Um desabafo da Elsa Dourado que poderia também ser meu e de muitos outros professores dos quadros que conheço.
Hoje, vagueio pela casa… 05:00h da madrugada e não consigo dormir… as últimas noites tenho dormido mal… preocupada com os meus colegas contaratados! Refiro que sou do quadro de escola, 5.º escalão… e por isso poderia permanecer caladinha numa tentativa de sobrevivência sem honra.
Reconheço também que não sou imparcial, mas tento dizer com simplicidade e objectividade, portanto com justiça, os tormentos diários que qualquer professor passa, mas não tiveram ainda coragem de dizer! A tal sobrevivência que condiciona uma bajulação constante e hipócrita, o fim da solidariedade entre colegas, o quase desparecimento de valores tão universais como verdade, justiça, fraternidade e, a nível individual, a ausência táctica de espiríto crítico e questionador é que me põe doente!
Tenho familiares directos, que dão aulas há dez anos consecutivos, sempre colocados no dia um de Setembro e para todo o ano. Uma delas de Matemática, e outras duas com pós graduação em Ensino Especial. Outros amigos, sérios e cumpridores, noutras áreas, também, todos eles, pela primeira vez, viram vedado o acesso ao ensino: este ano, o 11.º ano consecutivo de profissão na docência… Escusado será dizer, que sempre foram pessoas hosnestas e trabalhadoras, preocupadas com o sucesso de seus alunos, e pagam sempre os seus impostos. Também adquiriram casa própria, porque os governos assim o indicavam como a melhor alternativa para manter a economia (da construção) e noticiavam a toda a hora que poderiam facilmente adquirir casa. Não era assim tão fácil… um banco avaliava o imóvel e mediante os salários dos mesmos, com uma margem de segurança negociavam os empréstimos. Gente trabalhadora… que optava por fazer sacríficios, mas para ter uma casa própria em vez de arrendar que saía mais caro e levantava mais problemas burocráticos. Porque razão não deviam eles de confiar em quem os governava? Não é suposto um povo confiar na seriedade de quem elegeu? Este ano, 11.º ano de concurso, foi a 1.ª vez que ficaram de fora…. tragédia: uma já tem o marido desempregado e como trabalhava como independente, nem tem direito ao subsídio de desemprego. Sua esposa apenas conseguiu meia dúzia de horas numa substituição e uma outra não conseguiu colocação em lado nenhum e é mãe solteira. O drama a que assisto é que não querem perder as suas casas, chegando a presenciar a humilhação directa para honrarem os seus compromissos. Porque esta gente tem HONRA e VALORES. Sentem-se traídos pelos consecutivos líderes que elegeram, os quais mentem, enganam, e os transformam em objectos, números e coisos! Triste país este, em que é gente honesta que governa as suas contas, contadas ao cêntimo, que dão o exemplo aos seus governantes, quando deveria ocorrer exactamente ao contrário.
Sinto-me muito triste, com este país e manifesto a minha solidariedade, para com os meus colegas contratados ou do Quadro de Escola. Pois, pior que tudo, ou tão grave, são também os professores do quadro que trabalham até à exaustão, vivem deseperados com um salário que já não dá para as despesas, trransformados também em objectos e coisos… onde a sociedade e o estado que os devia valorizar, subtilmente lhes rouba a identidade, os condicionam a depressões graves e mesmo a síndrome de bournout. Tudo em prol de um ensino de qualidade, que os próprios professores sérios defendem e erguem até à exaustão. Porque será que, paradoxalmente, é o próprio País e o sistema educacional o TRAIDOR, que magoa e destrói gente de bem? Já não aguento ver tanta falta de humanidade para com os professores e para com gente séria e de bem neste país!!!!
Defenderei o colectivo dos meus colegas, contratados ou do quadro, que sejam bons profissionais, aos quais o país lhes rouba a esperança e os está a transformar em sem abrigo! Até há pouco tempo pensei tratar-se de alguma dramatização e, confesso de algum exagero ficcional. Hoje, sei que é pura realidade porque lido com eles diariamente! Começo a não acreditar na escola, pela qual tenho lutado, de forma anónima, há mais de vinte anos! A Educação está a morrer e com ela as nossas escolas! Estou a fazer um verdadeiro luto, doloroso, como professora! E como irmã do meu irmão que sofre e que ainda luta por causas justas… estou com sérias dúvidas, neste momento: estarei a enlouquecer….ou deverei mesmo emigrar?
É que num país sem verdade e sem valores… recuso-me a ficar!
Elsa Dourado
P.S Nunca tive nem tenho nada a esconder (com qualidades e defeitos) Não tenho medo de errar… mas tenho como lema procurar errar cada vez menos! Se prescisarem de mais informações, enviarei o BI e o NIF… não vá aparecer uma outra Elsa Dourado, daquelas que mantém o emprego através da bajulação e da hipócrisia e receie a partir desta publicação que começe também a fazer parte do “COISO”.