Ao ver uma notícia destas, dezenas ou talvez centenas de jovens e adultos que ponderariam ser professores, ponderam melhor.
Quem vai para uma profissão com o risco frequente de levar uma traulitada?
Há muitos anos, uns 15, um assistente operacional, por sinal muito empenhado, disse-me uma coisa interessante.
Estava eu muito enlevado num discurso a dizer a importância de vigiar corredores e agir e ele respondeu-me: “Ó professor, mas acha que pelo que me pagam, vou correr o risco de levar uma facada….?”
Isto que disse é muito razoável.
Uma escola não é sítio para levar uma facada, um murro ou uma traulitada.
E o ministro pode usar todos os processos e truques gestionários e estatísticos que não resolve a falta de professores e de outros trabalhadores de educação se não mudar o clima.
E isso é o triangulo do fogo que está a arder:
Lado 1 Indisciplina e violência (dos alunos)
Lado 2 Burocracia e complexidade de processsos (das organizações)
Lado 3 Arbitrariedade e injustiças (dos dirigentes)
Resolve isso (ou, pelo menos, melhora a níveis aceitáveis e com mecanismos eficazes) e vai ter menos pressão na falta de gente.
Obrigue os diretores a não serem passivos na indisciplina e violéncia, obrigue-os a simplificar e a desburocratizar (como gestor que é) e acabe-lhes com a impunidade, quando violam a lei, e vai ver se eu não tenho razão.
E pode chegar lá por vários caminhos, mas é isto que tem de fazer.
Mais segurança nas escolas, mais simplicidade burocrática e menos impunidade dos abusos de quem manda.
Simples. Se quiser mesmo fazer, ouve os professores, como fez Al Gore com a reforma da Administração Federal dos EUA, ou Roberto Carneirp na sua reforma educativa.
Se fizer o habitual e as tretas dos últimos 30 anos, vai falhar.
E perdemos todos a descer a rampa mais um pouco.
Luis Sottomaior Braga
10 comentários
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…e menos facilitismo…que isto só não passa quem não quer…
Parabéns pelo texto. Só prova que, de facto, é possível, sucinta e objetivamente, elencar os aspetos mais relevantes do panorama deste hediondo sistema educativo.
Kafkiano mesmo. Que afeta a saúde mental de todos os que lá trabalham desde há 20 anos.
Muito bem equacionados, os problemas,Luís.
Escreva mais vezes.
Transparentes razões para nos querermos afastar assim que possível .! Ou não querermos lá entrar!
O facilitismo é a principal causa da indisciplina e falta de respeito. Os alunos do profissional já me disseram várias vezes, quando os repreendo pelo belo desempenho, para me acalmar, pois estamos no profissional e vamos todos passar. Isto estende-se cada vez mais ao regular, já houve quem me dissesse que, para ficar retido, era preciso esforço. Ficar retido exige mais esforço do que transitar. O mundo está louco!
As escolas continuam a querer esconder a indisciplina (pelo menos as que eu conheço). Fazem de tudo para que não passe para o exterior. Não há nenhum interesse em apoiar os professores para não terem de ser submetidos a insultos e indisciplina…. E ainda os pressionam para passarem os alunos com comentários do tipo “dá-lhes uma ficha para fazerem em casa e conta como avaliação da disciplina”, ou quando não se lembram de sugerir que se preencham cruzes em planos de recuperação e de medidas com testes especiais (é só rir)….., ou quando se lembram de exigir que se justifique mais de 25% de negativas. É UMA SELVA muito pouco recomendável para quem se quer manter mentalmente saudável por muitos anos.
O ME basta olhar para a obra de Roberto Carneiro e Veiga Simão e deixará a escola muito mais bem arrumada do que a encontrou.
Será que esses alunos com problemas mentais não deveriam estar noutra escola própria? ou então estarem no gabinete do ministro de educação à guarda de algum acessor para saberem o perigo que representa. to zei
Multas para quem agredir. Mexendo com o dinheiro as agressões desaparecem!
Cadeia para o agressor ou pais do mesmo! 😡😡😡
Mas agora as escolas são ringues de boxe???!!! Dêem mais poder aos papás! 😡😡😡😡
é verdade! outro exemplo: num bairro de Lisboa, conhecido por zona e letra, uma AOperacional, também me disse ” ó professora não vou dizer nada a essa miúda, moro aqui , ainda me apanham-me na rua e…”