21 de Janeiro de 2024 archive

E se houvesse 83% de votos em branco, nas próximas eleições?

 

A menos de dois meses das eleições legislativas, o espectro partidário português mais parece um deserto, tornando-se difícil acreditar e confiar nos Partidos Políticos que serão alvo de escrutínio, sem esquecer os respectivos líderes partidários, candidatos ao cargo de 1º Ministro:

– Independentemente das ideologias políticas que pretensamente possam estar subjacentes a cada um dos Partidos Políticos, o espectro partidário português apresenta-se, no momento actual, como estéril, vazio, seco, árido, desolado, inóspito, a fazer temer o pior após o próximo dia 10 de Março…

– Com franqueza, no momento actual, nenhum Partido Político parece capaz de suscitar a confiança plena dos cidadãos portugueses, tal é o grau de descrédito que poderá ser apontado a todos os Partidos Políticos, quer se auto-designem como sendo de Esquerda ou de Direita…

E essas desconfianças têm vindo a acentuar-se de tal forma que chega mesmo a atenuar-se a convencional polarização Esquerda-Direita, que assim vai perdendo sentido…

São todos iguais”, ouve-se frequentemente…

E, neste caso, serem todos iguais, significa, sobretudo, que são todos igualmente maus…

Por outras palavras, intitulando-se como sendo de Esquerda ou de Direita, nenhum Partido Político actual parece conseguir convencer, sem reservas, os eleitores portugueses, nem ser capaz de os mobilizar, fazendo-os sair de casa para exercerem o seu direito de voto…

De modo geral, a classe política está descredibilizada, recaem sobre si as mais variadas suspeitas, isso percebe-se e está bem patente na vox populi, ouve-se todos os dias, nos mais variados lugares…

“Mais do mesmo” parece ser o mais provável que se pode esperar, ganhe quem ganhar o sufrágio agendado para o dia 10 de Março, tal é o marasmo que acomete os Partidos Políticos…

Perante tal cenário, e como forma de protesto, o que apetecia mesmo era votar em branco ou anular o boletim de voto, pela escrita de mensagens dirigidas aos Partidos Políticos…

Mas aí teríamos um problema:

No sistema eleitoral português, mesmo que os votos brancos e/ou nulos fossem superiores aos votos nas candidaturas, isso não teria qualquer implicação ou reflexo no apuramento do número de votos obtidos por cada candidatura, conforme consta no Site da Comissão Nacional de Eleições:

 

– “Os votos em branco, bem como os votos nulos, não sendo votos validamente expressos, não têm influência no apuramento do número de votos obtidos por cada candidatura e na sua conversão em mandatos. Ainda que o número de votos em branco ou nulos seja maioritário, a eleição é válida e os mandatos apurados tendo em conta os votos validamente expressos nas candidaturas.”

Portanto, em termos de consequências formais e institucionais, não adiantará de muito votar em branco ou anular o voto, o que me parece absolutamente lamentável e injustificável, sobretudo por, em lato sensu, contrariar a própria definição de Democracia Participativa e Representativa…

Se alguém se dá ao trabalho de se dirigir a uma urna de voto para expressar a sua avaliação e o seu juízo votando em branco ou anulando o seu voto, isso terá um significado muito concreto, impossível de ignorar em termos de interpretação:

– Nenhum dos Partidos Políticos a sufrágio merece a confiança e o respeito daquele eleitor, que prefere não votar em nenhum deles e usar o seu voto como protesto… Mas, e ainda, assim, saiu de casa para ir votar, o que não poderá deixar de se considerar como uma forma de exercício da Democracia e da Cidadania…

Quando os Partidos Políticos e os respectivos líderes não conseguem ter a lucidez de perceber que não suscitam a confiança da parte dos seus concidadãos, deixando-os numa encruzilhada, num beco de difícil saída, por não existirem alternativas suficientemente convincentes, a resposta a isso deveria ser o voto em branco…

Se a percentagem de votos em branco tivesse consequências ao nível dos mandatos apurados, talvez os Partidos Políticos “acordassem” e passassem a preocupar-se mais com o grau de honestidade com que enfrentam um acto eleitoral…

Um acto eleitoral não pode ser visto como um evento banal, comezinho, ou como algo insignificante, sem grande importância… Um acto eleitoral é, por excelência, a principal forma de exercer a Democracia e deve ser respeitado por isso…

