E depois desse fiz uma nova sequência de artigos sobre uma eventual restruturação da carreira docente. Chamei-lhe “ensaio para uma nova carreira docente” e os outros artigos podem ser pesquisáveis por essa altura.
NOTA: Este meu artigo já tem 5 anos e foi feito de forma a ser recuperado todo o tempo de serviço docente. Atualmente considero que o topo da carreira não deve ser diferente do topo da carreira da administração pública para os docentes do 10.º escalão.
“Para conseguirmos atrair novos docentes, temos de tornar a carreira mais atrativa, mas também mais simples e mais previsível”, disse Fernando Alexandre, em antecipação à revisão do Estatuto da Carreira Docente.
Sem adiantar detalhes sobre a posição do executivo, Fernando Alexandre reconheceu a complexidade do estatuto em vigor e defendeu que quem quer ser professor deve conseguir “projetar-se no futuro”.
“Um dos princípios é precisamente tornar a carreira mais simples, com regras mais simples que tornem a progressão na carreira mais previsível”, antecipou.
Por outro lado, o ministro refere que a valorização da carreira não é indissociável da valorização salarial e sublinha a necessidade de olhar, em particular, para as remunerações nos primeiros escalões, apontando a disparidade em relação ao topo da carreira.
“Há um desequilíbrio em que os primeiros escalões são, de facto, muito baixos”, justificou.
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Também o número de alunos caiu drasticamente em quase 50%, levantando questões sobre eficácia e futuro do programa, que conta este ano com 24 milhões de euros para licenças digitais de manuais.
O projeto-piloto dos manuais digitais em Portugal sofreu um revés significativo este ano letivo, com um terço das escolas participantes a abandonar a iniciativa, revela a edição deste sábado do Público.
Dos 103 agrupamentos ou escolas não-agrupadas envolvidos neste projeto no ano passado, 34 deixaram de participar,reduzindo o número total para 80. Esta diminuição marca uma inversão na tendência de crescimento que se verificava desde o início do projeto há quatro anos.
Um artigo de opinião assinado por Joaquim Jorge, biólogo e fundador do Clube dos Pensadores.
“Quem deve decidir se um adolescente usa ou não telemóvel são os pais.
O Estado em momento algum se deve sobrepor aos pais. Os pais devem educar os seus filhos a terem maneiras, serem educados e como devem usar um telemóvel.
A partir daí, o Estado regula e impõe regras. Importante um adolescente ter telemóvel para poder comunicar com os pais, dar um recado, estar contatável.
Os telemóveis são úteis e importantes, para monitorização médica, segurança e marcação de algo.
Eu não admito, nem nunca admiti, que o Estado interferisse na minha vida e na minha forma de ser e pensar. Era o que faltava um diretor de uma escola dizer se filho meu pode ou não pode usar telemóvel!
O Estado deve preocupar-se com uso de telemóveis para fugas ao fisco, corrupção e afins.
Está proibido fumar numa escola e bem. Não é por isso que há menos alunos a fumar. Eu nunca fumei e sei o mal que faz, contudo, há gente que fuma – é um problema delas. Detesto censura. Sou a favor que as pessoas se cultivem e estejam informadas e depois cada um decide.
Os pais têm o dever de educar os seus filhos. Essa missão não deve ser do Estado. Ponto final!
Educar a usar o telemóvel em determinados locais e com sensatez. Se a escola desse educação aos portugueses estavam muito mais educados. Certo? Mas não estão, infelizmente.
Eu não aceito que me digam o que devo fazer. Como pai, não me demito das minhas funções de educar um filho meu e de lhe fazer ver os prós e contras do uso do telemóvel.
Há escolas em que as casas de banho dos alunos não têm papel higiénico, as portas não fecham, as sanitas não têm tampa, não têm sabonete líquido para lavar as mãos.
Quero ver onde vão arranjar dinheiro para recipientes próprios para colocar os telemóveis de forma segura e não serem roubados ou terem cacifos individuais? A solução que sempre defendi, à entrada da sala, silenciar ou desligar o telemóvel e coloca-lo na mochila.
A escola deve regulamentar sem exageros. Estou cansado de viver num país cheio de normas que não são cumpridas. A forma como se usa um telemóvel numa escola já devia ter acontecido há muito tempo. Proibir não, impor regras sim.
