4 de Janeiro de 2024 archive

A mudança de chip na educação – José Afonso Baptista

 

 

Nos meus remotos tempos de metodólogo, na área da Didática das Línguas Estrangeiras, uma professora à beira da reforma confessou-me as suas angústias, consciente de que não ensinava de acordo com as últimas orientações. Estávamos na transição do “método tradicional”, assente na leitura e tradução de textos de autor, para o “método direto”, que privilegiava a comunicação oral e escrita do dia a dia. Perante as circunstâncias, o meu conselho foi simples: “ensine como sabe ensinar bem e como se sente segura”.

Muitos professores vivem hoje o mesmo dilema. As tecnologias geradas pela 3ª Revolução Industrial viraram o mundo do avesso e quem sempre navegou em águas tranquilas tem receio de se arriscar entre ondas alterosas. Se um professor hoje, nas mesmas circunstâncias, me fizesse a mesma pergunta, eu não saberia responder. Como se converte um professor nascido e formado no mundo analógico para ensinar crianças e jovens que nasceram e cresceram no mundo digital?

Estamos a entrar n 4ª Revolução Industrial, tecnologias desconhecidas do grande público, mas muito focada na Inteligência Artificial, que assusta, gera inquietações, desconfianças, ameaças e perigos. A Inteligência, a marca exclusiva do ser humano, o que pensa e define o rumo, está agora ao alcance de uma máquina, retirando o humano do seu pedestal de ser superior. Confiança e insegurança frequentam agora as mesmas salas na escola.

O digital é uma passagem obrigatória. Não depende da escola, é o mundo em que vivemos. Não é a escola que decide se o futuro será em livro, no papel, ou no computador. Todos sabemos a resposta, mas as memórias, os afetos, os sentimentos de quem aprendeu nos livros dos seus encantos tem dificuldade em conceber a escola noutro formato. Os livros da infância são tesouros guardados na memória.

Recentemente, uma professora formada à margem do digital e das suas tecnologias receava que o deslumbramento com o computador e o smartfone, e agora a IA, fechassem a porta à leitura em geral e muito particularmente dos “clássicos”, dos consagrados da nossa literatura. E acrescentava, e bem, que os múltiplos canais de televisão, incluindo a RTP, do Estado, eram absorvidos pela publicidade, pelos jogos de futebol, pelos longos programas de discussão e análise aos jogos, pelas telenovelas, pelo big brother e outros programas que esvaziam a cultura e aumentam o embrutecimento das populações. “Programas de xaxa”, concluía. Perguntei-lhe, com cautela, o que é que a sua escola fazia para atenuar este descaminho.

As escolas estão exaustas, incapazes de fugir aos programas obrigatórios e aos exames que controlam o cumprimento dos programas, fustigadas por greves “dia sim, dia não”, e com a fuga crescente de professores. Tinha razão, muitas escolas acusam o cansaço e sentem a humilhação de não poderem dar a resposta desejada. Os professores, acrescentava, são hoje a classe mais desprezada. É triste dizer, mas há muito tempo que não leio um livro pelo prazer de ler.

E pensei, uma escola que não lê nem estimula a necessidade e o gosto de ler terá mais a ver com um programa de big brother do que com um espaço onde se formam pessoas, onde se constrói o saber e se estimula o pensamento crítico, onde se trocam experiências, onde se promove a partilha e a solidariedade, onde se constrói o mundo em parcerias que se unem e completam. A leitura é a base de sustentação da escola, sem leitura não há escola.

A crise de leitura não é um fenómeno português, sente-se e sofre-se em geografias variadas. No Reino Unido, o dia nacional da leitura celebra-se a 12 de abril para lembrar as famílias que a leitura é uma prioridade. O título do evento é original e estimulante: DEAR: “Drop Everything and Read,” (Para tudo e lê), e muitas escolas, sentindo que os seus atores deixaram de ler, fizeram do DEAR um programa diário, determinando que a uma certa hora do dia tudo para na escola, permitindo a todos, – alunos, professores, administrativos e auxiliares -, ler durante um período variável, entre 10 minutos a uma hora.

Ler é uma prioridade. Um dos estímulos adotados em muitas escolas é o de comprometerem as crianças e jovens a lerem um livro de sua escolha por semana. Leem em casa, mas na escola são convidados a dar conta da sua leitura, numa breve apresentação e apreciação. As bibliotecas estão apetrechadas para dar resposta aos pedidos dos alunos e o Plano Nacional de Leitura, entre nós, tem sugestões e orientações para todas as idades. Quando me pedem conselho para aprender a ler e escrever bem, a minha primeira “receita” é simples: “Para ler e escrever bem, é preciso ler muito e escrever muito”. No papel ou no ecrã? É irrelevante. Importa lembrar que nunca se escreveram nem leram tantos milhões de mensagens como se escrevem nos smartfones. E que hoje todos os jornais, mesmo os que ainda circulam em papel, têm o universo de leitores online como nunca atingiram em papel. Este é o futuro previsível da escola. Daí não virá mal ao mundo se continuar a ser um local de encontro, de convívio, de partilha, de cooperação, de solidariedade, de afetos.

José Afonso Baptista | Ciências da Educação | As Beiras 2024.01.04

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Análise Correta a da Fenprof

Na qual aqui já tinha dado conta. No artigo de ontem tinha contabilizado 253 horários em concurso.

 

FENPROF reafirma os números que divulgou em Conferência de Imprensa

 

A FENPROF divulgou ontem, em Conferência de Imprensa, que em janeiro as aulas recomeçariam com cerca de 40 000 alunos sem professores a todas as disciplinas. O ME “respondeu”, ainda ontem, que na semana passada, última de dezembro, seriam apenas 1161 os alunos que não tinham os professores todos. A FENPROF fez referência ao mês de janeiro porque não se dedica a contabilizar o número de professores em falta nos períodos em que as escolas estão sem aulas.