No “Ensaio sobre a Lucidez”, José Saramago conta-nos uma história que se desenrola em torno dos votos em branco e da forma como essa via foi usada por determinados cidadãos para manifestarem a sua revolta e a sua insatisfação:

A história deste ensaio passa-se num país não identificado (mas com clara referência a Portugal), onde há eleições autárquicas e, nessas eleições o voto em branco chega aos 70% na capital do país. Repete-se a eleição e o problema aumenta: o voto em branco atinge os 83%.” (JornalismoPortoNet, em 31 de Março de 2004)…

Sobre o anterior, José Saramago terá afirmado: “Não há governo no mundo que esteja preparado para esta situação”. (JornalismoPortoNet, em 31 de Março de 2004)…

Decorrente dessa afirmação, pergunto-me:

O que sucederia se nas próximas eleições legislativas houvesse 83% de votos em branco?

Indisfarçavelmente, gostaria muito de poder assistir a isso… Haveria de dar que pensar…

E até consigo imaginar a atrapalhação e o desconcerto do Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, perante um acontecimento semelhante…

Havia de ser engraçado…

Imaginar ainda é possível e dizem, até, que faz muito bem ao Pensamento…

Então, imaginemos…

Paula Dias

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ESCOLA PÚBLICA – António Galopim de Carvalho

Começo por reafirmar, o que já aqui escrevi muitas vezes, que considero os professores, incluindo educadores, entre os mais importantes pilares da sociedade e, uma vez mais, que é necessário e urgente conferir-lhes o estatuto, a atenção e a dignidade compatível com essa importância.
A par das minhas obrigações profissionais, sempre mantive estreita ligação com a escola pública e os seus professores. É com estes que sempre alinhei e continuarei a alinhar enquanto tiver voz. A luta dos professores, numa determinação e intensidade nunca vista, tem trazido, ao de cima, a degradação a que chegou este grande sustentáculo de qualquer sociedade democrática que, entre nós, dá pelo nome de Escola Pública.

Antes de me pronunciar por esta luta que, a todas as horas, (com mais evidência, no passado ano de 2023) nos entrou em casa, através de todos os canais de televisão nacionais, detenhamo-nos na referida degradação, afirmando, desde já, que não me move agradar ou desagradar a quem quer que seja. Estou apenas a revelar a análise que faço de um problema nacional que a todos deve preocupar, e muito.

Não é demais lembrar que, à semelhança do que se passou com a Primeira República, a classe política, no seu todo, a quem os Capitães de Abril, há quase 50 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada” entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente, entre outras realidades, de facultar conhecimento, civismo, cidadania, em suma, à sociedade que libertou. Entre os sectores da vida nacional que muito pouco beneficiaram com esta abertura à liberdade e à democracia está a educação. E, aqui, a escola falhou completamente. Se não mudarmos grande número dos paradigmas que têm sido os nossos, não merecemos os cravos que os militares de Abril nos ofereceram.
A degradação do nosso ensino público é uma deplorável e angustiante realidade. Todos sabemos que se alargou a escolaridade obrigatória e gratuita até ao 12º ano. E isso foi bom. Foi, mesmo, muito bom. No meu tempo, a escolaridade obrigatória e gratuita era a chamada 3ª classe (actual 3º ano). Todos sabemos que o parque escolar deu um grande pulo em frente, comparativamente ao de um passado que nos envergonhava. Mas a verdade é que não chega. Está “a léguas” de chegar.
A iliteracia cultural e científica, mesmo aos níveis mais básicos, de uma parte importante da nossa população, a todos os níveis socioprofissionais, a sucessiva e elevada abstenção em actos eleitorais, assim como a irracionalidade e violência associada ao futebol, são a prova provada desse falhanço. São muitos os portugueses a quem a escola deu e continua a dar diplomas, mas não deu e continua a não dar a educação, a formação e a preparação essenciais a uma cidadania plena. Educação, formação e preparação, três grandes défices que o Dr. António Costa, em começos do seu mandato, como Primeiro-Ministro, em 2015, disse serem sua grande preocupação. Preocupação que, infelizmente, pouco passou das palavras.