Detesto uma sociedade policial, apoio uma sociedade informada e responsável.”
Este estudo que faço tem por base os horários pedidos em Contratação de Escola até ao dia 18 de setembro de 2023 e de 2024.
Obviamente que muito horários que estiveram em concurso ao longo de agosto e setembro já tiveram professor colocado, mas vou usar o mesmo método de estudo para os dois anos.
Em 2023/2024 até ao dia 18 de setembro estiveram em concurso 3763 horários e em 2024/2025 foram 4203.
Apliquei as seguintes contas para ambos os casos:
Considerei que um horário de 22 horas tem em média 4,5 turmas e que cada turma tem em média 20 alunos;
No caso dos horários de 25 horas considerei que cada horário tem em média 22 alunos.
E o resultado final é que em 2024/2025 existem mais 8382 alunos (vamos considerar sem aulas, mas não é) que em 2023/2024.
Olhando para estes números verifica-se que aumentou consideravelmente o número de “alunos sem aulas” em Lisboa, Faro, Setúbal e Beja.
O norte viu reduzido o “número de alunos sem aulas”, sendo que a redução maior aconteceu em Braga, seguindo-se o Porto, Aveiro e Viana do Castelo.
NOTA: Dizem-me que estou a ser muito generoso em considerar que um horário de 22 horas tem em média 4,5 turmas. É provável que essa média seja maior e por isso neste estudo em nenhum dos casos cheguei aos 100 mil alunos sem professor. Mas o mais importante neste estudo que resolvi fazer foi comparar os dois anos com a mesma medida.
Se eu considerar que um horário de 22 horas pode ter em média 9 turmas é só duplicar os dois números finais por dois.
Fernando Alexandre responde ao antecessor que diz que o governo está a inflacionar os números. O ministro esteve hoje em Vouzela, na abertura do ano letivo.
As notícias e declarações de todos os intervenientes estão a deixar a comunidade educativa ansiosa. A falta de professores está a tornar-se usual no território nacional. É um sintoma de falta de planeamento a longo prazo, estrutural e de, no mínimo, falta de sensibilidade para com os docentes, ao longo de mais de 20 anos.
O que se passa nas escolas de Viseu tem um nome pomposo, Inverno demográfico da educação. É o que os especialistas chamam ao fenómeno que está a acontecer, o envelhecimento dos professores. O que levou a isso? O envelhecimento da população, o aumento da idade de reforma, a falta de candidatos a professores e os critérios de colocação nas escolas.
Quanto à falta de professores, ainda estamos longe de outras regiões do país. Fora casos esporádicos a disciplinas específicas, geografia, espanhol…, ainda não se verifica grande falta ou dificuldade em substituir atestados médicos, de docentes., mas estamos no caminho certo para vir a sofre desse mal.
Nos próximos anos, o número de professores a aposentarem-se vai subir vertiginosamente. Num primeiro momento, os concelhos à volta de Viseu, vão começar a sentir as consequências da falta de professores, uma vez que parte é residente no concelho de Viseu e pretende aproximar-se de casa, mas as dificuldades em conseguir candidatos a substituições temporárias vai-se começar a fazer sentir. Numa segunda fase, a substituição temporária tornar-se-á dramática, com longos períodos de tempo com turmas sem um ou mais professores. A terceira fase, será aquela em que os concursos nacionais já não suprirão as necessidades de professores no concelho.
A crença que ainda se vai ouvindo de que os professores ganham muito bem, que têm muitas férias e que dão poucas aulas não está a atrair novos profissionais. Talvez porque sejam aqueles que, pela sua idade, tenham mais presentes o que viram nas salas de aula das suas escolas. Professores cansados, assoberbados de trabalho burocrático, turmas indisciplinadas e sobrelotadas, falta de condições físicas para o ensino, a constante mudança de políticas educativas… podia continuar a enumerar raões, mas serve a intenção.
A profissão docente já não é atrativa, já não é prestigiante, já não é bem remunerada, já não tem muitas férias. Poucos querem ser professores. O número de candidatos diz-nos isso, os números da OCDE também e muito mais. A falta de professores de alguns grupos, que já se faz sentir em algumas zonas do país, vai-se espalhar por todo o território e chegar ao nosso concelho, com todas as consequências que isso acarreta para a comunidade educativa de Viseu.
