14 de Janeiro de 2024 archive

Gasolina para o Chega

Escola com casas de banho e balneários sem género diz que mudança foi pacífica

 

Projeto “Escola às Cores” foi implementado no ano passado na Escola Básica Frei João, onde estudam 1.040 alunos do 5.º ao 9.º ano. Desde então, passaram a existir duas casas de banho e dois balneários individuais sem identificação de género.

No norte há uma escola com balneários e casas de banho sem identificação de género, a pensar nos alunos transgénero. Também são utilizados por estudantes com vergonha de usar espaços comuns, com problemas de saúde ou sem condições em casa para fazer a sua higiene.

No Agrupamento de Escolas Frei João de Vila do Conde há muito que estão a ser aplicadas as medidas de autodeterminação de género, aprovadas no parlamento no mês passado, e “nunca houve problema absolutamente nenhum”, assegurou à Lusa Paula Lobo, a professora que está por detrás desta mudança.

O projeto “Escola às Cores” foi implementado no ano passado na Escola Básica Frei João, onde estudam 1.040 alunos do 5.º ao 9.º ano. Desde então, passaram a existir duas casas de banho e dois balneários individuais sem identificação de género.

A ideia surgiu quando vivenciou os problemas de um aluno transgénero que “não se sentia bem na casa de banho dos rapazes e, quando tentava entrar no das meninas, a funcionária não deixava”, contou a professora de Educação Física.

Paula Lobo sentiu que eram precisas novas regras que fizessem da escola um espaço seguro e acolhedor e a solução veio a revelar-se bastante simples: As placas das casas de banho destinadas a pessoas com deficiência foram retiradas e substituídas por outras – Wc Comum.

“Agora é para todos, independentemente do género, se é aluno, professor, não docente ou até se vem de fora. São casas de banho individuais que só podem ser utilizadas por uma pessoa de cada vez. Foi fácil, não levantou quaisquer problemas e, também por isso, não percebo os discursos de ódio e de medo quanto às mudanças aprovadas no Parlamento”, sustentou.

Os deputados aprovaram, em dezembro, um conjunto de medidas que as escolas devem adotar, tais como assegurar “o bem-estar de todos” no acesso às casas de banho e balneários, “procedendo-se às adaptações que se considerem necessárias”.

O diploma, que está agora nas mãos do Presidente da República, não obriga à criação de espaços mistos, mas exige que todos tenham acesso.

“Há vários casos de crianças e jovens que acabam por passar o dia sem ir à casa de banho”, contou, por seu lado, a psicóloga Ana Silva, da Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género (AMPLOS), sublinhando que muitos “sabem que correm o risco de serem insultados ou mesmo agredidos”.

Além das casas de banho, o projeto “Escola às Cores” deu origem a dois balneários individuais e “as razões para os usar podem ser por questões de identidade de género ou não”, explicou Paula Lobo.

Dos oito utilizadores, apenas cinco alunos usam estes balneários por questões de identidade de género. Depois, há histórias de quem tem vergonha de se despir em frente aos colegas, de quem não tem as melhores condições em casa para tomar banho ou mesmo de saúde.

Também aqui, só entra um aluno de cada vez, ficando garantida a privacidade e segurança e, até hoje, “nunca houve nenhum problema”, garantiu a professora que trabalha no agrupamento há 26 anos.

Existem outras escolas onde as mudanças também estão a ser pacíficas, referiu a psicóloga Ana Silva: “Há um colégio particular em Lisboa, que teve formação sobre o assunto, e nunca houve qualquer problema. Têm este ano um aluno trans e correu tudo bem com das casas de banho ou do nome social”.

Também a Escola António Arroio, em Lisboa, é apontada como um bom exemplo pelo presidente da Amplos. O filho de António Vale é transgénero, frequentou a escola artística e “nunca teve problemas”. Mas nem todas as histórias correm bem, alertou António Vale.

Ana Sousa é mãe de dois adolescentes e a sua experiência corrobora esta ideia. Enquanto os filhos frequentaram a Frei João de Vila do Conde “correu tudo bem”, mas a mudança para outra escola, no 10.º ano, trouxe problemas ao filho mais novo que é trans.

No início do ano letivo, Ana falou com o diretor de turma, que “foi amável e recetivo, mas colocou entraves a mudar de nome”.