Verdadeiros défices na educação, na formação e na preparação para uma cidadania plena abriram as portas a um populismo, a que a democracia deu voz e que, usufruindo da liberdade dessa mesma democracia, nos procura arrastar para um modelo de sociedade que a História já mostrou que sempre nos amordaçou, com consequências funestas.
No que respeita o nível e a exigência de ensino nas nossas escolas, não aprendemos nada com o ideal da Instrução Pública posto em prática na Primeira República. No preâmbulo do Decreto de 29 de Março de 1911, lê-se: “Portugal precisa de fazer cidadãos, essa matéria-prima de todas as pátrias”.

Pergunto muitas vezes que infelicidade caiu sobre uma significativa parcela do nosso povo, que rejeita, com o sorriso da ingenuidade ou da iliteracia, tudo o que convide a pensar, a reflectir sobre si mesmo e sobre o que o rodeia. Um mundo, tantas vezes, nas mãos de políticos incompetentes e oportunistas de que a nossa sociedade está cheia, onde, de há muito, impera a corrupção, o vírus do futebol profissional e a promiscuidade entre a política, o poder económico e a justiça. Uma parcela que bebe toda a alienação que lhe é servida de bandeja por uma comunicação social, em grande parte, prisioneira de interesses ligados ao grande capital.

Com base nas classificações (os “rankings”, como se tem dito) oficialmente divulgadas, é para mim claro que escolas públicas más e alunos maus, em quantidade preocupante, são, entre nós, uma vergonhosa realidade. Uma realidade que põe a nu a muito pouca atenção que tem sido dada a este sector, por parte dos sucessivos governos do Portugal de Abril. Para vergonha nossa, estas classificações são cada vez mais preocupantes, mesmo contando com a desnatação dos programas e as facilidades nos exames. Percebe-se, assim porque é que continuamos na cauda da Europa.

Todos sabemos que há boas e excelentes escolas públicas, que há bons e excelentes professores, mas o essencial do problema que temos de enfrentar reside na quantidade preocupante de escolas más, professores maus e de alunos maus.

Grande número de pais ou encarregados de educação não estão à altura das suas responsabilidades. Pais e encarregados de educação, já instruídos e educados no pós-Revolução de Abril, a quem a escola deu, igualmente, muito pouco
Estamos a assistir à destruição do futuro dos nossos filhos e netos e as causas não são difíceis de encontrar. Urge, pois, encontrar uma verdadeira e interessada política de Educação.

Na longa luta que vêm travando os professores denunciam estarem a viver asfixiados em ganga teorética sem fundamento científico, vazio de conteúdos; denunciam estarem a perder o estímulo e a assistiram à desvalorização do acto de ensinar, à inflação de notas e à criação de resultados fictícios para mostrar à OCDE.
A oitava ronda do PISA, mostrou que, em trinta países, Portugal ocupa o último lugar na literacia científica, o 29.º resultado em Matemática e o 24º, em leitura. Resultados que nos envergonham e que confirmam as minhas preocupações. Ando a dizê-lo, há décadas, e estes números vêm dar-me razão. Tal como está, a Escola pública, na sua imensa maioria não permite sair desta situação.
Os resultados do PISA trazem ao de cima uma geração de adolescentes sem interesse pelo saber, ignorantes de quase tudo, mergulhados a fundo nos seus smartphones, vítimas de reformas educativas que lhes diminuíram ou retiraram a capacidade crítica, em que o rigor foi substituído pela facilidade. A diluição de disciplinas como História, Filosofia e Literatura, são disso testemunho. Atrevo-me a dizer que já temos uma geração de futuros profissionais com responsabilidade nos mais variados sectores da vida nacional, que nada leram, mal sabem escrever e pergunto-me se exercitaram o acto de pensar.
Uma geração educada pelos tik-tokers (com milhões de seguidores) que não sabe escrever português, nem interpretar um qualquer texto que se lhe apresente, cujos pais apenas desejam que os filhos tenham aprovação e, se possível, com boas classificações.
As direcções das escolas são pressionadas no sentido de facilitar as aprovações e os professores são convidados a agirem em conformidade. Reprovar um aluno representa, para o professor, e para os professores do conselho de turma, ter de a justificar essa decisão, depois de elaborar e aplicar planos e medidas burocráticas (de eficácia nula) que mais parecem um castigo aplicado aos docentes, a que eles fogem subindo as notas.