Em 2025 a idade média dos professores portugueses deverá rondar os 60 anos de idade. E fico-me por aqui.
Rui Gualdino Cardoso, Diretor do Agrupamento de Escolas de Viso, Viseu
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Hoje disse ao Ministro da Educação que poderia vir a critica-lo, Ele sorriu. Fá-lo-ei quando necessário e sempre de uma forma construtiva, para transmitir o meu desagrado no que diz respeito a todos os assuntos respeitantes à educação, escolas docentes, não docentes, alunos…
Dito isto, o que tenho lido, o que ontem ouvi, presencialmente e nos meios de comunicação, deixam-me a sensação que a mudança do paradigma da educação em Portugal está em movimento.
Em termos de comunicação para o exterior, para a comunidade educativa, deixamos o discurso aburguesado e passamos a ouvir mensagens de uma forma clara, com a apresentação de intenções, neste momento algumas já passaram à pratica, embora, ainda não se notem na carteira e nas escolas.
Embora olhe com alguma desconfiança para o discurso politico de qualquer politico, baseado na experiência que tenho e qualquer professor tem, olho para a mudança como necessária e como o próprio ministro afirmou tardia.
Tardio foi o acordo alcançado para a recuperação de tempo de serviço de professores. O paradigma da educação estará sempre em mudança., por isso será bem vindo se tiver em conta o que a equipa ministerial tem vindo a afirmar.
O Maia acabou. Medida que nunca reuniu a aceitação dentro da classe docente. O que virá a seguir? Aguardemos. Critiquemos, ou não, quando nos for dado a conhecer.
O Estatuto dos Diretores vai ser criado. Esperemos que não perpetue ninguém no cargo para que possa perder a noção da realidade do que é ser professor. Que responsabilidades acrescidas e prestação de contas trará este estatuto? Que responsabilização é essa baseada em resultados? Cuidado. Não quereremos que os diretores andem a pressionar professores para abrir a cabeça dos alunos e lhes “enfiar” conhecimentos lá dentro.
A revisão do Estatuto da Carreira Docente vai ser revisto. Já vai tarde. A desvalorização da classe docente é patente na sociedade e necessita de ser invertida. O Ministro está farto de o afirmar para quem o quiser ouvir, mas o importante será saber como o pretende fazer. Que medidas vai tomar e que alterações terá o Estatuto para que isso aconteça. As experiências das ultimas duas alterações deixaram os professores adversos a conversas de políticos sobre este tema.
A Avaliação Docente, também, vai ser revista. O sistema de cotas vai continuar ou ser substituída por um sistema de meritocracia em que os melhores vão ser recompensados pelo seu esforço que fazem a mais do que aqueles que entram e saem da escola com o que lhes é exigido pela profissão e sobre o qual recebem um vencimento? Como poderemos medir esse esforço a mais? Que esforço a mais será esse? Convém definir bem o trabalho docente para que isso fique claro.
Que Autonomia é essa de que ouvimos falar? Se for mais do mesmo não nos serve. Contratação de professores pelas escolas? Cuidado, nós lembramo-nos da BCE. Do desrespeito pelas instituições de Ensino Superior que foi a tal prova a que os professores contratados foram sujeitos e que afastaram muitos candidatos a professores da profissão.
A desburocratização do trabalho docente e nas escolas, avança ou não avança. Que não seja um projeto falhado como o Despacho do anterior ministro, cheio de boas intenções, mas que nada resolveu porque nunca foi regulamentada como devia.
Até agora, as conquistas dos professores, que muito têm a ver com a atitude do Ministro de passar das palavras aos atos, têm agradado e criaram uma imagem de diálogo e passos em frente.
O discurso do Ministro da Educação, Ciência e Inovação, tem agradado à maioria dos professores, mesmo aos mais céticos (sempre desconfiados). Passemos, então, aos restantes atos esperando que a imagem que tem vindo a construir não seja destruída.
Espero não ter que vir a criticar este ministro como fiz aos anteriores, mas estarei atento. Eu e qualquer um dos mais de 100 mil professores deste jardim.
Paralisação que “ainda poderá ser travada pelo ministro da Educação”, anunciou a a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais.
