Se se concretizarem todas as malvadezas que, nas últimas semanas, têm vindo a ser preconizadas, e algumas já anunciadas, pelo Ministério da Educação, o mundo profissional que os Professores conhecem deixará de existir, muito em breve…
Desse mundo, pouco ou nada restará…
Apesar da gravidade da situação, a maior parte dos Professores não parece ter ainda tomado consciência de que o seu mundo estará prestes a ruir, a ser implodido e substituído por outro incomparavelmente pior…
Assoberbados que estão, entre outros, com indizíveis “inovações” como Domínios, Subdomínios, Temas, Ponderações, Instrumentos de Avaliação, Instrumentos de Registo, Descritores por Níveis de Desempenho em cada Domínio, Tabelas para Operacionalização dos Critérios de Avaliação em cada Domínio, Áreas de Competências, Menções Qualitativas ou Menções Quantitativas, os Professores parecem aturdidos pelo trabalho insano e pelos automatismos comportamentais…
E ainda, também, em alguns casos, para agravar a complexidade e tortuosidade do que lhes é exigido, com Tutoriais e Guiões explicativos (!) para conseguirem registar tudo o anterior, de acordo com determinados cânones, de forma a que, no fim, o respectivo significado seja praticamente inacessível e indecifrável…
Sim, o Projecto Maia conseguiu a proeza de “oficializar a loucura”, mas sempre “by the book”, “comme il fault”…
E no meio de tantos desvarios que grassam dentro de muitas escolas, no exterior, o futuro dos Professores vai sendo decidido em (patéticas) rondas negociais entre o Ministério da Educação e os Sindicatos que supostamente os representam…
Começa a ser verdadeiramente confrangedor ouvir algumas declarações de dirigentes dos principais Sindicatos de Professores, à saída de cada ronda negocial com o Ministério da Educação…
Pois que saem dessas reuniões desiludidos e “desconcertados”, como recentemente parece ter acontecido (Jornal Público, em 8 de Novembro de 2022)…
Nesses concílios, ao que tudo indica, o Ministério da Educação simula que negoceia; os Sindicatos prestam-se ao papel de vítimas enganadas, vergadas às imposições tirânicas da Tutela; e, no fim, todos parecem ficar satisfeitos por terem cumprido a sua parte da actuação nonsense, do filme: “Para inglês ver”…
Mas os Sindicatos ainda acalentavam alguma ilusão?
Ou terão esquecido que, entre outros despautérios, em 2019, o 1º Ministro António Costa fez uma inadmissível chantagem, ameaçando com a demissão do Governo, se a Assembleia da República aprovasse a recuperação integral do tempo de serviço dos Professores?
Em 2022, o 1º Ministro é o mesmo, com a agravante de o actual Governo ser suportado por uma maioria absoluta em termos parlamentares, o que lhe dá uma margem de manobra significativamente superior…
O que esperavam os Sindicatos?
Ou terão esquecido que, em 2010, cederam a um ruinoso acordo, alegadamente selado com pizzas, com a então Ministra da Educação Isabel Alçada, desbaratando toda a força e união, alcançadas em 2008, pela maior Manifestação de Professores alguma vez ocorrida em Portugal?
Ou terão esquecido que durante os seis anos de Governo pela “Geringonça”, suportado pelo PS, BE e CDU, a sua própria postura se pautou pela bonomia e pela aceitação, fazendo de conta que reivindicavam e que reclamavam, mas mostrando-se incapazes de encetar acções efectivamente consequentes ou de ruptura, plausivelmente dominados por determinadas agendas partidárias que, na verdade, não pretendiam afrontar a dita governança?
Esperariam, agora, ser levados em muita consideração e muito a sério, quando a sua postura nos últimos anos foi dominada, ou pela cedência, ou pela inércia, expressa por “pactos de não-agressão” face às políticas educativas da Tutela, pelo menos em termos tácitos?
Enfermeiros, Médicos ou Técnicos Superiores, todos parecem conseguir alcançar alguma coisa do Governo… Parece que há Sindicatos que não costumam ir no “engodo de pizzas” e que conseguem fazer-se respeitar…
A Classe Docente, tão numerosa e qualificada em termos académicos, não tem Sindicatos capazes de a conseguir mobilizar e parte do seu conformismo também resulta disso…
O discurso da “cassete” do Velho Sindicalismo está gasto, decrépito, é completamente previsível e já não encoraja, nem convence ninguém…
“Fazer prova de vida”, partindo uns pratos “para a fotografia”, não chega como forma de reivindicação ou de protesto…
No momento actual, parecem existir apenas duas opções:
– Ou os Sindicatos se renovam fortemente, o mais rápido possível (“ontem, já era tarde”);
– Ou os Professores têm que encontrar formas alternativas de mobilização, independentes dos Sindicatos…
Se não o fizerem, correrão o risco de se deixar aniquilar de vez, permitindo que o comando lunático e perverso dos destinos da Educação os atire para o mais profundo dos abismos…
Perante todas as iniquidades que se prenunciam, e que a todos afectarão, ficar a “olhar de fora”, quase numa perspectiva voyeurista, ou permanecer na zona de conforto proporcionada pela atitude “pode arder, desde que não seja comigo” deixarão de ser possíveis…
Assim como todas as justificações, quaisquer que sejam, para a inacção e para o silêncio…
“Face It Alone”, é o que me ocorre, para ilustrar o anterior…
(Tributo aos Queen, maior Banda Musical de todos os tempos, liderada por um Génio inigualável, que nunca morrerá: Freddie Mercury. E, já agora, quando se ouve “Bohemian Rhapsody” tudo melhora…).
(Paula Dias)