11 de Julho de 2022 archive

A escola na linha da frente contra os gangues – João A. Costa

 

Gangue, significado de gangue, quadrilha ou corja, conjunto de bandidos ou malfeitores.
Não que eu fosse chamar aos nossos alunos de corja, não são, longe disso.
A pergunta, no entanto, é a mesma: o que fazer quando os gangues são o dia a dia das nossas crianças?
Lidar com a realidade dos gangues é como olhar para uma casa e restar apenas o telhado. Já não há paredes nem porta de entrada, já não há cama nem afecto, os alicerces há muito desaparecidos e a família em parte incerta.
A família mas também os apoios sociais, as colectividades de tempos já idos e portas abertas e um lugar de encontro para crianças e jovens onde há sempre uma palavra amiga, jogos e actividades, apoio na procura de emprego, música e demais actividades artísticas.
Infelizmente, com a queda do banco “Northern Rock” em 2008 veio a austeridade e na austeridade o fim de todo um programa de apoios sociais onde se incluíam abonos para as famílias mas também as colectividades.
E, consequentemente, o desemprego, a violência doméstica, famílias desestruturadas, os bancos alimentares sem mãos a medir nem alimentos que cheguem, consumo de drogas, pais, irmãos, primos, avós presos.
E a polícia como inimigo, não o estado que o estado, o governo, é em si uma entidade tão distante como alienígena e um indivíduo pode nascer, viver e morrer no mesmo subúrbio de Londres sem nunca conhecer o estado mas em confronto directo com a polícia todos os dias.
Rejeitadas pelas famílias, vítimas de agressões físicas e emocionais, negligenciadas, esquecidas, as crianças de hoje não são senão o retrato repetido ao longo dos séculos e tão bem descrito nos Meninos Perdidos da Terra do Nunca em pleno período Vitoriano.
Perdidos, sem ter para onde ir, com famílias ainda hoje em crise e na ausência de uma casa, de um lar, que responda pelo nome, sem um futuro, sem pertença, sem um grupo, sem identidade, as crianças e jovens voltam às ruas.
É um ciclo vicioso. E sim, para criar uma criança é preciso não uma aldeia mas uma cidade inteira. Sem a cidade, ou antes com a cidade ao redor mas as portas fechadas, as crianças não ficam ao Deus-dará, ficam entregues a si.
E na procura de afecto, de segurança, amizade e pertença juntam-se em grupos à deriva na corrente das ruas.
Neste momento ainda não podemos chamar gangue a este ajuntamento. São um grupo de jovens e o seu intento é ainda desconhecido.
Mas a seguir aos pais não há como a escola para conhecer uma criança, sendo preciso estar atento ao uso de símbolos como os lenços onde as cores identificam o gangue, muitas vezes discretos nos bolsos das calças.
Mas também a linguagem e o uso de calão, o desenho de “tags” nos cadernos, o tipo de música e mensagens veiculadas nas letras, a actividade nas redes sociais e o tipo de vídeos e imagens partilhadas na escola entre o “Instagram”, o “TikTok” ou o “Snapchat” onde se glorificam os gangues e o estilo de vida associado.
A criança falta às aulas? Porquê? A família sabe onde está? A que horas volta a criança para casa? Se não voltou e está ausente e incomunicável, é vital comunicar o seu desaparecimento à polícia e aos serviços sociais.
Num autêntico trabalho de detective, entrevistam-se familiares e amigos e desenham-se redes sociais com a criança ao centro. Com quem se relaciona? Quais as suas amizades? Para onde se desloca depois da escola ou ao invés da escola?
Como se comporta na escola e em casa? Há alterações recentes de comportamento? Está mais triste, retraída, agressiva? Há alguém na família ou na escola em quem confie para poder falar?
A criança possui vários telemóveis? Usa roupa e calçado de marca quando a condição económica não o permite? Começou a consumir tabaco, álcool, substâncias ilícitas? Há a possibilidade de andar armada com uma faca?
Já está referenciada pela polícia e pelos serviços sociais? Foi presa por tráfico, perdeu o produto e agora tem cabeça a prémio?
A realidade dos gangues é a dos casos de polícia e a escola no meio de um problema sem fim à vista, problema esse ainda mais grave com a chegada dos períodos de férias e as crianças sem ter para onde ir senão de volta às ruas.
Incapazes de denunciar outros elementos do gangue por medo de represálias, muitas vezes só é possível quebrar o ciclo quando famílias inteiras se propõem a mudar de morada, de cidade ou região ou não tivesse Londres atingido o número recorde de 30 adolescentes assassinados em 2021, vítimas de esfaqueamento.
O que fazer quando a proliferação de facas nas ruas é o maior medo para as crianças do 1° Ciclo? Inseguras, são presa fácil para os gangues, tantas vezes inimputáveis e, por conseguinte, essenciais nos meandros das ruas.
E não, a solução não passa pela contratação de batalhões de polícias, não diante de crianças a pedir pouco mais para além de um lar, afecto, compreensão, inclusão, uma segunda oportunidade.
Os gangues são os tais bandos de pardais à solta. Saibamos responsabilizar os cabecilhas enquanto, uma a uma, devolvemos às crianças e respectivas famílias um futuro, educação, emprego, um lar, outra vez um lar.
Foi em casa que tudo começou. É em casa que tudo começa, uma e outra vez.
Se este é um trabalho de anos? É, já o fazemos há 14 anos na escola e nas ruas, na sala de aula e em casa, dia após dia a viver a escola como verdadeiro agente social e na linha da frente contra os gangues.

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Indicação de componente letiva (1.ª Fase) – ICL1

Indicação de componente letiva (1.ª Fase)

 

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Petição pública quer limitar diretores de escolas a três mandatos consecutivos

 

Se o presidente da República só pode ficar no cargo durante dez anos, porque é que um diretor escolar pode ficar 16 anos? O argumento é invocado numa petição pública que pede a limitação dos mandatos dos dirigentes de agrupamentos escolares que deu entrada no Parlamento. A iniciativa, até agora subscrita por 420 pessoas, reclama a limitação a três mandatos (em vez de quatro) da permanência de um diretor à frente de um agrupamento.

Luís Sottomaior Braga, professor de História e subdiretor do Agrupamento de Escolas da Abelheira, em Viana do Castelo, é o primeiro peticionário e avançou com esta iniciativa para promover a reforma do sistema de gestão das escolas.

Petição pública quer limitar diretores de escolas a três mandatos consecutivos

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