Já com o segundo período de aulas a decorrer, ainda há professores a tratá-lo pelo nome de nascimento. Segundo Ana Cristina, há inclusive um professor de Educação Física que chegou a tratar um outro rapaz transgénero por “princesa”.

Histórias como esta também chegam ao gabinete de Pedro Teixeira. O psiquiatra acompanha cerca de 50 jovens trans.

“As escolas são muito heterogéneas”, disse, lamentando que “existam professores provocadores”.

Para Pedro Teixeira, diretor de serviço de psiquiatria do Médio Ave e coordenador da consulta de sexologia, o diploma aprovado em dezembro pretende apenas assegurar direitos humanos e a saúde mental destes jovens que vivem em sofrimento psicológico desde muito cedo: “Imagine-se a viver num corpo errado e quando chega à escola não pode assumir a sua identidade”.

O também vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica reconheceu que existe “um preconceito cultural, fruto de um país conservador”, que leva as pessoas a “falar sem conhecimento de causa”.

Para mães como Ana Sousa era importante a promulgação do diploma, para que as famílias deixassem de estar à mercê “de quem encontram pela frente”: “É óbvio que um diploma não vai mudar mentalidades, mas pode ajudar a garantir os direitos das crianças e dos jovens, que já vivem numa angustia”.

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A NOVA FORMA DE LUTA «Amanhã» irá ser um dia memorável.

 

 

«Amanhã» irá ser um dia memorável.

Hoje iremos fazer com que «amanhã» venha a ser inesquecível, para que os nossos filhos e os nossos netos possam herdar o legado da nossa luta; para que possam viver num país melhor, porque fomos nós quem teve a coragem de o fazer acontecer.

 

Espoliados, roubaram-nos tudo; desaprendemos de lutar;aprendemos a nos resignarmos; ensinaram-nos de que não vale a pena sonhar.

Ficámos parados no mundo e o silêncio do mundo parou em nós,

fazendo-nos acreditar que o nosso sonho era impossível.

Restou-nos ficar a olhar para trás…

Mas, o simples exercício de olhar para trás tornou-seassustador, por nos mostrar como foi devastador o efeito que, duas décadas de políticas de ataque à escola pública,tiveram nas nossas vidas.

Derramaram injustiças sobre a classe docente contando que aguentaria tudo.

Impuseram, unilateralmente, um modelo de colocação de professores que espalhará desespero;

aumentaram a idade da aposentação, matando-nos em vida;

Menosprezaram os professores com doençasincapacitantes, obrigando-os a arrastarem-se;

permitiram ultrapassagens nos concursos e na carreira docente espalhando iniquidade e revolta;

admitiram um país com três sistemas, desvalorizando a Constituição e promovendo a injustiça;

criaram quotas e vagas para castigarem quem trabalha;

inventaram um método de avaliação desonroso, para humilhar quem deveria ser premiado pelo extraordinário trabalho que faz pelo país;

congelaram tempo de serviço prestado, apagando parte das nossas vidas;

excluíram-nos da participação na gestão democrática das escolas, retirando-nos o direito a termos voz;

desvalorizaram o salário e reduziram o poder de compra, tornando ainda mais difícil uma profissão dispendiosa e sem ajudas de custo;

a par de declarações injuriosas, retiraram-nos a autoridade e a segurança no trabalho, expondo-nos a todo o género deafrontas e violência nas escolas;

sobrecarregaram-nos com burocracia retirando-nos tempo para ensinar;

e mais crueldades que impuseram e tantas outras que continuarão a inventar, se nós o permitirmos.

 

Perante a nossa revolta, uma vez mais, simularam negociações com os nossos representantes e, no fim, não só não melhoraram as nossas condições laborais nem devolveram tudo o que nos tiraram, como, ainda, ficámos numa situação ainda pior.

Cometeram ilicitudes para travarem as nossas greves, a nossa liberdade e nos atemorizarem, empurrando-nos à força para dentro das escolas, com o intuito de nos silenciarem. No seu infinito desprezo pelo nosso extremo descontentamento, certificaram-se de que o «armazém» matinha as portas abertas e, depois de garantido, simplesmente, ignoraram-nos. Assim, tornou-se evidente que greves, vigílias e manifestações ao fim de semana e à porta das escolas, deixariam de resultar.

