“Qualquer dia, vamos andar todos algaliados em rede”…

 Oito anos de governação por António Costa/Tiago Brandão Rodrigues/João Costa transformaram a Área da Educação, em particular a Escola Pública, numa amálgama de insensatez, deixando-a em frangalhos, sem rumo definido e sem identidade reconhecível…

Para o actual Ministro da Educação, a tarefa de consertar o anterior apresenta-se como algo francamente ingrato, hercúleo, muito difícil de concretizar, tantos são os aspectos a carecer de intervenção urgente e os inúmeros problemas herdados da anterior gestão…

Em muitas escolas o Corpo Docente encontra-se visivelmente envelhecido e a falta de Professores tornou-se num problema incontornável…

 

Em 14 de Junho passado foram anunciadas, pelo Ministro da Educação Fernando Alexandre, as linhas gerais do Plano +Aulas +Sucesso, tendo como principal objectivo a redução do número de alunos sem aulas…

Entre as medidas anunciadas, destaca-se uma, dirigida aos Professores mais “entradotes”:

– “Incentivar o prolongamento da vida ativa dos professores”, que alegadamente comportará uma remuneração adicional, até 750 euros brutos, para quem atingir a idade de reforma e queira continuar a dar aulas (Site oficial do XXIV Governo, consultado em 14 de Junho de 2024)…

Há poucos anos, quando já era notório, mas ainda não “universalmente aceite”, o envelhecimento da Classe Docente, ouvi, numa Sala de Professores, qualquer coisa parecida com isto, proferida por uma Professora de Matemática, com um apurado sentido de humor:

– “Qualquer dia, vamos andar todos algaliados em rede”…

A afirmação anterior, que naturalmente suscitou o riso generalizado de quem a ouviu, não terá sido, contudo, levada muito a sério, uma vez que, à época, o mais certo seria que (ainda) não se acreditasse que os problemas do envelhecimento docente e da falta de Professores pudessem tomar, em relativamente pouco tempo, proporções tão graves e alarmantes, como as que se verificam neste momento…

Dado o desencanto e o “supremíssimo cansaço, íssimo, íssimo, íssimo cansaço” (alusão a Álvaro de Campos)  que, no geral, grassam na Escola Pública, parece muito difícil acreditar que o repto, aparentemente bem intencionado, lançado pelo Ministro, possa ter uma adesão significativa por parte daqueles a que se destina: os Professores “entradotes”…

De forma sarcástica, mas nunca desrespeitosa para com os Professores “entradotes”, dir-se-ia que o mais avisado será, talvez, lançar um Concurso para o fornecimento de algálias, andarilhos e aparelhos geolocalizadores com botão de pânico, com vista ao equipamento das escolas com esses apetrechos…

Fatalmente, ninguém vai para novo…

Pode não parecer, mas este texto pretende ser, de certa forma, um elogio à Velhice… Nos tempos que correm, conseguir chegar a Velho é um verdadeiro feito…

Um elogio à Velhice de quem vai a caminho de também poder ser considerada como “entradota”, ainda que o meu espelho seja, frequentemente, “muito piedoso” e nem sempre me mostre alguns indisfarçáveis cabelos brancos ou rugas e outras inconfessáveis mazelas… Se é que me faço entender…

Já o espelho da escola costuma ser absolutamente “cruel e inclemente” e mostra-me, muitas vezes, aquilo que o meu tenta disfarçar… Deve ser da incidência da luz… Deve, deve…

E a culpa disto tudo será, com certeza, das tágides, só pode ser das tágides…

A propósito das comemorações oficiais dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões e do Plano +Aulas +Sucesso, lembrei-me das tágides…

As tágides, ou ninfas do Rio Tejo, tidas como supostas musas inspiradoras de Camões, já não serão o que eram, pois parece que deixaram de cumprir a sua principal função: estimular a criatividade e a imaginação…

As tágides talvez se tenham cansado dos Portugueses e “deram de frosques” para outras paragens ou então continuam no Tejo, mas muito provavelmente inebriadas pelas mais variadas substâncias estranhas que vão parar ao leito de tal rio, andarão perdidas nas muitas “trips” proporcionadas por tais consumos…

E, já agora, ainda que não seja “devota” de Camões – o meu “Deus” é, e será sempre, Fernando Pessoa – não pode deixar de se assinalar a notável capacidade de imaginação, de criatividade e de escrita de alguém que há 500 anos já seria um portentoso “influenciador”…

Precisa-se urgentemente de criatividade, imaginação e ousadia…

Paula Dias

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11 comentários

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    • ZeProf on 17 de Junho de 2024 at 10:01
    • Responder

    Segundo o que se lê da Srta. Paula Dias, até 2015 a educação estava um esmero, um brinquinho. Só ficou pior depois da entrada do António Costa como Primeiro Ministro. A memória é pequenina quando se esquece facilmente que descongelou a carreira docente e não docente, quem aumentou o índice de contratado, quem aumentou o vencimento do pessoal não docente num Nível ao por ano ( nível esse que demora cerca de 10 anos a ganhar), etc etc.

    Bom bom devia ter sido o Nuno Crato que delapidou a carreira docente, mandou os docentes imigrar e saírem da sua zona de conforto. Esse sim, não teve noção daquilo que toda a gente o avisou: a classe docente estava envelhecida e nada fez para alterar isso.