No passado dia 21 de maio de 2024 foi celebrado um Acordo entre a Federação Nacional da Educação (FNE) e o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), que permitiu a recuperação total do tempo de serviço congelado, 6 anos, 6 meses e 23 dias e teve tradução na publicação do Decreto-Lei n.º 48-B/2024, de 25 de julho, permitindo corrigir uma situação de grande injustiça, constituindo também um fator de dignificação e valorização da carreira docente.
No entanto, continua a persistir uma situação de grande injustiça, que há muito tempo temos vindo a denunciar, e que é muito importante resolver.
Nesse sentido, os docentes subscrevem o seguinte abaixo-assinado dirigido ao Governo:
Os docentes que ingressaram na carreira antes de 2011 foram, e continuam a ser, ultrapassados pelos docentes que ingressaram após 2011, os quais, com igual ou menos tempo de serviço, são posicionados em escalões superiores, o que, no entendimento da FNE, coloca em causa o princípio da igualdade, na perspetiva de “salário igual para trabalho igual”, decorrente do art.º 59.º, n.º 1, alínea a), da Constituição da República Portuguesa.
Tal acontece por via das sucessivas alterações ao Estatuto da Carreira Docente que ocorreram entre 2007 e 2010 (entre janeiro de 2007 e junho de 2010 foram produzidas três alterações significativas ao ECD, respetivamente Decreto-Lei 15/2007, de 19-01; DL 270/2009, de 30-09; e DL 75/2010, de 23-06), nomeadamente dos processos de transição entre carreiras em que para o posicionamento na nova estrutura da carreira docente apenas foi considerado o tempo de serviço que cada docente possuía no escalão/índice à data da transição, não sendo considerado o tempo total de serviço.
Ao não ser considerado todo o tempo de serviço, ou prever essa contabilização para o futuro, teve como consequência as atuais situações de ultrapassagem que, no entendimento da FNE, violam os artigos 13.º e 59.º, n.º 1, alínea a) da Constituição da República Portuguesa.
Por sua vez, os docentes que ingressaram na carreira após 2011 foram posicionados, e bem, num ponto carreira correspondente ao tempo de serviço que efetivamente possuíam para efeitos de progressão.
Existe jurisprudência do Tribunal Constitucional relativamente à violação do princípio da igualdade da remuneração laboral consignado no artigo 59.º, n.º 1, alínea a) da CRP, como é o caso do Acórdão n.º 239/2013 que é inequívoco ao considerar que são, “inconstitucionais as situações em que funcionários de maior antiguidade são “ultrapassados” no escalão remuneratório por funcionários de menor antiguidade, apenas por virtude da entrada em vigor de uma nova lei, sem qualquer justificação, nomeadamente, em termos de natureza ou qualidade do trabalho”.
Portanto, não existindo nenhuma razão objetiva que justifique que docentes com maior antiguidade estejam num ponto inferior da carreira que outros com menor ou igual antiguidade, é entendimento da FNE que tal constitui uma violação dos artigos 13.º e 59.º, n.º 1, alínea a) da CRP.
Mas, independentemente das questões jurídicas, o facto é que estas situações de ultrapassagem são incompreensíveis e geradoras de sentimentos de injustiça, motivo pelo qual se considera importante encetar um processo negocial que, à semelhança do processo que permitiu um acordo para a recuperação integral do tempo de serviço, permita também uma solução justa para este problema.
Entendemos que a correção destas situações exige uma solução que consagre o direito à consideração de todo o tempo de serviço prestado em funções docentes e classificado com a menção qualitativa mínima de Bom dos docentes que ingressaram na carreira antes de 2011, posicionando-os no mesmo ponto da carreira em que estão a ser posicionados os docentes que ingressaram na carreira após 2011.
São apenas 14 horários temporários para a RR3 no QZP22.
E como no QZP 22 não há nenhum docente de carreira do grupo 100 é um desperdício de tempo o horário de 20 horas ir à Reserva de Recrutamento, pois nenhum docente contratado teve possibilidade de concorrer ao grupo 100 para horários incompletos.
É nestas pequenas coisas que o concurso podia ser aperfeiçoado.
Audição de João Costa, Ex-Ministro da Educação, para prestar esclarecimentos sobre irregularidades na colocação de professores no âmbito do concurso interno e externo (requerimento do CH)
FNE ENVIA AO MECI OFÍCIO SOBRE CORREÇÃO DAS ULTRAPASSAGENS NA CARREIRA DOCENTE E LANÇA ABAIXO-ASSINADO
A Federação Nacional da Educação (FNE) fez chegar ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) um ofício em que assume a urgência de se corrigirem as ultrapassagens na carreira docente.
