei em matriculá-lo nesta escola, até à semana passada não teria dúvidas em mantê-lo, reconhecendo a qualidade do projeto educativo, que sendo coletivo, assenta inquestionavelmente na visão e no carisma do diretor do agrupamento.

Numa altura em que se procuram resultados, as taxas de abandono e insucesso, a par com as classificações dos alunos nas provas do quarto ano (das melhores do país), são indicadores que inequivocamente mostram o trabalho que foi realizado. Tive conhecimento que a tutela (Direção Regional de Educação do Norte e Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis) no âmbito da reorganização escolar, endereçaram o convite para constituição de uma Comissão Administrativa Provisória (CAP) ao atual diretor da escola de Carregosa.

A minha interpretação pessoal foi que, a tutela certamente entendeu que seria quem reunia as melhores condições para o efeito. Não é meu propósito beliscar a idoneidade profissional deste diretor, mas são, para mim, intelectualmente inalcançáveis os fundamentos desta decisão. Contam-se pelos dedos das mãos as agregações que até ao momento resultaram em nomeação para a CAP do diretor de um agrupamento sem ensino secundário – é este o caso.

Não queria pensar que os interesses políticos e partidários se sobrepõem ao que deverá ser melhor para escola.

Não quero acreditar que se tratade uma “caça às bruxas” uma vez que o atual diretor foi dirigente no ex Ministério da Educação.

Não quero sentir que existe manipulação de um conselho geral, imposta através da disciplina partidária fruto de um ressabianço de outras alturas.

Mas as evidências falam tão alto que não é possível ignorar….

Tenho a clara noção que esta é uma decisão que a tutela pode tomar. Está no âmbito das competências que tem. Sei também que não existe sede de recurso. Mas, porque pelo menos tenho direito a apresentar a minha indignação, escrevi estas linhas.

Por último, tenho que agradecer ao Sr. Ministro a possibilidade que deu ao meu filho de mudar de escola: fá-lo-ei já para o próximo ano letivo. Neste momento tenho que confessar o total e absoluto descrédito na escola pública em falência eminente. Para tentar garantir a qualidade na educação do meu educando a única opção que me resta é o ensino privado, onde pelo menos são claras as regras e normas que não mudam ao sabordos caprichos políticos.

Fajões, 25 de Junho de2012

Melhores Cumprimentos,

Maria Ferreira

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16 comentários

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    • Sara on 25 de Junho de 2012 at 14:06
    • Responder

    Venham mais pais com os olhos abertos para a realidade!

    • Helena on 25 de Junho de 2012 at 14:30
    • Responder

    Enquanto encarregada de educação entendo que os pais deveriam participar mais ativamente nestas decisões! E mesmo que sejam professores ou outra profissão qualquer, antes de o serem, SÃO PAIS e bem que poderiam ser mais interventivos. Infelizmente, pelo que tenho visto a politica está a sobrepor-se. No caso da escola dos meus filhos, com 3º ciclo e escola secundária, quem fica na CAP é o diretor do agrupamento onde tem maior numero de alunos (1º/2º e 3º ciclos). Curiosamente, a cor politica do diretor da escola secundária é oposta à cor do governo!
    Curiosamente um diretor com mais de uma década de gestão! ESTRANHO

  1. Na minha opinião, era melhor que não tivesse escrito “Para tentar garantir a qualidade na educação do meu educando a única opção que me resta é o ensino privado”, pois é isto que pretendem: acabar com a escola pública a qualquer preço. 🙁
    A política do ‘virar as costas’ não me parece a melhor solução…

    • Inês on 25 de Junho de 2012 at 16:18
    • Responder

    Caro/a Nêspera,
    não me parece que seja uma questão de “virar as costas”. Para um professor, pode ser visto como tal, mas para uma mãe, é simplesmente defender os interesses dos filhos. Se não nos preocuparmos com os nossos filhos, vamos stressar com quê?
    Sou professora e faço o melhor pela minha escola e não pretendo desistir dela, mas enquanto as leis estiverem mal e insconstantes, os meus também estão e ficarão no ensino privado. Os professores não podem fazer milagres… por melhores que sejam, não se fazem “omoletes sem ovos”…. por mais que o sr. ministro o queira.

    • Maria Teresa on 25 de Junho de 2012 at 21:03
    • Responder

    Que temos nós a ver com as decisões desta Encarregada de Educação ??????!!!!!!!! Matriculem os educandos onde lhes der na gana e lembrem-se que não precisam de justificar as decisões pessoais. Não quero pertencer a auditórios destes.

