O PRIMEIRO DIA DO RESTO DAS SUAS VIDAS

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De olhar curioso, muitas são as crianças que irão cruzar o portão da escola pela primeira vez. Mesmo que já tenham frequentado o jardim-de-infância no mesmo edifício, há uma mudança no pensamento: agora vão para a ESCOLA. Para elas é um passo de gigante que estão a dar. Sentem-se “crescidas” e estão prontas para embarcar numa nova viagem. Uma aventura que fará toda a diferença nas suas vidas.

Há as destemidas, que chegam e correm pelo espaço. Sem receios exploram tudo o que há para explorar. Mesmo sem conhecerem os amigos, querem logo abraçá-los.

As curiosas chegam e observam tudo com atenção. Durante anos construíram a imagem de uma escola na sua imaginação. Uma escola que tantos lhe falaram e está agora ali. Chegou o dia, a escola deixou de ser uma representação. É real e é, finalmente, sua!

Há também as faladoras… bom, sobre essas, há sempre tanto para dizer. Querem saber tudo, têm tanto para contar. Mas também gostam de ouvir. De conversar. São comunicadoras natas e, por norma, isso vai continuar! E é tão bom!

Entram algumas mais tímidas, com uma certa apreensão no olhar. Algumas estão com receio, mas ao mesmo tempo entusiasmadas. É isso que as faz ir, sem olhar para trás. Confiam e nada as fará recuar.

Há aquelas para quem tudo é novidade. Mas há outras que se sentem sós, como se estivessem sozinhas numa nova cidade.

Há também as que choram, que chegam com alguns medos espelhados em algumas lágrimas que lhes caem pelo rosto. Aqui que ninguém nos ouve, algumas, se pudessem, perpetuavam o mês de agosto! (Bom, quanto a isso…até nós!)

E aquelas que entram a gritar? Sim, as que voltam a dar vida à escola. Porque a escola só é escola porque nela vivem crianças. Vida pura!

Bem, quanto a estas últimas, pelo menos durante o primeiro, segundo ou terceiro dia – no máximo. Depois disso acabam todos a gritar ao mesmo tempo e, verdade seja dita, acaba por ser cansativo.

Sim, porque ao fim de dois ou três dias tudo muda. Tudo!

– As que derramaram algumas lágrimas, ficam mais do que integradas…. lágrimas só de tanto rirem;
– As que entraram timidamente, andam a correr e a gritar pelos espaços;
– As que se sentiam sozinhas passam a estar rodeadas de amigos;
– As faladoras continuam sem se calar;
– E as destemidas…. ficaram ainda mais destemidas!

Os corações estão apertados: os das próprias crianças e os dos pais. Mas há uma comunidade escolar pronta para as receber.

Os professores não estão lá apenas para as ensinar a ler ou escrever, estão lá para as ajudar neste processo de transição. E rapidamente será nos professores que irão confiar, do dia para a noite. De olhos fechados!

Sabem porquê?

As que precisarem de um abraço serão abraçadas!
As mais inseguras tornar-se-ão mais confiantes.
Vai haver tempo para acalmar as que precisam de tranquilidade.

E isto não se encontra nas aprendizagens essenciais de português ou matemática.

Que seja um bom ano. Que seja um ano em que as crianças possam iniciar um caminho feliz, com professores felizes!

Um professor do 1º Ciclo,
Fábio Gonçalves

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1 comentário

    • BB on 15 de Setembro de 2021 at 17:01
    • Responder

    O tempo das trevas começou na idade média e não tem revés. Adeus mundo, cada vez pior.

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