No dia 21 de maio de 2024 com a celebração do Acordo entre a Federação Nacional da Educação (FNE) e o Ministério da Educação, Ciência e Inovação, foi finalmente possível a recuperação total do tempo de serviço congelado, 6 anos, 6 meses e 23 dias.
Este acordo, teve tradução na publicação do Decreto-Lei n.º 48-B/2024, de 25 de julho, permitindo corrigir uma situação de grande injustiça, constituindo também um fator de dignificação e valorização da carreira docente.
No entanto, fruto das sucessivas alterações e do intrincado conjunto normativo continua a carreira docente a ser pautada por assimetrias geradoras de injustiças, que há muito a FNE vem denunciando, e que é importante resolver.
A FNE destaca no Ofício enviado à tutela, que os docentes que ingressaram na carreira antes de 2011, em boa verdade acabam por ser ultrapassados pelos docentes que ingressaram após 2011, os quais, com igual ou menos tempo de serviço, são posicionados em escalões superiores, o que, no entendimento da FNE, coloca em causa o princípio da igualdade, na perspetiva de “salário igual para trabalho igual”, decorrente do art.º 59.º, n.º 1, alínea a), da Constituição da República Portuguesa.
As situações de ultrapassagem são, no entender da FNE, incompreensíveis e geradoras de sentimentos de injustiça, motivo pelo qual a FNE considera importante que se encete um processo negocial que, à semelhança do processo que permitiu um acordo para a recuperação integral do tempo de serviço, permita também uma solução justa para estes problemas.
A FNE entende que a correção destas situações exige uma solução legislativa justa, que consagre o direito à consideração de todo o tempo de serviço prestado em funções docentes e classificado com a menção qualitativa mínima de Bom dos docentes que ingressaram na carreira antes de 2011, posicionando-os assim no mesmo ponto da carreira em que estão a ser posicionados os docentes que ingressaram na carreira após 2011, sem prejuízo no que quanto aos docentes reposicionados vai dito.
A FNE pretende alertar o MECI para a necessidade de uma resolução urgente desta injustiça, pelo que avança com um abaixo-assinado para correção das ultrapassagens na carreira docente e que pode ser preenchido em formato papel ou online em www.fne.pt
O Presidente da República promulgou o diploma que cria um regime excecional e temporário para recrutamento do pessoal docente a realizar no ano letivo de 2024-2025 e um apoio à deslocação para professores.
1. A crise da educação não é um problema novo nem especificamente português. É um problema global que traduz a dificuldade, ou mesmo incapacidade, de dar resposta ao direito de todos à educação consagrado na DUDH (1948), e reafirmado em Jomtien em 1990 na Conferência Mundial sobre Educação Para Todos (EPT). A escola de elite excluía e proibia a frequência por razões económicas, étnicas, de género, limitações físicas e mentais; a escola inclusiva abriu-se a todos e obrigou a investimentos gigantescos em novas escolas, professores, material escolar, em proporções incompatíveis com os orçamentos do Estado. O número de professores cresceu na proporção inversa dos salários, conduzindo a uma classe docente empobrecida, desprestigiada, deprimida, com condições de trabalho insuportáveis que conduziram ao burnout em grande escala e ao abandono da profissão. Não é um problema português é um fenómeno universal. Lutamos hoje para ter educação para todos, mas não temos professores para todos. Mas será a falta de professores o acelerador da mudança inevitável. A violência da vida errante e instável dos professores está devidamente diagnosticada e mostra que não foi apenas a questão salarial a provocar a fuga. Muitos professores deixaram de ter vida própria e preferiram aceitar vencimentos ainda mais baixos em empresas ou instituições estáveis que não obriguem a uma escola assente na mobilidade. A instabilidade aumentou as desigualdades e a excluão dos alunos mais vulneráveis, condenados ao isolamento por não terem acesso às novas tecnologias.