É por demais evidente que o ministro João Costa ia para a mesa das negociações com os representantes dos professores, bem ciente das “linhas vermelhas” que não podia ultrapassar ou, melhor dizendo, que o ministro das Finanças ou o primeiro-ministro lhe impunham. Mas o que me vem à ideia, é que ele as aceitou, porque, caso contrário, teria “batido com a porta” e não o fez. Entretanto, o governo caiu, Pedro Nuno Santos é novo Secretário Geral do Partido Socialista, candidato a primeiro-ministro da próxima Legislatura, com boas perspectivas de ganhar e o preocupante é que o ainda ministro João Costa, já está colado a ele.

O drama é que não vejo em qualquer das duas forças políticas que irão formar governo, ninguém com o perfil profissional e a força necessária para demolir o edifício obsoleto da Educação e, em seu lugar, fazer surgir um outro, concebido e levado a cabo, numa profícua colaboração entre governos e oposições, para durar três ou mais legislaturas e que envolva gente verdadeiramente capaz de o concretizar. Desta vez, será necessário ouvir os professores (os que não temem ser avaliados a sério, e são muitos) e dar início a uma campanha poderosa, com base na verdade e no dever patriótico, que entre na poderosa “máquina ministrial”, melhore o que tiver de ser melhorado e varra o que tiver de ser varrido.
Todos sabemos e os governos também sabem que a mola real de uma verdadeira e eficaz política de Educação reside na dotação orçamental que lhe é destinada e que tem de ser (ou devia ser) adequada à importância deste sector na sociedade. Da satisfação desta necessidade dependem a resolução e/ou a melhoria de todas as situações e problemas do sector, de há muito, identificados.
A preparação de professores devia ser pensadas de molde a oferecer níveis de excelência compatíveis com a sua importância na sociedade, oferecendo saídas profissionais adequadamente remunerados.
O actual sistema de avaliações, demasiado injusto, não ajuda a elevar o nível do ensino. Avança-se por quotas e não por mérito. Praticamente, nada avalia. Propostas de avaliações a sério têm sido rejeitadas por parte dos muitos que não querem ou receiam ser avaliados. Neste capítulo, os maus professores, que os há e não são assim tão poucos, os tais que recusam as avaliações a sério e veem na Escola um emprego assegurado até à aposentação, têm contado com o apoio dos sindicatos, que põem ao mesmo nível os bons e os maus profissionais;
É preciso pôr em prática uma rigorosa supervisão científica e pedagógica dos manuais escolares. São muitos os que se repetem acriticamente, com noções estereotipadas e, por vezes, com erros, tantas vezes denunciados.
A escola progressivamente mais empobrecida, deixou de ser uma “comunidade educativa”. É o ministério que define tudo sobre objectivos, matérias e conteúdos. Os agrupamentos de escolas dispõem de uma mecânica que obriga muitos professores a correrem de umas para outras, sem trabalho em equipa. Os professores consomem muitas horas em reuniões inúteis, mas poucas dedicadas ao trabalho lectivo que devia ser o seu múnus, para além das que se destinam às avaliações, em que não podem avaliar com o rigor que devia exigir-se, independentemente de os alunos transitarem de ano ou não. só reúnem para dar as avaliações.
A carga burocrática que se abate sobre os docentes, em planos arrevesados descritivos de metodologias e estratégias, «adaptações» de critérios de avaliação e obrigatoriedade de justificações que se traduzem em inflação de classificações para obter sucesso estatístico. Os “bons” professores fazem maravilhas. mas tudo está montado para trabalharem como lhes mandam.
Impõe-se a necessária dignificação dos professores e os educadores, num conjunto de acções, envolvendo, salários compatíveis com a sua relevância na sociedade, colocações, libertação de todas as tarefas que não sejam as de ensinar e outras, postas em evidência nas suas reivindicações.
O pessoal não docente representa um conjunto de elementos fundamental no universo do ensino, pelo que é forçoso dar lhes um tratamento, em termos de dignidade e de salários, a condizer.

Reafirmo que considero os professores, incluindo educadores, entre os mais importantes pilares da sociedade e, uma vez mais, que é necessário e urgente conferir-lhes o estatuto, a atenção e a dignidade compatível com essa importância.

 

António Galopim de Carvalho  in Facebook

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No Porto, a manifestação foi das boas…

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Ontem, os professores manifestaram-se

Os professores resistem a promessas. Há quem seja, porque tem que ser, como S. Tomé, só vendo para crer.

Vão em conversas de políticos e sindicatos…

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