Luta…

Sou leitora assídua do vosso blog e tomo, hoje, a liberdade de vos escrever para fazer um pedido, uma proposta, dar uma opinião…
A Greve que tantos desejaram está convocada. Agora, é preciso que haja boa adesão e que funcione. O que me leva a escrever é a necessidade de ação junto dos docentes para os mobilizar.

Ontem ouvi uma conversa, na escola onde lecciono, que me preocupou muito. A desinformação é total e muitos (professores) continuam a dividir para reinar. A colega dizia o seguinte: ” Estive numa reunião do sindicato e aquilo que foi dito é que estas alterações no processo de recrutamento docente/concursos são residuais. Isto vai afectar os “contratados” e os “QZP’s”, mas os “QA’s” não.” Lá interferi na conversa, até porque estava uma boa dúzia de pessoas a ouvir e a ficar convencidas. Expliquei que isto não é só para alguns professores, é para todos. Que qualquer um está sujeito a levar um chuto. Referi-lhe ainda, que segundo li e ouvi, um colega contratado ou QZP colocado durante 3 anos numa escola, passa a QA nessa mesma escola, ainda que seja menos graduado do que outros professores que também desejam essa vaga. Respondeu-me que quando se fartou de fazer viagens comprou casa nas imediações da escola e resolveu o assunto. Perguntei quantos anos demorou a ficar QA/QE, ao que me respondeu 4. Disse-lhe que demorei 13 anos (para entrar em QZP) e que fui obrigada a concorrer ao país inteiro. Logo ao lado, uma colega referiu ser contratada há 25 anos… Ficou calada e percebeu que uma coisa é mudar a vida aos 27 anos, sem encargos, sem filhos, sem pessoas que dependem de nós. Outra coisa é aos 40/50 anos quando temos filhos e outros encargos e sem a garantia de que aquela será a nossa paragem. Sendo QZP e sendo escolhida por um Conselho de Diretores, pelo perfil, quem me garante que num momento sou escolhida por um agrupamento e alguns anos depois não sou escolhida por outro agrupamento, no extremo desse mesmo QZP?? Mudo a cada 5 anos?? E sim, somos obrigados a concorrer para escolas onde não queremos estar. O atual tamanho dos QZP e a obrigatoriedade de concorrer a todos os QZP, depois de 3 contratos anuais e completo sucessivos! Caso não se entre em QZP não se pode celebrar contrato com o MEC no ano seguinte…

Outra coisa que penso que é necessário explicar à população é que os níveis de violência das escolas estão inteiramente ligados com a retirada de autoridade aos professores e com o clima de impunidade que se respira pelas escolas, para com os alunos e EE. Fazem mil e uma tropelias, faltam, não se esforçam minimamente, mas no fim do ano lá vem a pressão para a transição de todos, e relembra-se que as retenções são de carácter excepcional.

A conversa vai longa, peço desculpa, mas preciso de pedir um favor. O Arlindo, o Paulo Guinote, o Luís Braga (destes últimos não tenho email), tomem a palavra e expliquem de forma ainda mais clara a toda a gente o que está em causa. Lembro um programa de RTP1, que passou no dia 19 de Abril de 2022, se a memória não me falha, em que estiveram o Paulo Guinote e o Luís Braga, bem como a famigerada Maria de Lurdes Rodrigues, em que os dois primeiros se expressaram muito bem. Ouvi muitas pessoas a falar desse programa. Precisamos de mais alguma coisa deste género. Pessoas idóneas, informadas, que não se deixam enganar nem calar, que respondem com factos. Estes professores dignificam os professores. Há imagens que estão desgastadas, já ninguém perde tempo a ouvir o que têm para dizer, nem professores, nem os que não são professores.

Agradeço o tempo dispensado e, desde já, tudo o que têm feito em prol dos Professores e do Futuro da Educação em Portugal.

Os meus melhores cumprimentos
Raquel Cardoso

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2 comentários

    • E.M.L. on 29 de Novembro de 2022 at 15:16
    • Responder

    Só quando os pais e os patrões perceberem claramente quais os custos reais para si mesmos e para a economia é que se poderá ter realmente força para influenciar a tomada de decisões do parlamento e do governo. É nos efeitos nefastos para a economia a curto prazo e a longo prazo que deve ser colocado o foco. Se a mensagem passar de forma clara e repetidamente na comunicação social, então sim a greve terá sucesso.
    Por outro lado, se através da comunicação social ficar claro qua greve não tem quer o dia todo e pode ser só aos primeiros tempos da manhã, o que com organização dentro de cada escola poderá haver mais de metade dos professores a fazer greve alternadamente e prolongar a greve durante semanas ou meses, talvez tenhamos maior probabilidade de sucesso.

    • Mic on 29 de Novembro de 2022 at 23:23
    • Responder

    Muito verdadeiro e muito pouco referido publicamente pelos professores (apenas sussurrando, a medo, pelos corredores e na sala de professores, quando há lá pouca gente…parece que têm vergonha deles próprios…):

    “Outra coisa que penso que é necessário explicar à população é que os níveis de violência das escolas estão inteiramente ligados com a retirada de autoridade aos professores e com o clima de impunidade que se respira pelas escolas, para com os alunos e EE. Fazem mil e uma tropelias, faltam, não se esforçam minimamente, mas no fim do ano lá vem a pressão para a transição de todos, e relembra-se que as retenções são de carácter excepcional.”

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