Por fim, enterraram pessoas dentro de pessoas, fechando a sua revolta a cadeado e deitaram a chave fora, para que a luta de professores passasse a ser, apenas, uma memória.

 

Destruíram a escola pública e tornaram a nossas vidas,profissional e pessoal, num inferno.

Alguém nos defendeu…?

Tiraram-nos a autoridade e a dignidade profissional.

Alguém se indignou…?

Atiraram-nos para qualquer sítio onde ninguém quer morrer.

Alguém se importou …?

Mentiram-nos e faltaram-nos constantemente ao respeito.

Será que alguém quis saber…?

 

Com o movimento sindical a anunciar tréguas até à ida às urnas de voto, surgiu mais um pretexto para os candidatos se sentirem à vontade para nos enrolarem num repertório inesgotável de retórica estéril e não se comprometerem com nada. Uma realidade que deixa antever que, depois do décimo dia de março, continuará tudo na mesma como até aqui – iremos continuar a assistir ao ataque à casa da educação e a mais humilhação dos professores.

Reconhecendo todos estes factos, é o momento de nos perguntarmos:

Quanto mais poderemos suportar…?

Até onde iremos deixá-los ir até nos dignarmos a dizer “Basta”?

Até quando estaremos dispostos a aguentar?

Até quando…?

Até hoje, até agora, até este preciso momento em que estás a ler isto e tomaste a decisão de dizer “Para mim, basta!”.

Consciente de que ontem já passou e amanhã já será tarde, o momento é agora.

Agora é o momento de parares de te lamentar e de esperares por um milagre e ires à luta resgatar o que te é devido; é agora esse momento pelo qual tanto esperaste; agora que eles têm de sair do seu olimpo dourado e descer à terra para se passearem por entre os mortais na caça ao voto, surgiu a nossa oportunidade.

ESTE É O MOMENTO DE COMPREENDERMOS QUE UM PROFESSOR, NA HORA CERTA, NO SÍTIO CERTO, USANDO AS PALAVRAS CERTAS,POR VEZES, VALE MAIS DO QUE UMA MULTIDÃO.

CONHECENDO A AGENDA DE CAMPANHA DOS PARTIDOS, QUANDO E ONDE IRÃO ESTAR OS CANDIDATOS, ESTAREMOS A AGUARDÁ-LOS.

PRECISAMENTE, PORQUE A LUTA É NOSSA, É PRECISO IR TRAVÁ-LA ONDE SABEMOS QUE IRÁ ESTAR A CLASSE POLÍTICA E CONFRONTÁ-LA PERANTE A COMUNICAÇÃO SOCIAL. SERÃO, JUSTAMENTE, ESSES ENCONTROS INESPERADOS QUE VALERÃO MAIS DO QUE MIL PALAVRAS, MIL MANIFESTAÇÕES E MIL GREVES, PORQUE SÓ ASSIM SEREMOS OUVIDOS E TEREMOS SUCESSO.

 

SEM O SABERMOS, JÁ SOMOS UM EXÉRCITODE SOBREVIVENTES, UNIDOS POR UMA SÓ VONTADE. NÓS, PROFESSORESSEM SINDICATOS, VAMOS ORGANIZAR-NOS NAS ESCOLAS E NAS NOSSAS LOCALIDADES, PARA OS RECEBERMOS SEMPRE QUE VIEREM ÀS NOSSAS TERRAS COM O INTUITO DE ESPALHAR FALSAS ESPERANÇAS.

SENDO DA SUA NATUREZA IREM A TODOS OS CANTOS ONDE EXISTA UM ESPÍRITO VIVO A QUEM POSSAM VENDER A ALMA EM TROCA DE UMA CRUZINHA DENTRO DE UM QUADRADO, EM TODOS ESSES LUGARES, OS PROFESSORES LÁ ESTARÃO À SUA ESPERA.

SEREMOS O PALANQUE ONDE IRÃO SUBIR PARA DISCURSAR, AS RUAS QUE IRÃO PERCORRER, AS PONTES QUE TERÃO DE ATRAVESSAR, OS ROSTOS QUE, TRAIÇOEIRAMENTE, IRÃO BEIJAR, AS MÃOS QUE, DISSIMULADAMENTE, IRÃO APERTAR; MAS, SOBRETUDO, SEREMOS AS PERGUNTAS EMBARAÇOSAS A QUE, DIANTE DAS CÂMARAS, TERÃO DE RESPONDER. SÓ ASSIM TEREMOS A CERTEZA DE QUE NÃO SEREMOS IGNORADOS! 

