Perguntas, provavelmente estúpidas, sobre “sucesso escolar”…

 

Supostamente, os critérios de avaliação dos alunos, por nível de ensino e por ano de escolaridade, nas várias Disciplinas, serão definidos pelo Conselho Pedagógico de cada Agrupamento de Escolas, mediante proposta dos respectivos Departamentos Curriculares.

Expectavelmente, esses critérios de avaliação serão conhecidos desde o início do Ano Lectivo, sendo também divulgados e explicitados junto dos alunos e dos respectivos pais/encarregados de educação, por essa altura.

 Pergunta 1: Será legítimo que, no final do Ano Lectivo, o Director de um Agrupamento de Escolas pressione determinados Directores de Turma/Professores, de forma explícita ou implícita, no sentido da alteração de classificações finais atribuídas a determinado(s) aluno(s) em alguma Disciplina, contrariando, se necessário for, os critérios de avaliação estabelecidos, definidos e ratificados pelo Conselho Pedagógico desde o início do Ano Lectivo?

 Pergunta 2: Será legítimo que um Director, sob pressão exercida por determinados pais/encarregados de educação através de reclamações informais e/ou de recursos formais, force algum Professor a alterar classificações finais, por todos os meios que tenha ao seu alcance, no sentido da respectiva inflação?

 Pergunta 3: Será legítimo que um Director ignore e ultrapasse as decisões de classificação final tomadas por professores baseadas nos critérios de avaliação dos alunos, definidas pelos Grupos de Recrutamento, pelos Departamentos Curriculares e pelo Conselho Pedagógico e que possa, por si mesmo ou por pressões exercidas sobre terceiros, alterar essas classificações finais, com a justificação de fazer baixar a taxa de insucesso escolar?

 Pergunta 4: A taxa de “sucesso escolar” eventualmente obtida pela via descrita nas perguntas anteriores será válida e legítima? As estatísticas oficiais obtidas a partir desses resultados merecerão crédito, sendo por isso confiáveis?

 Pergunta 5: O “sucesso escolar” eventualmente obtido pela via descrita nas perguntas anteriores será benéfico para os próprios alunos, nomeadamente para o seu desenvolvimento pessoal e social?

 Pergunta 6: Depois de, previsivelmente, se terem despendido, em cada Agrupamento de Escolas, dezenas de horas na definição e aferição de critérios de avaliação nas várias Disciplinas, de que terá valido esse esforço se tais critérios forem ignorados ou alterados unilateralmente, de forma a prevalecerem os desígnios de um determinado Director?

 Pergunta 7: Caso existam, quem serão os principais beneficiários da obtenção de uma taxa de “sucesso escolar” artificial, ilusória e forçada? Os alunos? Os Directores? O Ministério da Educação? Os Professores?

 Se a resposta às Perguntas 1, 2 e 3 for: “Sim, é legítimo”, então acabem-se de vez com todos os órgãos de coordenação e de supervisão pedagógica das escolas, uma vez que, se a resposta for essa, estarão completamente esvaziados de funções e de relevância… Serão apenas órgãos de fachada, destinados a salvar as aparências…

 Pressões poderão existir muitas, mas, se as houver, a maior parte delas não aparecerá, convenientemente, escrita em lado nenhum… O que é dito importa (e muito), mas se não ficar escrito poderá não ser assumido… E o que não for assumido de forma explícita, inequívoca e transparente é que poderá ser o busílis da questão…

 (Se as perguntas anteriormente colocadas tiverem alguma semelhança com acontecimentos reais será mera coincidência…). 

 

(Matilde)

 

 

 

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12 comentários

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    • João on 29 de Junho de 2021 at 10:34
    • Responder

    Legítimo ou não, é real. Milhares de horas gastas “no faz de conta”. E 95% dos professores cedem à pressão, sem fazerem grandes ondas”, porque praticamente são intimidados a fazê-lo, pela própria legislação à cabeça.