  2. Cara Inês.
    Só lhe faço algumas perguntas singelas, sabendo que o que se encontra entre parêntesis é apenas a minha modesta opinião:
    – Não devem os professores defender os interesses dos alunos? (devem)
    – Os interesses dos filhos de alguém são diferentes dos interesses dos alunos de outro alguém, sabendo que esses filhos/alunos são uma, a mesma e só pessoa? (são os mesmos)
    – Os pais e os professores não deveriam estar unidos na defesa dos interesses dos filhos e dos alunos, respectivamente? (deveriam)

    Espero que não conheça nenhum professor contratado (ou não) a ficar desempregado porque os alunos que deveriam ser dele… estão todos no privado.

    Não percebi a parte da “omolete sem ovos”… Não será mais a falta da frigideira?

    • Inês on 26 de Junho de 2012 at 14:31
    • Responder

    Caro Nêspera
    Os professores devem defender os interesses dos alunos, mas as leis atuais deixam muito a desejar. Faço o que posso (e com muito gosto!) pelos alunos, mas consigo me aperceber que com estas leis, eles estão a ser muito prejudicados. E se sei que no colégio particular onde estão, estão a fazer o que eu gostaria de poder fazer na escola onde leciono, porque hei-de sujeitar os meus filhos às loucuras de cada ministro que passa? Sei que muitas pessoas não podem fazer essa opção e têm de se sujeitar… mas felizmente, posso “salvar” os meus filhos das loucuras que têm vindo a ser cometidas.
    Conheço professores contratados, mas não é por isso que vou prejudicar os meus filhos. Eu sou contratada (daquelas de longa data…) e não é por isso que não defendo que os pais devem escolher o melhor para os filhos. Os alunos são o principal no meio disto tudo.
    Quanto à omolete que referi:), apenas estava a dizer que por melhores que sejam as capacidades dos professores e por melhor que seja a sua boa vontade, com as leis atuais, não chega. Faltam os ovos, a frigideira, o azeite, … tudo:)

    1. Não falta tudo, cara Inês. Falta é vontade. Falta é luta. Falta é coragem.
      Claro que não pode prejudicar os seus filhos. Disso nem uma “madrasta” se lembraria. 😉
      Mas os filhos dos outros também precisam de ser salvos e a opção de ser necessário pô-los num colégio xpto não me parece a melhor solução. Mas isso sou eu, que continuo a ser uma idealista e que não me deixo abater com as contrariedades que vão aparecendo na vida. Profissional, entenda-se… E digo-lhe uma coisa, mesmo sem ovos, frigideira, azeite… e tudo, é possível seguir outro caminho. Não faltasse a vontade, nem a luta, nem a coragem 🙂

      Não me leve a mal, estou apenas a amenizar o assunto… quando for grande quero fazer apenas o que posso, pois até hoje tenho feito tudo o que não posso. Ou seja, lutar contra a corrente e o conformismo que se instalou em toda a sociedade portuguesa. Professores incluídos. Recuso-me a ser um carneiro encarreirado. Maneiras diferentes de ver as coisas… 🙂

      Ah! Oxalá tenha trabalho no próximo ano. Não se contente com emprego 😉

    • Atento on 26 de Junho de 2012 at 20:59
    • Responder

    Quer esta senhora dizer que quando elegeram o ainda atual diretor não houve politica envolvida e interesses duvidosos?
    Está visto que esta carta foi orquestrada por outros interesses, não se sabe bem quais, pois ainda ontem o atual diretor correu reuniões a informar que iriam fundir e seriam os professores do agrupamento de Carregosa a adaptar-se ao estilo de trabalho praticado e não os de Fajões, isto, diz tudo…

      • Rolo on 26 de Junho de 2012 at 22:20
      • Responder

      Conheçe a realidade dos agrupamentos em questão? Pareçe que não… Temos Fajões que trabalha para o sucesso, está muito bem equipada, tem uma imagem magnífica, professores muito competentes, uma direção capaz, uma plataforma única, foi recentemente avaliada com muito bom em todos os domínios pela IGE, tem um ensino que está muito à frente etc etc. ah! e do outro lado temos Carregosa. Isto foi politica … Dói ouvir mas é a verdade

        • Atento on 27 de Junho de 2012 at 13:34
        • Responder

        Conheço muito bem a realidade quer de um quer de outra, sei muito bem de que tipo de sucesso me fala… Sei muito bem da dita avaliação que segundo alguém nem era de muito bom, mas sim de excelente… conheço muito bem os professores, muitos competentes, mas com receios escondidos. O trabalho é muito bem feito, embora hoje se faça de uma maneira e amanha já é para fazer de outra. Se chama o ensino de facilitismo muito à frente digo-lhe, o meu filho não matriculo eu aí, pois se ele tiver 5 negativas eu vou exigir que seja retido e não vou admitir que ninguém o transite de ano… Dói, não dói… Politica como eu disse no post anterior também houve na eleição do atual diretor, ou quer me dizer que na corrida que foi a diretores neste país só um e tão bom concorria a Fajões, e porque é que o seu diretor na altura tb concorreu a Carregosa… Há sempre mais que uma versão da história é preciso é estar ATENTO.

