O que recebo e o que “ganho”. Luís Sottomaior Braga

 

O que significa “ganhar”, num título de 1ª página?

É diferente de “receber”.

Se um restaurante serve refeições estragadas, eu deixo de lá ir e a ASAE fecha a tasca.

A notícia do Correio da Manhã sobre salários docentes de hoje é um peixe podre e mal cheiroso que dá ganas de se ser como o Obélix.

Mas vai passar como grande verdade e animar muitas conversas de tasca e esplanada. Quem terá pachorra para ver as tabelas verdadeiras? (abaixo)

Além disso, a preguiça jornalistica não se compadece de tantos números e conceitos complicados como IRS diferente conforme o número de filhos e se se é solteiro ou casado.

O jornal fala do bruto e o leitor pouco esclarecido compara com o líquido. E com o seu líquido, que entre salários mínimos e salários um pouco mais altos não é proporcional.

O Correio da Manhã fez um excelente serviço à IL ao mostrar, de forma bacoca, um dos efeitos numéricos da progressividade fiscal na comparação de salários.

E a literacia matemática não é um dos fortes do país.

Realmente, se não houvesse progressividade podiam comparar salários brutos de forma linear.
Mas quem ganha 2000 euros brutos, paga maior proporção do seu salário do que quem ganha 1500. Por isso, há escalões de IRS.

Como os impostos são progressivos (e bem) e a ADSE é proporcional ao salário bruto (e bem), quem ganha menos que os professores não percebe, num texto assim, o spin e manipulação pró-governo e anti-professsores. E a ERC não nos valerá.

Mas o autor do título também prestou um belo serviço ao Chega, além do frete imediato ao Governo.

Quer porque notícias assim fazem com que muitos professores sintam a raiva da injustiça e vão ouvir o venturoso de outra forma, quer porque tudo o que seja mentira e falsidade serve o interesse de quem se alimenta da desinformação.

Declaração de interesses: ao fim de 27 anos de serviço, recebo 1350 euros líquidos.
Estou no 4º escalão e preso pelas vagas e antes dos 66, a reforma, não chegarei ao 10º escalão (o tal que, líquido, vale uns 2000 euros).

Como subdiretor, recebo mais 200 euros mensais (12 meses) líquidos. O bruto são 2350 (por ser dirigente) dos quais desconto 800 em média mensal para receber os 1550 euros líquidos.

O que “ganho” não é o que “recebo”. E não me venham dizer que é comparável ou aceitável fazer contas dessas. Mas serve ao governo numa guerra salarial.

E é isto.

 

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