Em cada beco, rua, avenida, palanque ou pedestal, à sua frente encontrarão um de nós a lembrar-lhes o que nos devem.

Em cada comício, em cada arruada, em cada discurso, estará um de nós a enfrentá-los para saberem que temos memória e não nos esquecemos.

Em cada rosto, haverá uma história, em cada olhar uma vontade, em cada presença uma verdade que terão de encarar.

Não terão oportunidade de nos voltar a enganar, de nos prometerem o que não irão cumprir, de lançar ao vento palavras vãs, de nos despirem os últimos andrajos de dignidade que nos cobrem de razão.

 

Caros colegas, não estamos impreparados; iremos artilhados com uma arma terrível; armados com a maior de todas as armas que um ser humano pode ter – a verdade; uma verdade munida pela força da razão, desferida pela nossa boca diante de todo o país, para que todos possam saber quem mente; para podermos despir a pele de cordeiro a todo aquele que for um lobo traiçoeiro.

Só assim os conseguiremos comprometer e obrigar a dizer a verdade, para não voltarmos a ser iludidos.

Só assim é que eles, finalmente, irão querer saber…!

Só assim irão compreender que nós nunca, mas nunca, iremos desistir!

 

Pode acontecer que, sentindo que nada é impossível e que o limite é a imaginação, espontaneamente surjam novas formas de chegarmos ao nosso objetivo; um objetivo que, com determinação, será impossível não atingir.

Na verdade, por cá, ser professor, mais do que uma profissão, tornou-se num estado de alma, num sentimentoúnico, numa só vontade…

Mais do que o chão, a língua, a cultura ou o ofício que partilhamos, é seguramente este sentimento coletivo de esperança, vontade e determinação que nos une no desejo de voltar a acreditar. Porque quando começamos a acreditar, podemos mover montanhas. Porque, no fim da luta, a todos os que não acreditavam em nós e nos disseram ser impossível, vamos poder dizer-lhes “Quando todos duvidaram, eu fui lá e fiz”.

 

Esqueceram-nos durante décadas, mas a 10 de março, acreditem, seremos nós quem irá cantar vitória e a sermoslembrados por todos.

Hoje, amanhã e depois irão ser dias memoráveis nos quais iremos mudar a história dos professores, a história da Educação em Portugal e a história do nosso país.

Dias em que iremos estar de corpo e alma nesta luta, para mais tarde, com orgulho, podermos dizer aos nossos filhos e aos nossos netos “Eu fiz parte disto! Fi-lo por mim, mas, sobretudo, por ti e por todos os que hão de vir!”

(Juntos, vamos conseguir!)

Carlos Santos

 

 

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Os deveres de um professor lá fora

 