      • Maria Amaro on 17 de Junho de 2024 at 11:07
      • Responder

      Pois a minha memória diz-me que quem delapidou de forma irreparável a carreira docente foi Maria de Lurdes Rodrigues, Nuno Crato, teve de governar numa época bastante difícil (causada pelo “patrão” da Maria da Lurdes Rodrigues). Os dois últimos ministros tiveram condições favoráveis para fazerem algumas reparações, no entanto, foram impreteríveis no NAÕ à recuperação do tempo de serviço e implementaram o projeto MAIA que prefiro nem comentar.
      Um conselho: quando acusa alguém com falta de memória, deverá lembrar-se quem alguém poderá ter uma melhor que a sua.

    • Sócrates, MLR, Passos e Crato on 17 de Junho de 2024 at 10:50
    • Responder

    E esperem lá estão a esquecer se onde tudo começou. Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues. Congelamentos e distorção da carreira docente.
    Passos Coelho: que para além de ter mandado os professores emigrar fechou contratos de rescisão com não sei quantos mil em 2014. Eles andam por aí a passear o cão. Outros compraram casas que restauraram e fizeram alojamentos locais.
    Só atrocidades. E agora querem que os que estão ainda na carreira a prolonguem por uns miseráveis 750 euros que se reduzirão a metade com impostos.
    Os deuses devem estar loucos e os homens que nos governam são cretinos.

    • Mainada on 17 de Junho de 2024 at 12:50
    • Responder

    Quem nos governa de há muito tempo para cá, pelo menos desde a Maria de Lurdes, sem interrupções (palavras sábias de um swami): https://www.youtube.com/watch?v=5AeO-dKGBLs

    • ûlme on 17 de Junho de 2024 at 14:48
    • Responder

    por falar em algaliados …, para quando a aprovação da lei que regula a nova progressão de professores devido ao novo acordo com os sindicatos?

    A FNE não diz nada?

    • Começar de novo on 17 de Junho de 2024 at 14:58
    • Responder

    Concordo consigo e com o hindu ou sufi. Não percebi bem.
    Estamos atrasados. A humanidade está muito atrasada no seu desenvolvimento mental e filosófico. Privilegiamos o ter em vez do ser.
    Por isso temos os governos que escolhemos e estamos calados. Veja se o caso do Chega entre nós e a extrema direita em França, Alemanha, etc.
    Este governo pretende remendar na educação o que fizeram há 20 e tal anos mas não é possível.
    Temos que começar de novo para dar alguma
    tranquilidade às escolas portuguesas .
    Tornar a carreira atrativa para os jovens. Melhorar os ordenados como foram depois do 25 de abril de 74. Acabar com as quotas estranguladoras e humilhantes. Mudar o modelo de avaliação docente que retira auto estima aos professores Os professores devem ser avaliados no todo que é a escola. Por departamento por exemplo e com isso fomentar a colaboração entre professores.
    Acabar com a componente não letiva preenchida na escola com tudo e mais um par de botas. Um trabalho extremamente cansativo para os velhos professores.
    Acabar com a burocracia das direções de turma.
    Passar muito desde trabalho para as secretarias, como era feito no meu tempo de estudante. Are as faltas eram retiradas pelos funcionários do livro de ponto. E a escola funcionava.
    Mudar o modelo Unipessoal de gestão das escolas. Urgente!
    Se o ministro quiser fazer alguma de coisa da educação , eu, e muitos profs, fazemos lhe uma lista.

    • Maria Estafada on 17 de Junho de 2024 at 15:52
    • Responder

    Peço desculpa caros colegas, estão todos a esquecer-se que devemos lutar pela reforma maiss cedo. Em vez de prolongarem a estadia dos professores até aos 70 anos com os míseros 750 euros deveriam isso sim, reduzir a idade da reforma para os 60 anos. Isso sim! Isso seria o ideal. Não vejo nem os professores, nem os sindicatos a lutarem para sairmos mais cedo. Em vez de estarmos aqui com politiqices, que tal comoçarmos a pensar em lutar pela nossa saúde?

      • Maria Estafada on 17 de Junho de 2024 at 15:58
      • Responder

      Politiquices,

      começarmos

    • Estêvão on 17 de Junho de 2024 at 16:05
    • Responder

    As tágides estão tristes? Só pode ser por causa do aeroporto não ficar no Montijo…
    “ZeProf” e “Maria Amaro”, ” a minha é maior que a tua”…
    Como escreve o Paulo Guinote. “Ideologia do género a qualquer preço; modelo de gestão escolar; avaliação do desempenho docente,; carreiras com quotas de progressão; transição de competências para as autarquias, burocracias”.. Quem são os pais ou mães destas aberrações? Quem concordou com elas?

  1. Idadismo. Roubo aos mais velhos está instituído! Roubo de trmpo, de saúde, de dinheiro e de dignidade!
    Indecente! Atacam sempre os mais fragilizados!

    • Vicente Môço on 23 de Junho de 2024 at 17:46
    • Responder

    Boa tarde
    Acho muito bem em que o ministério da educação se preocupe em trazer professores reformados para aumentar o número de professores e ainda que os que já estão na idade da reforma, prolonguem mais alguns anos a sua “estadia” nas escolas.
    Mas acho incrível que não se lembrem dos que já cá estão e ainda não são profissionalizados. Já somos muitos que abraçamos o ensino, apesar de não termos as pedagógicas. Acho que já seria hora de nos proporcionarem essas formações. Com tanta falta de professores, porque é que não impõem a quem vem para o ensino sem profissionalização 2 anos para se profissionalizarem, para serem melhores professores, com todos os predicados que necessitam. A lei de só se puderem candidatar à profissionalização em serviço na universidade aberta depois de 5 anos completos de serviço, já devia estar ultrapassado. POR FAVOR PENSEM NISSO!!!!!

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