2. Deixei de ir ao Banco, como fazia há uns anos atrás. Hoje posso fazer todas as transações – pagamentos, transferências, levantamentos – a partir do telemóvel, do PC ou do MB. A Banca transferiu para os clientes todas as operações correntes e da forma mais simples. No supermercado não preciso de ajuda para meter no carrinho tudo o que preciso, nem para pagar, o que faço sozinho na máquina à saída. O mercado transferiu para o cliente a tarefa e o tempo de abastecer, confiou os pagamentos a uma máquina e pôde dispensar uma parte importante dos seus trabalhadores. Este vai ser o caminho inevitável da escola e a falta de professores é o maior acelerador para este processo. Kai-Fu Lee e Chen Qiufan (Inteligência Artificial 2041, Relógio d’Água, 2021), salientando que a tecnologia mudou radicalmente a forma como trabalhamos, brincamos e viajamos, está a mudar também a forma como ensinamos e aprendemos. Nesta mudança, precisamos de bons professores, preparados para uma escola radicalmente diferente daquela que herdamos do séc. XIX, que persiste e resiste em caminhos que foram inevitáveis no passado, ignorando que hoje temos autoestradas e veículos de nova geração e que o saber já não está concentrado no professor mas está ao alcance de todos. Como no supermercado, cada aluno pode procurar o que precisa, na escola ou em casa, e que um simples telemóvel inteligente transporta todo o saber do mundo. Precisamos de professores altamente qualificados para orientar a geração Z, mas as tarefas rotineiras, como no hipermercado ou no banco, podem ser desempenhadas pelos próprios alunos, por máquinas ou por robôs. Há décadas que reclamamos a centração das aprendizagens nos alunos, o fim dos programas uniformes, mesmo se rotulados de flexíveis, porque os exames são inflexíveis e deixam na escuridão todos os talentos que tantos alunos não têm oportunidade de mostrar. Hoje as tecnologias permitem que cada aluno siga o seu sonho, com a orientação da família e dos professores. As crianças e os jovens precisam que lhes apontem o caminho quando desorientados, mas são eles que têm de o percorrer. Os bons professores e a sua “arte” para acompanhar os alunos não estão limitados a ensinar 20 ou 30 alunos fechados numa sala. As suas “lições” podem ser disponibilizadas e divulgadas em qualquer lugar ou em qualquer país, em qualquer língua, ao serviço de aprendentes de qualquer geografia. A boa gestão dos melhores professores pode reduzir e aliviar drasticamente o orçamento da educação e permite duplicar ou triplicar o seu salário e atrair muitos dos candidatos que procuram as melhores remunerações. A obra citada de Lee e Qiufan faz uma análise global das múltiplas esferas da vida atual, mas é no capítulo 3, “Os Pardais Gémeos” (pp. 57-145), que prevê o futuro da educação assente nas tecnologias emergentes e na Inteligência Artificial (IA). É a história de dois irmãos gémeos, órfãos de pai e mãe aos cinco anos, devido a um acidente de automóvel. A epígrafe (p. 91), transcrita de Herman Hesse, traduz bem a “filosofia” do texto: “Somos sol e lua, caro amigo, somos mar e terra. Não é nosso propósito tornarmo-nos um no outro; é reconhecermo-nos um ao outro, aprender a ver o outro e a honrá-lo pelo que ele é: o oposto e o complemento um do outro”. Aparentemente iguais, de início, a escola e a vida mostraram duas pessoas muito diferentes, o que não impediu que revelassem talentos singulares em momentos e áreas muito diversos. A sua educação ficou marcada por uma liderança humana muito próxima e por um acompanhamento permanente por dois robôs configurados de acordo com o perfil de cada um, com capacidade para mostrar os caminhos mais adequados aos talentos de cada um, tão diferentes como é diferente o sol da lua ou o mar da terra. Temos um novo Governo e um novo Ministro enfrentando problemas que vêm de longe e que levarão tempo a resolver. Mas têm uma “bússola” nova que pode indicar e iluminar o caminho. A crise dos professores só será bem resolvida se olhar para o futuro com confiança e liberto da nostalgia do passado.
José Afonso Baptista | Ciências da Educação | As Beiras 2024.09.12
O ano letivo arranca sem greves na agenda, graças à recuperação do tempo de serviço, mas com mais alunos sem todos os docentes, garantem diretores e Federação Nacional de Professores. Só entre segunda e terça-feira, estavam por preencher mais de dois mil horários em oferta de escola, deixando cerca de 120 mil alunos sem todas as aulas.