Abrir a escola, ser o primeiro a chegar e o sol ainda longe de nascer, o sol como uma vã esperança ou uma memória distante de outros tempos idos e perdidos.
A esta hora o sol não existe, só as raposas fugidias a salvo numa escuridão profunda e eterna.
Mas continuemos pois abrir a escola implica desligar os alarmes, destrancar as saídas em caso de emergência e acender as luzes.
A escola está aberta e o professor é o porteiro e recepcionista para quem não dorme, tal como o professor, ou para quem gosta de acordar cedo, culpa de um ou mais petizes dependendo do agregado familiar.
E dependendo do agregado familiar depende a fome de uma família, cabendo ao professor a frequência de um pequeno curso de higiene alimentar para poder servir os pequenos almoços, fazer torradas, servir chá com leite (e o chá sem culpa nenhuma, eu sei), barrar o pão e vocês sabem o resto excepção feita para as responsabilidades docentes extensivas à cozinha de uma escola.
Água e afins no chão e cabe ao professor armar-se de esfregona e balde não vá alguém escorregar e a responsabilidade, já sabem, é nossa. O mesmo se aplica a qualquer parte do dia.
O professor não tem direito a escolher horário e neste país, neste planeta, não existem “dias livres” para se poder ir ao mercado. O horário é o mesmo com pequenas variações de norte a sul, 25 tempos lectivos por semana dos quais 10% são para planificações e sem redução horária fruto da idade, das 8 da manhã às 3 da tarde e dos 21 anos de idade aos 68 para quem almeja a reforma por inteiro.
Os intervalos são dedicados mais uma vez a servir torradas, chá, sumos e almoços mas também a jogar à bola com os petizes enquanto se vigia o recreio ou então de plantão às casas de banho ao ritmo de dois alunos de cada vez e não mais e as casas de banho querem-se asseadas.
Toca para a entrada e o professor de serviço aos corredores indicando aos alunos as respectivas salas e os alunos a monte pelo menos durante 10 minutos sendo o professor polícia e docente ou docente e polícia em perseguição constante a foragidos sem rei nem roque.
O professor é o rei e o professor é o roque num toca e foge capaz de durar horas e os alunos a jogar às escondidas numa profissão onde a boa condição física é “sine qua non” ou o fruto de tantas horas de educação física forçada.
E quanto à aula e aos alunos à espera, pede-se a outro professor, quiçá num dos seus tempos de planificação, o obséquio de substituir o colega agora agente da lei a correr a bom correr e o telefone a tocar e os e-mails por por responder e os pais à porta a pedirem por uma reunião, agora de preferência, mais o assistente social à espera de um relatório e o relatório é sempre para ontem quando não é a polícia, a verdadeira polícia, a entrar em contacto também eles à procura do paradeiro de uma das nossas crianças.
Toca para a saída às 3 da tarde e o professor de serviço às paragens de autocarro de modo a garantir a boa conduta cívica de quem agora se dirige para casa. O professor não vai para casa e escuso de comentar a conduta cívica ou a sua vontade.
O fim do dia é dedicado ao preenchimento de relatórios tendo em conta o comportamento de cada aluno. E depois tudo o resto, a começar desde já pelas aulas por planear não fosse a substituição do colega por uma ou mais horas sem esquecer os relatórios para ontem mais os e-mails e telefonemas e os pais esquecidos na recepção acabaram por fazer uma queixa e o professor é o responsável.
Por fim, o professor é o ultimo a sair da escola sendo preciso trancar a mesma, fechar janelas, desligar luzes, ventoinhas, radiadores, ares condicionados e torneiras, inspeccionar as casas de banho e assegurar não estar mais ninguém na escola, ligar o alarme e fugir a bom fugir em 30 segundos pela porta principal, fechada de imediato.
Catorze horas depois de sair de casa, o professor regressa ao lar querido lar e verifica o telefone: 8 chamadas por responder e alguém fechado na escola a sete chaves, escondido a um canto e ainda a planificar.
O professor volta a montar na bicicleta e regressa ao trabalho.

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Começou… É agora ou nunca!

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São as Orientações da DGAE

não considerar a recuperação da última avaliação para efeitos de contagem das avaliações.
O que é ilegal.

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Nas escolas está tudo bem, certo?

Arrisco afirmar que, no momento actual, todos os Professores que exercem funções nos Ensinos Pré-Escolar, Básico e Secundário da Escola Pública já foram prejudicados em algum momento da sua Carreira, ou em vários, independentemente da situação profissional em que cada um desses Professores se encontre e da muita ou pouca experiência que possa ter enquanto Docente…

Por certo, todos terão motivos para se poderem sentir insatisfeitos, injustiçados ou frustrados, o que não poderá deixar de se considerar como extraordinário, sobretudo se pensarmos que, no presente, existirão mais de 150.000 indivíduos a exercer funções docentes no Ensino Público (Pordata, dados relativos ao ano de 2022)…

E, neste caso, a expressão todos também significa muitos

E significa, ainda, que o desânimo, a tristeza e a desmotivação vão consumindo e tomando conta de uma classe profissional numerosa que, ao longo dos últimos anos, foi reiteradamente desrespeitada e humilhada…

A Carreira Docente, actualmente afectada por quotas, afunilamentos, vinculações, reposicionamentos, concursos, travões, progressões, ultrapassagens, acelerações, congelamentos, avaliações de desempenho e mais um infindável número de outras manigâncias e malabarismos concebidos pela Tutela ao longo dos últimos anos, encontra-se em frangalhos…