  3. Realmente alguma coisa terá acontecido para acabar com o cargo deste Diretor. Não terão sido as opções que se fizeram no concurso de contratação de escola? Será que todos os professores que entraram nesta escola foram escolhidos pela Lista de Ordenação do Ministério ou será que havia compadrios e interesses em alguns?. Conhecer o projeto curricular, ter experiência em escola Teip, ter lecionado no ano anterior na referida escola. Muito bem são opções e a lista de ordenação onde fica?.

    Professores com anos de experiencia e graduação muito maior ficaram a ver navios, só porque é escola Teip? Não deveriam ser obrigados a escolher sim mas conforme a lista de Graduação do Ministério. E sim senhor concordo com a pessoa que diz também ter havido política na eleição deste director.
    Quanto ao ensino privado neste momento e com a crise que o País atravessa pobres da maior parte dos alunos cujos pais se veem gregos para os manter na escola pública quanto mais privada. Seja qual for o Diretor é preciso é ensinar e formar os jovens do futuro. Primeiro os alunos e só depois os Diretores.

      • Atento on 27 de Junho de 2012 at 14:21
      • Responder

      Os alunos é coisa que não parece ser importante nesta carta, mas sim o “taxo” de um qualquer diretor, que, talvez como outros tantos, não sabe o que é uma sala de aula…

      • A valente on 3 de Julho de 2012 at 22:28
      • Responder

      Ora agora já se tocou na “ferida”… ouvi dizer (e eu sei que o diz-que-disse é feio, mas o já o ditado popular dizia: não há fumo sem fogo…) que havia muito “buracos” na “gestão” deste diretor, apesar de tão bela imagem e propaganda…buracos, tais como concursos de contratação de escola encerrados e deliberadamente “em espera”, para que uma alguém (não disponível na altura do concurso) terminasse o seu contrato noutra escola e viesse ocupar a vaga de horário completo que lhe estava reservada…
      Que ninguém se iluda, lugares de poder como este (e outros tantos…) são e serão sempre alvo de cobiça, interesses e compadrios… engane-se quem pensa que isto não acontece também no privado – será de forma diferente (mais dissimulada ou não), mas acontece. Isto está (infelizmente) impregnado na mentalidade de muitos portugueses.
      Valentes aqueles que não têm medo da mudança!

    • Observador atento on 4 de Julho de 2012 at 11:59
    • Responder

    Eu li, numa ata de uma reunião da DREN, o pedido de demissão do referido diretor. Por isso, a DREN ao convidar outra pessoa para o lugar de presidente da CAP, só fez o que devia …

    Há quem fale (ou escreva) porque … enfim …

    • De olhos bem abertos on 18 de Julho de 2012 at 10:41
    • Responder

    A passagem dos Conselhos Executivos a Direções vieram, em alguns casos (não quero generalizar e ser injusto), ferir de morte as escolas. Algumas tornaram-se pequenos laboratórios de liderançazinha nos quais são experimentadas todas as receitas já sobejamente conhecidas no mundo consporcado da política. A forma como, hoje, se tomam decisões importantíssimas em corredores e vãos de escada, alimentadas por caprichos e birras e atropelando tudo quanto é lei, assusta-me e deve assustar qualquer um. A Escola enquanto instituição não pode ser encarada como uma quinta! Os cargos são efémeros. Este iluminado aparece e desaparece como se um génio da lâmpada se tratasse. Rodeou-se de profissionais que, agora, num momento em que têm que mostrar dignidade profissional, são subitamente atacados por amnésia. A mensagem predileta do Narciso sempre foi: “Existe um antes de mim e um depois de mim! Antes de mim, o pouco que existia era mau! Depois de mim, existe tudo e tudo é perfeito!” Esclarecedor, não? Aguardemos, porque não sabemos o que se anda para aí a cozinhar. Para já, a estratégia parece evidente. Há que dificultar o mais possível a vida a quem entra porque em maio há eleições… Ah, a propósito: esta “carta aberta escrita por uma encarregada de educação” é só mais um instrumento de guerrilha. Parece que foi escrita pelo visado e submetida em nome da sua cônjuge.

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