Eu juro. Um dia, abro a janela e largo-as a todas ao sol. Estico o braço com a sumptuosidade de uma despedida imponente e deixo-as escorregar dos meus dedos, uma por uma, deslizando parapeito abaixo.
Então, para meu próprio espanto e felicidade, vê-las-ei abrir pequenas asas e soerguerem-se verticalmente, passando em frente ao meu rosto extasiado, subindo telhado acima e esvoaçando céu adentro até ao infinito.
Um dia, um dia eu juro, se me chamarem para ver mais provas, eu proclamarei a independência sideral de cada uma, batizando-as de luz e ar, deixarei que o vento as abençoe longe de mim.
Acabar-se-á, nesse preciso instante, este flagelo infeliz que me persegue ano após ano.
Não me bastando a desesperança que é, anualmente, ser chamada a corrigir as provas do 9º ano, ser “convidada” para as do 12º, tive, na semana passada, o brinde de ser selecionada para as de aferição.
Isto na sequência de um mirabolante processo de decisão que mergulhou a minha escola numa vergonhosa névoa.
O nosso excelentíssimo senhor diretor decidiu por unanimidade dele próprio, depois de auscultar as vozes contrárias dos vários departamentos e do Conselho Pedagógico, fazer o testezinho com correção externa, dadas as inúmeras potencialidades da avaliação aferida. Considerou, portanto, que “não fazendo as provas, não se perde nem se ganha nada.” E acrescentou, sabiamente, que tinha direito a ponderar e decidir em conformidade. Na mesma frase incorporou os votos de “ótima semana”, o que, vendo bem as coisas a esta distância, só podia ser uma ironia.
Agora, eis-me soterrada em mais uma pilha inacreditável de folhinhas brancas, enquanto deambulo como uma morta-viva entre reuniões.
Director dixit. Magister laborat. Assim, simples. Não bastando o ano exasperante que tivemos, as mudanças ininterruptas sistematicamente impostas, o excelso senhor diretor resolve ouvir-se a si próprio e decidir por todos nós. Sem sombra de empatia para com quem tem trabalhado ininterruptamente para o sucesso alheio.
Mas, enfim, no final de contas, os palermas que mais trabalham, são sempre os que trabalham a dobrar. É mesmo isso que me espera em breve. Venham mais provas…
Mas qualquer dia, qualquer dia, eu juro, abro a janela e isto voa tudo… Com um bocadinho de sorte, as folhas-pássaro seguirão, certeiras, a debicar furiosamente os olhinhos dos diretorzinhos desumanos que nos vergastam sob o jugo pesado das suas decisões imberbes.