A Carreira Docente encontra-se em frangalhos, já não aparenta, em stricto sensu, ser uma Carreira, apresentando-se antes como uma “manta de retalhos”, constituída por muitos pedaços desalinhados e incombináveis, executada de forma atabalhoada, sem preocupações de coesão ou de harmonia entre as partes que a compõem…

Depois de tantos malabarismos, ilusionismos e contorcionismos impostos pela Tutela já não há margem para qualquer coerência, unidade, equidade ou justiça numa Carreira cujas virtudes dificilmente alguém reconhecerá…

A Carreira Docente transformou-se num emaranhado de procedimentos tão confusos e tortuosos que até os próprios Professores têm, por vezes, dificuldades em compreender e dominar tais hermetismos…

Como se isso não bastasse, uma parte significativa daquela que é hoje a Classe Docente sofre, desde 2017, os efeitos ruinosos de um roubo inédito em Portugal, nunca visto noutras classes profissionais…

Com implicações definitivas e prejuízos irrecuperáveis na Carreira, o Governo de António Costa não teve qualquer reserva em prejudicar gravemente a Classe Docente:

– Mais de nove anos de tempo de serviço foram sonegados aos Professores, sem que essa decisão tenha tido, até hoje, alguma explicação aceitável do ponto de vista racional…

– Na realidade, os Professores foram roubados porque o Governo da altura assim o quis… E dificilmente se poderá encontrar outra explicação que não passe pela discricionariedade dessa decisão…

– A inadmissível chantagem realizada por António Costa em 2019, ameaçando com a demissão do Governo, se a Assembleia da República aprovasse o Diploma que previa a recuperação integral do tempo de serviço dos Professores, ilustra bem a obstinação de lesar essa classe profissional…

– Em 2024, continuam por recuperar 6 anos, 6 meses e 23 dias do tempo de serviço, roubados em 2017

A transformação da Carreira Docente numa amálgama de partes sem coerência entre si, a barafunda de quotas, afunilamentos, vinculações, reposicionamentos, concursos, travões, progressões, ultrapassagens, acelerações, congelamentos, avaliações de desempenho e mais um infindável número de outras manigâncias e malabarismos concebidos pela Tutela terá tido como plausível objectivo fomentar a desunião e a discórdia entre Professores…

Da parte da Tutela, o objectivo de fomentar a desunião e a discórdia entre Professores parece ter sido alcançado com êxito e, pior ainda, algumas vezes, com a participação activa dos próprios Professores…

A forma como, dentro da Classe Docente, muitas vezes se hostilizam os pares, depreciando-os a propósito dos mais variados acontecimentos, demonstra bem que a indignação, a frustração ou o descontentamento são facilmente projectados e direcionados para os colegas de profissão…

Demasiadas vezes, os Professores parecem embrenhar-se em querelas autofágicas, travando algumas lutas fratricidas, cujo resultado mais óbvio acaba por ser a divisão insanável e permanente dessa classe profissional…

Enquanto os Professores estiverem entretidos com competições supérfluas e quezílias internas, bem poderão continuar os desvarios da Tutela…

Contudo, seria fácil boicotar vários desses desvarios, se os Professores estivessem predispostos a isso, mas a muitos parece faltar a coragem e o ânimo necessários para o concretizar…

Imagine-se, por exemplo, o “rebuliço” que se poderia causar na Avaliação do Desempenho Docente se Avaliadores e/ou Avaliados recusassem participar no logro das “Aulas Observadas” ou se todos os Avaliadores atribuíssem a classificação máxima aos seus Avaliados… O sistema aguentaria ou o seu colapso seria a consequência mais óbvia?

Mas quando se fala em divisão insanável e permanente, em desunião e discórdia entre Professores, é impossível não falar também dos Sindicatos que supostamente os representam…

De modo geral, os Professores olham para os Sindicatos de Educação e dificilmente vislumbram algum em que consigam confiar sem relutâncias ou que possa ser percepcionado e sentido como um autêntico Sindicato de todos os Professores…

Nos últimos anos, apenas o STOP, no início da sua actividade, pareceu capaz de alcançar esse feito, mas lamentavelmente também acabou “moribundo” e desacreditado…

No momento actual, os Sindicatos parecem ter “hibernado”, talvez remetidos ao conforto das “poltronas douradas”, como se nas escolas estivesse tudo bem ou como se não existissem motivos para contestações ou reivindicações…