    • Alecrom on 29 de Junho de 2021 at 11:21
    • Responder

    Com meia dúzia de perguntas se demonstra o embuste a que tudo isto chegou.

    A “figura” de retenção devia acabar (só quando era solicitada por entidades como, por exemplo, a EMAEI).

    Até ao 9.°, para já, devia criar-se uma graduação em letras (há muitos exemplos) onde toda a gente sabia em que situação os alunos concluíam os ciclos escolares.

    Com o atual embuste estamos a enganar muita gente e a condenar a escola pública a uma degradação acelerada.

    • Bom texto on 29 de Junho de 2021 at 11:52
    • Responder

    É uma vergonha. E o pior é que não é só numa numa escola ou duas, é uma prática generalizada. Infelizmente mudo de escola praticamente todos os anos e já passei por muitas e encontro sempre a pressão para a inflação de notas e falsas taxas de sucesso. Colegas DTs, não perpetuem a fraude… talvez seja mais fácil porque na altura não arranjam chatices mas é uma falta de respeito para com a profissão quando colocam níveis de classificação “a votos” num conselho de turma para subir e obter as taxas de sucesso irrisórias cujo único significado que têm é como instrumento político.


    1. Só os dad privadas é que são bons com a explicação dos professores das públicas? Vão cagar. Dar boas notas, sim. Emsinar sim . Dar autoconfiança aos alunos É urgente.


      1. Os ricos das privadas pagam balúrdios para os filhos terem boas notas , como admitir que os pobres da escola pública não paguem nada e tenham na mesma boas notas? É um osso duro de roer. Temos pena.

          • Alecrom on 29 de Junho de 2021 at 17:14

          Tens de derrubar esse muro (de Berlim) que te atrofia o neurónio.


  1. Na Faculdade não lhes ensinaram nada ( com tanto confinamento e com tanta virtualidade) e, por cima, ainda lhes dão más notas. Será legítimo afirmar que os alunos ficam DUPLAMENTE prejudicados?

    • maria on 29 de Junho de 2021 at 13:15
    • Responder

    Cruzando os oportunos comentários de Matilde, joão, Alecrom e Bom Texto, resta-nos uma dramática pergunta : quem nos acode?

      • Alecrom on 29 de Junho de 2021 at 16:49
      • Responder

      Sei que me chamarão pessimista ou até derrotista,
      mas entendo que não há resolução possível.
      Terá mesmo que cair de podre.
      Há um “muro de Berlim” que continua a tolher-nos a mente (e a liberdade).

    • Maria Oliveira on 29 de Junho de 2021 at 14:56
    • Responder

    Perguntas muito pertinentes e que também coloco porque, em matéria de avaliação, a realidade parece superar a ficção. Acrescentaria outra pergunta: será legítimo um conselho de turma subir 2 a 3 valores, a alunos que nada fizeram, para concluir uma disciplina do ensino secundário?
    Em matéria de avaliação parece que nada melhor do que “A Quinta” de G. Orwell para falar de critérios de avaliação.
    Se é para ser assim, então que se assumam e poupem trabalho desnecessário.


  2. Por um lado temos a visão de que a retenção não é benigna e a acompanhar este princípio temos a noção de escola inclusiva, taxas de sucesso, imagem da escola, etc. Por outro lado temos uma avaliação seletiva acompanhada por determinações relacionadas com o trabalho, a exigência, o rigor ou as capacidades e inteligência para determinada área.
    Dois eixos contraditórios. Neste ponto, misturamos um pouco de sal e pimenta da comunicação social, das universidades, das famílias, das direções, da política, da legislação, dos regulamentos (que às vezes sim, outras vezes não) e temos os ingredientes prontos para a sopa. Os professores que se desembaraçem.

    • mario silva on 29 de Junho de 2021 at 23:57
    • Responder

    com o modelo de gestão escolar em vigor há vários anos, tudo é legitimo, sendo reforçado com a conivência da autoridade ministerial.

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