Para que não restem dúvidas sobre os números, recorda-se que:

  • O levantamento que a FENPROF efetua semanalmente tem por referência o número de horários que as escolas lançam na plataforma da DGAE para efeitos de contratação de escola;
  • Com base nessa fonte de dados, antes da interrupção letiva, o número de horários apontava para, pelo menos, 32 000 alunos sem todos os professores;
  • A partir da semana que antecedeu a interrupção letiva, as escolas deixaram de lançar horários na plataforma, pois não faria sentido contratar docentes para um tempo em que as escolas estariam sem aulas e foram essas as determinações da Tutela;
  • Ainda assim, o número de horários lançados a contratação de escola na semana que terminou em 29 de dezembro (submetidos, apenas, nos dias 27, 28 e 29) foi de 139, correspondendo a 1686 horas, o que significa que, se houvesse aulas, seriam 8500 e não 1161 os alunos sem todos os professores;
  • Será, contudo, a partir de agora que as escolas voltarão a colocar a concurso os horários que ainda não conseguiram preencher, em alguns casos desde o princípio do ano;
  • Às situações que estavam a provocar esta falta de professores no início de dezembro, junta-se, agora, a aposentação de 805 docentes só em dezembro e janeiro.

Portanto, infelizmente, os números não são os divulgados pelo Ministério da Educação, ainda que os seus responsáveis considerem que faltar um professor entre três semanas e um mês não se pode considerar falta de professor… ou prefiram contabilizar a falta de professores nos períodos em que não há aulas.

A FENPROF reitera que a resolução deste problema não passa por medidas que o disfarcem, mas pela valorização da profissão, de forma a torná-la atrativa para os que a abandonaram, para os que pensam abandoná-la e para os jovens que fazem as suas opções, após a conclusão do secundário.

 

Lisboa, 4 de janeiro de 2024

O Secretariado Nacional da FENPROF

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E a Lei 1 de 2024 é?

…uma Lei lógica, mas transitória, tendo em conta os atrasos que existem nas Juntas Médicas de avaliação de incapacidade.

 

Regime transitório de emissão de atestado médico de incapacidade multiúso para doentes oncológicos e pessoas com deficiência 

 

Artigo 2.º

Atestado médico de incapacidade multiúso para doentes oncológicos

1 — Os doentes oncológicos recém-diagnosticados beneficiam de um procedimento especial de emissão de atestado médico de incapacidade multiúso, com a atribuição automática de um grau de incapacidade mínimo de 60 %, por um período de cinco anos, a contar da data do diagnóstico.

2 — O atestado médico de incapacidade multiúso a que se refere o número anterior é da responsabilidade do hospital onde o diagnóstico foi realizado, sendo competente para a sua emissão e para a confirmação do diagnóstico um médico especialista diferente do médico que segue o doente, e tem a duração de cinco anos, a contar da data do diagnóstico.

3 — Os doentes oncológicos, cujo diagnóstico tenha ultrapassado o período inicial de cinco anos e que necessitem de reavaliação, continuam a beneficiar do grau de incapacidade de 60 % até à realização de nova avaliação.

 

Artigo 3.º

Atestado médico de incapacidade multiúso para pessoas com deficiência

Para efeitos de benefícios sociais, económicos e fiscais, a validade dos atestados médicos de incapacidade multiúso, emitidos nos termos do n.º 2 do artigo 4.º do Decreto -Lei n.º 202/96, de 23 de outubro, é prorrogada até à realização de nova avaliação, desde que acompanhados de comprovativo de requerimento de junta médica de avaliação de incapacidade ou, quando aplicável, de junta médica de recurso para a correspondente reavaliação, com data anterior à data de validade.

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Tanto Milhão Para Tão Poucas Escolas

Lançado Aviso PRR de 450 milhões de euros para Programa Escolas

 

 

O Aviso PRR hoje publicado encontra-se aberto até ao próximo dia 29 de março, tem como meta a construção ou renovação de 75 escolas e apresenta a seguinte distribuição por CCDR, I.P.: 125 milhões de euros para a CCDR Norte; 150 milhões para a CCDR Centro; 125 milhões para a CCDR Lisboa e Vale do Tejo; 20 milhões para a CCDR Alentejo e 30 milhões para a CCDR Algarve. 

 

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Um Enorme Problema para Breve

Escolas preparam exames digitais obrigatórios no 9.º ano com computadores “obsoletos” ou “avariados”, internet “lenta” e sem técnicos de informática

 

Ainda sem terem sido tornados públicos os resultados das provas de aferição em formato digital, que se realizaram em maio de 2023, as escolas preparam os exames do 9º ano também em suporte digital. Com uma diferença: se as provas de aferição não têm peso na classificação dos alunos, os exames nacionais do 9º ano contam para nota. Os professores alertam que as escolas não estão preparadas e os pais prometem estar atentos

 

Ana Paula Frederico é professora de matemática do 3.º ciclo do Ensino Básico. Por estes dias, apesar de o ano civil estar nos primeiros dias, no seu pensamento e no dos seus alunos do 9.º ano da Escola Secundária Sebastião da Gama, em Setúbal, estão já os últimos dias do ano letivo que agora entra na segunda metade. Ana Paula prepara já os alunos para os exames nacionais do 9.º ano, que se realizam em junho, contam para a classificação e vão ser feitos este ano pela primeira vez em formato digital. Um fator que acrescenta ansiedade a professores e alunos.

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