No momento actual, os Professores olham para os Sindicatos que supostamente os representam e parecem considerá-los como sinónimos de submissão à Tutela, inércia e muita encenação, todos culminando na aceitação e na manutenção do statu quo

Pelo que se viu ao longo dos últimos anos, parece claro que os Sindicatos de Educação dificilmente manifestarão a vontade de alterar “o estado actual das coisas” porque eles próprios fazem parte do “estado actual das coisas”…

Há muitos anos que os Professores se queixam dos mecanismos de progressão na Carreira, em particular da Avaliação do Desempenho Docente, e do actual modelo de Administração e Gestão Escolar…

Quantas acções concretas e eficazes, capazes de suscitar a adesão maciça dos Professores, foram empreendidas pelos Sindicatos no sentido de forçar a alteração, ou até mesmo a revogação, desses paradigmas?

Paradoxalmente, os Sindicatos de Educação também não têm servido para aglutinar e unir os Professores, constituindo-se, eles próprios, como focos de desunião docente…

Em vez de capitalizarem a insatisfação generalizada que grassa na Classe Docente em prol da união de classe profissional, têm vindo a desbaratar qualquer hipótese de concretizar essa convergência…

Quando existem, a “revolta” e a “indignação” dos Sindicatos face à Tutela costumam durar muito pouco tempo, como ilustra este emblemático exemplo:

– Em 15 de Maio de 2023, a FENPROF abandonou a reunião com o Ministério da Educação, que fazia parte da negociação suplementar, solicitada pelos próprios Sindicatos;

Após a saída, intempestiva, dessa reunião, o líder da FENPROF, Mário Nogueira, qualificou o que se passou nesse dia como: “Indecente, inaceitável, revoltante e um nojo” (Jornal Observador, em 17 de Maio de 2023), manifestando a sua indignação pela postura do Ministério da Educação;

Em 17 de Maio de 2023, a propósito dessa reunião, Mário Nogueira terá, ainda, afirmado: “Fomos figurantes de teatro” (Jornal Observador, em 17 de Maio de 2023), referindo-se às peripécias da reunião do dia 15 de Maio com o Ministério da Educação;

A acreditar nessas afirmações de Mário Nogueira, infere-se que a atitude do Ministério da Educação foi interpretada como uma afronta às estruturas sindicais;

 

Contudo, e passado menos de um mês, a FENPROF pediu a reabertura do processo negocial com a Tutela, conforme consta na Carta Aberta dirigida ao Ministério da Educação por essa estrutura sindical (Site oficial da FENPROF, em 12 de Junho de 2023);

Portanto, em menos de um mês, os alegados “figurantes de teatro”, não satisfeitos com a humilhação a que já tinham sido sujeitos, solicitaram, eles próprios, a reposição da mesma “peça de teatro”…

Que seriedade poderá ser atribuída a um Sindicato que pediu a continuação do mesmo “folhetim”, logo a seguir a ter qualificado a atitude da Tutela como “indecente, inaceitável, revoltante e um nojo”?

Segundo as estimativas dos próprios Sindicatos terão estado presentes na Manifestação de 11 de Fevereiro de 2023 em Lisboa mais de 150.000 profissionais de Educação, na sua maioria Professores…

 

Mas a “maior manifestação de sempre de Professores”, conforme propalado pelos Sindicatos, acabou por não ter reflexos concretos na acção posterior das estruturas sindicais, que não souberam, ou não quiseram, tirar proveito e rentabilizar a força de união e a mobilização, conquistadas por esse evento…

Portanto, tanto faz reunir 150.000 pessoas como 15.000, que o resultado final será sempre o mesmo: muito folclore mediático, muita cobertura televisiva, mas no dia seguinte volta tudo ao mesmo e os Sindicatos continuarão a desempenhar o seu papel de parceiros condescendentes da Tutela e de elementos indefectíveis do statu quo…

E agora?

Agora, a menos de dois meses das eleições legislativas, enquanto outras classes profissionais evidenciam a sua identidade e a sua união, aproveitando a oportunidade para protestar publicamente, tentando dessa forma obter determinados dividendos, a maioria dos Professores e os Sindicatos que supostamente os representam estão remetidos ao quase silêncio, contentando-se com uma “paz podre”, como se tudo estivesse bem, dentro da cada escola…

Nas escolas está tudo bem, certo?

Paula Dias

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